quinta-feira, junho 25, 2015

Sensível, sensível

Sensível, sensível, é o que ele diz. E tem razão. Basta o leve suspiro de um homem a passar junto a mim, o arfar mais forte de sua respiração, ou um ligeiro golpe de olhos, para eu me arrepiar. Percorre-me o corpo uma mão invisível que deixa meus pelos eriçados. Se a mão é real, nem pensar. Sensível, sensível, o vestido a me roçar a pele nua, eu eriçada de novo. Tenho amigas que se entregam ao primeiro toque; outras dissimulam, fingem que nada acontece; há ainda aquelas que desistiram dos homens, sugerem-me ler um livro. Qual deles?, pergunto. Literatura, verdadeira literatura, a que propõe questões, não respostas. Assim minha sensibilidade irá em outra direção. Sério. Exemplo, uma mulher aluga uma suíte de hotel, uma tarde inteira, para ler um livro. Às vezes chora; outras, sorri. Os escritores não pensam nos leitores quando escrevem. Chego a acreditar que a boa literatura é a crueldade. Os seres humano é que são cruéis, dizem-me. Mas a leitora ama tanto, que chega a se ver muito bem amarrada a uma cadeira. Por mais que queira soltar-se, impossível. Queres de mim alguma coisa?, pergunta, embora se veja só. Sim! A voz emana do livro, não a amarro apenas por luxo, quero algo, sim. Estou pronta, corajosa anuncia. Amordaça-a, a tal voz não quer perguntas. Silencioso, o quarto. Ela nua, amarrada, amordaçada. A porta bate, alguém se vai. O livro ao lado da mulher, aberto numa página estrangeira. Passam-se minutos intermináveis, verdadeiras horas. Ninguém volta. A mulher, a corda, a mordaça; ela na cadeira.

Sensível, sensível, desejo a sorte da mulher? Um livro dentro de outro livro. E sorte é destino. Vou à rua, vestido solto, tecido leve, esvoaçante. Qual dos homens são sensíveis mas não a ponto de trazer-me uma corda? Prescruto-os por trás dos óculos. O namorado, mas à moda antiga.  Na verdade, enamorado. Ao contrário de vestidos soltos, vou travada.

Sensível, sensível, é o que fala, e me oferece ouro, uma pulseira larga. Tomo-a nas mãos, examino-a como um ourives. Enquanto a sinto nos dedos finos e provocantes, sussurra-me ao ouvido. Quero algo em troca. O quê?, afoita, chego a arfar. Quero-te nua!, arremata. Respiro fundo, quase sem saída. Ele leva-me a um hotel, desses que ficam no centro da cidade, aluga a suíte mais alta. Deixa o quarto escuro, peço-lhe quase em silêncio. Apenas isso, a sombra e eu nua. Algo a mais, acrescento, espera, quem sabe amanhã. Ele é paciente, dorme ao lado de uma mulher nua sob lençóis. Tem certeza de que virá o amanhã. Então, outra pulseira. Visto as duas. Apenas. E, em pé, meio sem graça, sorrio, um dos joelhos dobra-se involuntário, de leve. Quero esconder o impossível. Agora deita, vem, insinua. Primeiro me abraça, suspiro, depois o sexo. Abro devagar as pernas. Compras a mulher com duas pulseiras, choro-lhe ao ouvido. Vales três ou quatro, talvez cinco, ele devolve. O enamorado sobe sobre meu corpo. Latejo, suo. Sou travada, chego a dizer. Trouxe todas as ferramentas, retruca.

