segunda-feira, outubro 23, 2017

O ar da costa nos deixa um tanto embriagadas

A história do biquininho é muito engraçada. Meu paquera veio com a ideia, que tal um biquíni bem pequenino? Essa mesma a palavra dele, pequenino. Eu achava que não ficava bem, pois já passei dos quarenta. Ele veio com o presente. Comprar biquíni é coisa problemática, às vezes a gente experimenta um, experimenta outro e nada. Qual o seu manequim? Bastou falar e uma semana depois voltou com o biquíni. É de marca muito famosa, exportam para os melhores países, afirmou. Fui vestir. Não é que caiu como uma luva! Mas fiz charminho, tenho vergonha, falei, já pensou encontro alguém?, todos aqui me conhecem, o que vão pensar? Não sabia que você ligava pra essas coisas, respondeu, tão altiva, desinibida, mas se pensa mesmo assim, você pode usá-lo num dia de praia vazia, durante a semana, ou mesmo quem sabe, fazer como as surfistas, elas usam maiô mas vestem o biquíni por baixo; quando não estão sobre a prancha, estão de biquíni. Vou pensar, respondi. Guardei o biquíni.

Guardei também a provocação. Vou à praia num dia de praia vazia, pensei, deixe estar. Passaram dois dias, o sol tímido a princípio e eu vestida do biquininho. Gostei da sugestão. Vou fazer como as surfistas. Vestia o maiô por cima. Ao chegar à praia, estendi a canga, repousei a bolsa, um vento brando, odor de excitação no ar, duas pessoas aqui, três ali, gente que caminha, que passeia. Como sou preguiçosa, sentei; depois deitei, fiquei de maiô. Com o correr dos minutos, o sol foi subindo, minha pele aquecendo, meu sangue circulando com mais alegria. Tirei o maiô. Deitei de biquininho. Quanto tempo que não uso um biquíni assim. Fechei os olhos. Caso apareça alguém, melhor, vai ser uma festa. Quando me senti incomodada pelo calor, corri para a água. Mergulhei e nadei bastante. Quando reparei, havia duas pessoas próximas de onde eu deixara minhas coisas. Um homem e uma mulher. Eu conhecia o homem, trabalhava numa loja do centro desta cidade, Rio das Ostras, me olhava com desejo quando eu passava por ele, seus olhos seguiam meu bumbum. Mas estava acompanhado; logo, eu poderia ficar tranquila. Sua acompanhante vestia também biquíni, mas nada de mais, um biquíni comportado. Ao ver que os dois se abraçavam, senti saudades do homem que me trouxera o presente, que bom se pudesse estar com ele ali, naquele momento, mas trabalhava em M., somente no fim de semana é que viria. O homem e a mulher continuavam abraçados. Após alguns minutos, ela o soltou e foi até onde eu deixara minhas coisas, olhou para o forro sobre a areia e pareceu surpreender-se. Descobri do que se tratava. Eu deixara o maiô sobre o forro, provavelmente ela estava pensando que a pessoa dentro d'água havia tirado o maiô e mergulhado nua! Olhou para o mar, como que procurando a dona da veste de banho. Ao dar comigo, pareceu sorrir, disfarçou, segurou na mão do namorado e caminharam os dois duas ou três dezenas de metros para a direita. Ficaram à espreita, não iam perder a mulher nua saindo d’água. Eu sabia que deixava a mulher curiosíssima e não podia decepcioná-la. Já pensaram?, eu saindo d’água de biquíni?, não teria a menor graça. Dei conta de que era a estrela daquela manhã. Nadei então mais um pouco, para um lado e para o outro, fiquei de costa para eles, depois de frente. Fingiam não me ver, mas sabia que me espreitavam. Quem sabe não mergulhariam, e viriam na minha direção para se certificarem da minha nudez? Eu precisava agir, e aquele movimento me deixou ainda mais excitada. Sabia que alguém ia espalhar: uma mulher nua toma banho de mar na Costa Azul. No dia seguinte, eu não teria mais sossego.

