segunda-feira, julho 24, 2006

Espumas de preamar

Quando ele me abraçou e depois deslizou um dos braços sobre minhas costas até atingir um ponto abaixo do cóccix, ainda segurei-lhe a mão, mas não consegui evitar que descobrisse que eu nada vestia sob o leve tecido. Levei um dos dedos a seus lábios pedindo-lhe silêncio e deixei que continuasse enroscado em mim. Caminhávamos rente à vegetação que margeava a estrada. Lá embaixo, o mar explodia. Como ainda não amanhecera, percebíamos apenas as espumas irregulares da preamar. Os outros rapazes iam à nossa frente; cantavam e dançavam, sinal de muita alegria. Joana caminhava no meio deles; vez ou outra um se aproximava, tentava abraçá-la. Ela de início permitia, mas logo o afastava com delicadeza; talvez ainda sentisse uma ponta de temor.

Eram dez da noite quando os dois desconhecidos nos ofereceram carona. O céu estava escuro mas estrelado, a noite era quente, convidativa. Não tínhamos o que fazer, acabamos aceitando. Entramos no carro e eles nos levaram para os confins da Barra. Naquele tempo o local era ermo, quase não havia casas nem edifícios. Acabamos a noite num camping, onde eles disseram que tinham uma barraca. A princípio, relutamos. Queríamos o passeio, mas sem que nos tocassem. Vimos que nosso desejo seria impossível ao descobrirmos que um deles tinha uma arma. Ainda sussurrei a Joana: “vamos fugir!”, ela não teve tempo de rebater. Mesmo se tivesse, a fuga era temerária. Coletivos não havia, automóveis rareavam e duas mulheres sozinhas a pedir ajuda ali seria apenas deslocar ou adiar o perigo. Mas eles queriam apenas se divertir, não nos fariam mal.

O rapaz deixou que os outros se afastassem. Quando olhei para Joana, ela estava abraçada a dois deles, um a cada lado. De repente, fui surpreendida por um precipitado beijo na boca. Sua língua tentava encontrar a minha; quando conseguiu, senti uma de suas mãos subir-me as pernas, tocar meus pelos. Encontrou-me úmida, talvez até melada, mas ele nada disse. Afastei um pouco as pernas e permiti que me tocasse com mais leveza. Depois, de modo brusco, desvencilhei-me do beijo, cerrei as pernas e tomei-lhe as mãos, beijando-o sobre uma das faces. Vi um automóvel antigo parado adiante e percebi que os jovens e Joana conversavam com um senhor de idade já avançada.

Já no carro, os dois nos deixaram nuas. Ao deslizarmos pela alameda que dava para o camping, reparamos que o local estava quase deserto. Saltamos no estacionamento e corremos até a barraca; éramos duas Evas surpreendidas pelo pudor. Não vimos viva alma. Transamos com ambos alternadamente. Eles abriram uma garrafa de uísque; beberam até a embriaguez. Quando demonstramos desejo de partir, um deles nos disparou: “só ao amanhecer”. Às quatro e trinta, fugimos. Com dificuldade, recuperamos parte de nossas roupas. Saltamos a cerca para escapar de um vigia. Alguns latidos de cão fizeram nossos corações dispararem. Na praia, encontramos o grupo de rapazes.

Joana gritou para mim: “este senhor diz que nos leva, ele vai para Copacabana”. Entramos no automóvel. Antes, os rapazes nos beijaram; e enquanto partíamos, puseram-se a pular e a gritar dando-nos adeus, fazendo enorme algazarra. Num ponto do horizonte, sobre o mar, o céu avermelhava-se.

quinta-feira, julho 06, 2006

Por volta do entardecer

Joana estava sentada numa pequena cadeira de ferro, na varanda de casa; cruzara uma perna sobre a outra, e, com o braço direito, como correia em meia diagonal, tentava tapar os seios. A postura não era de vexo nem de desdém, caía-lhe bem a inteira nudez; beleza e uma ponta de ousadia moldavam-lhe a silhueta. Sua face esboçava ligeiro sorriso.