Beatriz, uma amiga tão atirada (as aparências e os nomes enganam), diz que não faz por interesse, mas pelo gozo. Gozar, a melhor coisa do mundo, afirma. Travada?, ele repete e ri da palavra. Deixa ver, acrescenta Beatriz, já viste a cor e o peso do ouro, ou a flor da orquídea? Demoro a entender. O namorado ressona, foi tanto o sexo. Levanto-me e ando pelo quarto, apenas as duas pulseiras sobre a pele. Caminho de um lado a outro, vou à janela e olho a rua, o sol se põe no Rio de Janeiro, muitos os edifîcios, altos, não vejo ninguém às janelas dos outros prédios, não me arrisco olhar mais detalhes, escondo-me, escapa-me apenas os olhos no vão da cortina, um pano pesado, de cor azul, deixo cair o tecido, a cortina ou minhas roupas a voarem do décimo segundo andar?, o apartamento escurece de todo, volto-me, dois ou três passos e dou no extremo oposto, a porta, penso abri-la, espiar o silêncio exterior, tenho coragem?, giro a chave, abro uma pequena fresta, está escuro também lá fora, quem sabe aventuro-me nua ao corredor?, loucura, a porta bate e não abre por fora, e então?, temo tocar a campainha, vou despertar a todos, e eu nua, no centro do Rio às cinco e trinta da tarde, o que houve, senhorita, uma voz masculina, olhos desconhecidos, eu colada à parede. Pensamentos? O quarto vasto, o homem ressona. Leva-me nua em seus sonhos? Já sei, sonha em trazer mais presentes, um cordão de ouro, delicado, e uma medalhinha, o sol, às cinco e trinta da tarde. Ei, vem aqui, deita ao meu lado, a voz dele, temos todo o tempo do mundo. O que queres de mim? pergunto transtornada. Quero você deitada ao meu lado, ele responde. Deitada?, como?, conheço-te apenas de vista. Lúcia, venha cá. Não sou Lúcia, a voz escapa-me, incontrolável, Sou Beatriz, ouviu?, Beatriz. Ah, entendi, ele fala, Beatriz, a amiga de Lúcia, Beatriz, você reluz a ouro, está quase transparente, há uma palavra pra isso, diáfana, você está diáfana, vem aqui, Beatriz, quero umedecer meus lábios nos teus, estou louco de sede, ele continua, venha me salvar. Sento na única cadeira que há no quarto, junto as pernas, cruzo as mãos por trás do encosto, lanço-lhe um olhar feroz e digo amarre-me, amarre-me bem forte. Como um bom ator, finge não se surpreender. Levanta-se e vem até a mim, como se já esperasse pelo pedido.

quarta-feira, junho 17, 2015

Expresso

Estou peladinha e sentada numa cadeira de ferro, dessas de mesa de bar. Na sala há a mesa e mais três outras cadeiras. De repente me vem à mente as fotos em que apareço nua. Foram três ou quatro namorados que me pediram para posar. Aceitei. Mas sempre acabo deixando as fotos com eles. Às vezes fico pensando o que fizeram delas. Mas este último com quem estou namorando já faz um tempinho não me pediu apenas fotos, quis também que eu ficasse na cadeira de ferro, nua e de pernas cruzadas. Disse para eu esperá-lo que logo voltaria.

Nos vimos pela primeira vez na cafeteria onde trabalho, cafeteria de muito requinte. Ele vai sempre para tomar um expresso. Enquanto eu vou à máquina para preparar o café, ele me deixa nua. Sério, nuazinha. Depois, enquanto bebe, puxa conversa comigo. Frequenta a loja já de várias semanas. E sempre gosta de me trazer um presente. Uma blusinha, tal qual a que eu uso por baixo do avental, um perfume, uma bijuteria. "Achei que ia ficar bem em você", ele fala. Quando me convida para sair, digo: "só posso na sexta". Ele vem de carro, e me leva para passear na orla marítima. "Aqui é você quem será servida", diz, e vem o garçom a nos atender. Após o jantar, lá pelas onze e tanto da noite, dirige até a sua casa. Uma gracinha o local. Entra-se numa garagem, sobe-se uma escadinha, e já aparece a porta do apartamento, um quarto e sala grande, banheiro e cozinha, tudo muito amplo e claro. À noite, com a janela aberta, é possível ver o céu cheio de estrelas.

Namoramos com muito gosto. E é então quando ele me deixa peladinha pela primeira vez. Antes havia sido com os olhos; agora é de verdade. Ele me seduz de tal modo, que fico louquinha. Não age com aquele instinto animal que a maioria dos homens tem, quando chegam a ser brutos; mas com delicadeza. Espera que eu esteja pronta para escorregar para dentro de mim, tudo com a maior naturalidade.

Penso que ele de repente pode desaparecer. Todos sabem como são os homens; assim que conseguem o que querem, partem para outras aventuras. Ele, porém, sempre volta. E me traz uma pulseirinha. Naquela noite me leva para passear de novo. Um novo jantar, outro restaurante. "Quero que você conheça todos os lugares bonitos dessa cidade", fala. Jantamos. Bebemos uma garrafa de vinho. E a seguir, de novo no seu apartamento acolhedor, o amor.

