quinta-feira, abril 25, 2013

O ovo e a galinha

Meu namorado adora cozinhar, e eu adoro comer o que ele prepara. Enquanto ele terminava de arrumar numa enorme travessa a salada, eu separava os molhos. No fogo, uma massa; à parte, os acompanhamentos. Entre eles havia champignon. Se eu pudesse, mergulhava no pote.

Quero que me atenda em um pedido, falou.

Estou toda entregue a ti.

Verdade?

Olhou para mim enquanto suas mãos ágeis trabalhavam as verduras.

Abre a geladeira e traz dois ovos cozidos.

Fui até lá e fiz o que pediu, trouxe os ovos num prato de sobremesa.

Às ordens, eu disse depois de entregá-los. Junto lhe deixei um beijinho numa das faces.

Há mais uma coisa, ele disse. Olhou na minha direção enquanto colocava os ovos, sem cortá-los, numa posição que decorava a travessa.

Sim?, eu aguardava o pedido.

Você fica nua durante o jantar?

Nua? Como assim?

Nua, ora, você senta nua à mesa e janta comigo.

Sim, mas vou fazer melhor. Permites que eu vista uma miniblusa?, é quase um top, acho que fica mais elegante; te prometo que tenho ainda outra surpresa.

Ok, combinado, a miniblusa, falou amoroso e me beijou antes de levar a travessa até a mesa. Depois voltou ao fogão para acabar de preparar a massa.

Fui ao quarto e voltei vestida com a miniblusa.

Você não fez o que eu pedi, veio também de saia, observou amuado. Pedi que viesse nua, disse ao mesmo tempo que tirava a massa do forno.

Calma, amor, é para criar um clima. Vesti a minissaia mas tiro já, assim que a mesa estiver posta.

Ajudei-o a trazer copos, pratos e talheres para a sala de jantar. Depois peguei uma garrafa de vinho tinto no bar, que fica logo depois da porta de entrada.

O macarrão está delicioso, falou.

Voltei à cozinha e peguei os temperos.

E então?, perguntou.

Então?

Virei de costas e tirei a saia. Deixei que ele me apreciasse o bumbum. Depois a arremessei a uma cadeira. Fiquei de frente e andei até ele.

Após longos segundos num abraço bastante fofo, sentamos para o jantar. A massa, já pela aparência, era uma delícia; os acompanhamentos, ainda melhores. Meu namorado serviu o vinho. Achei o nome engraçado: Corvo. Segundo ele, era de origem italiana. Brindamos e tomamos os primeiros goles. Eu, sentadinha, de pernas cruzadas, o friozinho do estofado excitando a minha pele nua.

Experimente o palmito, ofereceu.

Começamos a comer, saboreamos a salada, depois assaltamos o macarrão.

Amor, lembra os ovos que cozinhei, onde estão?, perguntou.

Tchan, tchan, tchan, tchan..., respondi.

Como assim?

A surpresa!, falei.

Surpresa? Você os fez desaparecer?

Lembras uma vez que me sussurraste ao ouvido que sou tua galinha fofinha?

Você, minha fofinha?, falou ainda mastigando e saboreando a comida.

Isso mesmo, galinha, franguinha.

E o que tem?

Já vais saber. Acho que tudo combina com esta noite, e como me pediste para ficar peladinha, melhor.

Fui até o tapete.

Amor, vem até aqui, pedi.

Sentei de cócoras.

O que você vai fazer?, sua pergunta mostrava surpresa.

Não é nada disso que estás pensando. Perguntaste pelos ovos, não? Coloca uma das mãos bem entre as minhas pernas.

Ele começou a achar excitante os meus movimentos.

Pronto, agora... Pari um dos ovos, bem sobre a palma de sua mão.

Que maravilha!, estupefação da parte dele.

Calma, amorzinho, não esqueças que eram dois.

Coloquei para fora o segundo. Começamos então a saboreá-los.

Depois? Depois ele mergulhou dentro de mim. E eu engoli tudinho.

segunda-feira, abril 22, 2013

Mais uma vez, por favor

Valdo sentou na cadeira e eu me coloquei de pé, as pernas abertas sobre suas coxas. Pouco a pouco fui abaixando, numa ligeira flexão, os músculos das coxas tensionados, todo o meu peso concentrado neles. Com facilidade consegui que me penetrasse. A sensação de prazer foi tanta, que tornou menor o meu esforço para sustentar o próprio corpo. Repeti os movimentos ascendentes e descendentes, ora engolia o seu pênis inteiro, ora permitia que escapasse até a extremidade. Cada vez que o empurrava de novo para dentro, eu emitia um gemido de prazer. Ao perceber próximo o gozo de meu namorado, intensifiquei os movimentos, queria o êxtase junto com ele. Durante alguns segundos imprimi tanta velocidade, que era certo ter os músculos doloridos no dia seguinte. Mas o prazer que eu sentia naquele momento compensava.

