domingo, junho 17, 2007

Eu e Lu comemos todos eles

Ao entrarmos no carro ainda olhei para Luciana, queria lhe dizer que um mal presságio alfinetava-me. Mas a manhã ia alta, era de sol, o tráfego lento, nada melhor do que uma carona até a praia. Os rapazes eram bonitos, viris, corpos bronzeados pelo sol. Não gostei quando um deles me abriu a canga; alegava querer ver meu biquíni. Depois nos mostrou dois biquínis mínimos. Traziam-nos no porta-luvas. Desconfiei; como dois homens tinham dois biquínis no carro? Não perguntei. Luciana se assanhou. Gostou da cor e do modelo. Ele ofereceu, que o vestisse, não iria olhar. E não é que ela, muito rápida, fez a troca. Me falou em voz baixa:

"Entra todo atrás, na frente foi a conta."

Ela entregou o outro, o que viera no próprio corpo. Ele tomou nas mãos as duas peças e sussurrou:

"Bonito."

Guardou no mesmo lugar de onde tirara o novo. Olhou então para mim. Fiz que não com a cabeça. Luciana me beliscou.

"Eles querem nos fazer um agrado."

Estava decretada a sentença. As duas, na verdade, nuas com aqueles trajes.

Ao escolhermos um pouso na praia, não fiz menção em desamarrar a canga. Minha amiga dançou natural, era bailarina nativa envolta em névoa de sal.

"Lu, isso pode não dar certo, não os conhecemos."

"Deixa disso, é tudo um grande divertimento."

Ela aceitou o convite do que viera dirigindo e voltou com ele para o carro. Eu e o outro nos estabelecemos num pedaço de areia que parecia esquecido pelas outras pessoas. Não demorou minha amiga e seu par voltaram.

"Não dá para namorar no carro; além do calor, sempre surge alguém, nem nos pudemos tocar."

"Você não acha que é cedo para essas coisas?"

"Não. A proposta dele é irrecusável, e olha que inclui você!"

"Quanto a mim, deixa que eu decido."

"Dá um chute; quanto você acha que eles nos ofereceram?"

"Lu, não somos prostitutas."

"O que é que tem?, é apenas um faz de contas. Mas vai, dá um palpite, fala um valor", ela continuava, sua expressão tinha ar de ironia.

"Olha, Lu, eu vim com a intenção de aproveitar a praia..."

"Posso dizer o valor?"

"Está bem, diz."

"Quinhentos, mesmo que você não queira, caso aceite, a proposta é mil."

Suspirei surpresa.

"Mil?, tem certeza?, eles devem estar de brincadeira."

"Não é brincadeira nem mentira, mil só para começar, ainda podemos ganhar muito mais. Já pensou, a gente vem à praia para tomar sol, dar um mergulho e consegue ganhar ainda essa grana toda."

Um deles se aproximou e sugeriu:

"Que tal um mergulho?"

"Só um momentinho", falou minha amiga.

Ele entendeu e se afastou alguns metros.

"Há um porém", continuou Luciana.

"Um porém?"

"Isso."

"Qual?"

"Não são só os dois."

"Há mais rapazes?"

"Três ou quatro."

Luciana acabou me convencendo, sobretudo quando disse que o que viera ao volante era um parente distante de uma amiga dela e que tinha certeza de que eles não iriam nos fazer mal algum. Me assegurou também que eram ricos.

Mergulhamos e fomos para onde estavam os dois. Começaram a nos tocar de forma sugestiva. Meu par tateou-me a cintura, percorreu a lateral do meu corpo com a ponta do dos dedos, depois deslizou as mãos pelas minhas costas. Segurei-o de forma carinhosa, correspondendo a seus afagos. Não é preciso dizer que logo senti seu membro ereto, que avançava entre minhas pernas. O rapaz puxou meu biquíni por baixo e me penetrou. Reparei que seu pênis estava com camisinha e isso fez a penetração se tornar mais fácil.

"Não seria melhor namorarmos à noite?", sussurrei em um de seus ouvidos, enquanto ele se movia e tentava sentir com mais intensidade meu corpo.

"Por que não agora e também à noite?"