Passamos a sair pelo menos duas vezes na semana. Partimos para aventuras mais estimulantes. Como são essas aventuras? Ah, é difícil descrever. Mas ele tem razão; que elas nos excitam, não resta dúvida. Chega o dia em que pede para eu sair com ele vestida apenas com a pulseirinha. "E como vamos fazer? Será que não vou presa?", fico um pouco assustada. Para me tranquilizar, ele diz: "nada disso, deixa que resolvo todos os problemas." Sinto que posso confiar nele. Faço como ele pede. Entro no carro vestida apenas com a pulseira de ouro, um pulseira sútil, bem delicada. Dirige de Macaé a Rio das Ostras. Ai, com fico arrepiada, nua no banco do carona. Dias depois, comento com uma amiga. Uma amiga mesmo, quase irmã. Ela fala que há homens que inventam muitas coisas legais, e que também tem passado por isso, mas na praia; seu namorado a deixa pelada dentro d'água; no final da brincadeira, ela está morrendo de tesão. Paramos em Rio das Ostras. Ele sai do carro para comprar algo para comermos e bebermos. Adiante, num local mais escuro, também desço do carro. Caminhamos de mãos dadas até a beira da praia. Ficamos um tempo enorme namorando. Sussurro no ouvido dele: "caso apareça alguém, você me empresta tua camisa, ok?". "Combinado", responde. Mas não precisa, fico nua a noite inteira. Depois voltamos para o apartamento dele, e namoramos com a maior vontade.

Mas, voltando a esse momento em que escrevo, me pergunto: por quanto tempo vou esperar por ele? Estou nua. Dessa vez ele colocou minhas roupas numa pequena bolsa e disse: "tenho de fazer um trabalho rápido, você me espera?" Fiz que sim com a cabeça. Ele me beijou e se foi. Será mais uma ação dele para ficarmos excitados? Depois que bateu a porta, comecei a pensar, e se aparece alguém, se entra aqui outra pessoa? Ainda para mais me angustiar: e se ele não volta? Há homens capazes de tudo.

Mas meu namorado não é assim, não. Desde que nos conhecemos, na cafeteria, ele se tem mostrado muito afetuoso, e tem razão quando diz: "você vai sentir cada coisa, namorando comigo...." E não é verdade? Estou a esperar por ele, e muito arrepiada. Não queria dizer, porque não gosto de vulgaridade, mas estou até mesmo molhadinha. Agora, só falta ele voltar!

Mais um pequeno detalhe. Ainda que nua, sempre tenho frieza para algum argumento. É sobre o que acabo de escrever. Pode ser que pensem: "não é possível uma garçonete escrever tão bem; não seria garçonete, mas escritora." Quem sabe. Tive um professor que sempre me dizia: você escreve muito bem, você é uma verdadeira escritora!

segunda-feira, junho 08, 2015

Conto de inverno

Jeane anda pela galeria comercial mais famosa de sua cidade, aproxima-se o inverno e ela quer comprar um casaco. As lojas enfileiram-se com aquele visual colorido e alegre, em algumas delas pode-se sentir o cheirinho das roupas, tão atraentes e tão fofas, como um carinho que se está prestes a receber. Ela olha os casaquinhos, pois, afinal, em sua cidade não faz tanto frio assim. Após a opinião da vendedora e de alguma reflexão, compra um de cor verde, de malha, que se amolda perfeito ao seu corpo. Ele desce um pouquinho além da cintura. Jeane até mesmo lembra que, num inverno anos atrás, saiu para namorar vestindo apenas um casaco, mas isto é outra história. A vendedora embrulha a peça, e mantém-se sorridente durante todo o tempo em que Jeane fica na loja; depois coloca o embrulho numa bolsa bonita e lhe entrega. Ela sai da loja pensando em quando estreará o agasalho, sabe que faz bater mais forte o coração dos seus admiradores onde quer que passe. Há também aquele senhor que sempre está à porta de casa, na mesma rua onde ela mora. Ele a olha com olho gordo. Acha engraçada a expressão "olho gordo", não é criação sua, mas de uma amiga da vizinhança.

