quarta-feira, julho 27, 2011

Depois você deixa sua gata peladinha


O shopping sempre foi um paraíso para mim. Gosto de frequentá-lo pelo menos uma vez na semana. Hoje, domingo, aproveitei o tempo frio e vim.

Ao chegar, encontrei um ex-namoradinho. Até hoje é apaixonado por mim. Bastou avistar-me para se aproximar eufórico e me beijar. Olhou minha roupa. Parece que se surpreendeu: um vestido que mais parece um suéter. Para falar a verdade, é um suéter mesmo. Comprei na última vez que visitei uma das lojas deste mesmo shopping. Mas, em meu corpo, o tal agasalho caiu como uma luva, transformou-se num vestidinho quase micro. Como estamos no inverno, vesti meias de malha que entram por baixo do suéter, proporcionando à mulherzinha aqui uma baita sensualidade. Pensamentos maldosos – ou será o inverso? – sempre a me deixar nua.

Vou aproveitar que encontrei esse meu namoradinho. Depois dos tradicionais beijinhos, pusemo-nos a caminhar pelos largos corredores. Parei em quase todas as vitrines e mostrei a ele calças, blusas, cachecóis, calçados, uma infinidade de roupas e objetos de adorno que pretendo comprar pouco a pouco. Sabia que ele apenas ia olhar e suspirar. Se tivesse dinheiro, me presentearia com as coloridas peças que apontei. 

Andamos mais um pouco e sentamos num dos bancos centrais. Estiquei o vestidinho para cruzar as pernas e não dar cineminha de graça. Ele me olhou de lado, assim como dois terços dos homens que passeavam aquela hora, até mesmo os que estavam acompanhados.  Descruzei as pernas e as inverti, desta vez a esquerda sobre a direita. Sorri, ligeira, e esperei suas palavras.

Esse meu namoradinho quase nada fala, sempre foi assim, sempre esperando por mim, acho que por isso não fiquei com ele muito tempo. Disse a mim mesma: nada pronunciarei, espero até que ele fale alguma coisa.

Um chocolate recheado com licor?, enfim, falou.

A loja da Kopenhagen. Dar-me-ás, pilheriei, bombons recheados de licor?

Correu até a loja. Demorou uns minutinhos e voltou com a pequena embalagem. Tão bonitinha que senti pena ao abri-la.

Esses bombons são uma delícia, caro, não, e os dois são para mim? Não quer unzinho? Ele meneou a cabeça negativamente. Acho que vou comer agora. Abri um deles, que delícia. O licor escorreu pra dentro da minha boca, um prazer sexual, como diria minha terapeuta. Suguei toda a bebida, gostosura.

Coma o outro, sugeriu.

Será que ele quer me ver bêbada ou me deseja correndo ao banheiro?, imaginei. Mas cedi. Mordi a pontinha do outro e suguei mais uma vez o licor; depois, aos poucos, mordisquei o chocolate. Nada de pavoroso aconteceu. Apenas descruzei as pernas dentro do suéter, esperei um pouquinho, indecisa, e voltei a cruzá-las.

A seguir, suspirei: ah, esse meu namoradinho, por que não fiquei com ele? Tantas moças querendo-o. Ele é tão meigo, adora me presentear, e esse chocolate me deixou com uma pontinha de tesão. Dei um beijinho em sua face. Ele não esperava.

Você veio de automóvel?, perguntei.

Vim, surpreendeu-se.

Aquele jipe do seu pai?, aqueci seus olhos.

Esse mesmo.

Bonito carro.

Quer dar uma volta?, olhou e esperou minha resposta.

Vou, mas me compra mais um bombom.

Ok, seu pedido, uma ordem. Foi até a loja e voltou com mais dois!

Agora estou a mastigar o restinho do segundo, já sei o que vai acontecer, nada de bêbada nem de corrida ao banheiro – oh, meus intestinos no chocolate! Estou me vendo peladinha, no banco traseiro do jipe, ninguém a nos reparar, é noite e os vidros são indevassáveis.

Você vai me dar mais um presentinho, não?, falta uma semana pros meus dezesseis anos, sopro no seu ouvido.

Um vestido mais curto?