As pessoas que estavam nas proximidades não eram muitas e não se ocupavam conosco. A água estava quente e o mar calmo. Foi uma trepada demorada. O pênis escorregava devido a lubrificação da camisinha e devido à água, o que fazia a fricção um tanto frágil. Ele só gozou quando segurei seu membro pela base e o puxei na direção contrária a que ele me penetrava. Com essa estratégia, ele sentiu intenso prazer.

"Você agora espera um pouco; faz parte do trato."

"Espero".

"Só que tem mais uma coisa", ele falava um tanto sem jeito.

"O quê?"

"Você tem que me dar o biquíni."

"Você vai me deixar nua?"

"Não só você, mas ela também", e apontou a Luciana, que naquele momento se soltara do seu par, "é apenas por algum tempo, depois a gente devolve, sua amiga já sabia disso."

Olhei assustada para Lu. Ela procurou me tranqüilizar.

"É sobre aquilo que eu disse a você", falava e fazia movimentos com os olhos, tentava pedir que eu facilitasse as coisas.

Ela tirou o próprio biquíni e entregou ao rapaz que transara com ela. Como eu hesitava, ela própria avançou sobre mim, desfez meus laços e me deixou nua.

Eles se foram.

"Lu, se esses caras não voltam, nós vamos passar a maior vergonha", falei desesperada.

"Fica calma, tudo vai dar certo."

Logo chegaram outros dois. Depois descobri que os primeiros fizeram uma grande aposta com os amigos e nós, nuas, éramos parte de tudo aquilo.

Trepamos com mais três, cada uma. Todos eles vieram de camisinha, foram trepadas limpas. A cada um que gozava e partia, eu perguntava pelo meu biquíni. Eles não sabiam dizer.

Houve um que me proporcionou muito prazer. Descobriu em meu corpo sutilezas difíceis a um homem comum. Me fez gemer, me fez atingir altitudes impensadas, orbitar em torno de estrela cintilante e só não me perdi porque prendia-me o corpo eixo rígido mas confortável. Quando gozei me arrependi, porque voltei a lembrar que estava inteiramente nua numa praia, num dia de sol.

"Lu, estou exausta, se vier mais alguém acho que desmaio", sentia minhas pernas bambas após a partida do quarto homem."

"Eu acho que os primeiros estão voltando, olha lá."

Voltei-me para a direção a que ela apontara e reparei os rapazes que nos trouxeram de carro.

Ao chegarem, perguntei ao que ficara comigo:

"Cadê meu biquíni?"

"Calma, não vamos deixar vocês nuas", ainda perguntou: "está tudo bem?"

"Só vai estar bem quando eu me sentir vestida e puder descansar um pouco."

Luciana riu das minhas palavras. Nos deram de volta os biquínis, estavam dentro de suas sungas.

Um deles ainda falou com ar de deboche:

"Será que você, laçada por esse biquininho, se sente tão vestida assim?"

Permanecemos deitadas sobre nossas cangas durante um bom tempo. Depois, o que viera ao volante falou:

"Nós vamos pegar vocês às nove da noite, combinado?"

Olhei mais uma vez sem entender para Luciana.

"Combinado", ela disse.

Um deles ainda acrescentou:

"Não precisam se preocupar quanto às roupas; nós vamos vestir vocês.

Deixaram uma parte do dinheiro e se foram. Escreveram num pedaço de papel o endereço onde deveríamos encontrá-los.

Luciana virou-se para mim e falou:

"Não disse?, não precisamos ter medo; hoje é nosso dia de sorte!"

"Só falta eles querem que andemos nuas à noite pela cidade."

O bar principal do Peró estava cheio às nove horas. Esperamos durante algum tempo junto à entrada. Um dos garçons nos chamou e indicou uma das mesas ao lado esquerdo. Os dois estavam lá. Perguntaram o que queríamos comer. Feitos os pedidos, conversamos os quatro. Eles pareciam bastante entusiasmados.

"Quando acabarmos o lanche, vamos levar vocês duas a um lugar que com certeza vão gostar muito."

Eu e Lu insistimos em ficar algum tempo por ali. Tomei uma caipirinha e ela uma taça de vinho. Comemos salada de palmitos e alguns pedaços de carpaccio. Estava tudo muito gostoso.

Eles pediram a conta e depois caminhamos para o carro deles. O que entrou junto ao volante falou:

"Agora, vamos vesti-las."

"Não estamos nuas", falei, "e até que estamos bem vestidas."

"Mas nós temos alguma coisa mais excitante", disse ele.

