segunda-feira, dezembro 21, 2020

Prostitutos

Estava na praia, acho que era uma sexta ou sábado, mês de abril. O mar ia calmo, poucas pessoas, o sol morno. Foi então que vi uma menina, digamos assim. Não era criança, mas alguém de seus vinte anos. Era bonita, magra, porém tinha bundinha, o biquíni curtinho, todo entrado atrás. Sou vinte anos ou vinte e poucos anos mais velha do que ela, tenho meu charme, mas depois de tanto tempo não dá pra manter um corpinho assim. Uso também o biquíni curtinho, a bunda de fora, embora a dela esteja mais exposta. Fiquei a olhá-la caminhar pela beira d’agua e pensei na dificuldade para alguém de quarenta ou cinquenta anos arranjar um namorando, não apenas aqui nesta cidade, mas em todo lugar. A moça logo vai estar nos braços de alguém. Não errei. Passaram-se dez ou quinze minutos, lá vinha ela com um rapagão. Ele, alto, magro também, desajeitado, como todo jovem, porém bonito, esbanjando a seiva dos vinte anos.

Uma amiga disse um dia desses: aqui, em M, é difícil arranjar um homem, e quando a gente consegue, ele quer mandar na gente, repare, faz alguns meses arranjei alguém, comecei a conversar, dias depois foi lá em casa, ficamos juntos, acabou rolando alguma coisa, descobri sobre a vida dele, embora não me interessasse; só não quero confusão, ok?, falei, você pode vir aqui vez ou outra, ficar comigo; não demorou o homem queria saber aonde eu ia, que horas eu saía, que roupa eu vestia; assim não dá, transbordei, você tem a vida toda enrolada, fica comigo duas horas por semana, nem sei o que faz por aí, e quer se meter na minha vida?, acabei por terminar; seria bom arranjar macho apenas pra trepar, nada de gente no meu pé; mas eles desenvolvem um sentimento pernicioso de posse. E essa minha amiga faz a vontade de todos os namorados, realiza a fantasia de cada um deles. Até já saiu nua no banco do carona. Olha que pérola o tal perdeu.

Voltando à praia, meia hora depois chegou um homem, que já conheço e vive de olho em mim, queria conversar. Mas sei da mulher dele, não quero confusão. Diz que moram juntos, porém não têm mais relação sexual. Não acredito em histórias da carochinha. Ele se pôs a falar sobre um amigo que viajou aos Estados Unidos, o que o amigo fez, por onde passeou, a namorada que arranjou, contou que a mulher nem deixava o homem falar, era só a vontade dela, e ele aceitou. Virei-me de frente (estava de costas, sobre a canga), disse que queria beber um refrigerante. Correu para comprá-lo. Essa é uma coisa boa entre os homens, pagam na esperança de me ter na cama.

Voltou depois de alguns minutos, trouxe um guaraná para mim e um copo de caipirinha para ele. Quero a caipirinha, cheguei a falar. Você gosta?, ofereceu. Bebi um gole, ele ficou com o guaraná. Seus olhos, de modo disfarçado, procuravam minhas coxas. Não há nada de mais transar com ele, mas sempre alguém acaba sabendo e as fofocas circulam rapidamente na cidade. Ainda ficou perto de mim durante vinte minutos; pediu licença, disse que tinha de ir, prometeu telefonar qualquer hora dessas, vamos a um restaurante, comer e beber do melhor, sugeriu.

Outras pessoas já se aglomeravam na faixa de areia e a praia já não tinha o charme de que gosto, vazia, inteirinha pra mim. Mas o que há de se fazer? Em torno de onze e meia apareceu um jovem que eu jamais vira na região. Pediu-me um cigarro. Mas você, de uma aparência tão rica, pedindo cigarro a uma mulher, falei e ri. Disse que não conseguia comprar cigarros em lugar algum, que já andara a praia toda. Apontei a ele a barraca, na ponta, perto do entroncamento com Cavaleiros, onde se vendia cigarros, e não só desses que você está me pedindo. O homem sorriu. Vou até lá. Queria que ficasse, arrependi-me da sugestão dada, o homem partiria, quem sabe seria uma boa conversa, ou mesmo algo a mais. Não demorou, voltava ele, com uma carteira de cigarros inteirinha pra mim, a marca que fumo. Não, por favor, cheguei a dizer, mas ele não me deixou recusar. Sentou, então, ao meu lado.

Não sei por que estou sempre a me lembrar de minhas amigas atuais e das que já se mudaram e que não vejo faz tempo. Veio-me à cabeça a Deia. Diz que é perigoso falar com desconhecidos. Pode até conversar, mas não sai com eles logo. Engraçado, ela ainda me contou que adora tirar o biquíni quando entra n’água. Procura um lugar pouco frequentado, despe-se e faz a calcinha de pulseira, diz que sente enorme tesão nisso. Sei lá, cada maluca com sua mania. Acho muito melhor ter um homem pra me abraçar, pra tirar o meu biquíni. Não dentro d’água, é claro, mas numa boa cama. É bom criar expectativa, provocar arrepio, fazer o homem sonhar que tem a gente nua nos seus braços, um incentivo para a conquista. E o que eles fazem pra conseguir nos comer! Não posso pensar muito nisso, chego a ficar molhada.

O homem jovem disse o mar aqui é muito bonito, é a primeira vez que venho. Não quis interrompê-lo, nem nada falar sobre mim, deixei-o divagar sobre a natureza. Depois de ficar alguns segundos em silêncio, levantei-me e fiz menção de que daria um mergulho. Estava calor, precisava me molhar. Foi atrás de mim. Entramos n’água, molhei a cabeça, depois mergulhei e nadei vinte ou trinta metros, distante da beira d’água. Ele me acompanhou, ficamos flutuando e sorrindo um ao outro. O que se pode pensar em tal situação? É lógico que não iria agarrá-lo, nem pedir que me abraçasse. Caso ele viesse, será que eu permitiria? O tesão é grande, mas a vulgaridade nos rebaixa. Não me tocou. A temperatura baixa da água nos atiçava. Nadamos mais um pouco, ouvimos o suave marulhar, o vento a perder-se sobre nossas cabeças, a sensibilidade do corpo ao mar. Senti vontade de lamber os braços, fazia isso quando criança, o gosto de sal me incentivava. Mas só foram pensamentos. Pouco a pouco fomos voltando à beira, enfiei mais uma vez a cabeça dentro d’água, a água a me escorrer os cabelos. Voltamos ao ponto de partida, à canga onde eu me sentei.

Certa vez disse eu a Wanda, vou pagar pra um homem me comer, não é possível viver assim. Ela riu, não acreditou. Quando foi embora (estávamos na minha casa e tomávamos um chá), comecei a procurar se havia sites de prostitutos. Há muitos deles, mas não aqui na cidade. Todos são no Rio, ou em São Paulo. Transar com um prostituto deve ser bom, porque trepo, gozo, pago e o homem vai embora, não se mete na minha vida. Se morasse na capital, faria isso, ninguém no meu pé.

Quanto tempo você vai ficar aqui em M?, perguntei, ele sentando diretamente na areia, ao meu lado. Vou pra arraial à tarde, falou. Arraial?, perguntei. Lá é ótimo, não quer ir também?, sugeriu. É, até que seria bom, sussurrei; você bebe algo?, elevei a voz. Ele levantou e foi até o quiosque comprar duas caipirinhas. A minha pede de vodca, por favor, soprei na direção, minhas palavras levadas pelo vento.

Todos sabem o efeito das bebidas alcoólicas. Embora não seja muito de beber, na praia acabo cometendo alguma extravagância. A bebida me deixa solta, falo coisas que não falaria num estado de total sobriedade. Minhas amigas não bebem, muitas dizem que o álcool faz mal à saúde. Também acho, mas uma bebida vez ou outra não vai matar. O limão com aquela ponta de vodca, o sol e o mar me provocam mais que arrepios. Não posso nem me mexer muito, para não dar na pinta. Meu amigo voltou com os dois copos, segurei o meu e experimentei o primeiro gole. Ele não era de falar muito, um cara de espírito contemplativo, refleti. Falei sobre a cidade, onde ele estava pela primeira vez, o que havia para fazer, tanto durante o dia como à noite, as praias, os pontos turísticos e alguns problemas locais, sobre estes falei pouco, não queria estragar a beleza do dia. Conheço uma porção de gente aqui, M tem duzentos e pouco mil habitantes, mas quem nasceu aqui ou mora na cidade há muito tempo conhece muita gente, às vezes é impossível ficar sozinha, sempre aparece alguém conhecido, e não se tem privacidade. Eu falava e falava. Parei para acender um cigarro. Perguntou se podia acender seu cigarro, mas não era um cigarro comum, comprei no mesmo lugar do maço de cigarros que trouxe para você, explicou. Lógico, pode acender, sim, e deixa eu dar uns tragos. Fumamos os dois, eu alternava uma tragada do meu cigarro outra no dele. Divertimo-nos no troca-troca, ele também fumou do meu cigarro.

Bebemos, pouco a pouco, as caipirinhas. É lógico que me tornei ainda mais excitada; ele, apesar de sua beatitude original, tornou-se também. Soube que vinha de um subúrbio do Rio, mudara-se para Niterói e se formara na universidade local. Não falou sua especialidade, também não perguntei. Disse que tinha um jipe, mas antigo, apontou na direção da orla, mostrando onde o deixara ao chegar pela manhã.

Após uma hora ou pouco mais, entramos n’água mais uma vez. A temperatura baixa das águas do mar provocava arrepios, mas refrescava o calor do sol das treze horas. Mergulhei e nadei durante alguns minutos. Meus cabelos compridos molhados escorriam às minhas costas, não sei por que senti naquele momento uma imensa alegria, talvez fosse o resultado de vários fatores, como o dia bonito, o homem jovem e sonhador a minha frente, a caipirinha e tudo que poderia vir pela frente. Ele aproximou-se de mim, esticou os braços e me enlaçou, mantendo suas mãos cruzadas atrás das minhas costas. Aproximei-me do seu tórax e o abracei. Ficamos ali, durante um tempo que, no momento parecia extenso; lembrando, porém, tempos depois, parecia passado num piscar de olhos.

Quando saímos d’água, estava convencida que iria com ele a Arraial. Deitamos ainda sob o sol durante um longo tempo. Aproveitei para escutar o som da natureza. O marulhar das ondas era o mais presente, depois vinha o vento, sempre contínuo, incansável, ruídos da presença humana, como a voz de alguém ao longe, ou o marchar do motor de algum carro mais barulhento que passava na pequena rua junto à orla marítima. Quando íamos lá pelas duas horas senti um pouco de fome. Em situações normais, eu voltaria para casa, mas com meu novo amigo deitado ao meu lado, de olhos bem fechados, como se visitasse outros planos naquele momento não tive coragem de partir. Poderia mesmo me levantar e me retirar, silenciosa, ele não notaria. Desci sozinha à beira e entrei no mar novamente. Havia mais pessoas naquele momento, mas a distância entre elas e eu era grande. Aproveitei para me refrescar bastante. Apesar da meia estação, o calor estava forte. O banho de mar me excitou ainda mais, senti uma vontade incrível de trepar. Enfiei a mão por dentro do biquíni para procurar meu clitóris, mas o biquíni era curto e tão apertado que resolvi baixá-lo até os joelhos. A água do mar a invadir de forma mais direta o local que momentos antes era coberto pelo tecido aumentou-me o desejo. Toquei, enfim, o clitóris, pressionei-o, friccionei-o. Quem sabe, chegando ao orgasmo perderia o desejo de acompanhar o homem a Arraial. Quando avançava na masturbação, a ponto de sentir meu coração se agitar, percebi alguém atrás de mim. Era meu amigo. Você mergulhou sem me chamar, disse. Ele pareceu não notar que eu me masturbava. Disfarcei. Você parecia dormir profundamente, respondi. Dormia mesmo, mas a tua falta me despertou. Ele veio me abraçar; eu, com o biquíni acima dos joelhos!

O jipe dele era bonito, tinha alguns adesivos. E ventava terrivelmente. Olha, alertei, você está me levando para Arraial, mas repare bem, estou nua, não tenho, nada a vestir além do biquíni e dessa canga semitransparente, é preciso que me traga de volta, está bem? Claro que trago você, ele disse, quando quiser basta pedir, arraial é a quarenta e cinco minutos de M.

