Tenho um amigo que é terrível, toda semana está com uma namorada diferente. Outro dia disse estar apaixonado, encontrou a mulher da sua vida. Mas como?, você que paquera todo mundo. Verdade, ele afirmou, agora é sério, vou apresentar a você.
Passaram alguns dias e ele veio com a pessoa amada. Oi, que
prazer, uma mulher linda, vestido curtíssimo, não sei como consegue sentar com
a tal roupinha. Depois, já a sós com ele, sussurrei-lhe desconfiada, a tua
namorada... Deixe disso, eu a amo, e isso basta para mim. Você não acha um
escândalo sair com alguém assim, essa extravagância toda, você vai ficar em
evidência o tempo inteiro, completei. Nada disso, nem ligo, o importante é nossa
relação, você não imagina com é estar na cama com ela.
Passou mais uma semana e ele apareceu com ela na minha casa.
Oi, tudo bem, vamos ao cinema, viemos convidar você, ele
disse. Mas como, eu do lado da mulher, um vestido soltinho, mais curto do que o
do outro dia. Quando ela foi ao toalete, disse-lhe, em voz baixa, você quer me
colocar também em destaque?, se encontro alguém do trabalho, já pensou, o que
vou falar? Ela saiu logo do toalete, veio sentar ao meu lado, toda sorridente.
Você é bonita, e sua casa demais, disse e me beijou. Meu amigo tem razão, ela é
realmente carinhosa. Conversamos sobre vários assuntos, eu queria porque queria
dissuadir a ida ao cinema, não poderia me expor daquele modo, o jeito foi puxar
conversa. Servi uma taça de vinho, biscoitinhos salgados, pedacinhos de queijo.
Quando a conversa girava em torno de algo excitante, ela dava gritinhos ui, ui,
ui, e ria, delicada. Não tive escolha, acabei por acompanhá-los ao cinema.
Fomos a um que passava filmes de arte, ainda bem que não encontrei ninguém
conhecido. O público era de gente mais velha, e muitos franziam a testa quando
nos descobriam.
Na saída, meu amigo convidou a um bar. Sentamos e conversamos
sobre o filme. Ele não desgrudava da namorada. Não sei por que a
conversa enveredou pelo tema do orgasmo. Ela recomeçou a dar seus gritinhos,
ui, ui, depois de cada opinião. Nada falava. Quando pedi para dizer o que achava,
disse pergunte a ele, por favor, não me faça falar disso. Meu amigo riu, ri
também e não lembro mais a continuação do assunto.
A última vez que a vi, foi na praia, em Ipanema, defronte ao
Country. Quis disfarçar, fazer de conta que não a reconheci, mas foi ela quem
me chamou. Me beijou. Oi, como vai, cadê o namorado?, fiz-me curiosa. Ele já
vem, disse pousando ao seu lado a revista, fique aqui perto de mim, um
pouquinho. Você está nua!, exclamei. Não exagera, nua, nua, não. Meu biquíni,
perto do teu, é um maiô que vem até o pescoço, eu disse e ri. Nada disso, você
usa também um biquíni curtinho, sensual, chegou me tocar as coxas. Não sei
como você consegue, continuei, não escapa nada, aí, não? Ah, às vezes escapa,
mas o que se vai fazer?, é um orgasmo!, encontrou a palavra certa. Já que você
fez a pergunta, continuou delicada, seu amigo adora me fazer gozar, pronunciou
a palavra baixinho e com certo vexo, adora mesmo, viu, às vezes nem estamos em
casa. Jura?, me fiz surpresa. Juro, imagine, ele já me quis em orgasmo (ela e
sua forma especial de tratar as palavras), aqui mesmo, na praia!, que caos... Sorriu,
virou ao lado e segurou de novo a revista. A capa trazia uma foto de Pabllo Vittar,
de biquininho.
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