Fomos até a casa deles. Uma casa imensa, bonita, com gramado e piscina na parte de trás. Ensaiamos um início de namoro. Começamos a correr para que nos pegassem. Desta vez quem me perseguia era o que ficara com a Lu pela manhã. Ao me alcançar, segurou-me com força e me levou para a grande sala. Ali havia um sofá espaçoso. Ele não me despiu, arrancou minhas roupas com violência. Trepamos. Ele mordia-me os seios, apertava-me as costas. Abri as pernas para recebê-lo. Fazíamos movimentos compassados, um balé exato, ensaiado desde tempos imemoriais. Quando íamos adiantados, lembrei-o da camisinha... Ele foi pouco a pouco diminuindo os movimentos, parecia que ia gozar, mas em gestos também lentos, sem me abandonar, dobrou o corpo e tirou não sei de onde o tal objeto. Fez que eu abrisse a boca, quis saber se me era possível conseguir aquela proeza. Rápido, soltou-se e trouxe o pênis à altura de minha cabeça. Eu, com a camisinha à boca, numa posição transversal, vesti-o, de forma exuberante, sem usar as mãos. Voltou então a trazer seu pênis por entre minhas pernas. Gozamos juntos, jorrando fogos de artifícios.

Ainda nua, de bruços sobre o sofá, senti leve tapa nas nádegas. Era Lu, também nua, rindo para mim. " Você precisa ver a roupa que eles vão nos fazer vestir!" , não é preciso dizer que ela não continha o próprio entusiasmo.

Após tomarmos banho, Lu vestiu um tomara-que-caia preto, justíssimo no corpo. Deixava-a com as pernas toda de fora; o comprimento mal ia além da virilha. A mim, cobriu-me um vestidinho de corte camiseta na parte da frente, prateado, também curtíssimo; atrás, a cava era funda, deixava minhas costas despidas; o tecido só se juntava poucos centímetros acima do bumbum, cobrindo-o de forma ainda que precária. As sandálias altas que eu usava destacavam minhas pernas com agressividade. Eram roupas boas, de grife, próprias para modelos. Ofereceram-nos também alguns acessórios, como dois braceletes quadrados para mim e um colar corrente para minha amiga.

Lu falou-me, tinha os olhos brilhantes:

"Você está gostosíssima com essa roupa."

"Roupa, que roupa?", brinquei, "estou pelada."

Ao nos chamarem para sair, fiz um gesto aos rapazes.

"Vocês não acham que falta alguma coisa ?"

Não quis ser deselegante, mas queria dizer que me sentia nua com apenas aquele leve tecido roçando-me o corpo.

Minha amiga riu e fez sinal para que eu não fosse além daquelas palavras. Eles entenderam e o mais desinibido falou:

"Faz parte do trato", e depois de alguns segundos completou: "e da aposta."

Luciana encerrou o diálogo:

"Fique calma, vamos sair ganhando."

Eu queria entender por que os outros não vinham àquela casa e trepávamos ali mesmo, por que tanto deslocamento. Entramos no carro, rodamos durante algum tempo pela cidade e depois pela orla.

"Já está tudo arranjado, vocês não precisam temer, as coisas vão se dar como pela manhã. Os rapazes são os mesmos, invertem-se as mulheres."

Ao saltarmos, deram-nos longos beijos e um até breve.

"Como vamos saber quem são os rapazes?", perguntei um tanto confusa, enquanto segurava a barra do vestido.

"Calma, amiga, não tenha tanto pudor, deixe o vestido solto; quanto aos rapazes, já os conhecemos, não lembra?"

" Nem faço idéia, estava tão nervosa."

Não se atrasaram os dois primeiros. Deitaram sobre a areia da praia, fizeram que agachássemos e nos mexêssemos sobre eles. Depois, meu par levantou-me o vestido até o pescoço e apertou meus seios; queria me fazer gozar, mas eu estava muito nervosa.

"Relaxe, meu amor, por que tremes tanto?", ouvi sua voz e acho que enrubesci; sorte que a noite ia escura.
Ao terminar, acendeu um baseado e me ofereceu. Dei dois tragos seguidos e profundos. Creio que foi o que me acalmou. Dali em diante, tive domínio sobre mim e o temor era alguma coisa distante, quase impossível de me atingir.