Quando chegamos, estava morrendo de fome. Almoçamos numa cabana rústica, junto à praia. Não sei se foi por causa da fome, mas achei a comida deliciosa, tinha mesmo arroz e feijão, comida que quase não faço em casa. Comemos também filé de peixe, batatas cozidas e uma salada de alface. Bebemos uma cerveja, das grandes, depois descemos à praia. Andamos um pouco pela beira d’água, o sol ia mais suave. Houve um momento em que ele apontou um grupo de casas após uma pequena envergadura do mar, disse que estava hospedado ali. Estou mesmo é precisando tomar um banho de água doce e deitar um pouco, cheguei a dizer. Vamos, então, sugeriu, você vai poder descansar bastante. Andamos ainda na areia por dez ou quinze minutos, quando atravessamos a pista estreita e rumamos para o local das casas.

Não preciso dizer que fiquei pelada dentro da casa dele. Não tinha o que vestir. Saí enrolada na toalha, fui até a uma pequena área atrás da parte construída, onde havia um fio de estender roupa, dependurei minhas duas peças e a canga, depois entrei. Ele perguntou se eu queria uma camiseta. Ótima ideia. Vesti-a e me atirei na cama. Engraçado, quando deitei veio-me à cabeça a ideia que eu tivera de contratar homens para trepar comigo, homens que não teriam relação alguma além da sexual. Naquele momento tudo acontecia de maneira muito diversa, com alguém que poderia mesmo vir a gostar de mim. Seria ele possessivo? Pelo seu caráter zen, não.

Acordei, olhei meu telefone, eram onze e meia da noite. Virei ao lado e abracei meu recente namorado. Ele despertou, percebeu minhas intenções, abraçou-me também e rolamos sobre a cama. Beijei-o na boca, um longo beijo. Após alguns segundos, sentei-me e tirei a camiseta. Mesmo no escuro, ele apreciou minha nudez. Apertou-me os seios, puxou-me para junto dele, subiu sobre meu corpo. Lembrou-se que estava de bermuda. Não demorou a despir-se. Abraçamo-nos, cada um sentia o calor do corpo do outro. Ficamos assim durante longos minutos, beijando-nos, apertando-nos, enfim, explorando tecidos desconhecidos, pele inexplorada, promontórios escondidos. Senti-me excitada diante da ereção que ele mantinha. Um pênis que se conservava em todo seu esplendor durante o tempo que eu desejava. Ajoelhei-me e comecei a mordiscá-lo. Pouco a pouco deixei que penetrasse minha boca, depois avancei e pude senti-lo tocar-me os limites entre boca e garganta. Se esse homem esguicha seu sêmen, será que vou engasgar?, cheguei a pensar. O gozo me vinha lento, prazeroso, desejava mantê-lo o máximo possível. Minha estada ao seu lado, naquela casa, a loucura de ter deixado minha cidade e vindo praticamente nua a Arraial, tudo me excitava muito. Pensei no meu biquíni mínimo dependurado na corda, na canga transparente, será que ainda estavam lá? Será alguém os furtaria para me deixar ainda mais nua? Não me importei, o homem daria um jeito, grande parte dos homens sempre dão um jeito. Após alguns minutos, deixei minha boca escorregar, soltei seu pênis e sentei-me sobre o namorado. Adoro cavalgar. Mas primeiro era necessário encaixar seu peru, deixar que, com vagar, escorregasse pra dentro de mim. Comecei suave, apenas a ponta a beirar-me a vagina, quando senti que me molhava por dentro e por fora pressionei-o. Perdi o controle, percebi que me penetrava fundo, cheguei a gritar. Parti para o cavalgamento, era amazona a fugir de inimigo poderoso; ou , quem sabe, a atacá-lo com flechas certeiras, derrubando-os um a um. Mas naquela cama de fim de mundo, na verdade era eu a receber a flecha, a ponta anatômica mais perfeita que a natureza produziu, capaz de proporcionar gozo às mulheres. Esquecemos a camisinha, disse, não goza, não, por favor, me deixa perder a cabeça sozinha, sussurrei próxima ao seu ouvido. Gozei, ele gozou também. Ambos éramos, naquele momento, o homem e a mulher mais felizes do mundo.


Não fui embora no dia seguinte. Continuei o dia inteiro de biquíni, com meu homem, na praia, no quiosque próximo a beber um coquetel, na cama por mais duas ou três vezes. Escrevendo hoje, não lembro se parti num domingo ou numa segunda-feira. E vejam que são dias bem distintos, fáceis de serem demarcados. Nossa loucura foi tanta, que os dias se misturaram e vivemos a maior parte do tempo sob as sensações dos nossos corpos.

Depois daqueles dias não o vi mais. Ele voltou a sua cidade. Telefonou, enviou mensagens, falou comigo pelo videofone, sempre viajando, sempre em cidades diferentes. Jamais perguntei em que trabalhava. Ficou um dia de aparecer.

terça-feira, dezembro 15, 2020

Refúgio

No final de Cavaleiros, quando havia o quebra-mar, certa vez encontrei um refúgio. Ficava a cinquenta metros do que seria o entroncamento com a Praia do Pecado, e dois metros abaixo da calçada. Quem passeava pelo local não dava por sua existência, porque a tendência era olhar na direção da beira da praia. Acho que houve, ali, um quiosque, por isso alguém escavou a parede, talvez com a intenção de guardar garrafas ou outro tipo de mercadoria. Quando o encontrei, estava deserto. Como estou sempre ali, num canto tranquilo da praia, onde tomo sol e posso ler revistas e livros, acabei descobrindo-o. Fui investigar. Quem o utilizou chegou a fazer uma entrada lateral, esculpiu dois degraus na pedra. No total devia ter nove metros quadrados. Havia ainda uma espécie de entrada de luz, na verdade uma fenda na pedra. Caminhantes que olhassem de longe só o descobririam se muito meticulosos. Era preciso aproximar-se, agachar-se, só então se descobriria a entrada.

Algumas amigas perguntam o meu local predileto da praia, se em Cavaleiros ou no Pecado. Evito revelar. Quando muito, digo que tomo banho de mar em frente ao Country. Mas não é verdade. Não quero ninguém a me perturbar. Amo a liberdade, a beleza do mar e o calor do sol, principalmente na meia estação. Por isso, estou sempre sozinha. Às vezes, aparece alguém para conversar, contar um caso, ou destilar suas mágoas. Permaneço, porém, impávida, não falo nada de mim, não conto meus desejos nem o que faço. Lógico que observo se há alguém que me agrade. Quem sabe um homem para apreciar de longe, ou um namorado sem grandes envolvimentos. Tenho conhecidas que falam demais, contam seus problemas e frustrações. Há mesmo quem conte seus casos com os homens, como Nara. Diz que já trepou com não sei quantos, aqui da cidade. Procura manter as aparências, tem cara de quieta, mas age de modo contrário. Seu último namorado era um homem casado. Vinha apanhá-la na praia, levava-a a um hotel e depois a devolvia à mesma praia. Quando o tempo muda e começa a ventar e não é possível mais a praia?, cheguei a perguntar. Aí tenho de me virar. Talvez ela, caso descubra o esconderijo, entre nele com um homem. Para namorar, é claro. Sorrio e volto à minha leitura.

Entrei no refúgio e pude verificar se estava sujo, ou cheio de areia. Havia areia, sim, trazida pelos dias de vento forte, mas, para quem ama a liberdade, era possível esconder-se, guardar algo, ou mesmo trocar de roupa.

Numa quarta-feira cheguei à praia às seis e trinta da manhã, para caminhar e dar um mergulho. Depois de andar de uma ponta a outra, fui ao esconderijo. Queria saber se alguém estivera lá. Qual minha surpresa quando descobri uma bolsa de butique, num dos cantos, dessas que se ganha quando se faz a compra de uma roupa cara. Abri-a com cuidado, temendo qualquer armadilha. Encontrei um vestido, de fazenda fina, acho que da mesma marca escrita na bolsa. Fiquei a imaginar quem o poderia ter deixado ali, correndo o risco de ser encontrado e levado. Mas não o levei. Enfiei-o de volta na bolsa e a coloquei no mesmo lugar. Pensei esconder-me e ficar à espreita da visitante que viria buscá-lo. Mas não pude, e acho que não teria paciência. Mergulhei, na parte da praia onde começa o Pecado. Depois, juntei minhas coisas e parti. Tinha de trabalhar.

Numa quinta-feira, por volta de meia-noite, eu deixava o Ilhote, onde havia encontrado uma amiga. Comemos, bebemos e colocamos nossos assuntos em dia. Ela viera de carro e eu também. Na hora de partir, porém, decidi ir ao tal esconderijo. Seria perigoso? Se fosse, eu não levava em conta o tal perigo. Dirigi até a ponta da praia. Ao parar, permaneci ainda dentro do carro durante um bom tempo, queria me certificar se havia alguém ao redor. Saí do automóvel, todo o cuidado era necessário. A lâmpada de um poste, a cinquenta metros, orientava o caminho, mas, ao mesmo tempo, revelaria minha presença. Caminhei na direção contrária, onde as sombras eram mais densas e me protegiam. Agachei-me quando cheguei junto ao refúgio, olhei mais uma vez em volta e coloquei a cabeça na pequena entrada. Não havia viva alma. Iluminei o celular e entrei. Verifiquei todos os recantos. Vi a bolsa, mas era outra, menor, e a loja estampada no papel era de roupas de banho. Direcionei a luz ao interior da bolsa e descobri o que ela guardava. Um biquíni de praia, duas peças, muito pequenas, manequim talvez 40 ou 42. Caberia no meu corpo, poderia tê-lo tomado para mim, estava ainda envolto naquele papel fino que as vendedoras utilizam para proteger a peça. Mas deixaria suspeita. Alguém teria descoberto o esconderijo. O jogo terminaria. Deixei tudo no local e parti. As conclusões ficariam para o dia seguinte.

Passaram-se duas semanas. Vieram várias frentes frias, o tempo fechou, choveu durante vários dias. No primeiro dia de sol, o calorzinho da manhã convidou-me à praia. Primeiro, a caminhada; depois, o mergulho. Mas não fui ao esconderijo. Sentei e li uma revista. Um homem veio me pedir fogo. A noite de quinta-feira, no entanto, aprontou-me duas surpresas. A primeira: a amiga que marcou encontro comigo no Ilhote não apareceu. Telefonei continuamente, mas o telefone dava caixa postal. Fiquei sozinha no restaurante. Tal atitude despertou interesse numa mesa onde quatro homens jantavam. Um deles, duas dezenas de minutos depois, passou por mim e tentou falar algo em meu ouvido. Como não dei atenção, foi embora. Depois, alguém deixou um pedaço de papel. Não cheguei a abri-lo. Os homens eram barulhentos e gesticulavam muito, tinham aspecto de que trabalhavam nas empresas de petróleo. A cidade, à noite, fica cheia deles, nos bares e restaurantes. Quando foram embora, permaneci mais um pouco, tentei ainda falar com Marília, a tal amiga, mas continuei sem resposta. Tomei ao todo duas taças de vinho tinto e fiquei apenas na entrada, carpáccio de salmão. Quando decidi partir, lembrei-me do refúgio. Como já estivera lá numa noite, resolvi dar outra olhada. Agi da mesma forma como da primeira vez. Estacionei o carro num local escuro, desci à areia pelo lado contrário à iluminação da rua, andei próxima ao muro de proteção à maré alta. Assim, ninguém me veria. Quem vem na calçada tem a tendência de olhar à beira d’água e não para baixo. Ao chegar perto do refúgio, o poste próximo ficou às escuras. Dei a volta, até a pequena fenda de entrada de ar. Escutei, então, gemidos de mulher. Depois, pude distinguir o que ela dizia. Senta, vai ser melhor assim, pedia, deixa que eu vou por cima, cavalgo sobre você, isso, assim, assim, mas, puta merda, você não trouxe a camisinha, isso não pode acontecer, mas vai, tenta não gozar dentro, por favor, isso, ai, está bom assim, que gostoso, olha que vou perder a cabeça, mas você não perde, não, por favor, sem camisinha é um problema, mas vai, vai, se segura. A voz dela era clara, cheia de desejo, o homem nada dizia. Afastei-me trinta metros e deitei-me sobre a areia. Quando saíssem, queria saber de quem se tratava. Mas, dez ou quinze minutos depois, apenas o homem saiu. Escutei-o subir ao calçadão e desaparecer na escuridão. Depois, ao longe, o motor de uma moto mostrava que ele se afastava. A mulher só, lá dentro, deixava-me curiosa. Caminhei de novo e olhei pela fenda. Ela fumava, a claridade do cigarro produzia algumas sombras e dava para ver o seu perfil, ainda estava nua. Em um momento se levantou, deu dois passos e chegou à saída do refúgio. Atirei-me para trás, encolhida. Ela caminhou até a beira e entrou na água. Tinha o cabelo muito curto e pareceu mesmo nadar um pouco. Num ímpeto, entrei no refúgio, olhei o que havia lá dentro. Nada. A mulher ficara sozinha, e sem o que vestir. Voltei-me e escapei. Deitei-me novamente no mesmo lugar onde me escondera assim que chegara. Depois de um quarto de hora, ela voltou ao refúgio. Foi então que decidi partir. Ela vivia uma situação perigosa, e eu não queria me misturar a tudo aquilo. Cheguei a correr dali, atingi o local onde estava o meu carro, ofegante.