Isso, solto quase um gemido, e depois você deixa sua gata de novo peladinha, aninhada no seu colinho.    

quarta-feira, julho 20, 2011

Paraíso

Desde que fui morar naquela pequena cidade, o que mais me impressionou foi o lago que ficava a trezentos metros dos fundos de minha casa. Um lago é sempre alguma coisa imponente. Suas águas tranquilias transmitem uma espécie de certeza que não sentimos quando observamos outros tantos acidentes da natureza. Um lago não é como um rio, que flui incessante. Não podemos dizer que não nos banhamos duas vezes no mesmo lago. Num lago não há como medir o tempo. Nele, o tempo não passa. Dia e noite, sempre os mesmos, e me causando forte impressão.

Numa determinada manhã, resolvi ir até ele e nadar um pouco. Admirei-me mais ao sentir suas águas mornas. Mesmo com a temperatura de meia estação, a água ali era sempre quente. Ao chegar o inverno, também não deixei de frequentá-lo. Saía de casa toda agasalhada. Mas ao tocar a ponta do pé em suas águas, podia tirar toda a roupa e entrar para me sentir aquecida. Ele só podia ser um lago oriundo de atividades vulcânicas. Não havia coisa melhor do que mergulhar e nadar naquelas águas que só se agitavam com minhas braçadas e movimentos de pernas. 

Com exceção do período de chuvas, preferi dali em diante banhar-me à noite. Dois os motivos: o primeiro, ficava deserto, nenhum dos frequentadores diurnos apareciam; o segundo, eu podia entrar nua no lago. Meu horário era após as dez horas, quando a maioria dos moradores do lugarejo já estava na cama. Nas noites mais escuras, aventurava-me a sair de casa, nua. Furtiva, caminhava até a beira d’água e logo me vestia apenas com suas águas tépidas. 

Mas como nenhum paraíso dura para sempre, acabei descoberta. Flutuava tranquila numa noite sem lua, sem fazer ruído algum, era um braço da mãe natureza que permanecia meio submerso meio à flor d’água. Senti um respingo. Agitei-me a princípio. Não podia ser gota de chuva, o céu estava estrelado. Pensei tratar-se de algum peixe maior. Ora, peixes por ali deviam ser pequenos. Mas em uma das extremidades do lago estavam dois rapazes. Teriam-me visto? Estariam a me observar durante muitos dias? Afastei-me, sorrateira e sem fazer ruído, para a outra margem. Mas eles tinham ouvidos de pescador. Acompanharam meus movimentos.

Lutamos a madrugada inteira. Como o pescador solitário que solta a linha e deixa sua presa cansar, eu era a grande raia exausta. Não tardaria a amanhecer, o céu já se avermelhava a oriente. Temi que todos do lugarejo viessem para admirar peixe jamais visto naquelas águas brandas. Voltei à margem mais próxima de minha casa. Os dois me seguiram, esperaram, todo sorrisos. Quando fiz que ia sair, hesitei.

“Algum dos dois é cavalheiro para me emprestar uma camiseta?”

“Queremos te ver nua há tanto tempo. Faz dez noites que  te acompanhamos, não faz sentido emprestar uma camiseta agora.”

Sorri e me levantei. Fizeram questão de me acompanhar, lado a lado.

À porta de casa, beijei a ambos fazendo de conta que me despedia.

"Não vais nos oferecer um café?", perguntou um deles.

"Vieram aqui apenas para tomar café?", pisquei os dois olhos e sorri.

À noite não resisti, voltei ao lago. Mas os rapazes já não estavam lá.  

sexta-feira, julho 15, 2011

Boa sorte, garotas

Cora, você não está à vontade, não estou acostumada a vê-la assim .

Ah, Mara, você sabe, não tenho o hábito de praticar essas coisas.

O que tem de mais ficarmos nuas da cintura para cima? Somos tão bonitas. Vamos fazer uma surpresa, eles vão gostar. Basta que representemos: somos as mulheres mais vestidas do mundo. Olhe para a Cíntia, veja como é boa atriz, está perfeita no papel.

Não exagere, Mara, também não sou tanto assim.

Hoje você está perfeita, Cíntia, seu porte é de muita naturalidade.

Obrigada.