O segundo que apareceu era muito carinhoso. Mas já não era na praia que transávamos. Levaram-nos de carro até um campo aberto, o edifício mais próximo parecia o de uma igreja.

"Não precisa se benzer, está desativada", falou enquanto percorria minha pele por baixo do vestido.

Foi um namoro lento. Dali ainda fomos para uma pedra num dos pontais distantes, na orla novamente; ao longe viam-se pescadores, mas não deram por nós. Ele tirou toda a minha roupa. Como estava ventando, procurou uma pedra para que o vestido não se perdesse. O namorado da vez queria me beijar na boca quase sem parar. Tocava-me o corpo, os seios, meus poucos pêlos e tornava a me beijar. Depois de muito tempo, tirou o pênis, cobriu-o com uma camisinha e me penetrou; não demorou, soltou-se, virou-me de costas.

"Não, não, não combinamos isso", falei nervosa e olhei para Lu.

Ela, sem vergonha, já havia muito ia de dorso para cima.

Deixaram-nos no centro. Só dei por minhas roupas curtas quando reparei que as pessoas nos olhavam com insistência. Mas não liguei, fingia que era a mulher mais vestida do mundo.

Pararam dois motociclistas. Descobrimos que eram os dois que faltavam. Subimos. Levaram-nos para um bairro de casas baixas. Quando pararam em uma das ruas, puseram-nos inteiramente nuas. Abri as pernas encostada a um muro branco. Eu e Luciana. Foi uma trepada violenta. Ele se movimentava de modo ríspido, não respeitava minhas limitações; acho que seu pênis era muito grande para mim. Mas suportei tudo com o ardor de uma atriz experiente. Lu também sofreu nas mãos de seu homem, e, mais tarde, quis saber se quando transara comigo pela manhã aquele seu par havia me machucado. Eu disse que não, fora o mais agradável e carinhoso.

Quando terminaram, fizeram-nos subir nuas na garupa. Não tivemos alternativa. Qualquer argumento poderia nos levar ao fracasso. Talvez fizesse parte da aposta, duas mulheres apenas com os sapatos e a pequena bolsa a tiracolo.

Cruzaram o centro duas vezes. À primeira, em alta velocidade; à segunda, mais lentos, atraindo olhares. Pararam enfim no que parecia ser os fundos de um galpão. Abriram a porta e nos instruíram.

"Sigam toda a vida e entrem rápidas na última porta à esquerda. Não dêem atenção a qualquer pessoa que apareça, finjam que ela não existe."

"Mas e nossas roupas?", perguntei.

Lu me puxou pelo braço.

Fizemos o que ordenaram.

Um senhor tentou no deter. Duas mulheres nuas seguindo por um corredor comprido. À medida que chegávamos à tal porta, ouvíamos intenso som. Abrimos e entramos. O senhor que tentara nos impedir a passagem ficou pelo meio do caminho. Nosso percurso terminou no mezanino de uma boate. As luzes convergiam para a pista, onde muitas pessoas dançavam alucinadas. O local reservado a nós era exíguo, e logo que nos situamos, a luz nos acertou em cheio.

"Dance, dance!", gritou Lu para mim.

Dançamos vigorosas e sensuais. Os homens, no piso inferior, deliravam. Saltavam, queriam nos alcançar, mas não conseguiam. Expusemo-nos por três ou quatro músicas, cerca de vinte minutos. Quando as luzes se apagaram, sentimos que alguém nos puxava pelos braços. Eram os rapazes da primeira hora. Chegavam para nos salvar, traziam os vestidos curtos que haviam ficado com os motociclistas.

Nos deixaram no mesmo bar do início da noite. Eu e Luciana nos despedimos deles. Pagaram-nos além do combinado. Após partirem, lembramo-nos de nossas roupas que ficaram na casa deles; mas era tarde.

Estávamos famintas. Olhamos o cardápio e pedimos um jantar para nós duas. Um prato que vinha com frango, batatas cozidas e salada de alface.

A comida estava boa. Bebemos dois chopes. Ao acabarmos, no momento em que vinha retirar pratos e talheres, a garçonete deixou um bilhete junto a mim.

Tomei-o nas mãos. Estava escrito num inglês confuso, mas entendi do que se tratava. Numa mesa mais adiante, sentavam-se dois homens, que mais tardes viríamos a descobrir serem dinamarqueses. Quando os olhei, um deles me fez sinal. Com alguma dificuldade traduzimos o que estava escrito. É lógico que queriam sair conosco, nos levar a algum lugar e dar uma boa trepada. Mas havia uma exigência.