Enquanto dirigia de volta, pensei que poderia ter ido a ela e oferecido ajuda. Mas será que ela estava em dificuldades, será que desejava ajuda? Há gente para tudo nesta vida. Decidi esquecer a tal história.

No dia seguinte, Marília me telefonou, pediu mil desculpas por ter faltado ao encontro, disse que depois me contaria o que aconteceu. Uma ou duas semanas mais tarde, encontrei-a ao acaso, no calçadão, estava bonita, sempre de cabelo bem curto, parecia um rapaz. Desculpou-se mais uma vez, mas não tocou no assunto.

Meses depois começaram as obras de remodelação da orla marítima de M. O tal refúgio não demorou a desaparecer.

segunda-feira, dezembro 07, 2020

Vem comer meu pão de ló

Fui eu a culpada, numa das últimas mensagens a ele escrevi aproveita pra me telefonar porque vou me casar, depois não quero mais conversar com outros homens. A mensagem deu a entender que eu ainda queria falar com ele, mas ele nada respondeu. O homem foi alguém muito especial pra mim durante um bom período. Namoramos, chegamos a viver juntos. Depois cada um seguiu sua vida. Faz uns três ou quatro anos, nos reencontramos. Ele telefonou algumas vezes, chegou a vir aqui. Em todas, acabamos fazendo amor. Não consigo resistir às histórias que ele conta, na verdade são cantadas, caio em todas elas direitinho, muito sedutor o homem. Na última vez, veio resolver um problema aqui na cidade, depois passou na minha casa, ficamos conversando um bom tempo. Num momento, resolvi lhe mostrar um vídeo onde eu estava nua. Ele logo falou você está tão bonita. Que nada, estou gorda, já não sou jovem. Não, não, você é muito bonita e gostosa, acrescentou. Cinco minutos depois, eu estava nua, ele fazendo carinho nas minhas costas, uma espécie de massagem. Que tesão! Daquele dia pra cá, nos falamos apenas por mensagens, ele sempre dizendo você é muito gostosa. Agora tenho namorado, rebatia, nada de se engraçar pro meu lado, viu? Precisei de dinheiro, pedi a ele. Depositou trezentos e cinquenta reais na minha conta. Quando for aí, te faço um carinho. Nada disso, retruquei, agora tenho namorado, quero ficar apenas com ele. Então, mesmo eu já tendo enviado duas mensagens, ele não mais entrou em contato. Acho que foi por causa da tal mensagem lá no começo. É importante não definir as coisas, não se sabe o dia de amanhã, é o que diz uma amiga. Pode ser que esteja certa. Vamos supor que amanhã eu volte a estar sozinha, ele vem aqui e a gente pode dar uma namoradinha. Quando me olho nua no espelho, penso nele, você é muito gostosa, mesmo com essa barriguinha. Barriguinha?, você acha mesmo que isso é barriguinha? O problema é que, agora, estou com a maior vontade, e meu namorado anda longe, trabalhando em outra cidade. Os homens aqui me paqueram, mas não vou trepar com um deles, logo fico mal falada. Mas o meu amigo, caso aparecesse, até que seria uma solução. Por que fui cair na besteira de enviar a tal mensagem? Você é muito confusa, Nete, diz minha irmã, não sabe aproveitar as oportunidades. Às vezes conto das minhas pra ela. "Se eu tivesse alguém como esse teu ex-namorado, que até faz depósito na tua conta quando você pede, não pensava duas vezes, tratava o homem a pão de ló." Tão engraçada a expressão, será que alguém ainda faz pão de ló? Vou fazer um, vou chamar o homem pra vir aqui em casa, deito nuinha e coloco o tal pão de ló sobre minha barriga. Vem, meu amor, vem comer meu pão de ló!

segunda-feira, novembro 30, 2020

Passei a fazer sua vontade

Numa cidade pequena, é fácil conseguir formar clientela, principalmente quando a gente é simpática. Comecei a trazer roupas de grife, de São Paulo. No começo, eram para mim as roupas, mas as amigas me encontravam e perguntavam onde eu tinha comprado a tal saia, o vestido, o biquíni. Como todas adoram andar na moda, mesmo num lugar onde quase não se tem aonde ir, prometi trazer uns modelos novos na minha próxima viagem. E assim foi, arrisquei além da conta, mas o mulheril acabou com tudo em dois dias.

Sábado à noite as pessoas vão à única pizzaria da cidade, ou aos quiosques de churrasquinhos ou cachorro quente, mas não deixam de vestir a melhor roupa. As mulheres, então, nem se fala, sempre vivem na expectativa de conhecer o homem de suas vidas, alguém de fora que veio à cidade ao acaso para visitar um amigo ou um parente, para um trabalho que a gente não sabe que existe. É o momento em que todas as peças são retiradas dos armários, de bustiês a casaquinhos, passando por minissaias e vestidos compridos, calças e  blusas, camisas de abotoar. Caso faça calor, as costas vão nuas, as pernas de fora; caso o tempo ande fresco, quem sabe um pouquinho mais de fazenda. E quem é a responsável pela revolução em M? Eu, Célia. O sucesso foi tanto, que abri uma pequena loja. O sucesso avançou, atravessou as divisas da cidade e a fama chegou aos lugares mais distantes. Tenho encomendas de todos os tipos.

Não consigo viver sozinha. Sempre há alguém a me procurar. Outro dia apareceu uma mulher estranha, disse ter um vício. Ouvi, com atenção, o que tinha a me falar.

“Tenho muitas roupas, sabe, viajo muito e compro muita coisa, tenho além do que preciso. Não faz mal, ainda assim vou comprar algo com você. Mas quero te contar sobre o tal vício, do qual não consigo me libertar” Fiquei curiosa, ela embromava, embromava e não falava. Até que, depois de tanto rodeio, contou-me:

“Adoro andar nua”.

“Todas gostamos, ninguém explica o motivo, não é mesmo?”

“Não, mas não falo neste sentido. Gosto de sair nua, mesmo. Acordo de madrugada, entro no carro nua e saio a passear pela cidade. Nua mesmo, nenhuma peça.”

“Isso não é perigoso?”, fiz fisionomia de preocupada.

“Sim, claro que é, mas acho que é por isso que gosto.”

“Alguém sabe disso?”

“Não creio. Já me viram de carro, uma vez ou outra, mas não puderam notar que estava nua!”

“E o que você acha que eu posso fazer para te ajudar?”

“Não, não estou pedindo ajuda, apenas contei, acho que, assim, fico mais leve.”

“Mas se acontecer alguma coisa com você, não vai dizer que fui eu que contei.”

“Não. Sei que você não vai contar a ninguém. Você é boa comerciante, e bons comerciantes são calados. Meu avô foi bom comerciante.”

“Está bem, você procurou só pra me contar isso?”

“Não, quero fazer uma encomenda.”

Ela encomendou um biquíni caríssimo. Bom para mim.

Quando veio buscar, no mês seguinte., contou-me uma história.

Certa vez, tive um namorado aqui da cidade, sabe? Mas ele já foi embora, abriu um negócio em outro estado. Às vezes ainda me telefona, me convida para ir encontrar com ele. Fui uma única vez, fiquei de voltar, mas ainda não voltei. Ele foi o único que me descobriu nua. Estava eu na beira da lagoa, bem escondida, não tinha levado nem uma calcinha. Ele me descobriu por causa do carro. Não se consegue esconder um carro, não é mesmo?, tanto mais numa cidade pequena. Todo mundo sabe que o carro é de fulano, de sicrana, de beltrana. Ele viu o meu carro e ficou preocupado. Ficou de plantão bem ao lado, e eu lá embaixo, na areia, sem que ele soubesse que eu estava lá. Meu Deus, como vou voltar com esse homem de plantão? Daqui a pouco amanhece, não posso voltar nua à luz do dia. O pior foi que ele entrou no carro e virou a chave, ligou o motor. Ah, não, vão roubar o carro, agora é que estou perdida. Confesso que a possibilidade me deixou arrepiada. Você está pensando que saí correndo, querendo sabe quem era o homem? Não, nada disso. Resisti, firme. Você sabe que sei assobiar forte? Quer ver? Viu, dá até dor no ouvido. O homem acabou descendo à areia. Fiquei sentadinha. Ele procurando de quem era o assovio. Fiu, fiz de novo. Ele me viu, mas não reparou que eu estava nua. Quando chegou perto, eu estava com as pernas cruzadas e o braço cobrindo os seios, ele ainda não notou. Só quando soltei os braços, que ele perguntou o que aconteceu, você foi assaltada? Claro que não, nesta cidade não tem ladrões, cheguei a dizer. Mas você está nua. Dei então uma grande gargalhada. E lhe contei a história. Acabamos namorados. E te confesso que, algumas vezes, saí nua ao lado dele, no banco do carona. Mas ele não gostava. Preferia que eu vestisse as melhores roupas. Passei a fazer sua vontade.

“Mas você continua saindo nua. Tem vontade que outro homem te descubra?”

“Não sei. Às vezes, sim. Mas fico molhadinha quando estou nua, de madrugada, na borda da lagoa. Não sei se um homem vai estragar tudo.”

Ainda ficou algum tempo conversando, falou de algumas amigas, da paquera no único restaurante da cidade. Depois marcamos o dia de receber a encomenda, e ela foi embora. Ainda me disse:

“Conto com a tua discrição, viu, sei que és uma pessoa séria. Meu avô foi comerciante.”

segunda-feira, novembro 23, 2020

Peitos de fora

Nesta cidade existe uma porção de fofoqueiros, se a gente sai com um homem hoje e com outro semana que vem fica logo com má fama, imagine ficar com os seios de fora quando se vai à praia. A conversa aconteceu na casa da Dorita, e foi ela quem disse sentir imenso prazer ao ir à praia e ficar sem o sutiã, um orgasmo.

Não sei por que me lembrei dela, eu estava em frente ao Country, trecho onde ficam as pessoas mais ricas. Quando reparei a Lilian, resolvi caminhar um pouco mais e parar no início da praia do Pecado. Ela não me viu, pelo menos é o que acho. Não queria falar com ela, sua conversa é a mesma de sempre, só fala de homens, de namorados, das festas que foi, e dos convites recebidos, gesticula e gosta de mostrar a bunda, o biquíni cada vez menor, o corpinho mignon. É bonita, mas como é convencida disso.

Acho que ela e muita gente têm inveja de mim porque sou uma pessoa bem sucedida. Meu consultório sempre está cheio. Quando falam em dentista, na cidade, falam de mim. Mas muita gente pensa que uma dentista não tem vida própria, que está sempre a trabalhar e nada mais tem pra fazer. Não é bem assim, gosto de sair, dos restaurantes durante a noite e da praia nos dias de folga. Não posso. porém, permanecer em lugares muito frequentados, logo aparece alguém pra conversar, e mesmo pra me pedir pra dar uma olhadinha num dente. Como é possível a pessoa abrir a boca em plena praia e querer mostrar um dente pra eu examinar?

Houve um tempo em que ia a Búzios, porque aqui não era possível frequentar a praia. Pros lados do Pecado, fico sossegada, não vejo nenhum conhecido. Armei o guarda-sol, abri a cadeira e sentei. Tinha levado uma revista e um livro, comecei a olhar primeiro a revista. Depois de algum tempo, passou um rapaz vendendo cerveja, dessas que estão na moda, Heineken, acho. Comprei duas, deixei uma dentro de uma bolsa térmica e abri a outra. Que delícia! A cerveja tem outro sabor quando se está na praia. Depois de trinta minutos, tive de entrar n'água, tanto era o calor. Mergulhei, fiquei de molho por uns vinte minutos. A água não estava fria totalmente, como é o costume aqui, mas dava um arrepio gostoso. Depois que voltei ao guarda-sol, sentei novamente e continuei minha leitura, Em determinado momento, abri a segunda cerveja. Poucas pessoas passavam pelo local, e eu não dava importância a isso. Um homem passou bem rente ao guarda-sol. acho que foi a única maneira pra me despertar do torpor que o sol e a revista me colocavam. Ele era realmente bonito, não tenho como fazer reparação alguma.