"Valdo, ainda bem que já mandei a crônica para o jornal, já passa das oito, achei que não voltarias,"

Ele nada retrucou, como era seu costume, apenas me beijou na boca, um beijo longo e saboroso.

"Por que demoraste tanto? Já estava desesperada."

"Tinha um assunto a resolver."

"E precisavas ter levado as minhas roupas?"

"Assim estaria mais perto de ti."

"Por que não me levaste junto?"

"Não podia, assunto de homens."

"Por que não me deixaste lá embaixo, eu a passear, a ver alguma vitrine?", sugeri.

"Queria ter certeza de que faria amor com você."

"Quase não consegues, estava prestes a alçar voo. A janela é larga."

"Mas você permaneceu pousada."

"Verdade. Mas agora quero minhas roupas, preciso ir embora. Gostaste da resistência de meus músculos?"

"Gostei de todos os teus músculos. Mas você ainda treme, o que há?"

"É o risco. Vi que entraste com as mão vazias."

"Verdade. O que você vai fazer?", sorriu e me soprou um beijo.

"Me come mais uma vez, vai, estou trêmula e arrepiada. Me come, assim fico calma. Depois dou um jeito."

quinta-feira, abril 18, 2013

Vamos a uma festa?

Quando fui estudar Letras na PUC de BH, logo que cheguei ao campi da universidade uma amiga me apontou o alojamento dos estudantes do Centro Tecnológico:

“Aqui moram os rapazes da engenharia, eles são completamente loucos. Fazem festas toda semana, convidam as garotas, vivem bêbados. Quando uma de nós passa em frente ao CT, eles gritam como se nunca tivessem visto uma mulher. E, além de tudo isso, possuem um varal de calcinhas. Não me pergunte a quem pertenciam porque não sei dizer.”

Ouvi a história e achei tudo muito engraçado.

Dias depois, após o começo das aulas, tive de passar algumas vezes em frente ao alojamento desses rapazes. Eles, na verdade, agiam exatamente como minha amiga me contara. Gritavam, falavam besteiras, apontavam para o citado varal e perguntavam se eu não queria participar da próxima festa que estavam preparando.

Transcorreram-se alguns dias até que conheci Aline, uma caloura recém-chegada de Vitória. Era o tipo da pessoa animada para qualquer coisa, sempre aberta a todo tipo de novidade. Após sairmos de uma aula, ela falou: 

“Você já reparou os rapazes do CT? São tão bonitos.”

“Não se aproxime deles”, alertei assustada, “dizem que são terríveis, e depois será você que ficará com má fama.”

“Má fama?”, ironizou.

No sábado, Aline me telefonou.

“Vamos a uma festa?”

“Onde?”, eu quis saber.

“Adivinha?”

“Não é a dos rapazes do CT?”

“Claro que não”, assegurou.

Fomos as duas. Eu vesti um vestido estampado soltinho, de fazenda leve, que descia até um pouquinho acima dos joelhos. Já Aline usou um desses vestidinhos super curtos, coladinho ao corpo.

A festa ficava num bairro um tanto distante da universidade. Tivemos de pegar um ônibus. Chegamos lá pelas onze da noite, à hora combinada.

A casa, local da festa, estava toda decorada. Logo que entrei cutuquei minha amiga:

“Aline, só estou vendo homens, cadê as moças?”

“Ah, que bom que só existem homens por aqui”, ela sorriu muito animada.

Depois de algum tempo chegaram as garotas. Mas a grande maioria dos convidados era composta por rapazes. Alguns deles se aproximaram e se mostraram muito afetuosos. Um logo me conquistou. Aline também não demorou a arranjar um par.

A festa ocorreu num clima de muita música, muita bebida e azaração. Lá pelas tantas era difícil encontrar alguém sóbrio. Eu e Aline nos juntamos a outras meninas e dançamos repetidas vezes, chegamos até a ensaiar alguma coreografia. A festa acabou lá pelas quatro da manhã. Alguém nos levou para o meu pequeno apartamento, no centro da cidade. Mas nem eu nem minha amiga sabemos dizer quem.

