quarta-feira, maio 24, 2023

Encontrei?

Era uma noite quente de verão, e a praia estava deserta. A lua cheia iluminava as areias brancas, enquanto as ondas do mar quebravam suavemente na costa. Eu caminhava pela praia, descalça, deixando as marcas de meus pés na areia. De repente, vi algo brilhando no chão. Aproximei-me e percebi que era um vestido. Peguei-o e reparei que era um vestido de seda verde, com um decote profundo e a parte inferior comprida.

Olhei ao redor, não havia ninguém. Decidi experimentá-lo. Fiquei surpresa ao constatar que se ajustava perfeitamente ao meu corpo, era como se fosse feito especialmente para mim.

Dei mais alguns passos sobre a areia, virei-me par o mar. Será que a dona da tal seda nadava nua em meio as ondas? Não vi ninguém. Voltei-me para a parte alta, onde nasce uma espécie de mato que cobre o chão até junto à estrada. Também não vi ninguém. O silêncio da madrugada só era quebrado pelo marulhar à meia distância da costa.

Deixei minha calça jeans e a blusa que eu vestia sobre um pequeno monte saliente nas areias. Caminhei até a beira d’água e senti a água do mar, fria fria, molhando-me os pés e os tornozelos.

Continuei a caminhar pela praia sentindo-me incrivelmente elegante com o meu novo vestido. Dancei à beira do mar, ouvi música imaginária e ri das minhas próprias bobagens enquanto a brisa soprava suavemente através dos meus cabelos.

O vestido sobre a pele ainda me trouxe a lembrança de um namorado de mais ou menos dez anos passados. Eu morava em outra cidade, também litorânea e menor do que a de agora. Ele teimava que me queria nua, íamos com frequência à beira da praia para namorar. Um dia, não sei o motivo, depois de um intenso corpo a corpo com o rapaz, ao voltarmos ao ponto de chegada, não encontrei o meu leve vestidinho! Que problema... Mas tudo se resolveu a tempo. Ninguém do lugarejo me viu entrando nua em casa. No final, caímos numa gargalhada gostosa. Dias depois, ele me trouxe um vestido novo, de presente, adquirido num shopping da cidade vizinha.

No momento, porém, o vestido verde me intrigava. Quem seria a sua dona? Será que andava nua por aí com o namorado e depois viria procurar pela roupa? Será que eu, ao levar o vestido, a deixava em apuros? Percorri ainda uma distância de mais ou menos quinhentos metros.

Quando tive a intenção de voltar, senti imenso desejo de dar um mergulho. Você já mergulhou à noite, a praia deserta, apenas você e a natureza? Tirei o vestido, dobrei-o com cuidado e corri nua para dentro d´água. Permaneci nadando e mergulhando por um quarto de hora.

Quando voltei à areia, o vestido verde estava no mesmo lugar. Esperei um pouco até secar o corpo e o vesti de novo.

Ao me aproximar do local inicial de minha caminhada, senti alguém me tocar as costas. Que susto! Não ouvira ninguém até então. Uma mulher nua, muito parecida comigo – a única diferença era a cor morena da pele e os cabelos negros – me pediu o vestido de volta.

– Você gostou, não? Posso emprestar – ela disse enquanto eu o tirava e o devolvia.

– Corajosa, você, andando nua por aí, pode aparecer alguém.

– Não aparece, estou acostumada.

– E escapou de ter de voltar nua pra casa – acrescentei.

– E quem sabe se já não voltei – soltou com ar debochado, enquanto terminava de vesti-lo.

Deu-me as costas, disse até logo e se foi.

Só então me dei conta de que, naquele momento, a nua era eu. Corri à procura do monte saliente nas areias onde tinha deixado a calça jeans e a blusinha de renda.

