terça-feira, novembro 29, 2016

Uma lágrima? De amor

“Ui, calma”, eu dizia a ele, “o quê?, você quer gozar na minha boca?”

Tudo começou com um ligeiro encontro, fazia tempo que eu não saía com homem nenhum. Mas aquele foi se chegando, conversando, sedutor que só. Eu esperava o metrô. E assim se sucedeu. No dia seguinte, logo à saída do trabalho, outro encontro. E a conversa comprida. Cada dia que se passava, maior a extensão.

“Vamos esperar o próximo?”

E esperávamos, já não íamos no primeiro trem.

Na semana seguinte, resolvemos passear pelo bairro. Perguntou se eu tomava cerveja?

“Não, não gosto, mas tem outra bebida que adoro.”

“Qual?”

“Vinho do porto.”

“Como você pode gostar de vinho do porto? É bebida de gente rica.”

“Como você sabe que não sou rica?”, perguntei incisiva.

Ele riu, quem sabe.

Sempre gostei do tal vinho desde que me ofereceram pela primeira vez, um namorado de paletó e gravata, que me levava pra jantar em Ipanema. Achei que o pedido, ao tal paquerador, iria afastá-lo de mim. Essa mulher gosta de coisas caras, diria. Mas não foi assim que aconteceu.

“Por que você não vem de vestido curto?”, perguntou.

“De trem, de vestido curto ou minissaia, nem pensar.”

“Por quê?”, fez-se de ingênuo.

“Os homens beliscam as pernas da gente quando o vagão está cheio, e não dá pra reclamar. Tenho uma amiga que perdeu a calcinha.”

“Como?”

“Imagine.”

Passamos a namorar antes de pegar o metrô. Na Central dávamos mais uma paradinha antes do trem. Mas ali não vendem vinho do porto.

No dia seguinte, enfim, ele me convidou pra ir a um hotel.

“Hoje não”, falei, “não estou me sentindo bem, amanhã ou depois.”

Sempre é bom criar um suspense. Ele poderia pensar, ela vai desaparecer e eu não comi esta mulher.

Mas, como prometi, ao entardecer de uma quarta-feira fomos ao hotel.

Nada posso reclamar, tudo foi tão bom. Mas senti que esfriei quando pedi:

“Não goza dentro não, por favor, tenho de fazer um exame amanhã.”

“Tudo bem”, ele contrapôs após trinta segundos, “mas deixa então eu gozar na tua boca.”

Por essa eu não esperava, não podia dizer a ele que jamais fizera aquilo. Quando estava pra gozar, ele sentou na cama e esperou que eu mergulhasse no seu peru. Mas hesitei. Cheguei a dizer, como que surpresa:

“Ui, calma, você quer gozar na minha boca? Vamos devagar.”

Mas ele não conseguiu se segurar, seu pênis esguichou três jatos de porra, uma delas atingiu meu rosto. Fiquei morrendo de vergonha.

Dias depois, nos encontramos de novo. Havia prometido a mim mesma retomar a transa fracassada. Mas não voltamos ao hotel. Ficamos conversando na estação de trens.

Demoramos duas semanas para trepar de novo. Até pensei que ele não mais me desejava. Enquanto chupava, tentei manter a linha, não queria demonstrar nenhuma tensão. Ficamos naquilo por uns dois ou três minutos. Foi então que resolvi segurar o pênis dele pelo talo, aquela parte de trás, quase junto ao saco, ainda puxei na direção contrária à minha boca. O pênis ficou ainda mais duro, e ele mais excitado. Até que explodiu. Eu, como por instinto, fiz um movimento de que iria me levantar, mas ele segurou minha cabeça e deu três esguicho muito forte, como na primeira vez. Quando me soltou, pensei em correr pro banheiro, mas apenas pensei. Ele tapou minha boca e me manteve na cama, apertou o meu nariz como se faz a uma criança quando vai mergulhar pela primeira vez. Estive a um triz pra engasgar. Sentiria vergonha. Uma lágrima escorreu dos meus olhos.