A amiga de Jeane usava a expressão "olho gordo" porque quando via um tipão, ficava doida pra ir pra cama com ele. Jeane era devagar, demorava aceitar a aproximação de qualquer homem, fosse ele o mais bonito de todos. Isso contribuía para provocar seus admiradores. Todos a paqueravam, apesar de Jeane não corresponder a quase nenhum deles. Mas a amiga do olho gordo via em Jeane um jeito diferente de amar, descobrira uma porta que se forçada de modo adequado poderia ficar escancarada. Por isso, não desistia de buzinar suas ideias na cabeça da mulher.

Jeane sai da galeria comercial e põe-se a caminhar pelo passeio da rua principal da cidade. Olha mais algumas vitrines e cumprimenta de longe duas amigas que passam apressadas. Duas quadras adiante, ao dobrar uma das ruas que leva ao bairro onde mora, vê um casal passar agarradinho. O coração de Jeane sobressalta-se, o homem que vem agarrado à moça parece o seu ex-namorado, o tal que veio namorá-la e a encontrou esperando por ele vestida apenas com o casaquinho. Ela não consegue ter certeza se é mesmo ele que desfila com a namorada pelo calçadão da cidade. Mas aquela presença súbita reaviva nela a lembrança do dia em que foi mais ousada. Ela confessou a si mesma que a ideia de encontrar com ele vestindo apenas o casaquinho foi interessante. Ele havia ligado dizendo que estava com saudades. Ela, então, quis inovar em suas atitudes. Banhou-se em água quente com sais e ervas afrodisíacas. Após sair do banho e enxugar-se, hidratou o corpo com um creme especial e um óleo muito cheiroso, depois vestiu o tal casaco. Como estava frio e ela gostava de tomar um chazinho, leite morno e caldos, preparou tudo com esmero. Por último, acendeu a lareira. Ficou esperando o namorado preparada, num ambiente fofo e bem aconchegante. Todos esses detalhes revelavam que ela estava com muita vontade. Quando ele chegou, foi atender a porta com o seu casaquinho verde, sem calcinha e sem sutiã. Seus seios estavam fáceis de serem vistos, e pediam para serem tocados. Quando se cumprimentaram, o namorado percebeu sua pele lisa e gostosa. Suas mãos percorreram todo o corpo de Jeane, encontrando uma xereca raspada e apetitosa. Os dois rolaram no tapete macio que havia na sala, e se deliciaram num só gozo.

Depois de caminhar três quadras, Jeane entra na rua onde mora. A primeira pessoa que vê é o senhor que a paquera. Posicionado quase em frente a casa dela, ele permanece encostado a uma árvore. Quem sabe, ela pensa, depois de reviver o passado até que estou mordida... e ele merece uma chance, pelo menos é persistente. Entra em casa já convicta de que não deve viver só de lembranças. Não tranca a porta. Prepara-se do mesmo modo como no dia em que se encontrou com o namorado. O banho de sais, o creme, o óleo cheiroso sobre o corpo. Depois ferve água e faz chá de ervas, acrescenta uma pitadinha de gengibre ralado. A bebida torna-a mais excitadinha. Enfim, acende a lareira e olha através da janela do segundo andar. Avista lá embaixo o senhor. Ele ainda a espera, igual a um cachorro sem dono. Ela chega à sacada e faz um sinal para ele entrar. Aguarda-o deitada no tapete. O homem não acredita estar vendo aquela cena, mas avança sobre Jeane como se fosse um touro. Ele adora a novidade, e Jeane revive o passado. Mas desta vez não por meio de lembranças, seu corpo transborda prazer.

segunda-feira, junho 01, 2015

A bebida de cor vermelha

“Vou a M. na próxima quinta, quem sabe  seja possível um encontro?”, ao escutar a voz de Mário, Deli arrepiou-se. Não sabia se era excitação ou certo desconforto. Havia lembranças que desejava esquecer. Mas a voz do homem, que chegava através do telefone, provocou-lhe um frisson difícil de controlar. Suspirou, chegou a respirar fundo e acabou dizendo que sim, ia ver se seria possível o encontro. Depois de guardar o telefone na bolsa, avaliou mais uma vez as perdas e ganhos de ter de novo aquele homem ao seu lado. Afinal, o ex-namorado, com seu jeito de conquistador experiente, ainda lhe fazia bater forte o coração, era impossível esquecer suas investidas furiosas, o modo como ele a segurava no momento do abraço e de seu vigor durante o sexo. Recordava também os passeios com ele nas cercanias da cidade, dos banhos de mar em praias distantes e desertas. Ele a estimulava, e ela tornara-se ousada, como na manhã em que correra nua do carro de Mário até às águas da praia, dera um belo mergulho e nadara ao natural durante boa parte do dia. Lembranças é que não faltavam. Havia uma que sempre lhe fazia sentir um friozinho na barriga. Foi numa madrugada de temperatura baixa, ela resolveu sair do automóvel em que iam os dois, pediu que ele parasse o carro e saltou apenas de casaco. O tal agasalho mal lhe atingia a cintura. Ao voltar ao carro ele lhe disse que as roupas dela haviam desaparecido. No final, uma boa trepada. E, agora, o telefonema, ele viria na próxima quinta-feira. Comeriam uma pizza, era uma boa ideia, e no restaurante preferido de ambos.