Nesses momentos, é difícil começar a estabelecer um contato, apesar de termos vontade. Como se deve fazer? Chamar? Ei, venha aqui, você é muito bonito, quero te namorar. Não fica bem. E ele, caso seja tímido, como deve se aproximar? Estamos num tempo em que o assédio às mulheres é condenável, por isso muitos homens apenas nos olham e nada mais têm a fazer. Ele venceu sua timidez ao passar rente ao guarda-sol, com a praia vazia, e não mais tentou ação alguma. Aliás, o que fez foi parar trinta metros adiante, olhar o mar e vez ou outra voltar os olhos pra mim. Eu jamais fui a primeira a falar com um homem, mesmo achando-o muito bonito e simpático.

Continuei a ler a revista, vez ou outra olhava por cima, para ver se ele ainda estava lá. Tive a ideia de dar um novo mergulho, quem sabe se tirasse o top o homem viria até a mim, com mais facilidade. Mas se eu não chegava a dar a primeira tacada, como iria ficar de peitos de fora? Resisti ao mergulho ainda durante dez minutos. Levantei-me, ele ainda estava lá, naquele momento olhava o mar. Caminhei lentamente, molhei os pés, esperei um pouco, depois, ainda vagarosa, entrei até o nível da água ultrapassar meu ventre. Mergulhei, nadei um pouco na direção das ondas. O mar não estava violento, mas tinha ondas. Venci duas delas e permaneci atrás da arrebentação. Ele mergulhou, não sei se estimulado por mim. Nadou um pouco, foi além do ponto onde eu estava e manteve sempre a distância de uns trinta metros. Num momento, tive a impressão de que sorria para mim. Permaneci nas imediações durante uns quinze minutos, depois voltei para o guarda-sol. Quando sentei ao sol e me voltei para o mar, ele ainda estava no mesmo lugar, era possível repará-lo a cortar as ondas.

Se fosse Lilian, será que tentaria estabelecer um contato? Talvez, ela adora pessoas diferentes, gente que jamais viu na cidade. Mas, quanto a mim, não é o meu costume. Ele poderia vir, perguntar se eu tinha fogo para acender um cigarro, ou mesmo perguntar algo sobre a cidade, dizendo que era de fora e nada conhecia por aqui. Mas não foi assim que as coisas aconteceram.

O que me salvou, ou melhor, nos salvou, foi o vento. Sério, quando conto, ninguém acredita. Um forte vento começou a soprar e tudo começou a voar, nesse tudo, levou as minhas coisas. O homem voltou à areia e correu pra onde eu estava, recolheu o que pode, ajudando-me, inclusive conseguiu ir atrás e recuperar o guarda-sol, que se soltara como alguém que se revira de pernas para o ar. Quando tudo estava em ordem, rimos um pouco. Ele ajudou-me a levar os objetos para o carro.

Apresentou-se, Fernando. Maria Célia, retribuí. Você é da cidade?, perguntei. Não, e me disse o motivo de sua temporada no local, do seu trabalho, o que fazia. Fiquei calada, esperei que pedisse pra que falasse sobre mim. Assim começou nosso namoro. Achei melhor, dali em diante, encontrar com ele em R O, onde a poderíamos ficar à vontade, porque a possibilidade de encontrar conhecidos era menor.

Acho que Dorita está certa, talvez um dia eu consiga seguir seu exemplo. Se tem vontade de ficar com os peitos de fora, ninguém nada com isso.

segunda-feira, novembro 16, 2020

A bolsa

À noite, sonhei com ele. Acordei envergonhada. Não por ter estado nua ao seu lado, mas por me ter tornado mulher de fácil conquista. Está pronta para o nosso passeio?, perguntou enquanto me oferecia uma bolsa de butique. Tomei-a nas mãos, reparei que estava vazia.


Sempre que passava pela porta daquele homem, recebia seu olhar malicioso. Ele é velho, disse a mim mesma, em silêncio. Cidade pequena é fogo, todo mundo conhece a gente, e qualquer escapada é logo descoberta. Não podia ficar perguntando pra uma ou pra outra quem era o tal que me paquerava. As mulheres daqui, quando querem beber de outra caneca, pulam pra cidade vizinha, a cinquenta quilômetros. No dia seguinte, ele me chamou.

"Meu nome é Manoel, e o seu?"

Parei, por educação, e me apresentei.

"Reparo que você passa sempre aqui", disse ele.

Bem que eu queria falar passo sim, e você está sempre a me comer com os olhos, porque acho que o peru já não funciona. Mas arrefeci. Me fiz de boazinha.

"Verdade."

"Aceite um café, entre, moro sozinho, vamos tomar uma xícara."

Declinei do convite, pedi desculpas e segui em frente.

Nos dias que se seguiram, evitei passar em frente à sua casa. Segui outro caminho naquele meu passeio matinal, sempre à procura de tomar um pouco de ar e comprar algo para o almoço.

Dois dias depois, como por coincidência, ouvi dizer que o tal gostava de mulher jovem, e pagava bem. Uma amiga chegou a dizer:

"Acho que vou me oferecer ao Manoel, dizem que distribui dinheiro."

"Verdade? Sabe que nunca reparei esse homem.", tentei mostrar surpresa. "O que será que deseja em troca?"

"Ah, imagine", ela moveu a cabeça, "o óbvio".

"Mas ele é tão velho, será que ainda consegue."

Ele se satisfaz ao modo dele, completou a amiga.

Quis perguntar se já tinha entrado pra tomar café, mas preferi o silêncio. Enquanto voltava pra casa, pensei no tal dinheiro que o homem devia distribuir. Eu, sempre devendo, sempre precisando de pagar uma prestação, as dívidas se alongando.

Voltei a trilhar o tal caminho, Manoel parecia estar esperando-me.

Hoje, você vai tomar um café.

Sim, vou.

Foi o suficiente. Ele sabe fazer um café muito gostoso. Elogiei. Olhou pra mim, queria dizer que a gostosa era eu. Bebemos, em silêncio. Após alguns minutos, começou a contar uma história. Não era a dele, ainda bem.

Nos dias que se seguiram, não saí de casa. Aproveitei para organizar alguns papéis. Na semana seguinte, quando passei em frente a casa dele, ouvi:

"Sumida, fiz café todos os dias e você não apareceu."

Dei um ligeiro sorriso, aceitei o café.

"Caso você precise de alguma coisa, fale comigo, sou um homem generoso."

"Alguma coisa?", eu quis saber que coisa.

Ah, imagine.

Dois dias depois, parei de fronte à sua casa. Ele não estava. Achei estranho. Será que aconteceu alguma coisa? Quis entrar, olhar lá dentro. Sabia que encontraria a porta sem tranca, mas não tive coragem. As janelas estavam abertas, via-se a sala arrumada, mas ele não apareceu. Evitei bater. Será que contava a mesma história a todas as mulheres que passavam ali em frente? Vai ver estava com uma delas na cama. Atravessei o portão do quintal e fui, sorrateira, olhar o quarto através da janela. Mas não havia sinal de vida. Temendo ser surpreendida, corri pra fora. Antes de partir, encontrei uma bolsa de butique, estava encostada à porta, do lado de fora, como se esperasse ser levada por alguém. Tomei-a nas mãos e reparei que continha roupas de mulher.

Na semana seguinte, aconteceu. Estava sentada na poltrona; ele, no pequeno sofá. Bebíamos café. Você sabe fazer café muito bem, ele disse, segurava a xícara e olhava os meus peitos nus. Além do café, você tem o corpo bonito, uma mulher bonita fazendo café, e me fazendo feliz. Tomou mais um gole e sorriu. Descruzei as pernas e mudei de posição, numa das mãos a pequena xícara; na outra, o pires. Não tive outra saída senão rir. Vi, como num filme, tudo o que vivemos até àquele momento. Me surpreendi, não era nada mais do que uma mulher fácil. Mas o que fazer? Era generoso o homem; eu, cheia de dívidas. Quando me levantei para levar a xícara vazia à cozinha, sabia que ia me apreciar pelas costas. Ao voltar à sala, parei diante dele e cruzei os braços sob os seios: "será que vim só pra tomar café e passear nua?", falei em tom de galhofa.

"Claro que não."

Manuel, então, me comeu. Me comeu profundamente. Quanto à bolsa, melhor não perguntar.

segunda-feira, novembro 09, 2020

Plantando bananeira

Gosto de ir à praia cedo, tanto mais depois que vim morar pertinho, na Riviera. O apartamento é pequeno, mas a proximidade do mar, a brisa matinal e vesperal me causam enorme prazer. Há dias em que saio arrepiada de casa. Outra vantagem de tomar sol e banho de mar bem cedo, é que não há ninguém na praia, quando muito uma ou outra pessoa a caminhar ou a fazer algum tipo de ginástica. Ainda não houve, por aqui, ninguém a me incomodar, a tentar puxar conversa ou a pedir alguma coisa. Quando morei na Costa Azul, tive um problema, aliás, não sei se posso nomear assim o que aconteceu, mas o fato me incomodou um pouquinho.

Jovens não gostam de acordar de madrugada, mas o costume de sair cedo de casa já me era comum à época. As primeiras horas da manhã são também comuns a pessoas mais velhas. Um senhor, então, começou a me observar. No começo, gostei. Toda mulher gosta de ser admirada e paquerada. Ele acabou vindo falar comigo. Começou com aqueles assuntos sobre o tempo, sobre a beleza do mar, da paisagem etc.. Passou a aparecer todos os dias, pontualmente. Como sempre usei biquínis mínimos, o homem me comia com os olhos. Os dias se passavam e ele não avançava. Lembro uma semana em que choveu todos os dias. À manhã do primeiro sol, estava o tal na praia a minha espera. Voltou aos seus assuntos. 

Se continuar assim, vamos nos tornar amigos, não haverá mais clima, pensei. Normalmente é isso que acontece. Quando conhecemos alguém, as intenções precisam vir no segundo ou terceiro encontro, caso isso não aconteça a relação torna-se amizade. Não que amizade não seja boa coisa, mas os homens geralmente querem mesmo o meu corpo.

Falava da cidade, dos prédios públicos, da política local, do jornal que só existia para trazer anúncios, como é possível um jornal sem notícia alguma? As notícias são as mercadorias, cheguei a sugerir dando de ombros. Meus seios balançaram. Ele riu. Num dia, convidei-o ao banho de mar. Surpreendeu-se. Jamais me vira dentro d’água. Segurei seu braço, me ajude, por favor, não posso me afogar. Num determinado momento, abraçou-me pelas costas. Fiz de conta que não percebia, ou que talvez fosse a ação mais natural do mundo. Ele se demorou no abraço; depois ainda escorregaram as mãos pelo meu ventre, tocou nas tirinhas do meu biquíni. Dissimulada, eu, olhos de ressaca. Ressaca do mar e da taça de vinho da véspera.

Dias depois, uma senhora veio falar comigo. Eu estava bolinando o marido dela. Engraçada a palavra, bolinando. Como soube da minha relação com seu marido? Não sei, jamais descobri. Pediu-me que não fizesse mais isso, a cidade era pequena e todos iriam comentar. Engraçado, a mulher não se mostrava incomodada pela traição, mas pelo que os outros iriam dizer. Não tive palavras para responder. Escutei, cumprimentei-a e parti. Acho que o máximo que falei foi tudo bem. De que valeria explicar que a investida foi dele, que a cada dia vinha com um assunto diferente, que me comia com os olhos. Achei melhor o silêncio. Desapareci daquela praia por algum tempo, ou passei a frequentá-la em outros horários, não sei. Nada de confusão.

Além de ter de mudar os meus hábitos, não valeu a pena a rápida relação. Uns dias antes de estar com a mulher dele, o homem me convidou a uma casa, ali mesmo na praia. Era uma casa de veraneio. Disse que a bela construção pertencia a ele. Entramos, serviu-me alguma coisa. Na parte de trás, havia uma piscina, bem pequena. Para resumir a situação. O homem quis trepar comigo, eu nua dentro da tal piscina. Tudo bem. Meu costume de responder às questões dizendo tudo bem. Ele veio me tocar, me fazer carinho. Onde o biquininho? Estou procurando até hoje. Tive de plantar bananeira para ver se ele conseguia uma ereção. Conseguiu? Apesar de ela saber, devia ter contado à mulher dele.

terça-feira, novembro 03, 2020

Valeu a pena

Aquele meu amigo já estava me deixando louca. Não sei por que toda vez que via uma mensagem sua no Zap, eu me arrepiava. Melhor ainda se a tal mensagem fosse de voz. Ouvia-o durante várias vezes. O arrepio aumentava, tinha vontade de ficar nua! Não pense que não é possível a uma mulher tornar-se excitada de repente. Comigo acontece, e lembro dos verões no litoral, quando eu fingia ler uma revista mas observava os homens por baixo das páginas. Meu amigo me trazia não só essa lembrança, mas rememorações de outros tempos, juventude em boates, sainhas, perninhas de fora.