Minutos depois, quando nos preparávamos pra ir embora, ele perguntou:

“Você chorou?”

“De amor”, respondi.

Não queria dizer que era inexperiente naquela arte. Acho, porém, que convenci.

Depois de saltar do trem, tive de correr pra chegar logo em casa. Não sei se posso atribuir o mal estar a ele, mas estava morrendo de vontade para ir ao banheiro. Quando sentei no vazo, soltei tudo de uma só vez. Amanhã não apareço mais, cheguei a pensar.

No final de semana, contei a uma amiga, a tal que perdeu a calcinha no trem. Ela perguntou:

“Quer que eu vá no teu lugar?”

A partir de então me aperfeiçoei nessa arte. A arte de chupar. Marcamos e fomos para o mesmo hote. Ao entrar abracei-o e o beijei na boca, deitei-me na cama e pedi que tirasse minha roupa. Quando já estava nua, sugeri:

"Você rouba minha calcinha?"

Ele riu, pegou a calcinha, dobrou-a e guardou dentro da bolsa. Tirou a roupa e veio para junto de mim. Fiz que ficasse deitado e sentei sobre seu peru, que já estava duro que só. No início foi um pouquinho difícil, mas pouco a pouco fui ficando molhadinha. Após cinco minutos eu já o tinha dentro de mim. Era bom eu mesma poder controlar a transa, subia e descia, num exercício gostoso, o volume do seu sexo atingia-me as profundezas. Quando ele estava para gozar, tirei e mergulhei de cabeça. Chupei o pênis do homem o máximo que pude. Então, ele gozou. Três esguichos fortes, como sempre. Passei a língua em volta da cabeça para não deixar escapar uma gota de porra sequer; com a boca ainda quase fechada, sentia ainda o volume de toda aquela carne rija, depois levantei a cabeça e deixei que visse as contrações do meu pescoço. Estava engolindo tudo que ele ejaculara. Acho que hoje não existe ninguém melhor do que eu nesta arte. Mas havia a lágrima, dela eu não me conseguira livrar.

“Uma lágrima?", perguntou.

De amor!”, disfarcei.