De nada. Cora, vou contar um episódio vivido por mim. Acho que vai fazer você se soltar.

Conta, então, de repente...

Lembra do Bruno? Aquele que mora em Botafogo.

Sim, lógico, lembro, ele é tão bonito.

Então. Uma vez fui à casa dele, estava calor. Por minha conta tirei a blusa e o sutiã. Ficamos conversando, bebendo e namorando que nem dei conta em que parte da casa tinha deixado as duas peças. De repente tocaram a campainha. Ele foi atender. Era um casal amigo. Sem lembrar que eu estava nua da cintura para cima, mandou-os entrar. E eu? Esqueci também da minha própria nudez. Quando chegaram à sala e o Bruno fez as apresentações, a moça soltou um gritinho e tapou a boca com uma das mãos. Só então nos demos conta da situação.

E você?

Fiz de conta que não era comigo. Peguei meu copo e bebi mais um pouco. Pedi depois licença e fui à cozinha. Voltei com mais dois copos para os recém chegados. Tudo na maior seriedade. Eles sentaram e continuamos a conversa. Lembro que fiquei nua até depois de irem embora. E não se tocou mais no assunto.

Mara, acho que para eu ficar à vontade, depende de outra coisa.

Cora, o que depender de mim, faço, não há problema algum.

Você me deixa ficar com o Agenor?

Ah, sei que você é apaixonada por ele. Se conseguir, pode ficar. Acho que ele também vai gostar de você.

Que bom! Veja como fiquei feliz, repare, a partir de agora sou a mulher mais à vontade do mundo.

É, quando você fala no Agenor, fica soltinha.

E eu Mara, vou ficar com quem?

Cíntia, não se preocupe, vem um rapaz lindo, chama-se Adalberto, você vai adorar.

Jura?

Juro.

Ouviram? Estão chegando, tocaram o interfone.

Ouvimos, Cíntia, atende você, aperte o três que o portão abrirá.

Ai, meu Deus, será que o Agenor vai me querer?

Quanto a isso, não se preocupe, Cora. Mas lembre-se: estamos vestidíssimas! E não trema, viu? Esses bicos dos seios precisam transmitir tranquilidade.

Bicos dos seios?

Isso mesmo, Cora, sente-se e respire fundo. Não vá estragar tudo.

Ok, está bom assim?

Está razoável. Boa sorte, garotas.

sábado, julho 09, 2011

É tudo verdade

Sonho sempre que estou pelada. Isso é um inferno para mim! Vejo que estou no meio da rua e não tenho nada para me cobrir. Tenho medo de que um dia esses sonhos se tornem realidade. Às vezes penso em cantar nua em cima do trio elétrico, no carnaval, apenas o corpo pintado. Mas será que o sonho não é realização inconsciente desse desejo?

Uma amiga me disse que também tinha esse tipo de sonho. Aparecia nua nos lugares mais movimentados e nunca tinha nada para se tapar. Morria de vergonha. Até que um dia descobriu que se fingisse que não estava nua, ninguém a reparava. A partir daí, começou a curtir o sonho. Falei a ela: “comigo acontece de outro modo, quando começo a pensar que posso dominar o sonho, acordo.” Ela disse que no começo também era assim, mas é uma questão de exercício. O sonho é um faz de conta, como no teatro, se nos damos conta de que estamos atuando, tudo se modifica, você pode então andar nua ao bel-prazer, as pessoas nem reparam. Quando se tem o domínio, pode-se aproveitar mais, e pra você que é uma cantora famosa, que não tem tanta liberdade como nós, vai ser ainda melhor.”

Não sei, não. Outro dia comprei um biquíni minúsculo. Fui à praia e fiquei ao sol. Disfarçada de boné e óculos escuros, ninguém me reconheceu. Mas os homens ficaram me olhando muito. Pensei: não estou sonhando, tenho certeza, nem sinto vergonha apesar de estar quase nua. Mas nós, mulheres, não sentimos vergonha na praia, porque todas se vestem assim, é um lugar apropriado para isso. Se estivesse de biquíni no centro da cidade, nem pensar... Mas se sonho que estou nua no centro, o biquíni seria uma grande solução. Mas nem isso acontece.