Desatei o top e depois a calcinha. Descobri que os dois, bem enroladinhos cabiam na palma das minhas mãos. Saí d’água altiva e sorridente, caminhei até meu forro, guardei o biquininho dentro da bolsa, sem que eles pudessem descobrir que era isso que eu fazia. Só depois é que vesti o maiô, com muita calma, torcendo para eles me filmarem com bastante apuro. No final, reparei que foi a mulher quem mais gostou do meu pequeno show. Antes de ir embora, veio me cumprimentar.

Quando me vi sozinha de novo na praia, estava surpresa. Como evoluí! De um maiô inteiro para o duvidoso biquíni; deste, para a nudez. Acho que há vezes em que o ar da costa nos deixa um tanto embriagadas... 

segunda-feira, outubro 09, 2017

Lucinda

Lucinda tinha acabado de se separar de Marcos. O motivo era que ele quase não lhe dava atenção. Na cama, então, nem pensar. Marcos queria mesmo era ser locutor na rádio comunitária local e, quando estava de folga, beber umas cervejas no bar da Vilma. Lucinda, como não conseguia parar quieta, descia para a cidade quase todos os dias. Numa dessas viagens, conheceu  Lukésy. Ele entrou no ônibus logo após o veículo atravessar o trevo da rodovia federal. Embora houvesse muitos lugares vagos, o homem resolveu sentar bem ao lado dela. Lucinda olhou disfarçadamente e suspirou. Caso arranjasse um paquera, não ia querer sexo. Aliás, pelo menos não no começo. Melhor um companheiro para passear, matar o tempo e dividir os gastos diários.

O homem, de jeito sério, foi quem falou primeiro. “Que paisagem bonita, que ar agradável.” Após as poucas palavras, olhou para Lucinda e sorriu. A morena, que sempre usava um vestido inteiriço que lhe descia até os joelhos, retribuiu o sorriso. Foi o sinal verde para Lukésy continuar sua declamação poética. Ele, por sinal, era um bom contador de histórias. Lu ficou entusiasmada. Enquanto ele falava, ela imaginava a idade do novo enamorado. Sessenta, quem sabe setenta? Pensando bem, ela preferia alguém mais jovem, um homem depois dos sessenta não tem o mesmo ardor de um jovem, na maioria das vezes não mais consegue ereção. Lucinda olhou para um lado e para outro, vexada pelos pensamentos arrojados. Mas, cada um, ou cada uma, com a sua sorte. Quem sabe este que está ao meu lado pode ser pelo menos um companheiro de vida? Mal sabia ela que Lukésy era muito assanhado, apesar dos setenta e um anos. Viu a exuberante Lucinda e achou que ela era um prato certo. O homem tinha métodos para manter o vigor sexual. Nada de medicamentos. Conhecia meios naturais que davam o mesmo resultado. Não se sabe se era verdade, mas foi o que contou à mulher uns dias depois de se conhecerem. Naquele primeiro dia, o do encontro no ônibus, Lucinda saltou um ponto antes da rodoviária, pois precisava ir ao banco. Mas não se esqueceu de deixar o número do celular. Ele, muito cortês, também deixou o seu.

Dois dias depois, Lukésy telefonou. Que tal se encontrarem na Costa Azul, perto de onde Lucinda morava. Sempre feliz por causa do novo namorado, ela aceitou. Lukésy trouxera-lhe uma caixa de chocolates. Enquanto contava sua história, a mulher já comia um dos bombons.

Ele já tivera três AVCs. Lu arregalou os olhos ao escutar. Mas não havia problema, ressaltava, agora estava bem, sentia-se como um jovem, aprendera a se cuidar, sobretudo por meio do consumo de sucos e vitaminas tiradas sempre de frutas. Havia um segredo nisso tudo, ele continuava a narração, uma melancia, com sua parte vermelha e branca mais os caroços, tinha um poder incrível, era mesmo uma espécie de Viagra natural. Batia tudo no liquidificador e depois cozinhava. Tomava uma grande porção e aguardava o efeito, que não demorava a se manifestar. Lukésy, na verdade, queria voltar no tempo. Achou que os setenta e um anos poderiam ser invertidos a dezessete. Comia aquele cozido de melancia várias vezes por dia.

