Tudo começou com uma aposta.
“Duvido que você faça isso”, disse minha amiga.
“Faço, não tenho medo nem vergonha.”
“Aposto que você não faz; não acredito.”
“Quer apostar mesmo? Digo que vai perder...”
Acabamos apostando. Agora não lembro a quantia, mas não era alta; o que valia era o intento.
A luz do corredor do meu andar apagava quando não havia presença humana. Mas o lugar onde eu decidira sentar, no quarto ou no quinto degrau da escada, entre o sexto e o sétimo andar, fazia que o sensor constantemente acendesse a lâmpada, o que de certa forma podia despertar a atenção de algum morador que estivesse acordado. Eu esperava aquele homem misterioso ali, quase junto à sua porta. Sabia que ele morava só e sempre chegava do trabalho por volta das duas da madrugada. Para completar, cumprindo as exigências da aposta, eu estava nua. Isso, nua em pêlo. Sentia a pedra fria da escada sob meu bumbum; a estação do ano não era de frio, mas a noite estava fresca; uma ligeira corrente de ar arrepiava minha pele.
Percebi quando o elevador começou a subir. O marcador enumerava os andares. Quando parou no sexto, senti um frio na barriga. Mas respirei fundo e aguardei os acontecimentos. Encolhi-me, encostei a parte da frente das coxas aos seios, envolvendo as pernas com os braços, feito um cordão. A única coisa que eu temia era que a pessoa que saísse do elevador não fosse quem eu esperava.
Não me enganei. Era ele mesmo, o morador do 603.
Ao me avistar, teve um ligeiro sobressalto. Depois olhou de novo, como se não acreditasse no que via. Em seguida chegou a sorrir, mas um sorriso nervoso.
Fiz fisionomia de desencanto.
“O que houve?”, perguntou ainda assustado.
“Uma separação”, respondi.
Ele abriu a porta um tanto atrapalhado e perguntou:
“Quer entrar?”
Levantei-me, cobri os seios com as mãos e caminhei para dentro do apartamento.
Fechou a porta e falou:
“Vou lhe dar alguma roupa”, fez um gesto de quem vai à procura de alguma coisa.
“Não é necessário, aqui dentro já me sinto segura.”
Ficamos os dois olhando um para o outro.
“Acho que daqui a pouco minha amiga já vai estar mais calma, então poderei voltar.”
“Mas, nua?”
“Está tarde, ninguém vai perceber”, falei.
“Apenas eu a vi nua?”, quis saber.
“Sim.”
“E o que fazemos, agora?”, disse ainda assustado, como se minha nudez fosse um grande estorvo.
“Não há problema algum, podemos conversar um pouquinho até que a minha amiga se acalme.”
“Sente-se, por favor, tem certeza de que não quer vestir nada?”
“Tenho”, acomodei-me numa poltrona, cruzando as pernas.
“Bebe então algo?”
“Bebo.”
O engraçado foi o seguinte: a nua era eu, mas ele é que continuava nervoso.
Bebemos. A bebida fez que ele relaxasse.
Sorri algumas vezes.
Então compreendeu minhas intenções. Aproximou-se, mas demorou para tocar meu corpo.
“Por essa eu não esperava, acho que acertei na loteria”, falou e também sorriu.
Saí de lá por volta das quatro da madrugada.
“Tem certeza de que não quer vestir nada? Você vai sair assim, nua?”
“Vou.”
“Caso sua amiga não abra a porta, pode voltar, tá?”
Depois de cinco minutos, bati com o nó do dedo médio três vezes em sua porta.
Ele abriu.
Eu, ainda nua e cobrindo os seios com as mãos, sorri para ele:
“Voltei!”.
“Duvido que você faça isso”, disse minha amiga.
“Faço, não tenho medo nem vergonha.”
“Aposto que você não faz; não acredito.”
“Quer apostar mesmo? Digo que vai perder...”
Acabamos apostando. Agora não lembro a quantia, mas não era alta; o que valia era o intento.
A luz do corredor do meu andar apagava quando não havia presença humana. Mas o lugar onde eu decidira sentar, no quarto ou no quinto degrau da escada, entre o sexto e o sétimo andar, fazia que o sensor constantemente acendesse a lâmpada, o que de certa forma podia despertar a atenção de algum morador que estivesse acordado. Eu esperava aquele homem misterioso ali, quase junto à sua porta. Sabia que ele morava só e sempre chegava do trabalho por volta das duas da madrugada. Para completar, cumprindo as exigências da aposta, eu estava nua. Isso, nua em pêlo. Sentia a pedra fria da escada sob meu bumbum; a estação do ano não era de frio, mas a noite estava fresca; uma ligeira corrente de ar arrepiava minha pele.
Percebi quando o elevador começou a subir. O marcador enumerava os andares. Quando parou no sexto, senti um frio na barriga. Mas respirei fundo e aguardei os acontecimentos. Encolhi-me, encostei a parte da frente das coxas aos seios, envolvendo as pernas com os braços, feito um cordão. A única coisa que eu temia era que a pessoa que saísse do elevador não fosse quem eu esperava.
Não me enganei. Era ele mesmo, o morador do 603.
Ao me avistar, teve um ligeiro sobressalto. Depois olhou de novo, como se não acreditasse no que via. Em seguida chegou a sorrir, mas um sorriso nervoso.
Fiz fisionomia de desencanto.
“O que houve?”, perguntou ainda assustado.
“Uma separação”, respondi.
Ele abriu a porta um tanto atrapalhado e perguntou:
“Quer entrar?”
Levantei-me, cobri os seios com as mãos e caminhei para dentro do apartamento.
Fechou a porta e falou:
“Vou lhe dar alguma roupa”, fez um gesto de quem vai à procura de alguma coisa.
“Não é necessário, aqui dentro já me sinto segura.”
Ficamos os dois olhando um para o outro.
“Acho que daqui a pouco minha amiga já vai estar mais calma, então poderei voltar.”
“Mas, nua?”
“Está tarde, ninguém vai perceber”, falei.
“Apenas eu a vi nua?”, quis saber.
“Sim.”
“E o que fazemos, agora?”, disse ainda assustado, como se minha nudez fosse um grande estorvo.
“Não há problema algum, podemos conversar um pouquinho até que a minha amiga se acalme.”
“Sente-se, por favor, tem certeza de que não quer vestir nada?”
“Tenho”, acomodei-me numa poltrona, cruzando as pernas.
“Bebe então algo?”
“Bebo.”
O engraçado foi o seguinte: a nua era eu, mas ele é que continuava nervoso.
Bebemos. A bebida fez que ele relaxasse.
Sorri algumas vezes.
Então compreendeu minhas intenções. Aproximou-se, mas demorou para tocar meu corpo.
“Por essa eu não esperava, acho que acertei na loteria”, falou e também sorriu.
Saí de lá por volta das quatro da madrugada.
“Tem certeza de que não quer vestir nada? Você vai sair assim, nua?”
“Vou.”
“Caso sua amiga não abra a porta, pode voltar, tá?”
Depois de cinco minutos, bati com o nó do dedo médio três vezes em sua porta.
Ele abriu.
Eu, ainda nua e cobrindo os seios com as mãos, sorri para ele:
“Voltei!”.