Deli gostava dos fatos no passado, as lembranças sempre são melhores, dizia a si mesma. Por isso, tempos depois, escreveu o encontro com Mário. Leria-o sempre; tanto mais o tempo passasse, melhor.

Eram seis e meia da noite, encontrei-o à porta da faculdade onde ele trabalhou durante muitos anos. Entrei no seu carro e ele dirigiu à orla marítima. O ar estava fresco, a temperatura convidava a encontros.

Você tem problemas de horário?, perguntou.

Não, nenhum problema.

Ele sorriu e percebeu que eu abria várias portas.

Já no restaurante, vi uma mulher duas mesas adiante tomando uma bebida de cor vermelha. Perguntei ao garçom o que era. Campari, respondeu. Pedi a bebida. Meu acompanhante, que tomava um chope, olhou-me surpreso, logo eu que me negava a bebidas alcoólicas. Começamos a colocar a conversa em dia. O tempo foi passando e a cada gole eu tornava-me mais faladeira, contei tudo que acontecia na cidade, sobre as pessoas amigas e sobre mim. Acabou surgindo o assunto sobre meu marido. Falei o que devia e o que não devia. Quando reparei, a bebida estava no fim. Repeti a dose.

Saímos do restaurante passavam das dez.

Onde você quer ficar?, perguntou.

Não quero ficar, ou melhor, quero passear. Por falar nisso, lembra dos nossos passeios? Estiquei o braço esquerdo e toquei o seu ombro. Pôs o carro em movimento, contornou toda a orla e entrou na rodovia estadual.

Pare ali, no acostamento, pedi.

Ele obedeceu. Enfim, desligou o carro. Envolvi-o num longo abraço. Como bom conquistador, abraçou-me e nada falou.

Quero uma coisa, eu disse.

O quê?

Acho que não preciso entrar em detalhes.

Mergulhei direto no pênis de Mário. Abri sua calça e o coloquei inteiro na boca. Ainda nem estava rijo quando o introduzi, mas pouco a pouco seu volume foi aumentando até atingir minha garganta. Eu o chupava de todos os modos, numa gulodice de fazer inveja. Fui tão habilidosa que ele não demorou a gozar. Não deixei escapar  uma gota sequer, engoli tudo demonstrando um ar de sacana que só eu sei representar. Ele demonstrou que ainda tinha fôlego para uma trepada. Tirei toda a roupa e saltei sobre o seu ventre. Ficamos naquele local até depois de meia noite.

Ainda estava nua quando pedi para que ele dirigisse. Mário ligou o automóvel e o pôs em movimento. Pouco a pouco foi aumentando a velocidade. Antes de chegar à rodovia federal, pedi que parasse novamente.

Quero saltar, falei.

Ele nada disse, apenas me beijou e sorriu.

Desci do carro, levava apenas o telefone, a pequena bolsa e a sandália. Sempre achei muito deselegante andar descalça. Dei a volta pela frente, curvei-me à janela do motorista e o beijei, a seguir disse a ele:

Pode ir.

Ele não demonstrou surpresa. Beijou-me mais uma vez, acelerou e partiu.

Depois daquela madrugada não mais atendi seus telefonemas. Tenho certeza de que deseja me encontrar de novo, e também saber como me virei para chegar nua em casa. Gosto de fantasias, da imaginação... Mas deixo registrado aquele final de madrugada.

Telefonei a meu marido. Ele sabia das minhas aventuras pretéritas com Mário, inclusive a história da estrada. Na ocasião em que contei, nada falou, mas percebi sua excitação no momento do sexo. Revivia o episódio e lhe oferecia de presente. A bebida de cor vermelha dera-me coragem.