terça-feira, novembro 22, 2016

Tudo bem ali à minha frente

Estou numa loja de moda, em M. Manhã de sábado. Oi, Mariana, que bom ver você, escuto. Viro-me. É Júlia. O que você compra?, quer logo saber. Um biquíni, digo resolvida. Um biquíni?, que bom, ela repete, está mesmo calor, mas você tem biquínis tão bonitos, ela continua, vejo você vez ou outra na praia. Tenho, falo e sorrio, mas vai chegar o verão e quero um novo. Aqui é uma boa loja, ela acrescenta, você vai encontrar um ótimo, e os namorados, hem?, ela pergunta sempre no plural, namorados. Tenho de rir. Namorados, então, é esse o motivo, ela me escuta. Quero me apresentar novinha em folha, ainda argumento. Já sei, ela é curiosa, você esta semana conquistou mais um. Hum, hum, respondo. Não se deve falar demais às amigas, a inveja mata. Espero-a sair para escolher o biquíni. Um azul, de lacinho, convite à sensualidade. Vou à praia agora mesmo?, os impulsos sempre me perseguem. Não. Este não é pra hoje. Vamos esperar o momento certo, digo a mim mesma, pedagógica, como me desse uma aula. Ando pelo calçadão de M. Muitas as pessoas, vãos às compras. Apresso-me. Numa galeria, tomo um refresco. Quando levo o copo aos lábios, o rapaz da loja em frente ri pra mim. Ele me conhece? Não sei. Talvez sim, tantos me conhecem. Mas não me namorou, tenho certeza, nada com os homens fáceis da cidade. Namoro agora alguém de longe. Não perguntei de onde vem, perguntas não ficam bem num primeiro momento, mas seu sotaque é quase estrangeiro, isso sei perceber. Tomamos uma bebidinha ontem à noite e comemos uns canapés. Meus lábios vermelhos de batom, e eu a colocar vagarosamente o canapé na boca, sem que tocasse os lábios, sem que manchasse o batom. O homem reparou, e quase enlouqueceu. Quis sair comigo dali mesmo. Vamos a um lugar mais tranquilo, sugeriu. Não, espere, tudo está tão gostoso. No final, sugeri que deixasse pra outro dia, quem sabe pra hoje. Sei que não se conformou, mas manteve a elegância. Sou escorregadia. Os homens me querem, mas eu deslizo pra longe, como se estivesse toda ensaboada, eles não conseguem me segurar. E, agora, vou com o meu biquíni, por enquanto na bolsa. Entro um das transversais e, na esquina com a Teixeira, encontro um amigo. Aliás, alguém que já me acompanhou à praia num fim de semana. Olá, Mariana, sempre bela. Tive de rir, e lhe beijar ambas as faces. Cheirosa, completou. Que bom, repliquei, ainda bem que há quem repare. Ele quer saber de mim. Minha face revela bem estar, felicidade, muito bom humor. Mas não permaneço ali, despeço-me, deixo-lhe saudades. Sigo em direção ao meu bairro, menos de vinte minutos. Tantas pessoas conhecidas. Seria bom viver onde ninguém me conhecesse? Não sei, talvez sim, talvez não. Vejo Mariângela, está na varanda. Caminho rápida, apenas um movimento de cabeça como cumprimento. A ela nada posso falar, tem fama de roubar namorados e, além de tudo, é muito levada. Esta é a palavra que usam por aqui quando a mulher é atirada, sempre a buscar namorados, envolvida com muitos homens. Alguém veio me contar que Mariângela adora estrangeiros. Por isso, tenho de me guardar a seus ardis. Caso contrário, roubar-me-á o homem.  Outro dia ela apareceu com um dinamarquês, homem grande, louro, de fazer qualquer mulher morrer de inveja. E ela é magra, não tem nada pra mostrar, não sei como consegue. Quem sabe suas fantasias não deixem os homens escaparem? O dinamarquês ficou com ela o tempo em que esteve na cidade Há quem jure que viu Mariângela nua, no banco do carona do carro dirigido pelo homem da Escandinávia. Ela fica para trás, entro em casa. O telefone toca: alô?. É ele, o tal que saiu comigo ontem. Não demora e já quer me encontrar. Vamos esperar até à noite?, proponho. Ele aceita. A vulgaridade é uma acusação estúpida, superficial, uma exigência de princípios que se transformou no mais cômodo refúgio da mediocridade. Penso nisso ao ver o vizinho da casa ao lado, vestido apenas de calção de banho, mangueira na mão a molhar a grama do quintal. Ele me descobre e acena, sorri, como gostaria que eu caísse em seus braços. Quem sabe, reflito, não é um dos bobalhões da cidade e, por morar ao lado, não creio que venha a ser vulgar. O rapaz me acena. Não quer vir, está calor, fala e ao mesmo tempo se molha com o jorro da mangueira. Acho tudo muito interessante, quase uma brincadeira de criança. Venha, venha se molhar, insiste. Não seria bom, penso em frações de segundo. Com um vizinho, logo alguém vai descobrir que entrei na sua casa, fico com má fama. Digo que preciso descansar, deixa pra outro dia. Ele faz uma fisionomia de quem tristeza, não é bom estar só, tanto mais num dia de sol como este. Saio rápida da janela, pois a tentação é muito grande. Volto-me para dentro da cozinha, procuro alguma coisa para por no fogo. Enquanto descasco duas batatas, minha imaginação voa, não me dá descanso. Desço. Visto um short, o biquíni por baixo. Não o