Na segunda seguinte, ao passar em frente ao CT, reconheci alguns dos rapazes que estiveram na festa. Ao me verem, começaram a gritar e a fazer a maior algazarra. Um deles apontou para o varal das calcinhas, que alguém colocara na janela, em destaque. Um rapaz louro gritou que nele havia mais duas. Todos os outros fizeram coro. Ai, não tive onde enfiar a cabeça.

quinta-feira, abril 11, 2013

Ficou uma coisa tua aqui

Eu estava no apartamento de João, mas achava que não deveria ter aceitado o convite. Sentada no estofado para duas pessoas, eu olhava para ele, que se acomodara numa cadeira junto à mesa. Pilhas de livros se espalhavam em vários pontos da sala, e a mesa não era exceção. Meu rosto revelava a aparência de uma mulher vencida, uma mulher que se deixa levar pelas sensações. Era quase o mesmo que, lá embaixo, na rua principal, ter concordado acompanhar um desconhecido. Lembrei-me do tempo em que era mais jovem: não demorava a aceitar fazer sexo com qualquer rapaz bonito. Mas como já passei dos quarenta, pensei já ter superado a fase dos namoros tentadores. Embora estivesse ali por vontade própria, meu sentimento era de frustração. Fôramos ao cinema duas vezes, a algum bar ou restaurante, depois conversamos muito pelo telefone nas três que se seguiram. Apesar de já sentir uma ponta de paixão por ele, não era minha intenção transar, pelo menos tão cedo.

Quer beber alguma coisa?, perguntou.

Acho que não, já bebemos não faz muito tempo, respondi afoita.

Vou tomar uma cerveja, tenho na geladeira, falou.

Ele foi até a cozinha e voltou com a garrafa e dois copos. Pedi que não colocasse para mim. Encheu um dos copos e tomou um longo gole, olhou na minha direção e sorriu. Continuei séria, ressentida, embora esse sentimento fosse comigo mesma. Acho que se eu não tivesse tomado a iniciativa ele teria permanecido no mesmo lugar, sentado junto à mesa e bebendo sua cerveja durante toda a noite. Tocava uma música instrumental no aparelho de som.

Está gostando de ter vindo?, perguntou.

É, ainda está cedo, o que faríamos depois do restaurante?

Por isso convidei para subir um pouquinho, depois levo você em casa, falou e sorriu.

Acho que sorri também, Não sei o que deu em mim, mas levantei e ultrapassei o biombo que separa o quarto da sala, entrei no quarto e me atirei na cama.

João, venha até aqui, pedi.

Ele primeiro parou à beira da cama, me apreciou deitada numa posição transversal à cabeceira.

Venha me abraçar, falei séria, voltada para ele.

João deitou ao meu lado, me abraçou, mas não demorou a dizer:

Você vai ficar toda amarrotada.

Foi então que tirei o vestido e entreguei nas mãos dele.

Ele saiu do quarto e voltou pouco depois, deitou-se sobre mim e começamos um namoro gostoso. Meu corpo quente me fez esquecer tudo que pensara antes. Entreguei-me a ele. Como fazia tempo que não transava com pessoa alguma, quando comecei a sentir o pênis de João tive um pouco de medo. Cheguei a falar:

Você é muito grande para mim.

Mas ele foi vagaroso e paciente. Pouco a pouco meus gemidos foram vencidos e eu o aconchegava dentro de mim.

Duas horas depois ainda estávamos um sobre o outro, mas cochilávamos.

Quando me dei conta das horas, entrávamos pela madrugada. Lembrei-me de novo do momento inicial, quando estivera sentada no estofado. A sensação de mulher de aluguel voltou-me. Como o momento do ardor sexual já havia passado, comecei a sentir uma ponta de arrependimento. Apesar de tudo ter sido tão bom, achei que as coisas poderiam ter caminhado mais devagar. Do jeito que aconteceu, ele teria pleno domínio sobre mim. Não queria ter cedido com tanta facilidade. Acho que o esforço para a conquista torna a relação mais duradoura.

Sentei na cama, cruzei as pernas e olhei para João. Ele parecia adormecido.

Preciso ir, já está muito tarde, vou chamar um táxi, falei.

Um táxi?, repetiu.

Isso.

Levo você.

Não precisa, chamo um táxi.

Fique até amanhã, falou ainda sonolento.

Levantou-se e sentou ao meu lado. Aproveitou para me abraçar e me dar um beijo no rosto.

