quinta-feira, junho 28, 2012

Mãos, músculos e sexo

Lenilda entrou no ônibus e misturou-se aos passageiros. Tornava-se novamente anônima em meio a tantas pessoas. E, para completar sua tranqüilidade, a linha era a mesma que usava para voltar a casa. John ficara para trás, ela nem mesmo virou a cabeça para sorrir a ele. O veículo seguiu seu caminho, pouco a pouco foi deixando as avenidas do centro para arrastar-se pelas ruas do subúrbio.

O copo de bebida refletia a cor vermelha. Sempre quisera saber que bebida era aquela, mas nunca perguntara. Quando John lhe oferecia, recusava com polidez e simpatia. Mas o vermelho da bebida girava em sua cabeça, transformava-se num mundo novo, cidades distantes com pessoas por todos os lados, lojas, restaurantes, hotéis e aeroportos.

Uma peça de roupa, um presente. Ela sorriu e agradeceu. Mas não poderia levar, não estava acostumada a chegar em casa com um presente sem que todos pedissem para ver o que ela carregava. A não ser que... A não ser que vestisse ali mesmo o presente. Ninguém saberia o que ela ganhara, não era o tipo de presente para ficar à mostra.

Os braços de John, como eram fortes; ela não estava acostumada, jamais se relacionara com um homem tão robusto, ele podia levantá-la com apenas uma das mãos, ele podia acariciá-la com a ponta dos dedos. Mas temia toda aquela força. No começo, tudo é de uma intensa doçura, mas com o passar do tempo, quem sabe, ele podia usar toda aquela força contra ela. Portanto, ela não se entregaria totalmente.

A suíte estava escura, melhor assim. Não, por favor, não acenda a luz, fiquemos na penumbra, também não vamos conversar, deixemos o diálogo a cargo de nossos corpos. Fora mesmo ela que dissera tais palavras? Na verdade, ouvira-as numa telenovela, e das mais vulgares, talvez de bom apenas as palavras. Mas as mãos de John, como eram aveludadas.

Maria Alice. Isso, onde estava agora a falsa amiga? Contava cada história, episódios arriscados, escapadas espetaculares. Seria tudo verdade? Maria Alice mostrou um retrato em que estava nua. Quem tirara? Um dos namorados. E ela os tinha às pencas. E o marido? Ah, ele não queria saber de nada, e ela divertia-se tanto... Maria Alice. Mas seriam verdadeiras as histórias? Pode ser que as inventava para que ela contasse as suas. Talvez tudo fosse mentira, queria, isto sim, saber as suas verdades; caso deixasse escapar alguma das aventuras, tudo estaria perdido. Lenilda apenas ouvia, ouvia, ouvia. As histórias tinham contradições. Um dia descobriu o livro de onde Maria Alice tirava aqueles relatos. Tudo literatura.

Não existe amigo nem amiga, todos estão na mais completa solidão. Não há a quem se dirigir, todos são suspeitos. Tudo que falamos pode se voltar contra nós. Lenilda guardava a própria angústia. John não era seu amigo, não era seu amante, era um homem que uma vez por semana a deixava nua, subia sobre seu corpo, gozava e lhe fazia gozar.

Havia a imagem de um rio. Sua cidade, porém, não possuía nenhuma espécie de rio, nem mesmo um córrego. Mas a imagem do rio sempre lhe vinha à mente. Talvez um sonho, talvez em uma viagem ficara a fixação. Mas ela jamais viajara.

A praia não era distante, John queria levá-la até lá. Mas ela só podia se fosse no começo da noite. Combinado. Foram até a praia. Mas um vento forte não deixou que eles caminhassem sobre as areias por muito tempo. E John queria despi-la ali mesmo. Estás louco? Queres me deixar nua? Repetiu as duas frases. Você gosta de aventura, foi o que ele falou, você gosta de aventura, repetiu. Olhe lá, uma jovem com o namorado, está muito à vontade, por que você não pode estar também como ela? Por quê? Lenilda correu, queria ir embora. Mas John alcançou-a, segurou-a com um beijo. Lenilda dizia que os beijos de John causavam-lhe paralisia. Está bem, acabara por concordar, tire toda a minha roupa, mas vou morrer de frio.

Não morreu de frio, o corpo musculoso do amante serviu-lhe de anteparo.

Lenilda, vem comigo, teu marido tem mais trinta anos que você, vem comigo Lenilda, mesmo que seja nua.

Abraçaram-se, beijaram-se, perderam-se no tempo. Não puderam ouvir o sussurro do casal de namorados. Mas eles não sussurravam, apenas mãos, músculos e sexo.

O ônibus entrou no bairro em que Lenilda morava.

quinta-feira, junho 21, 2012

Naquela noite ele não apareceu

Nunca fale ao seu namorado sobre seus exs. É um preceito elementar. Mas o pior é descrever alguma loucura que você tenha feito com um deles. 

Fui cair na besteira de contar que um ex-namorado me deixou nua numa rodovia, disse ainda que, no final, acabei gostando da brincadeira. Meu atual namorado, embora tentasse não demonstrar, fixou-se na situação. Não passaram muitas horas para que ele voltasse ao assunto.