novo, é claro. o biquíni que costumo usar ultimamente, não me desaponta, nem aos homens. Oi, tudo bem?, digo. Ele se apresenta, faço o mesmo, beijo-o nas duas faces, está calor mesmo hoje, acrescento. Conversamos amenidades. Ele diz que já me vê faz tempo, queria se apresentar à vizinha mas não tinha achado oportunidade, agora então... Carlos, o nome dele. Tiro o short e tomo nas mãos a mangueira. Ele continua em pé, às vezes olhas para mim, às vezes desvia os olhos para o jardim. Você é da cidade ou veio de fora?, pergunto. De fora, ele, mas conheço algumas pessoas da cidade, estou a trabalho, como hoje é sábado... Procura mostrar-se o mais agradável. Enquanto fala, despejo a água sobre o meu corpo. O calor arrefece, sinto imenso prazer. O ideal seria uma piscina, diz ele. A mangueira está boa, asseguro, você não tem amigos ainda?, estou curiosa. Alguns, do trabalho, mas amiga mulher você é a primeira. Penso nas mulheres das redondezas, são tão atiradas, será que ainda não sabem da existência dele, caso estejam cientes devem estar a caminho, correndo para atirarem-se nos braços de Carlos. Aqui todos são muito simpáticos, falo com o desejo de tornar a estada do homem na cidade a melhor possível. Já reparei, são todos muito sorridentes, sobretudo as mulheres, continua. Então ele já sabe, elas sorriem para ele, não demora e uma bate aqui na porta, de biquíni ou, quem sabe, nua. Entrego-lhe a mangueira, junto as mãos, um pouquinho acima dos seios, uma atitude sensual, mas involuntária. Ele dirige a ponta da mangueira para o próprio corpo e se molha intensamente, chega a fechar os olhos. Sua altura é de mais ou menos um e oitenta, tem os cabelos curtos, dentes muito brancos. Olha para mim e ameaça me molhar, faço fisionomia de que estou com medo, de que vou sentir frio. Diz brincadeirinha. Você frequenta muito a praia?, pergunta. Às vezes, prefiro a parte da tarde. Retoma a palavra, já sei você acorda tarde e o sol já está muito quente. Isso mesmo, replico, não gosto do sol me tostando, e à tarde a praia já não tem tanta gente. Você vai hoje?, sua voz soa quase como um convite. Hoje, não, tenho um compromisso logo mais, se eu for a praia vou ficar morta. Ele sorri das minhas palavras, na certa entende compromisso como saída com algum namorado. Tenho de voltar, digo, deixei a panela no fogo! Visto o short e volto à realidade, o fogão, as batatas e a água fervendo, corro à janela para ver se ele ainda está no quintal. Desapareceu. Fechou a torneira e a mangueira jaz sobre o chão, como uma cobra comprida e inofensiva. Volto à cozinha, aliás, antes tiro o short e a blusa, que calor, deixo as duas peças sobre a cama e volto a cozinhar batatas. É boa a sensação de estar nua, ninguém a incomodar. Enquanto as batatas vão mergulhadas na água quente, volto à sala, sento no sofá de dois lugares, quase junto à janela, cruzo as pernas, seguro uma revista e tento me distrair com a leitura. Como os homens gostariam de me ver assim, sem roupa alguma, eu magra mas sensual, chego a sentir arrepio. Na revista, procuro fotos de homens, talvez como o que vi há pouco no quintal da casa ao lado. Dizem que as mulheres são menos fogosas do que os homens. Mas, no meu caso, não consigo acreditar, sinto muito tesão, tenho até um pênis, desses que se vendem em sexy shop. Por falar nisso, por anda? Que tal procurar por ele agora? Levanto-me e vou a um dos armários. Acho que está guardado na parte superior, bem no fundo. Isso mesmo. Encontro-o, tiro da caixa. Engraçado, funciona a bateria, a cabeça movimenta-se, uma maneira de aumentar a sensação. Abro a torneira e o lavo, cuidadosa. Acho que a bateria pifou, mas sem problemas. Basta enfiar, vagarosamente. Volto ao sofá, recosto, e aproximo a ponta do pênis à minha vagina. Encosto-o. Movo-o para um lado, para o outro, nada de enfiar rápido. Gosto de tudo com muita calma. Começo a me masturbar. Esqueço da vida, tenho todo tempo do mundo. Enfio o pênis mais fundo, já o coloco até a metade, como é grande, maior do que o dos homens normais. Estou toda molhada, tesão a mil. Alguém toca campainha. Quem será a essa hora, duas da tarde de sábado. Abro a porta, vagarosa, assustada, estou nua, ponho apenas a cabeça no pequeno vão. Surpresa. O vizinho do lado. O que foi?, pergunto abrupta. Acho que você esqueceu alguma comida no fogo, está saindo fumaça pela janela da sua cozinha. Corro e desligo o fogão. As batatas, a água secou e eu nem senti. Volto à porta. O vizinho ainda está lá. Obrigada, sabe, se não fosse você, acho que minha casa pegava fogo, por falar nisso, quer entrar um pouquinho?, entre sim, você salvou a minha casa. Ele aceita. Entra. É lógico que antes peço que espere um instantinho. Vou ao quarto e jogo uma camiseta sobre o corpo, dessas que me cobrem até as coxas. Não esqueço de esconder o pênis artificial. Já não preciso dele, tenho um natural, um corpo de cheio de músculos, tudo bem ali à minha frente.