Quando Lucinda esteve na casa do recente namorado, ele usava uma calça de moleton. Não era possível ver volume algum do seu pênis. Animado com a aparência de Lucinda, resolveu beber uma tigela da tal poção mágica de melancia cozida. Passaram vinte minutos e sua calça já demonstrava o efeito do Viagra natural. Lucinda gostou e não gostou. O motivo era que achava que um pênis deveria ser excitado com os carinhos dela, através de suas mãos macias e veludosas. Achava ter poderes até mesmo para aqueles casos. Lukésy não dava beijos nem nada sussurrava no ouvido da mulher. Ela sempre adorou ouvir palavras tenras, histórias em que era uma espécie de princesa do amor. Embora ele lhe admirasse os seios rijos, as pernas sem celulites e o bumbum saliente quando ela se despiu, o homem não avançou nas observações. Lucinda ainda deu alguns passos sobre o piso do quarto, para que ele a olhasse com mais ardor; afinal, seu corpo era mais estimulante do que qualquer vitamina natural ou artificial. Mas Lukésy queria apenas trepar, enfiar o pênis na vagina de Lucinda. No começo, sentou-se num dos cantos da cama e pediu a ela para vir por cima. Lu sentiu-se um tanto envergonhada com a súbita proposta, sem nenhum carinho ou um beijo. Mas acabou aceitando. Ficaram na posição durante um bom tempo. E o pior de tudo era que o homem não gozava. Chegaram a ficar várias horas trepando, agora ele sobre Lu, que já demonstrava desconforto. Ele não morava sozinho, e não se importava com quem mais estivesse na casa. Achava que poderia lubrificar a linda boceta de Lucinda com vários tipos de cremes e permanecer sobre a mulher horas a fio. Quando ela protestou, dizendo que já estava esfolada, que já não mais podia de tanta trepação (o Viagra permitia a Lukésy trepar durante a noite inteira), ele chegou a forçá-la, não permitindo que se mexesse. Lucinda, então, chorou, imóvel, com o homem sobre si. Na verdade, estava traumatizada, nunca experimentara um sexo tão doloroso. Não queria um namorado daquele tipo.

Ao amanhecer, muito cansada por não ter dormido, ainda ardida, Lu reparou que, pela primeira vez, o homem cochilava. Ela levantou-se tentando não fazer ruído algum, juntou os seus pertences e pulou a janela. Vestiu-se apenas a duzentos metro da casa, já na pequena rua lateral. Para escapar mais rápido do lugarejo, quando esperava o ônibus num abrigo da rodovia federal pediu carona a um caminhão que trafegava vagaroso. O motorista surpreendeu-se com uma mulher atraente, sozinha ao amanhecer, naquele abrigo deserto, pensou que fosse uma prostituta. Para desfazer a impressão, Lucinda disse que precisava ir a Rio das Ostras para cuidar de uma parenta doente. Ele tentou acreditar na história, sabia que naquele local não passava ônibus para onde a morena pretendia ir. Durante o trajeto, ele nada tentou, apenas contou uma história e deixou Lucinda em casa, deixou também o número do telefone. Quem sabe poderiam se encontrar qualquer dia desses, conversar um pouco, aproveitar a vida. Ela não disse nem sim nem não, apenas agradeceu. A seguir entrou em casa e trancou-se. Dali em diante não mais atenderia os telefonemas de Lukésy. Ainda bem que não dera o endereço. No dia seguinte iria ao centro e mudaria os números dos telefones. Mulher não é objeto, pensava com razão, mulher precisa de carinho. Lembrou-se, então, das mãos largas do motorista do caminhão.