“Você não pensou no perigo que corria?”

“Sim,  pensei, mas na hora não sei onde estava com a cabeça.”

“Ele poderia não ter voltado.”

“Cheguei a temer que isso acontecesse”, falei.

“Um homem que inventa essas brincadeiras é infantil, ou não gosta de mulher.”

“O problema não é ele gostar ou não de mulher, mas a mulher gostar da brincadeira.”

“E você gostou?”

“Naquele momento, sim. Já falei sobre isso.”

“Então a ideia dele não foi tão má assim.”

“Claro que não.”

“Iria outra vez?”

“Acho que agora, não. Tenho medo.”

“Medo de quê?”

“Você quer me fazer passar por isso outra vez, não?”, sugeri.

“Só se você quiser.”

“Não, não quero, minha época de loucuras já acabou.”

Não tocamos mais no assunto. Mas sempre ao estar a seu lado no carro na mema rodovia, que também utilizávamos em dias alternados para ir de uma cidade a outra, ele ficava agitado.

Uma semana depois, enquanto voltávamos tarde da noite para casa, perguntou:

“Você já falou sobre aquilo a outra pessoa?”

“Sobre o quê?”

“De ter ficado nua na rodovia.”

“Vem você de novo, parece que ficou tarado com esse fato.”

“Falou ou não falou?”, olhou para mim rapidamente enquanto dirigia.

“Não, não falei.”

“Jura?”

“Juro. Falei só pra você?”

“Então não há perigo.”

“Perigo de quê? Não me bote curiosa.”

“Perigo da coisa se espalhar.”

“Espalhar, como assim?”

“Alguém dizer que a viu nua por aí, ou que você chegou pelada em casa, de madrugada.”

“Não, ninguém vai poder falar de mim, e esse caso já aconteceu faz um bom tempo.”

“Então está bom”, falou enquanto reduzia a marcha onde há uma faixa para travessia de pedestres. Mas não havia pedestre algum para atravessar.

“Você teria coragem?”

“Coragem de quê, Mário.”

“De atravessar a faixa de pedestre.”

“Atravessar para quê? Não é o meu caminho.”

“Atravessar nua.”

“Você está querendo mesmo isso, não? Fui contar, agora estou frita.”

“Frita?”

“Já que você ficou morrendo de tesão depois que contei e já não fala em outra coisa, vou satisfazer a sua vontade. Encoste ali”, pedi.

Ele manobrou.

“Vamos fazer direito. Tiro toda a roupa, deixo dentro do carro e você parte. Faça o retorno daqui a dois quilômetros e volte para me buscar, ok?”

“Você vai tirar toda a roupa?”

“Não é isso que você quer?”

“É, pode ser”, sua voz chegou a embargar.

“Então, vamos, combinado?”

Fiquei nua, entreguei o vestido, cumpri o prometido.

Ele? Não apareceu. Pelo menos naquela noite.

quinta-feira, junho 14, 2012

Olímpica

Queres todo o serviço, não? Conto, com vagar e pouco a pouco. Nada deixarás de saber.

As mulheres adoram andar nuas. Verdade. Pode aparecer alguma que o negue. Mas mente. Todas amam a pele apenas, e ao arrepio.

Já saí nua sentada no banco do carona. Na primeira vez, lógico que tremi, transpirei, o ventre e as pernas molhados de suor. E nem era verão. Mas, depois, com uma ponta de gozo, a excitação súbita, veio a compensação. Só o sapato e uma bolsa mínima, imagina. Saí do carro, sim. Saí do carro assim... Tremes só em pensar, juras? Mas como foi bom, nua e sob o sereno, amar.

Há namorados mais conservadores. Alguns me querem de vestido. Derradeira peça a me cobrir. E como gelam ao acariciar-me a pele. Sutil, não?

E houve aquele que me levou embrulhada num grosso casaco de peles. Apenas coberta pelo pano pesado e o liso forro a roçar meu corpo leve, nada mais. Se ele roubou-me o agasalho? Claro, que mais poderia levar?

Já dirigi também vestida apenas pelo carro. Saia e blusa de metal e vidros. Estes, pouco transparentes. Percorri 15 km ao encontro do amante.

Se já corri nua surpreendida pelo sol, finda a madrugada? Várias vezes. É meu o recorde olímpico!

Lembrei também aquele que me fez esperar quinze minutos ante à porta da rua. Batia, batia e ele, nada. E eu, nua!

Sempre em público, sempre externa, nada mais me surpreende. Achas as mulheres loucas? Os homens muito mais! Aguentam-se as suas loucuras e se terá o namorado perfeito.

Mas sinto que tu me queres pelo avesso. Aonde vais com a câmera? Já me desces o liso  ventre. Poucos meus pelos pubianos, constatas; na verdade, quase nulos. Mas me invades com a extremidade fria do vitral!

Queres filmar-me por dentro? Oh, você, nunca vi nada igual! Avança, com vagar, mas avança. Assim já alcanças.

Olhas no monitor? Aprecia! Tão comprido o mar... Vê, logo hás de nele mergulhar.

quinta-feira, junho 07, 2012

Ele está logo ali

Esse biquíni vermelho cai bem em você.