terça-feira, novembro 15, 2016

Tirou o biquíni e o entregou na minha mão

Na verdade, tudo não passou de uma brincadeira de verão. Íamos à praia para ter a pele bronzeada mas, principalmente, para olhar os rapazes bonitos. Apostávamos se viriam conversar conosco. Quando se aproximavam, fazíamos de conta que éramos mulheres difíceis, sérias, não incentivávamos a conversa. Mas sempre estávamos doidinhas para namorá-los. Às vezes quando entrávamos na água, algum deles mergulhava. Eu achava que era para ver de perto as minhas pernas, reparar o meu biquíni bem pequenino. Aí veio a Fanny com a tal brincadeira:

“Quer valer como não descobre?”, perguntou.

“Não descobre o quê?”, eu não havia entendido.

“Não descobre que você está nua.”

“Nua? Como?”, custei a perceber o que ela insinuava.

“Vamos apostar”, falou. “Tiro o biquíni, deixo com você, quando um deles vier conversar aposto que não descobre.”

“E se descobrir?”

“Não descobre, não; nem vou pensar nisso.”

Ela não se fez de rogada. Tirou o biquíni e o entregou na minha mão. Ficou apenas de top. Veio um, veio dois, conversaram durante vários minutos, acho que uma meia hora. Nenhum deles deu falta do biquíni. Quando percebi que ela ganharia a aposta, sai da água e levei a peça comigo.

Depois de algum tempo, Cecília apareceu e me falou:

A Fanny está chamando você, e olha que está furiosa?”

"Onde ela está?"; fingida, eu.

"Lá, dentro d'água", apontou.

“Ok”, respondi.

Voltei.

“Você saiu da água, cadê o meu biquíni”, perguntou, parecia tão calma, uma artista a Fanny..

“Guardei lá na minha bolsa”, falei. “Espere que volto já.”

Então ela mergulhou rapidinho. Sem que eu esperasse, desfez os meus lacinhos. Só entendi o ardil, quando senti o biquíni escapar.

“Volto logo, deixa que eu mesma vou buscar”, falou e se afastou.

“Ei, volte aqui”, gritei agitadíssima. Ela vestiu o meu biquíni e se foi.

Ao me perceber só, fiquei quietinha, temia atrair alguém. Estava, porém, desesperada.

Depois de intermináveis vinte minutos, lá veio ela de volta.

“Que susto, Fanny, pensei que você não voltaria.”

“Fiz isso pra você ver como é estimulante correr risco”, fez cara de santa e me devolveu a calcinha. Estava escondida dentro do seu biquíni.

Suspirei, então:

“Fanny, você tem razão, é muito bom. Fiquei e estou toda trêmula, mas acho que gozei.”

Ela riu e completou: “gozou sem que algum dos rapazes viesse conversar com você? Espere que vou deixar você nua de novo!”

“Não, Fanny, por favor, assim eu morro.”

“Não morre, não.”

Realmente, não morri. E à noite ainda acabei pelada pelas mãos de um rapagão, o que mostrou os olhos mais abertos durante o dia. Era tudo o que eu queria.

terça-feira, novembro 08, 2016

Você ficou nua, como a mulher de quem acabou de falar?