Volto aos dias de hoje. Com a reunião pelo Zoom então, nem pensar, onde será que ele está?, fico a imaginar seu quarto, sua cama que não é possível avistar por trás de sua face sempre alegre. Por falar em alegria, ele não dever pensar na vida, digamos, na condição humana. Uma pessoa que está sempre com o sorriso nos lábios não é capaz de pensar que vamos envelhecer e morrer um dia. Ou talvez achem essas coisas naturais. Natural a efemeridade da vida, o escapar das horas e dos momentos que desejávamos eternos.

Meu amigo é casado, não posso negar. Mas não ligo, o importante é que me dá atenção como nenhum outro, ou nenhuma outra. Também não demonstra intenção de me paquerar. Verdade. Não é que eu queria a tal paquera? É bom quando alguém demonstra interesse pela gente. Ele demonstra, mas não de que eu seja sua amante. Que palavra pesada, muitos dirão: amante. Está fora de moda.

Houve uma época em que todos (ou quase) tinham amantes, tantos os homens como as mulheres. Tive um. Encontrávamos uma vez por semana no centro da cidade, tomávamos um café, numa cafeteria bonita, e depois corríamos ao hotel próximo, na Senador Dantas, ainda com o gosto do café na boca. Outro dia passei por lá, o hotel ainda existe. Quanto ao amante... Bem, não dá para se ter um amante a vida inteira, acontecem muitas coisas. Além disso, o amante (ou a amante) não é o principal na vida de uma pessoa, é para quando há uma brechinha de tempo.

Como justificar um amante em nossas vidas?, eis a resposta. Na França, muitos têm amantes, serve para esquentar o relacionamento do casal, quero dizer, do casal de marido e mulher. Há quem diga que na França não é mais assim. Agora, as pessoas são verdadeiras (é possível a verdade?). Não faz mal, no Brasil as coisas chegam um pouquinho atrasadas.

Mas meu amigo me viu deitada na cama. Sério. Meu amigo estava participando da mesma reunião virtual que eu e me viu na minha cama. Você estava deitada, falou, descansando. Ri, esqueci de desligar a câmera, disse a ele. Engraçadas as reuniões virtuais, acontecem coisas indiscretas. Ainda bem que não estava nua. Caso fosse apenas para ele me apreciar, bem que não me incomodaria. Mas não para o escritório inteiro!

Certa vez, domingo pela manhã, ele me enviou uma mensagem: estou caminhando pela orla, resolvi enviar esta mensagem para te dizer sobre aquilo que você me perguntou ontem, complementar a minha resposta. O que perguntei mesmo? Nem lembrava. Acho que foi num dia em que estava ardida, resolvi então criar uma dúvida para ouvir a voz dele. Fantasias. A voz veio meia hora depois, e eu gozei. Lógico que não foi assim tão de repente, mas imaginem como uma mulher goza. Às vezes, dá algum trabalho. Mas na tal noite (esqueci de dizer que o sol já ia pela outra banda), fiquei molhadinha. Valeu a pena.

segunda-feira, outubro 26, 2020

Mascote

Vinha a Cíntia, com seu biquíni minúsculo, tão gostosinha, lá pelas bandas do Pecado, a praia mais reservada de M. Sou mulher, mas tive vontade de puxar o elástico da pequena peça. Confessei a ela, mulher com corpinho de modelo, vai lá pelos trinta e poucos. Deixe pro cachorro, respondeu. Cachorro?, assustei-me. Apareceu um cão enorme, negro, pelo rente, a correr e saltar na direção dela, fez a festa. Cachorro?, repeti. Sim, não está vendo?, chama-se  Mascote. Mas o cão já aprendeu essas coisas?, continuei. Que coisas, fez-se de desentendida. O biquíni, repeti. Que biquíni?, ela. Ah, deixa pra lá, tentei mudar o rumo da conversa. Aprendem rápido, são muito inteligentes, respondeu, dois compassos a baixo.

A praia era boa, ondas na arrebentação, a brisa e o sol de quatro da tarde. Lembrei-me, então, de uma época em que trabalhei fazendo palestras, viajava tanto, uma beleza. Certa vez, na hora do almoço, num pequeno grupo, alguém contou sobre uma mulher que trepava com o próprio cão. Verdade, dizia a tal, foi a diarista que me contou, a mulher se enfiava no banheiro com o animal, um cão imenso, e não saía tão cedo, escutava-se o ganido, não se sabia se dela ou do cachorro. É isso quase todo dia, repetia a tal diarista.

À época, duvidei, será que existe gente capaz disso? Depois, pensando melhor, achei possível o tal relacionamento. Seria apenas físico, capaz de proporcionar prazer – os cães demoram na conjunção sexual, e ainda são capazes de dar as costas para a parceira e continuar com o pênis lá dentro, duro que só. A mulher sentia-se feliz, realizada, nas palavras da empregada. Sim, era certo que saía ganhando, caso desejasse apenas sexo. Um cão não é capaz de aborrecer. E não sentiria ciúmes quando ela decidisse sair sozinha num sábado à noite.

A Cíntia de biquininho andando pela beira d’água. O sol ardendo nas nossas peles. Mascote ao seu lado, feliz, saltitante.

Cíntia, volte aqui, me empreste o Mascote.

segunda-feira, outubro 19, 2020

Nua por debaixo

Sempre fui aberta a desafios, tanto na vida profissional como na pessoal. Aos quarenta anos, apareceu-me um namorado entusiasmado, pronto a me propor performances cada vez mais estimulantes. Em M, cidade litorânea de porte médio, não há muito com o que me preocupar. É trabalho e, aos fins de semanas, alguma diversão, como praia pela manhã, visita a uma amiga à tarde, saídas à noite para passear na orla, ou ir a alguma festa. Já não tenho vinte anos, digo a ele. Mas insiste, você é jovem, tem saúde para muitas atividades, até mais do que as garotas de dezoito anos.

Os homens mais velhos da cidade saem com meninas jovens, mesmo menores de idade, como de dezessete anos. Tenho amigas que fazem de tudo para arranjar namorado, o máximo que conseguem é um amante, o que muitas vezes lhes traz problemas. Os homens livres estão com as meninas. Meu namorado teria vantagem entre elas, mas me preferiu, você é muito gostosa e, além disso, adora andar nua.

Frequentamos as praias mais retiradas, como as que ficam entre M e Rio das Ostras. Posso mergulhar ou ficar na areia, com os seios de fora, abraçá-lo sem ninguém por perto a nos incomodar, e houve um dia em que mergulhei pelada. Apesar de toda nossa excitação, sempre deixamos para transar em casa. Uma vez fizemos amor dentro do carro. Quais os desafios, em meio a uma vida tão cheia de prazeres? Os de me manter jovem, em corpo e em espírito.

Domingo à tarde, voltando de uma de nossas praias, ele me faz outro tipo de desafio. Dirigir nua! E lá vou eu, ao volante. Amor, é preciso ao menos cobrir os seios, é mais discreto. Cubro-os após contornar para entrar em M, para ser mais exata, após dobrar a rua que conduz à orla de Cavaleiros. Tem uma porção de gente na praia, tanto na areia quanto na calçada, os bares cheios. Bem que estou gostando, uma vontade louca de saltar. Não esqueça, você está nua!, adverte-me o namorado. Obrigado, amor, esqueci.

Tenho amigas que aceitam tudo o que os homens lhes pedem. Comigo não é bem assim, tenho princípios. E não dependo deles, ganho bem com meu trabalho. Por isso, tantos admiradores atrás de mim. Apesar do assédio, quase não namoro homens da cidade. Minhas amigas acabam desvalorizadas, no final não há quem as queira.

Amor, não repare, deixei marcado o estofado do banco do motorista, falo, tímida. Não faz mal, isso sai, deve ser o calor, e estou gostando, diz. Calor?, ah, sim, estou mesmo com muito calor, cheia de fogo. Rio enquanto faço a curva para entrar no estacionamento do Ilhote. Amor, está percebendo?, preciso saltar, quero beber alguma coisa.

Ele me entrega o biquíni, salto do carro, cumprimentamos a moça do estacionamento e bordeamos a calçada. Na parte descoberta do Ilhote, vejo minha amiga Nete. Ela e o namorado. Tão bonito o homem, adora quando ela passeia nua ao lado dele, de dia ou de noite. Ela veste uma canga bonita, colorida, cheia de desenhos. Ri para mim. Está bebendo espumante, a única bebida de que gosta. Essa minha amiga sai cara para os homens que arranja. Nete pisca, apontando com a face aos meus seios. Ah, sim, estou apenas de biquíni. Pra que preciso mais?, chego a sussurrar, em meio a um beijo que faço flutuar na sua direção. Já sei, quando for ao toalete, vai me pedir para acompanhá-la, quer trocar teu biquíni pelo meu? Só que vai abrir a canga e mostrar que está nua por debaixo! Vamos cair as duas numa grande gargalhada. Adoro todas essas tardes de domingo.

segunda-feira, outubro 12, 2020

Bizarra

Ivete telefonou fazendo escândalo. Disse que não me ajuda mais, que não adianta telefonar pra ela. Engraçado, ela é que me deve favor, já ajudei muito mais do que ela me ajudou. Fora os galhos que quebrei pra ela em matéria de namorado. Basta lembrar o baile de Carnaval, faz uns dez anos. Um homem veio falar comigo, muito bonito por sinal, estava fantasiado de Zorro. Moço, desculpe, espere um instante, e fui correndo procurar por ela. Ivete, arranjei um namorado pra você. Ela se deu bem. Ficou com ele, não só no baile, mas depois e ainda durante muito tempo. O tal era rico, ajudou-a um bocado, tudo graças a mim. Sem contar de eu já ter ficado de sobreaviso várias vezes quando saía com alguém pela primeira vez. Por isso, não é justo, ela me deu um esporro violento pelo telefone, e nem tinha motivo pra tanto. Estou acostumada a ajudar as amigas. Outro dia foi a Linda. Telefonou desesperada, pensei que fosse morrer. Corri à casa da dela. Quando cheguei, estava apenas de calcinha, deitada no sofá da sala, chorando terrivelmente, uma travessa de cuscuz sobre a mesa consumida pela metade. O que foi Linda? Ah, você nem imagina, não aguentei, comi a metade da bandeja de cuscuz, um amigo que trouxe. E soluçava. Fiz de tudo pra ele levar de volta, mas não adiantou, disse pra eu oferecer a um vizinho, acabou que não resisti, e você sabe que não posso engordar, tenho desfile, já ganhei um quilo e meio no último semestre, não sei o que faço, tentei colocar pra fora, mas não consigo, não adianta eu enfiar o dedo na garganta. E continuou a chorar. Tenho uma solução, falei. Olhou surpresa. Fui à cozinha, esquentei água. Antes que fervesse, enchi uma xícara grande e voltei à sala, disse que bebesse. O que é isso?, quis ela saber. Um segredo, não posso contar pra ninguém, bebe antes que esfrie. Bebeu. Corremos ao banheiro, fiz que se ajoelhasse diante do vaso, pressionei seu estômago. Colocou tudo pra fora, água quente e cuscuz. Vai, agora lava a boca. Linda fez o que mandei. Voltamos pra sala, segurei a mulher pelo ombro. Sentou no sofá, os peitos duros, as pernas finas, a calcinha branca. Pronto, agora descanse. Ajudei uma amiga, viu? Gosto de ajudar as pessoas. Algumas vão achar esta história bizarra, mas ela estava sofrendo. Quando deixei sua casa duas horas depois, minha amiga descansava feliz. E ganhei de presente a metade da travessa de cuscuz! Agora a Ivete, com essa história de que sou louca, de que não mais vem ao meu socorro. Tudo bem, não preciso dela. O que aconteceu, na verdade, foi uma bobagem, fruto de uma brincadeira com três rapazes. A gente saiu junto daquela boate, a da orla. Entrei no carro deles e paramos na junção de Cavaleiros com o Pecado. Me pediram algo. Aceitei. Uma espécie de aposta. Eu já tinha namorado os três, que são muito gostosos por sinal, mas não era esta a intenção naquela madrugada. Aqui é que entra a Ivete. Eu precisava telefonar a uma amiga e fazer um pedido especial. Que ela me atendesse àquela hora. Ela aceitou, foi ao meu encontro, levou o vestido, e ainda me deu uma carona de volta pra casa. Até ali, nada falou, mas o problema foi à tarde. Pedi que fosse me buscar em Rio das Ostras. Ivete disse que o carro dela não é Uber. Sei, Ivete, e contei mais ou menos a situação. Muito contrariada, às cinco da tarde, ela apareceu perto da Tocolândia. O problema é que ela viu o jovem, um dos que estavam comigo de madrugada. Ela me trouxe de volta, eu vestia apenas o biquíni, e era quase noite. Não falou nada naquele momento. No dia seguinte, telefonou, o maior sabão. Não ando nua por aí, jamais aconteceu de eu não ter o que vestir, foi apenas uma aposta, uma espécie de brincadeira. Mas Ivete esquece aquele Carnaval, eu lhe fiz um grande favor, ainda emprestei a fantasia, acredite, sério, porque o homem queria ficar comigo. Nós, então, trocamos de roupa pra ele pensar que ela era eu. Na troca, tive de ficar sem calcinha. O que aconteceu, Ivete? Me empresta a tua, o que ele vai pensar?, insistiu ela. Agora essa, não vou mais te ajudar, devia ter te deixado amanhecer nua, com a mão direita cobrindo os peitos e a esquerda a xereca, como te encontrei quando cheguei na frente da tal casa.