"Queremos levar de lembrança suas calcinhas."

A frase fez que eu me sentisse mais uma vez inteiramente nua.

"E agora?", perguntei à minha amiga; acrescentei com voz insegura: "você não acha que já ganhamos o suficiente?, não demora amanhece e nós estamos quase nuas, vai ser outro escândalo."

"Calma, hoje é nosso dia de sorte, não podemos perder a oportunidade. Se houver algum problema, deixa que eu resolvo. Vou combinar para que nos deixem em casa depois que lhes prestarmos o serviço", falou com certo sarcasmo, seus olhos brilhavam.

Vi minha amiga fazer sinal para que aguardassem um pouco. A seguir, ela disfarçou e se dirigiu a uma mesa onde três moças adolescentes conversavam. Após alguns minutos, levantou-se e foi seguida por uma delas em direção ao banheiro.

Não passou muito tempo, Lu apareceu junto a mim.

"Está tudo resolvido, levante-se e vá até o banheiro, uma das moças seguirá você."

"E por quanto saiu isso, Lu?", não era hora para perguntas, mas me escapou.

"Não saiu caro, garanto, e elas até acharam tudo muito divertido."

sexta-feira, junho 01, 2007

Sol de outono

O sol da tarde perdia-se em afagos sobre nossos corpos. As areias brancas se estendiam até encontrarem dois rochedos onde, ora com fúria ora com desleixo, ondas faziam-se espumas. À esquerda, a praia dava num costado de vegetação marinha, cordões de restinga. Mais adiante percebiam-se as últimas casas de uma vila, casario de veranistas, pareciam desertas quando fora de estação. Pedíamos que a luz quase crepuscular nos fosse generosa; queríamos a pele dourada e o corpo aquecido, apesar do vento de outono.

Foi então que ele apareceu. Surgiu sorrateiro, sem que o percebêssemos, e só demos por sua presença quando estava próximo aos rochedos. Trazia as mãos às costas, destacava-se nele o casaco marrom. Caminhava como se não tivesse visto viva alma, depois parou e pôs-se a olhar um ponto no oceano. Permaneceu assim durante longos minutos. E nós, ali, quase nuas...

Já havíamos estado naquele lugar em uma noite de verão, eu e Cecília, bêbadas e acompanhadas de dois homens. Entramos nuas no mar. Ao voltarmos à areia, com o corpo ainda a escorrer água salgada vestimos a mesma camisa de um deles. Devia ser engraçado e estranho a visão de duas mulheres dentro de um camisão: ora ficávamos frente a frente, seios contra seios; ora uma costeava a outra fingindo um sarro gostoso; ora roçávamos nossas nádegas. Braços e pernas faziam-se em dobro pelas mangas e barra da camisa; às vezes eu levantava a parte que a cobria deixando seu bumbum de fora; depois ela revidava fazendo o mesmo comigo. Fingíamos então um pudor que não tínhamos. A cabeça de cada uma escapulia pela mesma fresta apertada. Transformamo-nos em pequeno monstro. Mas monstro que não perdia o poder sedutor. Quando me atirei nos braços de um deles, pedi que me penetrasse com esmero e plenitude, queria senti-lo rígido. Depois, sussurrei que guardasse o gozo, deixasse para despejá-lo em minha boca; queria comer aquele homem como num ritual indígena, quando o bravo oponente é ingerido para tornar mais forte o herói vencedor; seu sêmen seria parte de meu sangue.

“Tô morrendo de vergonha, só de calcinha...”, a voz de Cecília chegou a meus ouvidos e continuou adiante, levada pelo vento. “Deixa de frescura, vai dizer que você não está gostando?”, redargüi. “Eu não estava preparada”, ainda teve tempo de dizer. Levantei-me, também seminua, meus seios saltaram, foi a única vez que o vi olhar em nossa direção. Depois, como chegou, desapareceu, enquanto nos refazíamos do ligeiro tremor, rastro de sua presença.

No final da tarde, ainda os afagos do sol, mas menos tácteis, distantes, não mais se importando conosco; assim como o estranho, que fez pouco caso de nossa nudez.

marg_57a@yahoo.com.br