Certa vez eu falara a ele que faria uma surpresa. Havia comprado uma sainha, improvisaria uma blusa curtinha, vestiria o conjunto e desfilaria à noite, só pra ele. Mas nunca cumpri minha promessa. Sempre que o encontrava, saíamos, víamos um filme e depois jantávamos num restaurante da orla marítima. Na volta, logo ao entrarmos a casa, nos agarrávamos e nos beijávamos. Ele, então, tirava minha roupa e mergulhávamos num sexo quente, pleno de ardor. A surpresa ficava sempre para a próxima semana.

Mas na semana passada resolvi fazer o contrário. Quando ele chegou pra me pegar, eu vestia a tal sainha e blusinha, levava nas mãos uma echarpe, para caso de um frio repentino. Percebi que ele se surpreendeu, porém nada falou. Entramos num táxi e fomos ao cinema. Dentro da sala, outro ato inesperado de minha parte. Tomei uma de suas mãos e a coloquei sobre minha coxa esquerda. A mão quente tomou grande parte da minha perna, a sainha subira confortavelmente. Ele chegou mais perto, moveu o tronco como se quisesse arranjar-se mais confortável na poltrona. Ainda no escuro do cinema, beijamo-nos, cheguei a sussurrar no seu ouvido gostou? Ele me beijou mais uma vez. Há muito que prometo, cheguei a soprar. Ele relaxou no recosto e assistimos ao filme.

Você, com essa sainha, o melhor seríamos ir a uma boate, vai fazer o maior sucesso, sugeriu. Uma boate apenas para nós dois?, insinuei. Não, uma boate de verdade, você dançando agarradinha a mim. Tudo bem, concordei.

A boate era bem pequena, havia o bar e a exígua pista de dança. A música, como sempre, era alta, ecoava terrivelmente em nossos ouvidos; as luzes, de enlouquecer. Como estava muito cheio, ele me abraçou e não me largou um momento sequer. Acho que temia que eu fosse levada por algum homem sozinho, ou alguém a me enfiar as mãos sob a minissaia. Bebemos as nossas caipirinhas e dançamos agarradinhos. Algumas mulheres também se agarravam aos homens. Havia alguns que ficavam ao redor da pista, aguardavam olhares maliciosos. A ideia da boate fora boa. Eu me soltava, acelerada pela bebida. Depois de algum tempo, percebi alguns estofados, rodeavam as paredes da boate, onde namoravam mulheres e homens; alguns, pelos gestos ousados, pareciam apaixonados. Dançávamos alucinadamente, ele resguardava-me com as mãos, não desejava perder nem mesmo um milímetro do meu corpo. Percebi entre as mulheres uma que dançava com um micro vestido. Não podia levantar os braços sob o risco de deixar seu bumbum de fora. Como era safadinha, vez ou outra se exibia, girava, e revelava. Os homens a olhavam, queriam-na nua. Um deles chegou-se a ela, abraçou-a e, disfarçadamente, tocou suas coxas. Ela jogou o corpo pra trás, inclinando-se num precário equilíbrio, o vestido subiu um tantinho, o suficiente para revelar que ela estava totalmente depilada. Não sei dizer por quê, mas senti inveja da mulher. Queria eu fazer o mesmo? Meu namorado continuava a me abraçar. Estou morrendo de tesão, disse no seu ouvido, em meio a todo o barulho da boate. Mas ele escutou. Saímos da pista e nos colocamos em uma das extremidades, onde não havia tanta gente. Queria que houvesse um buraco, falei. Um buraco?, repetiu como se não entendesse. Pra você me deixar nua e me comer, acrescentei. Olhamos em volta. A parede era forrada de veludo, muita gente se agarrava encostada nela; no fundo, os toaletes; ao lado uma porta sem letreiro. Pedimos licença e escapamos. Meu namorado mexeu na maçaneta, a porta abriu-se. Lá dentro, outros casais, mais estofados, pessoas que se agarravam. Numa ponta, descobrimos um lugar vago. Sentamos, eu sobre seu colo. Imaginem, eu de sainha, as pernas abertas, sobre as pernas de meu namorado. Ninguém olhou pra nós, não estavam interessados. Não fizemos o principal, mas senti o seu sexo no meio das minhas pernas. É melhor irmos, ele disse, vamos nos agarrar em um lugar em que fiquemos à vontade. Tudo bem, consenti. Queria sentir seu pênis dentro de mim, na posição em que estávamos não era possível. Olhei ao redor e reparei que ninguém trepava ali, apenas as saias, ou vestidos, iam acima da discrição exigida. Enquanto ele foi ao caixa pagar nossos cartões, corri ao toalete, um quadrado também muito estreito, onde cabiam duas pessoas diante da pia, ou do espelho; meio metro atrás estava uma porta de metal que dava entrada ao local onde ficava o vaso. Diante da pia, havia quatro mulheres, a princípio não entendi o que discutiam. O mais curioso: uma delas estava inteiramente nua. Perguntei se a cabine onde ficava o vaso estava disponível. Uma delas disse sim, as outras continuaram discutindo. Entrei, fechei a porta e prestei atenção à conversa. Você fala com ele, ele vai resolver, sempre resolve, falou a que estava nua. Outra interveio com duas perguntas repetidas, como se estivesse muito surpresa: mas como?, mas como? Depois explico, disse a nua, vá falar com ele, não é a primeira vez que acontece. Saí da cabine, perguntei se poderia lavar as mãos. A nua afastou-se e apontou a torneira, não demonstrava vexo algum. Ao abrir a porta do toalete ainda ouvi as mulheres: quando amanhecer, quero saber como você vai fazer pra sair pelada da boate, fale com ele, ele vai resolver, está muito barulho... As vozes se perderam, abafadas pela música alta e bem ritmada. Meu namorado abraçou-me, saímos e tomamos logo um táxi.