quarta-feira, maio 03, 2023

Nunca fiquei tão solta

Vou te contar, escuta, foi muito excitante, nunca fiquei tão solta. Saí com ele, aquele cara que conheci semana passada, já te falei sobre o homem. Fomos a um bar, entramos, sentamos e começamos a conversar. Papo vai, papo vem, cada um contava um caso, assunto puxa assunto e coisa e tal. Ele olhava pra mim, os olhos brilhantes; eu, pra ele, revelando já certa volúpia, e olha que fui vestidinha, super bem-comportada. A seguir, ele perguntou: você quer beber o quê? Acho que um coquetel. Olhamos o cardápio, cada coquetel que era uma maravilha. Escolhi um composto com gin, de cor azul, lindo. Chamamos o garçom, pedimos. Não passou muito tempo, as duas taças diante de nós. À medida que consumíamos, a conversa ficava mais animada. Ele pediu alguns salgados, muito gostosos por sinal, umas pastas, torradas etc. O garçom voltou, colocou tudo sobre a mesa. Comíamos com delicadeza, a conversa versou sobre teatro, cinema, atores e atrizes. Juro, não sabia que ia ficar tão animada, não conseguia me conter, comecei a rir, às vezes o escutava com tanta atenção, que parecia estar prestes a me fazer uma descoberta.

Lá pelas tantas, sugeriu: vamos beber mais, ok? Como eu já estava rindo à toa, nem respondi. Quando veio o outro coquetel, só ficávamos quietos ao colocar a boca na beirada do copo para tomar mais um gole. Comecei a contar casos que eram segredos, como o que aconteceu com a Luciene, lembra? Conheces a história: era mais de meia-noite quando ela me telefonou, tive de sair às pressas para buscá-la no centro da cidade, levei uma canga para que não voltasse nua pra casa. Ele achou a história muito engraçada. Como uma mulher vai parar num quarto de hotel com o namorado e na hora de ir embora não encontra as próprias roupas? Falei de outras amigas minhas, suas dissimulações. Ele ouvia. Também revelei que estou sozinha há muito tempo.  Permanecemos no bar até as seis da tarde.

Ao nos darmos por satisfeitos, ele pediu a conta e saímos abraçados um ao outro. Andamos um pouco pela rua, pensei de repente: aonde é que nós vamos agora? Ele não me falava nada sobre isso, estávamos ali pelas imediações do Largo. Então, convidei: vamos até lá em casa tomar um café? Ele aceitou.

Entramos na rua das Laranjeiras e seguimos em frente. Depois do viaduto, ainda andamos duas quadras e dobramos à direita, na minha rua. Chegamos ao prédio. Subimos.

Logo que entramos, fui a cozinha e coloquei a cafeteira pra fazer o café.  Voltei à sala e me sentei ao lado dele. Em certo momento, não aguentei, era tanto fogo que eu sentia. Nossos rostos estavam próximos, dei-lhe um beijo na boca. Não duvide, fui eu que tomei a iniciativa. Ficamos agarrados, ele me abraçando, até que falei espera um instantinho. Corri ao banheiro, tirei toda a roupa, todinha mesmo, envolvi o corpo numa toalha e voltei pra sala. Pedi pra que ele se levantasse e viesse me dar um abraço. Ele obedeceu. Levantou-se e veio até o centro da sala. Dei-lhe outro beijo na boca, com bastante ímpeto. Abracei-o com força. Ele puxou a toalha, que foi ao chão. fiquei agarradinha a ele, nua por inteiro. Acabou me carregando no colo e me levou pro quarto.

Aí aconteceu, foi uma transa inesquecível. Que loucura. Lembro perfeitamente. Nem colocamos camisinha, nenhuma proteção. Perdi mesmo a cabeça. Ele me acariciou de todas as maneiras. Depois, fez o principal. Que delícia! Ainda ficamos deitados durante umas duas horas.

Quando levantamos, voltei à cozinha e trouxe o café, que ainda não havíamos bebido. Sentamos novamente lado a lado no canapé e bebemos, eu ainda nua. Continuamos a conversar, mas com poucas palavras. Vez ou outra ele me tocava a pele, me beijava o rosto ou os lábios. Em um momento, tocou-me um dos seios. Comecei a sentir de novo uma enorme quentura.

Ele partiu às onze e trinta, tinha de acordar cedo pra trabalhar. Eu, então, comecei a pensar na nova situação, tudo tão de repente. O que vou fazer daqui pra frente? Sei, Glória, pra você as coisas são mais fáceis. Quanto a mim, sou ainda um pouco dura, sem jogo de cintura, como dizem por aí. Além disso, veja a minha idade, já não sou uma garota, não sei se uma nova relação amorosa vai me fazer bem. O amor nos deixa aos sobressaltos. Você acha mesmo? Que bom, vou pensar, tudo bem. Ok, um beijo, amanhã a gente se fala.