segunda-feira, outubro 05, 2020

Furiosa

Já te falei pra parar com esse fogo no rabo. Não vou mais vir te ajudar, você fica de brincadeira com esse monte de homens, depois me telefona pra te tirar da complicação. Por que você não tem um namorado como todo mundo? Por que tem de sair cada dia com um, e mesmo pedir dinheiro pra eles? Quem pede dinheiro é prostituta. Se você aceita, tem de fazer o que eles querem. E prostituta ninguém respeita. Principalmente do jeito que você se oferece. Logo alguém da polícia vai saber e vai vir te explorar. Você sabe como eles são, não suportam mulheres sozinhas, autossuficientes, tanto mais se são prostitutas. E sabe o que acontece com prostitutas com corpinho de modelo como o teu quando eles colocam no carro da polícia, não? Já te quebrei muitos galhos, mas não adianta me telefonar e dizer Ivete, por favor, preciso de você, agora, é urgente, não me abandone. Urgente, só bombeiro e ambulância. Não me meta nas tuas confusões, vai acabar sobrando pra mim. Lembra a história da Ana? A Sônia vivia atrás dela, Ana enchia o saco com aquele negócio de arranjar desculpa pra trair o marido. Veja o que aconteceu. Não quero pra mim a mesma coisa. Você ficou com os tais caras, eles pintaram e bordaram, depois você me telefona e eu vou te ajudar. Muito engraçadinha. Passa uma semana, a mesma coisa. No final, tu tá toda sorridente. Hoje, esse problema de não ter o que vestir. E ainda diz escolhe um vestidinho que não seja muito comprido, bem jeitosinho. Como tu tem coragem de, no telefone, final da madrugada, ainda descrever os detalhes da roupa? É pra não queimar o meu filme, você afirma toda serelepe, arteira. Eu devia ter te deixado amanhecer nua, com a mão direita cobrindo os peitos e a esquerda a xereca, como te encontrei quando cheguei na frente da tal casa. Horas depois, você ainda volta a ficar de gracinha com um deles. E me liga de novo pra eu ir te buscar. Se acontecer de novo, não adianta me telefonar, não vou aparecer, nem vou responder. Avisa também para aquela louca da tua amiga, a que fica com os peitos de fora na praia, que isso aqui não é uma cidade grande, fala-se muito por aí, vocês duas já estão desmoralizadas. Outra coisa, por que você não faz as coisas direito? Lembra da Jalva? Ela arranjava dinheiro com os homens, mas era tudo na maior discrição. Ninguém notava. E tinha três filhos. Até hoje acho que ela ainda consegue alguma ajuda, apesar de já não ser nova. Se tua escolha é ser puta, faz as coisas direito, planeja, vê quem é o homem com quem vai trepar, vai pra um hotel. Esse negócio de ficar nua na praia durante o dia atrás de homem e de noite na calçada do Ilhote não é bom. Quando acontecer de novo, não me telefone. Acho que você nem se incomodou, não é mesmo? No teu lugar, eu estaria morrendo de vergonha. E olha que não sou santa. Não conte mais comigo, você já está indo longe demais. Não adiante me dizer fico te devendo essa, depois te pago. Você me deve tanto, que não tem dinheiro que pague. E mesmo assim, não preciso de recompensa nenhuma, quero que não me aborreça. E o vestido que emprestei, quero de volta, viu, não é pra ficar desfilando por aí com as minhas roupas. Falo sério, estou dando um basta. Não me procure mais. Se acontecer de novo e depender de mim, me esquece. Vai achar outra pra te tirar das tuas complicações.

segunda-feira, setembro 28, 2020

Agora vem, deita aqui ao meu lado

Você sabe, estas histórias de gênero são complicadas. Ainda bem que existe a Margarida e ela me deixa escrever aqui, já que você quer em tempo real. Escute, cada homem tem a sua fantasia. A tua é me ver nua escrevendo ao vivo.

Mas sobre gênero, o ponto principal e saber separar. Uma coisa é sexo; outra, gênero. A pessoa ter nascido homem e depois se tornar mulher não significa que tenha se submetido a uma cirurgia. Você compreende, não? Grande parte dos transgêneros transforma o corpo, mas não significa que o masculino tenha que se tornar totalmente feminino, nem o feminino se tornar masculino. Hoje, é possível para quem nasceu homem tornar-se mulher no nome civil, mesmo que mantenha o pênis. Para quem nasceu mulher e deseja se torna homem, também tem o mesmo direito, é lógico, pode mudar de identidade sem precisar de exame médico para mostrar que passou a ter um pênis! Muitas vezes, porém, quando a gente arranja namorado, não é assim que ele entende. A compreensão geral ainda é muito antiquada, as pessoas nada sabem sobre isso e são cheias de preconceitos.

Quanto ao jeito de namorar, outro problema. Há trans, como eu, que se tornou mulher mas não retirou a principal marca masculina, o pênis. Tenho nome de mulher, está na identidade. Para que os homens entendam, em geral, preciso dar aula. Sério, já pensou, você nua, na cama de um hotel, a dar aulas do que é transgênero. Existem muitos livros, basta comprar e ler, muita literatura interessante. Mas ele quer escutar da minha própria voz. Depois quer ver, examinar. Não vim aqui pra isso, assim perco a tesão. Há travestis (vamos usar a palavra que os homens adoram, embora não signifique exatamente transgênero), bom, há travecos que levam faca, punhal, navalha, tudo na bolsa, dizem que é para se defender. Não trago tais objetos, não me acostumo com armas. Mas a violência acontece porque muitos homens querem fazer maldade ao trans. A primeira ação que muitos adoram é nos roubar a calcinha. Querem ver como vamos fazer para o peru não escapar por baixo da minissaia, ou do vestidinho. Sério, não são poucos os que têm esta fantasia. Outra coisa, alguns querem nos colocar objetos dentro do cu. Houve um que me enfiou um bombom. Sério, com celofane e tudo. O chocolate desapareceu. Deixa que eu procuro, ele disse. Tive de ficar agachada um tempo enorme, tremendo de medo de que não conseguisse e aquilo me fizesse mal. Quando encontrou, tirou o papel, ainda esfregou o chocolate no meu anus e o comeu. Que loucura, você deve estar pensando. Mas existem ainda coisas piores, não quero contar aqui. Outra ação é quererem tirar fotos da gente. Cruze as pernas, agache, levante, sente, mostre os seios, agora cubra-os, esconda o peru, mostra. Um transtorno. Para que você quer tantas fotos?, estou aqui com você. Trata-se de uma fantasia, e quando o assunto é fantasia é difícil tirá-la da cabeça dos homens. Só pra terminar, ainda faltou contar outro ponto. Na maioria das vezes, peço por favor, não toque no meu pênis. Mas os homens não se satisfazem, querem porque querem me ver de pau duro. Quase não tomo hormônios, sou feminina de natureza, mas quando insistem em me deixar de peru duro, meu organismo produz hormônios também masculinos e isso me desestabiliza. Gosto de fazer amor, mas que não toquem no meu pinto. Quando gozo, lógico que ejaculo, mas o pinto vai estar mole, sem problema algum. Não é dele que preciso pra gozar,

Então, gostou da minha história, você também tem fantasias, mas ela é soft. Agora, vem, deita aqui ao meu lado, teu peru parece ser muito gostoso.

terça-feira, setembro 22, 2020

Bom demais

Meu namorado me adora ver almoçando, jantando ou mesmo fazendo um breve lanche. Diz que demonstro muito prazer, parece que estou na plenitude de um orgasmo. Sério, não acredita? Outro dia me pediu algo surpreendente. Que eu almoçasse nua. Deixe-me, ao menos, cobrir os seios, não fica bem mastigar com os seios dependurados, à borda da mesa. Fui ao quarto e voltei vestida apenas com um top. Comecei a comer. Ele reparou meus movimentos da boca, meus olhos a demonstrarem o gosto pelo alimento. Nua, de pernas cruzadas, à mesa, a mastigar, sinto-me cavalgando sobre ele, num namoro à hora tardia. Ele imagina o mesmo, olha-me, boa a trepada. Quando vê minha garganta mover-se, o momento da deglutição, goza junto comigo. Um dia desses, não satisfeito apenas a me olhar, filmou-me, bem próximo; focou a cabeça, a boca, o pescoço, todos meus os movimentos que envolviam a mastigação e os traços que a alimentação deixa na gente. Engoli o último pedaço da sobremesa, um pudim de leite condensado. Foi então que molhei a cadeira, adivinhe por quê. Acho que por isso usamos calcinha, não é bom molhar os lugares por onde passamos. Agora, conta você, já que começou com a história de namorados, do que eles gostam e coisa e tal.

O meu me adora ver movendo os lábios, mas não é bem na hora da refeição. Quem me dera fosse assim, suave, de modos refinados, como o teu. Vou te pedir emprestado, viu. Meu namorado é selvagem. Não sei, mas acho que me acabei acostumando. Ele pega, me puxa pra junto dele, me levanta, enfia um peru imenso dentro de mim; eu grito, peço pra me colocar no chão, reclamo, mas tudo não passa de um faz de conta, finjo que estou furiosa. Mas doidinha pra abrir as pernas. Adoraria que ele me pedisse o mesmo, essa tal deglutição, inteiramente nua, afastado de mim, a me observar mastigando. Ele me quer ver engolindo, sim, mas é a porra que sai do pau dele. Você nunca engoliu porra, ou só engole pudim de leite condensado? Finjo que não gosto, mas o sabor passa a ser uma delícia depois da terceira vez, além disso, o líquido é quente, acho que tem a temperatura do corpo. Ainda bem que fazemos tudo dentro de um quarto, na minha casa, ou num hotel. Tenho uma amiga que anda nua por aí, a pedido do namorado. A gente não imagina o que as pessoas fazem para ter um namorado nos dias de hoje.

O meu não é só delicadeza, não, ele também é selvagem, tem os dois lado. Quer-me ver comendo, sim, mas quando eu encosto nele, ele desperta, parece que estou na selva. E quanto a esse negócio de sair nua por aí, ah, nem fala, você não imagina o que já me aconteceu.

Conta, gosto das tuas histórias.

Não, não posso contar, pelo menos hoje, não, quem sabe um dia desses.

Minha amiga... Espere, me deixa acender o cigarro. Hum, bom esse cigarro, depois não querem liberar pra fins recreativos, não sabem o prazer que é isso. Minha amiga, tenho uma conhecida que ficou nua numa estrada, saltou do carro nua e ficou no acostamento. O namorado foi dar umas voltinhas e ela a esperar por ele. Veja se isso é concebível, uma mulher tão instruída, professora universitária, nua numa estrada!

Prefiro falar sobre os doces, os doces que comi nua!

Há homens de todos os tipos. São sempre um pouco tarados. É bom que sejam assim, pelo menos tem interesse por nós e nos dão prazer. Imaginem se ficam vendo TV e depois vão dormir.

Imaginem se ficam vendo a mulher nua comer e depois vão dormir. Vão dormir com ela cavalgando por cima dele! Que tal mais um café?

Boa ideia. O café, esse cigarro e essas histórias. Bom demais.

terça-feira, setembro 08, 2020

Pastilha

Gosto de vestir apenas o pulôver, nada mais sobre a pele. Desce até às coxas, estico o tecido sempre a me escapar. O tal agasalho é do namorado, seu tecido quente sobre o meu corpo me excita bastante. Lembro uma amiga, faz algum tempo que não a vejo, gosta também de andar vestida assim, apenas o pulôver, mas o prefere curto. Gosto que me cubra até as virilhas, costuma dizer. Nossa, mas está tudo de fora, alerto. É assim mesmo, diz. Espera o namorado com a bunda de fora. Deixo o espelho e sento à beira da cama. O agasalho sobe, cruzo as pernas, dou a esticadinha. Vocês têm fogo no rabo, dirá ele, caso me veja assim. Não só no rabo, eu rebaterei. Que tal sair, vamos passear, você, só de pulôver. Ah, os homens e suas fantasias. Sério?, faço de conta que não acredito. Me abrace, vem. Seu braços me apertam, suas mãos correm sobre minha pele quente, sob o pulôver. Tire, vai, me deixe nua.