Enquanto o táxi rolava pela orla da lagoa, contei ao namorado sobre a mulher nua no banheiro. Sabe, achei aquilo muito engraçado, a mulher dava a entender que não tinha o que vestir, como pode ter acontecido?, certamente ela não saiu nua de casa. Ele riu, talvez tenha achado o assunto excitante. Já terminei nua a noite, mas faz tempo, aconteceu num daqueles bailes de carnaval de antigamente, rolava de tudo. Você ficou nua, como a mulher de quem acabou de falar? Sim, fiquei, todo mundo ficava, o que tem? Nada, nada, ele disse preocupado de que eu não ficasse aborrecida. Acho que sua pergunta revelava por que a mulher estava nua, devia ter acontecido o mesmo que acontecia a nós naqueles famosos bailes. Você gostou da minha sainha?, disse baixinho no seu ouvido e o beijei. Adorei, ele respondeu, mas prefiro você sem ela. Sem ela?, repeti. Isso mesmo, acrescentou, sem a saia. Então tira, pode tirar, me deixa nua, soprei-lhe. Mas aqui no táxi?, pareceu surpreender-se. Não faz mal, a nua serei eu. Então, ele atendeu o meu pedido, quero dizer, a minha quase súplica, porque eu já estava morrendo de vontade de trepar com ele. Ele resolve, fale com ele que ele sempre resolve. Enquanto eu gozava, a voz da nua ecoava na minha cabeça.