- Vou pedir a você uma coisa – falou na direção do namorado, que despertou do encanto em que ela o mantinha até então -, quando estivermos em minha cidade, na casa de meu pai, não poderemos dormir no mesmo quarto.

- Como assim?

- É que para papai, como ainda não me casei, não posso dormir com um homem.

O namorado sorriu debochado:

- Será que seu pai acha que você, com quarenta e dois anos, ainda é virgem?

- Não sei; o que posso dizer é que na casa dele me porto como tal.

Ele riu de novo, agora alto.

Joana descruzou as pernas mantendo-as unidas durante breves instantes; ao perceber o olhar frontal do namorado, não demorou a cruzá-las de novo, quase de modo instintivo e em sentido inverso. Por segundos, deixou escapar um dos seios. Mas logo o recuperou, embora de forma precária.

- Se você deseja ir à minha cidade para conhecer minha família, tem de ser assim.

- Não vou poder namorar você em momento algum, durante nossa estada lá?

- Vai, a gente dá um jeito, mas teremos de dormir em cômodos separados.

- À noite, então, poderemos sair? – perguntou excitado -, já que a cidade é pequena, talvez existam lugares discretos para namorarmos...

- Quanto a isso, não se preocupe.

- Você já teve alguém, nessa cidade?

- Já, mas o que isso tem a ver?

- Você já namorou alguém pelos ermos da cidade, à noite?

- Ah! Você está querendo saber demais!

- Sim ou não?, responda...

- Se você quer saber mesmo, sim; e olha que já fiquei nuazinha, como estou agora.

- Nua?

- Isso, e ainda aconteceu uma coisa muito engraçada.

- Conta, então, vai – excitava-se cada vez mais.

- Depois, tá? Agora me abrace e me beije!

George se aproximou e lhe percorreu com a ponta dos dedos a pele sutil. Joana era roseira ao entardecer e o namorado, cedro protetor; ela subiu-lhe o tronco, envolveu os ramos mais salientes e exalou néctar original.

Após desprender-se e voltar à posição anterior, narrou o episódio:

- Você, que se excita tanto com histórias, vai adorar. O fato foi o seguinte: eu namorava o filho do dono da única farmácia da cidade. Quase nos casamos, sabe? Ele adorava me ver com os seios soltos; dizia que eram sinais de fartura e prosperidade. Numa determinada noite, seguimos um caminho que leva a um arraial que fica a dez quilômetros da cidade. É um local deserto, quase ninguém transita por ali, apenas os poucos moradores. Paramos e enfiamos o carro num atalho. Tirei toda a roupa e pedi que ele me seguisse. Entramos pelo mato. Quando atingimos as margens de um regato, ouvimos vozes e alguns gemidos. Pensei que fosse algum bicho. Senti medo. Reparamos, porém, que os ruídos vinham de um casal que namorava no local. Minas é um estado muito conservador, as pessoas vivem de aparências e, provavelmente, aqueles dois não tinham onde namorar. Abaixei-me para não ser vista; meu namorado fez o mesmo. Depois, percebi de quem se tratava. A moça era minha amiga e, assim como eu, estava nua. Resolvi, então, pregar-lhe uma peça. Descobri as roupas dos dois nas proximidades. Como ela tinha também os seios avantajados, furtei-lhe o sutiã.

- Logo o sutiã?

- As mulheres, ao contrário do que os homens pensam, valorizam muito os seios. Sabia que sem o sutiã ela ficaria desesperada. Saímos dali às escondidas e fomos em busca de um lugar mais tranqüilo. No dia seguinte, fiz-lhe uma visita. Lembro que ela tinha uma loja. De roupas íntimas! Fui até lá. Levei um embrulho de presente, muito bem arranjado. Disse ao vê-la: "tenho uma surpresa pra você!". "Surpresa?, mas por que será que mereço um presente?". Abriu o pequeno pacote e descobriu o sutiã que perdera na véspera. Realmente se surpreendeu. Olhou-me sem entender. Então, foi minha vez: "eu também estava lá; e sorte sua que só precisei do sutiã!". Caímos ambas na gargalhada. Ainda completou: "puxa, você me deixou em apuros!".