Queremos a vida independente, como a dos homens, profissão que nos dê autonomia. Mas na hora do sexo, somos cadelinhas a permitir o cão a montar. Tenho amigas que não os querem mais, os homens. Talvez seja por causa disso, a dita independência. Mas, no fundo, sei que o desejo de trepar não as abandona. Arranjam artifícios, modos diversos de fazer sexo, pretextos para gozarem mais e mais. Às vezes se pensa num homem que dá muito prazer, alguém com quem se tenha trepado e o gozo flui fácil. Fica-se, então, cheia de fogo, deita-se na cama e aguarda-se. Será que ele vem. A gente nua, esperando. Uma pastilha, instrumento erótico, para ser colocada dentro da xereca. Incendeia, crescem as chamas. O namorado vem, já está à porta, ouço o ruído da chave, seus passos adentram. Logo estará sobre o meu corpo. Minha temperatura sobe, escalada em etapas, até que gozo, após lânguido mexer das coxas, sutil roçar de entre pernas. O namorado imaginário já tendo partido, nenhum aborrecimento, a felicidade, a independência, o orgasmo certificado. Certa vez tirei uma foto, sério, uma foto do gozo, a fenda toda molhada. Acho que a tal pastilha dissolve e torna nossas secreções mais espessas. Enviei a foto a um antigo amante, vivia me pedindo uma foto nua. Na embriaguez do gozo, acabei indo além do que pedira. Depois, ai, que vergonha, minha xereca molhadinha guardada na gaveta dele, mesmo nas horas em que estou séria, no trabalho. A tal independência, o gozo, já vai no passado.

O pulôver sobre minha pele, eu nua, o namorado, desta vez real, preste a chegar. Mas onde a tal pastilha? Abandono o namorado, mas não a pastilha. Quando abrir a porta, já a terei engolido. Ainda bem, há vários modos de engolir uma pastilha.

terça-feira, setembro 01, 2020

Piruzão

Eu tinha um amigo que, quando queria transar, lhe telefonava. Logo eu estava na sua casa, uma beleza. E o homem tinha um piruzão muito gostoso, daquele tipo que faz uma curva na ponta e a gente se sacode para atingir o máximo de gozo. Ele morava num bairro próximo ao centro da cidade, fácil de chegar, melhor ainda para ir embora. Eu não passava a noite toda com ele. A gente trepava, conversava um pouquinho, e eu partia. Às vezes ele tinha um vinho, servia uma taça, uma delícia. Certa vez, no lugar do vinho, uma batida de maracujá, vou ficar com sono, eu disse; não foi o que aconteceu, fiquei doidinha, ainda com mais tesão. Vivemos assim durante vários anos, não havia compromisso, bastava telefonar e marcar. Assim como eu gostava do sexo com ele, ele gozava muito comigo. Eu entrava na casa dele, pedia para ir ao toalete, tomava um banho e já vinha nua para a cama; às vezes, antes abraçava-o, ainda de pé, ficávamos agarrados um ao outro durante um bom tempo, beijava-o na boca, ele então começava a me fazer carinho, não demorava e seu peru enorme já estava dentro de mim, eu molhadinha. Mas meu amigo se mudou, foi para outra cidade, não o encontrei mais, uma pena.

Os homens que arranjei depois jamais foram igual. Havia uns que me queriam quando assim o desejassem. Com meu amigo, era eu que telefonava, eu que marcava. Outros inventam coisas mirabolantes, vou contar algumas. Mas antes, digo que houve um que me pediu em casamento. Qualquer uma teria aceitado, mas eu não gostava dele. Mesmo que gostasse, não sei se aceitaria um casamento, algo que prende muito, e eu gosto de ser uma mulher livre. E o homem tinha dinheiro. Alguns falavam muito, contavam vantagens, queriam primeiro ir a um bar, enchiam-se de bebida. Não sou assim, sinto vontade de trepar e já quero ir para cama, no máximo uma rápida taça de vinho antes. Há homens que são machistas, querem a mulher sob suas asas, desejam dar ordens. Houve um que me convidou para um pagode, entre ele e os amigos, depois a gente vai lá pra casa, aí faz o que você mais gosta, chegou a me dizer. Não fui ao pagode, aquele batuque repetido, uma porção de homens com bafo de cerveja. Depois que meu amigo se foi, tive um parecido com ele, sim, mais silencioso ainda, sempre com um livro dentro da bolsa, queria também falar de literatura. Não sou muito de ler, dizia eu, mas gosto de poesia. O homem se pôs a recitar poemas, e alguns eram até bonitos, fáceis de serem compreendidos. Mas um dia, disse que não viria mais, iria se casar. E casou mesmo. O que há de se fazer? Sempre esperei reencontrar meu amigo, de quem falo no começo, por isso acho que corri a cama de vários homens, quem sabe um se não igual ao menos parecido com ele. Dentre as loucuras pelas quais passeis, houve um que me deixou nua uma noite inteira, num hotel! Nada de anormal, alguém poderá dizer, mas a história não foi bem assim. Disse que já voltaria e sumiu, saiu do apartamento, eu desesperada, sem saber o que fazer.  Ai, meu Deus, será que terei que pagar a noite de hotel, não tenho um centavo? Mas ele voltou, enquanto eu cochilava e o sol nascia. Você não notou nenhuma falta?, perguntou. Sim, você, eu disse abraçando-o. Não é isso, uma falta além da minha pessoa. Não notei, o que me estaria faltando? Abriu a mochila e tirou minhas roupas de lá de dentro, todas as peças. Tive que me ausentar, mas levei tuas roupas, tive receio de que partisses. Valha-me, disse eu, ainda bem que nada notei, se já estava desesperada porque desapareceu, imagine se me descubro abandonada e pelada? Abracei o homem e quis que me comesse o quanto antes.

Mas estou investigando, vou descobrir o meu amigo, homem de quem gostei mais. Não porque tinha o peru maior do que todos os outros homens com quem já trepei, mas porque estou descobrindo o que é o amor.

Não é uma loucura todos esses homens, cada um com sua mania? Jamais contei a amiga alguma minhas aventuras, não confio nas mulheres. Além disso, há muita inveja. Outro dia uma me veio contar sobre o novo namorado, perguntou se eu conhecia o homem, já que a cidade é pequena. Quando reparei, era o tal que me convidou para o pagode. Não, jamais o vi, enganei-a. Deixa pra lá, já que gosta de desfilar de biquíni, acho que vai poder rebolar bastante. Quem sabe, para ela, seria mais vantajoso encontrar o tal que me surrupiou o vestido!

segunda-feira, agosto 24, 2020

Aula de inglês

Vou de metrô, direção centro, entrei no Largo do Machado, 13h45. Descubro um amigo num dos bancos, próximo à porta do meio do vagão. Me aproximo, ele lê um livro. Toco suas costas. Olha e se mostra contente pelo encontro inesperado. Quer me ceder o lugar. Não, por favor, não precisa, já vou saltar. Digo a estação. Você vai saltar na mesma estação que eu, fala com a face luminosa. Meu amigo já me paquerou faz dois anos, e bem que gostei. Sou pequena, magra, e ele parece gostar de mulheres do meu tipo. Trajo um vestidinho estampado, de alças, faz calor, desce até acima dos joelhos. Vou dar aula, trabalho no IBEU, no centro, já te falei, não?. Movimenta a cabeça, concordando. Lembro, sim, bom dar aulas de inglês. Ficamos na conversa possível. Pergunto onde trabalha. Ainda no mesmo lugar. Como vão as pessoas? – conheço algumas – pergunto o que faz no metrô àquela hora. À tua espera, ele poderia ter dito, ou, na esperança de te encontrar por aí e a gente dar um passeio, outra tirada de efeito. Não diz isso, mas alguma coisa que não entendo. Quando o trem entra estação Carioca, saltamos juntos.

Sou uma mulher quente, como dizem por aí. Quando era adolescente, os garotos adoravam me namorar, não conheciam uma menina tão cheia de fogo como eu. Enquanto andamos juntos, sinto calor. Isabela, você está indo para o curso, por favor, falo a mim mesma. Quando vamos nos despedir, em frente à Sete Setembro, diz que pena não podemos passear um pouco. De imediato, respondo sim, encontre comigo daqui a duas horas. Verdade?, sorri. Verdade, a gente toma um café, sugiro, ou faz outra coisa. Marcamos o lugar, beijo os dois lados de sua face, dou as costas e aperto o passo. Deve ter pensado que outra coisa poderemos fazer? Corro ao curso, começo a aula com dez minutos de atraso. Tenho um aluno engraçadinho, dezessete anos, não para de olhar minhas pernas.

Na saída, logo que passo a porta do prédio, um homem pisca para mim. Hoje, não se pode mais assediar as mulheres, um assovio ou uma piscadela podem levar à prisão. Uma pena, salve o novo admirador. Gosto que me admirem, mas jamais correspondo. Mesmo que esteja morrendo de tesão. Fico na minha, nada de extravagâncias. Certa vez, já faz uns dez anos, um homem me seguiu, me perturbou demais, acabei parando para conversar. Tudo porque ele tinha os olhos azuis. Mesmo foguenta, sair de primeira com um desconhecido sempre foi uma loucura, não ia me arriscar. Aceitei o café, ou coisa parecida, deixei o meu número, mas ele nunca telefonou. Caso tivesse continuado conversando, poderia tê-lo namorado. Há homens que querem a gente na hora, não sabem investir no futuro. O que tenho a dizer é: azar é o deles.

Meu amigo me espera na porta da Livraria da Travessa. Entramos e subimos ao segundo andar, onde há uma cafeteria. Posso pedir o que bem desejar. Jura?, sorrio, olha que dou despesa. Deve ser bom dar aulas de inglês, diz, você faz muitos conhecimentos. Não é bem assim, a maioria é adolescente, há um ou outro adulto, e dou aulas para as séries iniciais, fica-se repetindo sempre a mesma coisa, não é ruim, mas também não é tão agradável. Franze a teste, gosta do que falo. Sabe, continuo, certa vez arranjei um namorado. É mesmo?, mostra-se curioso. Sim, da minha idade, ainda bem que ninguém do curso notou, não é bom sair com aluno, e nosso namoro durou um tempinho. Faz cara de que entende. A garçonete aparece com os cardápios, um para cada. Quero mesmo um expresso, digo. Coma um sanduíche, os daqui são deliciosos. Olho o cardápio e vejo os preços, são incrivelmente altos, talvez dê para comprar um livro no lugar do sanduíche, mas como sou convidada, aceito. Ele carrega um livro, tomo a liberdade de virar a capa e ler o título. É francês, não sabia que você fala francês. Pra falar não sou tão bom, mas ler é comigo mesmo, e a literatura francesa é ótima, ressalta. Gostaria de ler assim como você, não em francês, mas em português ou em inglês, o problema é que sempre estou ocupada com alguma coisa; quando dou pela hora, já é tarde, estou exausta, acabo indo dormir, às vezes nem vejo TV. É assim mesmo, retruca, a vida de hoje é muito complicada, é preciso muita disciplina para se tornar um leitor ou uma leitora. Música instrumental serve de fundo ao nosso encontro, há duas outras mesas ocupadas. Numa delas, dois homens; na outra, duas mulheres e um rapaz. A garçonete não demora a chegar com o que pedimos. Serve-me primeiro, põe o café à minha frente e o prato com o sanduíche ao lado, queijo brie com ervas. Meu amigo fica só no café. Você me incentiva a pedir sanduíche e não vai comer nada, assim não vale, reclamo animada. Não tenho fome agora, almocei tarde. Avanço na conversa, acho que o último livro que li foi da Clarice Lispector, lembro que tive um professor que falava: os livros da Clarice são cheios de epifanias, odiava a palavra, agora compreendo o que ele queria dizer. Meu amigo fica a me ouvir, dá uma opinião ou outra, olha meu rosto. Será que adivinho seus desejos? Continuamos conversando sobre livros. Ele fala do romance que está lendo, diz que comprou vários livros na última vez que foi à França, faz seis meses.