terça-feira, novembro 01, 2016

O sofá

O sofá jazia na rua, junto a um poste. Esperava pela compaixão de alguém. Ou pelo caminhão da limpeza pública. Era um sofá de pano. Via-se que estava gasto, um tanto desbotado, mas ainda servia. Quem quisesse sentaria nele e descansaria. Não era isso, porém, que me despertava o sofá. Lembrava um namorado. E fazia mais de dez anos. O namorado tivera um sofá semelhante. O pano estampado de listras cinzas e brancas. O namorado insistira em me levar ao seu apartamento. O namoro ainda ia cru, duas semanas de encontros, apenas. Eu não queria, não do jeito dele. O sofá jazia na rua. Ninguém viera buscá-lo até aquele momento. Nem havia alguém que o espreitasse. O sofá do namorado era convidativo. Ele perguntou se eu bebia alguma coisa. Havia vinho e cerveja na geladeira. Não, obrigada. Bebera momentos antes num bar, com ele. Insistira e eu acabei sentada sobre o sofá de sua sala. Uma sala limpa, aceitável, alguns livros numa estante. Cruzei as pernas, o vestido comprido, de flores verdes e fundo branco, escondia minhas pernas. Esperava a reação do namorado. Ele observava minha fisionomia ressentida. Vencera. Conseguira-me sentada no seu sofá. Descruzei as pernas, olhei-o desafiadora. Por que a mulher sempre é levada ao local mais fácil?, acho que pensei naquele momento. Merecia um hotel. Não o Palace, mas um hotel razoável, paredes claras, a luz quebrada ao meio. O sofá era convidativo. Ele sentou ao meu lado. Deu-me um longo abraço, um começo de beijo. Eu, rígida, como se não quisesse o beijo, como se recusasse o abraço. Não queria o apartamento, muito menos o sofá. Sentia-me vencida. Sim, eu era uma mulher vencida. Mas não sabia dizer o que seria uma mulher vencedora. Não naquele momento. Descobriria duas ou três horas depois. Mas a dor de se sentir vencida é um fato quase irrecuperável. O sofá, o da rua, eu diante dele fazia tempo. Quem via a mulher louca diante daquele refugo? Louca ou mendiga, dá no mesmo. Minhas roupas, no entanto, revelavam uma mulher limpa. Talvez queira levar o sofá para casa, alguém pensaria. Talvez esteja cansada e queira sentar. Nada disso. Era o namorado. Eu estava sentada ao seu lado. De repente levantei, dei alguns passos. Queria conhecer o resto do apartamento. Começava a conquista. Entrei no quarto, caminhei até a janela. O outro lado da rua, um prédio de apartamentos, uma mulher passou rapidamente de um cômodo a outro. Estava envolvida numa toalha. Sua rapidez revelava o desejo de não ser descoberta. Voltei à sala. Entrei na cozinha, na área de serviço, nas dependências de empregada. Havia um secador pequeno na área de serviço, pequeno e vazio. Ele não lavava as roupas? Voltei à sala. Sorria dentro de mim. Ele não lavava as roupas. Ele ainda sentando, à espera. Seu olhar indagativo. Eu aceitava? Não sei. Entrei no quarto mais uma vez e deitei na cama. Venha até aqui, gritei. Deitada, esperava que subisse sobre meu corpo. Seu vestido vai ficar todo amarrotado, preocupava-se ele com meu asseio. Não faz mal, não ligo aos vestidos. Deitou enfim sobre mim. Beijou-me. Um beijo longo. Assim que acabou, tirei o vestido e o arremessei sobre uma cadeira. Arre a todos os vestidos. Meus seios se aprumaram. Ele sabia que eu não usava sutiã. Deitei-me e ele veio de novo sobre mim. Tira minha calcinha, ordenei. Sou eu que rejo a orquestra, falei dentro de mim. Começamos um duelo vigoroso. Eu sabia que não haveria vencedores. E numa orquestra há muitos homens. Homens e mulheres. No sexo, ambos ganham. Ou perdem. Depende do ponto de vista. Mas o vestido sobre a cadeira mostrava minha determinação. Uma determinação de mulher que não tem medo de sair nua andando quadras e quadras. Eu era essa mulher. A princípio vencida pelo namorado, levada cordata à sua casa. Mas depois. Bem, depois há sempre aquele que diz que já não é possível a vitória. Mas eu vencera. Tanto vencera que fiz questão de reger uma orquestra. Eu, que jamais aprendera música nem sabia tocar instrumento algum. Uma mulher que não tinha a preocupação de ir embora amarrotada. Melhor, então, a vitória final. Não iria embora amarrotada. Não iria embora. Ou Iria embora nua. E de cabeça erguida. Os seios aprumados. Seria presa? Não me importava a prisão. Importava reger a orquestra. Antes de sair ainda sentei uma vez no sofá. Para calçar a sandália. O sofá. Que jazia na rua.