Não posso, minhas filhas vão chegar de uma festa.

O que tem isso? Elas já são quase adultas.

Não insista, preciso ir, pegue o meu vestido, por favor.

Ele se levantou e saiu do quarto. Mas voltou de mãos vazias.

Você vai mesmo embora?

Vou. E é melhor eu mesma chamar o táxi.

Calcei a sandália, caminhei até a sala e peguei o celular dentro da bolsa. Liguei para uma cooperativa de táxis. Depois levantei, pendurei a bolsa no ombro e caminhei até a porta. Eu não voltaria, estava decidida.

Ei, espere, Glena, acho que ficou uma coisa tua aqui, falou.

Abri a porta e saí. Não podia ficar ali nem mais um minuto. O que quer que eu deixava para trás seria para sempre.

quinta-feira, abril 04, 2013

O importante foi que ele...

Faz algum tempo, estava caminhando pela orla marítima quando vi uma jovem de short e camiseta branca. Ela corria, uma corrida de atleta, mas reparei que ia sem sutiã, seus seios e mamilos estavam bem nítidos na semitransparência do tecido. Lembrei que eu, em certa ocasião, ao vir correr e caminhar na praia, às vezes também não vestia o top, apenas a blusinha. Em certos dias corria tanto que me punha a suar. Então caminhava até a beira d’água e, se o  dia fosse de poucos banhistas, tirava rapidinho a blusa e mergulhava. Depois esperava a oportunidade de sair da água. Corria então até onde havia deixado a camiseta. Era boa a sensação de correr e manter a forma, mas melhor mesmo o mergulho, sentir a água fria tomando meu corpo, os meus seios nus, era quase como fazer sexo, mas com o toque sutil do mar, o deslizar das espumas e o frisson provocado pela expectativa do que estava por vir. Alguém me descobriria nua sob o frágil manto de espumas? Alguém pensaria que a camiseta era uma peça esquecida sobre a areia e a levaria consigo? Meu coração acelerava. Eu tinha vontade de ficar nua por inteiro. Mas sempre consegui voltar a tempo, vestir-me e continuar a caminhada; naquele momento já refrescada, livre do calor e do suor. E a mocinha, será até onde ia? Também mergulharia seminua, no final da praia?

Ao voltar a vista para o calçadão, percebi um homem a me olhar. Depois, sorriu; mais adiante me seguiu. Por que ele não acompanhou a jovem que ia sem sutiã? Eu tão vestida... uma bermuda de lycra que descia até os joelhos, a blusa de ginástica e por baixo o top, dos grandes. O admirador acabou por vir falar comigo.

“Conheço você, não? Da academia de musculação.”

E não é que conhecia mesmo? Fiquei a falar com ele. Andamos juntos. Convidou-me para um passeio de bicicleta.

“Que tal? É tão bom. E tenho logo duas.”

Fomos ao encontro das bicicletas. Pedalamos os dezesseis quilômetros de orla. Enquanto seguíamos, vez ou outra eu olhava o mar. Estava bravio. Poucos os banhistas, e um ou outro atleta. No fim da praia, voltava a moça que eu vira sem sutiã. Atrás dela um jovem. Quem sabe a seguia? Sorri para o meu companheiro, que nada sabia daquela história nem nada conhecia sobre meus tempos de tomar banho de mar nua.

No fim da manhã, ele me convidou para uma festa que aconteceria à noite.

“Uma festa?”, ainda repeti. “Mas você não acorda cedo para vir correr e pedalar?”, insisti.

“Uma vez ou outra não é nada demais.”

Só não lembro se o namorei depois da festa, pois sempre tive muitos namorados. Houve até um que me pediu para correr nua, de madrugada, na beira da praia. Não é que corri? Ele ficou tão eufórico que chegou a dizer: “não devia ter deixado você se vestir. É tão bonita nua.” Será que ele deixou mesmo eu me vestir?

Às vezes essas coisas acontecem. Uma amiga me contou que certa vez, após terminar de transar com um cara, não encontrou sequer uma peça das próprias roupas.

“Rosa, o homem era tarado”, falou.

“E você, o que fez?”

“O que eu podia fazer?”, respondeu com um sorriso nervoso. “Ainda tive sorte de sair viva.”

“Ah, não exagere”, falei, “você me contou que saiu com esse homem mais de uma vez.”

“Será?, não lembro.

“Mas eu lembro. E sei que você ainda espalhou por aí: ‘o importante foi que ele me fez gozar!’.”