Quando saímos do café da livraria, caminhamos pela Sete de Setembro. Antes de chegarmos à Rio Branco, puxo-o pelo braço, viro-me e me coloco à sua frente. Eu, menor, fico na ponta dos pés, beijo-lhe os lábios. Engraçado, não tenho outra palavra para o ato, agarrada a ele, beijando-lhe a boca, muitas pessoas cruzando a rua, nos ladeando. O beijo é longo. Quando o solto, ele diz teu corpo está quente. Rio, é assim mesmo, encosto o rosto no seu peito. Vou levar você a um lugar melhor pra gente namorar, escuto.

Meia hora depois, estou nua, na cama de um hotel, acho que na Senador Dantas. Um dia que me acaba bem.

Me aperta bem, vai, chupa os meus mamilos. Me rasga, me rasga. Ele me penetra, tento fechar um pouco as pernas. Mete bem fundo, mete, sou tua piranha, tá, uma piranha nua, quente, isso, chupa, chupa que vou gozar.

No final, sou eu a anotar seu telefone.

terça-feira, agosto 18, 2020

Pabllo

Tenho um amigo que é terrível, toda semana está com uma namorada diferente. Outro dia disse estar apaixonado, encontrou a mulher da sua vida. Mas como?, você que paquera todo mundo. Verdade, ele afirmou, agora é sério, vou apresentar a você.

Passaram alguns dias e ele veio com a pessoa amada. Oi, que prazer, uma mulher linda, vestido curtíssimo, não sei como consegue sentar com a tal roupinha. Depois, já a sós com ele, sussurrei-lhe desconfiada, a tua namorada... Deixe disso, eu a amo, e isso basta para mim. Você não acha um escândalo sair com alguém assim, essa extravagância toda, você vai ficar em evidência o tempo inteiro, completei. Nada disso, nem ligo, o importante é nossa relação, você não imagina com é estar na cama com ela.

Passou mais uma semana e ele apareceu com ela na minha casa. Oi, tudo bem, vamos ao cinema, viemos convidar você, ele disse. Mas como, eu do lado da mulher, um vestido soltinho, mais curto do que o do outro dia. Quando ela foi ao toalete, disse-lhe, em voz baixa, você quer me colocar também em destaque?, se encontro alguém do trabalho, já pensou, o que vou falar? Ela saiu logo do toalete, veio sentar ao meu lado, toda sorridente. Você é bonita, e sua casa demais, disse e me beijou. Meu amigo tem razão, ela é realmente carinhosa. Conversamos sobre vários assuntos, eu queria porque queria dissuadir a ida ao cinema, não poderia me expor daquele modo, o jeito foi puxar conversa. Servi uma taça de vinho, biscoitinhos salgados, pedacinhos de queijo. Quando a conversa girava em torno de algo excitante, ela dava gritinhos ui, ui, ui, e ria, delicada. Não tive escolha, acabei por acompanhá-los ao cinema. Fomos a um que passava filmes de arte, ainda bem que não encontrei ninguém conhecido. O público era de gente mais velha, e muitos franziam a testa quando nos descobriam.

Na saída, meu amigo convidou a um bar. Sentamos e conversamos sobre o filme. Ele não desgrudava da namorada. Não sei por que a conversa enveredou pelo tema do orgasmo. Ela recomeçou a dar seus gritinhos, ui, ui, depois de cada opinião. Nada falava. Quando pedi para dizer o que achava, disse pergunte a ele, por favor, não me faça falar disso. Meu amigo riu, ri também e não lembro mais a continuação do assunto.

A última vez que a vi, foi na praia, em Ipanema, defronte ao Country. Quis disfarçar, fazer de conta que não a reconheci, mas foi ela quem me chamou. Me beijou. Oi, como vai, cadê o namorado?, fiz-me curiosa. Ele já vem, disse pousando ao seu lado a revista, fique aqui perto de mim, um pouquinho. Você está nua!, exclamei. Não exagera, nua, nua, não. Meu biquíni, perto do teu, é um maiô que vem até o pescoço, eu disse e ri. Nada disso, você usa também um biquíni curtinho, sensual, chegou me tocar as coxas. Não sei como você consegue, continuei, não escapa nada, aí, não? Ah, às vezes escapa, mas o que se vai fazer?, é um orgasmo!, encontrou a palavra certa. Já que você fez a pergunta, continuou delicada, seu amigo adora me fazer gozar, pronunciou a palavra baixinho e com certo vexo, adora mesmo, viu, às vezes nem estamos em casa. Jura?, me fiz surpresa. Juro, imagine, ele já me quis em orgasmo (ela e sua forma especial de tratar as palavras), aqui mesmo, na praia!, que caos... Sorriu, virou ao lado e segurou de novo a revista. A capa trazia uma foto de Pabllo Vittar, de biquininho.

segunda-feira, agosto 10, 2020

Mar do Norte

Um ex-namorado me chamou  outro dia por vídeo, no Zap. Chamá-lo ex é contraditório, acho que é namorado mesmo, embora não mais nos encontremos. Sei que ainda gosta de mim, por isso o considero como tal. O homem ligou a mil, tesão completo. Além disso, eu estava nua, prestes a entrar numa ducha. Falei com ele, mostrava apenas o pescoço e o rosto, às vezes aparecia aquela parte do corpo entre os seios e o pescoço, revelando minha nudez. Ele nada comentou, mas percebi seu gosto. Vou tomar um banho, falei, aproveitei e peguei a toalha. A toalha vai cair, ele disse. Como poderia cair se eu nem mesmo me cobria com ela. Não vai cair, não, disse de brincadeira. Travamos uma longa conversa. Falei das coisas boas da minha vida, nada de problemas. Os homens, ou melhor, as pessoas se afastam caso contemos problemas. Represento. Sou a mulher mais feliz do mundo. Não ia eu conversar sobre homens, é claro, mas dei a entender que sou muito desejada. A toalha vai cair, falou de novo. Por que você quer me ver nua?, já cansou de me ver sem roupa, em situações mesmo mais extravagantes, soletrei. É, bons tempos, rebateu. Aliás, ele queria rebater mesmo, estava doidinho para estar ao meu lado, me virar de frente me rebater pelas costas, várias as posições, me sentir molhadinha.  Como estou de cabelos curtos, minha face se apimentou, cara de sacana, lábios sensuais. Então, disse, o banho me espera, a ducha aberta, água correndo, de graça. Sentei sobre a tampa do vaso. O teu telefone te mostra bem, é boa a imagem, disse porque não tinha mais o que dizer. Todos os telefones de hoje têm boa imagem, confirmei. Comprei um biquíni novo, assim que der praia vou usar. Queria ver se ele ia me pedir para vestir naquele momento. Nada falou, não quis se dar de graça. Bem, não sei, mas já não vou à praia faz tempo, afirmou. Vou sempre que posso, disse solícita, todos me conhecem naquele pedaço, perto do Country, tenho de procurar outro lugar, conhecer outras pessoas. Arregalou os olhos. Nesta tua cidade, conhecer novas pessoas... Sempre conheço, assegurei, não havia dúvidas nas minhas palavras. Outro dia um cara que veio trabalhar na Petrobrás, o mulheril todo em cima, veio valar comigo, me convidou para o Ilhote. Você foi?, ele curioso como sempre. Quem sabe, não dei certeza. Você está tão importante assim, tão rara, cuidado, não é sempre que aparecem essas oportunidades. Estava certo o homem, mas não queria eu lhe dizer a verdade, desejava criar ciúmes, fazê-lo vibrar mais de tesão. As pessoas são assim, tantos os homens como as mulheres, se criamos um entrave, se ficamos mais difíceis, interessam-se mais. Ciúme revelador: você está linda nua, falou como se me visse pelada naquele momento. Você acha?, entrei no jogo. Acho, uma delícia. Vieram as lembranças, as idas à praia, o agarra agarra dentro d’água, ele puxando as tiras do meu biquíni. Lembra no Mar do Norte, eu te deixei pelada dentro d'água, achou engraçada a lembrança. Ardiloso, ele. Continuei a fazer o jogo. Lá não era, com não é, praia de nudismo. Mas nós aproveitamos, sentenciou. Isso, aproveitamos, mas agora vou aproveitar o banho. Vai, bom banho, disse em tom de final de conversa. A toalha caiu, disse eu. Reparei, retrucou. é como no esgrima, um avança, outro recua. Recuo, sem a toalha, ri. Beijos, despediu-se. Beijos, até breve, eu. Quando ia entrando sob a ducha, veio a mensagem de voz, você esqueceu a toalha, como àquela vez voltando da praia, nua no banco do carona! Ah, deixara o vídeo ligado, nua no chuveiro. Não foi intencional. Mas quem vai ter certeza!

segunda-feira, agosto 03, 2020

Quietinhas quentinhas

As pessoas me acham quieta, incapaz de transbordamentos, de acessos de entusiasmo. Sônia não demonstra suas paixões. Verdade? A vida social é enganosa, não sou artista, mas consigo representar. Um dia desses recebi elogios de um amigo, ninguém imagina o tanto que vibrei. Num período difícil, quando a vida não é fácil para ninguém, receber um carinho como aquele me permitiu um voo e tanto. Mas é lógico que ninguém notou. Quem me viu nos dias que se seguiram me achou a mulher de sempre, discreta, guardada em cuidados, meus prazeres pelas pequenas coisas escondidos a sete chaves, nenhuma demonstração, o coração limpo, mas o corpo trêmulo de alegria. Tenho amigas que me narram atitudes extremas, me deixam surpresa. Como podem ser assim? Isso vale tanto sobre o modo de vestir como a reação ante a um homem, numa simples paquera ou mesmo na cama. Uma delas me contou coisas que não consigo escrever aqui, imaginem, por favor, principalmente no momento em que vai nua nos braços do amante. Jamais eu agiria assim, confesso que não sou insensível, mas não posso me descontrolar. Certa vez, um homem insistiu tanto que acabei saindo com ele, fomos a um restaurante. Sempre achei que, quando se começa um relacionamento amoroso, as palavras não são necessárias, cai-se como manga madura nos braços do outro. Ele, porém, resolveu conversar. Não falemos nisso, pedi, muito solícita, sorridente mesmo, mas o homem não entendeu. Não posso me relacionar com alguém que depende das palavras. Tal namoro jamais dará certo. Às vezes fico em dúvida e acho que preciso mudar de comportamento. Mas lutar contra a própria natureza é algo mutilador. Para muitas pessoas, é impossível chegar ao comportamento que beira o bom senso. Volto ao meu amigo, o elogio foi em relação às minhas fotografias, na verdade umas fotos que faço como amadora. Não sei se ele fala a verdade, mas estava me sentindo tão só, e num momento tão complicado, que me provocou uma alegria que não consigo transformar em palavras. Lembram as adolescentes fora de si ao verem o artista preferido num show aberto ou na porta do hotel onde está hospedado? Não quero ser deselegante, mas há quem diga que chegam a molhar a calcinha. O elogio me produziu a mesma sensaçãofez. Por outro lado, para quem quer me levar para cama, é preciso paciência. Não saio de primeira, nem de segunda. Espero, como a natureza, de novo a fruta que amadura. Houve uma exceção. Era mais jovem, estava com muita raiva naqueles dias. Andava pelo centro da cidade quando um homem me seguiu. Bonito, ele. Por isso, talvez a decisão intempestiva. É a primeira vez que falo nisso, daqui de onde escrevo não imagino o leitor, apenas o papel branco com minha experiência rubra. Isso mesmo, bem rubra. Parei na Sete de Setembro, esquina a uma rua pequena, próxima à Carioca. O homem veio falar comigo. Há uma escola de música ali perto, e ouvia-se som de trompete, alguém tentando talvez uma nota não digo impossível, mas difícil para um iniciante. Sim, o músico devia estar nas primeiras lições. E eu, qual meu grau nas lições de sexo? Minha experiência rubra foi num hotel da rua do Lavradio. Apague todas as luzes, feche todas as cortinas, por favor. Eu não queria me ver nua! Foi a única vez a tempestade. Voltei dias depois à calmaria, verão sem vento, mormaço no meu corpo dentro do maiô inteiriço. Bom que me achem quieta, tranquila, discreta. Os homens conhecedores de mulheres sabem a verdade, as caladas conhecem mais, sabem melhor, não precisam gritar mais alto nem botar a bunda de fora. Depois da minha experiência no centro do Rio, com vinte e um anos, tornei-me mulher experiente. Ações amorosas não precisam de espalhafato, basta o escurinho do apartamento, o carinho, o elogio. Bonitas as fotos. O protagonismo ou a independência da mulher começam nesta via, é a melhor resposta às queixas das amigas. O orgasmo completa a relação, degelo de início de primavera. Mas como chegar ao orgasmo, sem palavras? Não tenho fórmulas. Segure aquele que você deseja pela mão. Em silêncio. O tato é um sentido muito especial. Vamos ver então o que pode acontecer.