Você acha, mas vou te contar, quase já o perdi, sabia?

Perdeu, como?

Vamos parar aqui nesse quiosque pra tomar uma água de coco, já te conto.

Algum homem veio atrás de você e uau, arrancou o biquíni...

Não foi bem assim. Quer um pouco da água? Está uma delícia.

Não se preocupe, Teresa, vou comprar uma também. Mas vai, conta como você quase ficou sem.

Um cara, até muito bonitinho, mas não aconteceu aqui na praia, foi na casa dele.

Hum, na casa dele.

Isso, acabei aceitando o convite, você compreende, não?

Oh, como compreendo.

Eu estava aqui pertinho, ali naquela parte da areia; ele foi conversar comigo; aceitei o papo; no final estava louquinha pra trepar com ele.

Então, na casa dele e no mesmo dia.

Isso. Saímos daqui direto pra lá. Namoramos até tarde de noite. Foi ótimo. E quando eu fui embora, uau...

Ele mordeu seu bumbum e o biquíni ficou nos dentes dele.

Não foi bem assim. Sabe como é, homem tá difícil, e ele é tão gostoso, tive de arranjar um artifício.

Artifício?

Isso, Sônia, artifício, adivinha qual?

O biquíni.

Acertou. Esqueci de propósito no apartamento dele. E a minha camiseta era tão curta.

Você estava de camiseta curta?

Cobria só um tantinho pra não me deixar nua. É daquelas que fazem os homens olhar pra trás procurando a calcinha. Joguei sobre o meu corpo e dei um bye-bye. Ele me beijou e eu saí. Lógico que eu vestia o top, por isso deve ter pensado que eu também estava com o biquíni por baixo. Mas o deixei na torneira do chuveiro.

E depois?

Depois? Ele me procurou no dia seguinte. Na praia, no mesmo lugar. Me convidou a voltar lá pra pegar.

Aí você voltou.

Voltei. Uma gostosura o homem, tão saboroso como essa água de coco.

Água de coco, Teresa?

Isso mesmo, essa que nós estamos bebendo. Mas é lógico que trepar sempre é melhor.

Quer dizer que você andou por essas ruas só de camiseta.

Andei, juro, mas era noite, e em minha portaria não há ninguém depois das onze.

Acho que vou experimentar, Teresa, andar só de camiseta.

Não, Sônia, melhor experimentar o homem. Eu mostro quem é, e ele está logo ali... 

sexta-feira, junho 01, 2012

Tênis vermelho cano longo

Corro na orla, mais de duas da madrugada. Um carro me segue, sei que alguém dentro dele me está filmando. Minhas passadas são firmes, resistentes, calço tênis vermelho cano longo. O início de outono me acaricia a pele, mas não sinto frio, o calor do meu corpo em movimento basta para me manter aquecida. Até agora não cruzei com ninguém. Não fosse o automóvel atrás, a vinte ou trinta metros, estaria totalmente só.

Sei que o tênis cano longo cobrindo os pés e os tornozelos de uma mulher é um fetiche, e o homem que a olha nua, apenas de tênis, há de achá-la a mulher mais gostosa do mundo. Já fiz fotos assim. Foi o maior sucesso. Posei em pé, sentada sobre um banquinho, no chão em posição de lótus, deitada. Mas sempre me cobrindo os pés e os tornozelos o tênis cano longo.

Até que meu namorado me convenceu a correr na orla da praia, alta a madrugada. Sempre corri, disse a ele, tenho bom preparo físico. Ele, porém, acrescentou: correr vestida apenas de tênis cano longo.

Há meninas que usam minissaia com esse tipo de tênis. Ficam umas gracinhas. E não há homens que não se voltem para elas.

Passeamos no carro dele. Paramos no Leblon para comer sushi. Comida sensual, o sushi, acompanhado de caipirinha de saquê, maravilha. A bebida logo produz efeito, sobe pelas pernas. Ai, que vontade de ficar nua. Que vontade de transar.

Saímos do restaurante ainda contagiados pela arrumação artística e pelo sabor dos pratos da culinária japonesa. Já no carro, meu namorado envolve minhas pernas com suas mãos, salta às minhas coxas.

Espere, eu mesma tiro. Sem a saia; a seguir, sem a blusa. Vou apenas de tênis cano longo. Me abrace, me beije, sussurro.

Você está linda, vamos andar um pouco. Ele começa a guiar pela orla marítima. Você gosta mesmo de andar nua, não é mesmo?, sua voz baixa soa amorosa.

Adoro.

Será que faz frio lá fora?

Vou experimentar.

Isso mesmo; nos seus olhos há uma ponta de euforia; vamos pensar positivo, não vai aparecer ninguém, diz.

Ele pára. Saio do carro e faço ligeiro aquecimento.

Você é boa atleta, há de conseguir correr os quatro quilômetros.

Mesmo depois das duas caipirinhas, sorrio para ele.

De repente a vontade louca de escapar, correr sozinha, ninguém atrás de mim. Depois subir a pedra na ponta da praia, nua.