Hoje, ao dormir, vou tentar controlar meus sonhos. Se puder andar pelada e ninguém notar, vai ser ótimo. Mas vai que eu me engane e saia nua de noite, de verdade. Só em pensar fico toda arrepiada. Há quem diga que já saiu nua, com o namorado. Será?

Lembro agora de uma história engraçada. Há alguns anos, quando ainda não era famosa e andava de ônibus, escutei duas adolescentes conversando. Uma contava à outra que ela e uma amiga ficaram peladas na piscina de um clube. “O problema foi que eu e a Jéssica lançamos os nossos biquínis de dentro d’água para a cadeira onde estivéramos, aí apareceu um homem...” Não pude saber o que aconteceu depois porque elas se levantaram e saltaram antes de mim. Confesso que fiquei excitada. Mas, pensando bem, uma coisa é certa, se conseguem ficar peladas na piscina, já não precisam do sonho.

quarta-feira, julho 06, 2011

Depois te recompenso

Só se eu contar? Juras que fazes o que estou pedindo? Então, tá. Mas conto rápido, não tenho muito tempo. Ganhei uma lingerie linda. Nunca tinha vestido uma igual. Lingerie para o corpo inteiro, aberta apenas nas costas, como se fosse meia calça emendada à blusa, sobe até o pescoço e termina em mangas três quartos. É preta, transparente, tecido finíssimo trabalhado com alguns detalhes em relevo. “Deve ter sido caríssima”, suspirei ao recebê-la. “Nem tanto, você sempre merece mais”, melodiosa a voz dele. Aonde fui vestida assim? Escuta. Madrugada, um frio! “Não vou aguentar”, falei. O casaco de veludo, lembrei; apenas ele, a lingerie e o sapato meio salto. Fomos a uma festa. Na serra. Festa de inverno, que coisa gostosa. Eu dentro do carro e ele saindo para comprar o que eu queria comer ou beber. Andei, sim, depois que tomei coragem. Como ninguém me conhecia naquele lugar, caminhei pela rua principal. Mas não foi nada demais, o casaco ia até um pouquinho acima dos joelhos. Todas as pessoas me olhavam. Acho que ninguém me desprezaria. Adivinha. Queriam-me sem o casaco, é lógico. Mas ficaram só na vontade, não dei esse prazer. Nua, apenas para o meu amor. Permanecemos em torno de uma hora entre as pessoas do lugarejo, estava quentinho ali, uma fogueira imensa, rojões, acho que alguns em minha homenagem, ou em homenagem a lingerie, não sei bem. Bebi um tantinho a mais, isso é verdade. Fiquei tão alegre. Acho que ainda estou. Mas sempre fui assim, sabes, sou feliz. Então, entramos no carro, descemos algumas ruas, todas desertas, um silêncio, o farfalhar da festa ficando para trás. Foi aí que disse a ele: “preciso fazer xixi.“Tenho um copo, mostrou. Mas fico vexada caso faça xixi ao lado de alguém, ele ouvindo o barulhinho. Portanto, saí do carro. “Espera aqui, vou àquela esquina, não saias daí, viu, não venhas atrás de mim que morro de vergonha.” “Mas e a lingerie?”, perguntou. “É mesmo, é inteiriça.” Tirei-a toda, nuinha, apenas o casaco a cobrir-me. Entrei numa rua estreita, achei que ainda estava muito perto dele, dobrei mais outra. Fiz minha necessidade. Mas como volto? Tão escuro, três variantes de pequenas ruas. Eu, perdida! Acho que ele vai pensar que fugi. Não posso voltar à festa e lá tentar alguém para me levar de volta. Vão lembrar que sou a mulher que usava a lingerie. Só que agora estou sem. Minha salvação foi esse orelhão, teu número guardado de memória e a ligação a cobrar. Mas... espera... ah, como sou tonta! Estou quase ao lado do carro dele. Dei tantas voltas e saí no mesmo lugar. Ele está piscando os faróis para mim. Depois conto o desfecho, não vou precisar mais de ti. Pelo menos hoje. O problema agora será outro. Ele vai querer saber para quem estou telefonando. O que vou dizer? Nem imagino. Desculpa-me. Depois te recompenso. Tchau!