terça-feira, novembro 22, 2016
Tudo bem ali à minha frente
Estou numa loja de moda, em M. Manhã de sábado. Oi, Mariana, que bom ver você, escuto. Viro-me. É Júlia. O que você compra?, quer logo saber. Um biquíni, digo resolvida. Um biquíni?, que bom, ela repete, está mesmo calor, mas você tem biquínis tão bonitos, ela continua, vejo você vez ou outra na praia. Tenho, falo e sorrio, mas vai chegar o verão e quero um novo. Aqui é uma boa loja, ela acrescenta, você vai encontrar um ótimo, e os namorados, hem?, ela pergunta sempre no plural, namorados. Tenho de rir. Namorados, então, é esse o motivo, ela me escuta. Quero me apresentar novinha em folha, ainda argumento. Já sei, ela é curiosa, você esta semana conquistou mais um. Hum, hum, respondo. Não se deve falar demais às amigas, a inveja mata. Espero-a sair para escolher o biquíni. Um azul, de lacinho, convite à sensualidade. Vou à praia agora mesmo?, os impulsos sempre me perseguem. Não. Este não é pra hoje. Vamos esperar o momento certo, digo a mim mesma, pedagógica, como me desse uma aula. Ando pelo calçadão de M. Muitas as pessoas, vãos às compras. Apresso-me. Numa galeria, tomo um refresco. Quando levo o copo aos lábios, o rapaz da loja em frente ri pra mim. Ele me conhece? Não sei. Talvez sim, tantos me conhecem. Mas não me namorou, tenho certeza, nada com os homens fáceis da cidade. Namoro agora alguém de longe. Não perguntei de onde vem, perguntas não ficam bem num primeiro momento, mas seu sotaque é quase estrangeiro, isso sei perceber. Tomamos uma bebidinha ontem à noite e comemos uns canapés. Meus lábios vermelhos de batom, e eu a colocar vagarosamente o canapé na boca, sem que tocasse os lábios, sem que manchasse o batom. O homem reparou, e quase enlouqueceu. Quis sair comigo dali mesmo. Vamos a um lugar mais tranquilo, sugeriu. Não, espere, tudo está tão gostoso. No final, sugeri que deixasse pra outro dia, quem sabe pra hoje. Sei que não se conformou, mas manteve a elegância. Sou escorregadia. Os homens me querem, mas eu deslizo pra longe, como se estivesse toda ensaboada, eles não conseguem me segurar. E, agora, vou com o meu biquíni, por enquanto na bolsa. Entro um das transversais e, na esquina com a Teixeira, encontro um amigo. Aliás, alguém que já me acompanhou à praia num fim de semana. Olá, Mariana, sempre bela. Tive de rir, e lhe beijar ambas as faces. Cheirosa, completou. Que bom, repliquei, ainda bem que há quem repare. Ele quer saber de mim. Minha face revela bem estar, felicidade, muito bom humor. Mas não permaneço ali, despeço-me, deixo-lhe saudades. Sigo em direção ao meu bairro, menos de vinte minutos. Tantas pessoas conhecidas. Seria bom viver onde ninguém me conhecesse? Não sei, talvez sim, talvez não. Vejo Mariângela, está na varanda. Caminho rápida, apenas um movimento de cabeça como cumprimento. A ela nada posso falar, tem fama de roubar namorados e, além de tudo, é muito levada. Esta é a palavra que usam por aqui quando a mulher é atirada, sempre a buscar namorados, envolvida com muitos homens. Alguém veio me contar que Mariângela adora estrangeiros. Por isso, tenho de me guardar a seus ardis. Caso contrário, roubar-me-á o homem. Outro dia ela apareceu com um dinamarquês, homem grande, louro, de fazer qualquer mulher morrer de inveja. E ela é magra, não tem nada pra mostrar, não sei como consegue. Quem sabe suas fantasias não deixem os homens escaparem? O dinamarquês ficou com ela o tempo em que esteve na cidade Há quem jure que viu Mariângela nua, no banco do carona do carro dirigido pelo homem da Escandinávia. Ela fica para trás, entro em casa. O telefone toca: alô?. É ele, o tal que saiu comigo ontem. Não demora e já quer me encontrar. Vamos esperar até à noite?, proponho. Ele aceita. A vulgaridade é uma acusação estúpida, superficial, uma exigência de princípios que se transformou no mais cômodo refúgio da mediocridade. Penso nisso ao ver o vizinho da casa ao lado, vestido apenas de calção de banho, mangueira na mão a molhar a grama do quintal. Ele me descobre e acena, sorri, como gostaria que eu caísse em seus braços. Quem sabe, reflito, não é um dos bobalhões da cidade e, por morar ao lado, não creio que venha a ser vulgar. O rapaz me acena. Não quer vir, está calor, fala e ao mesmo tempo se molha com o jorro da mangueira. Acho tudo muito interessante, quase uma brincadeira de criança. Venha, venha se molhar, insiste. Não seria bom, penso em frações de segundo. Com um vizinho, logo alguém vai descobrir que entrei na sua casa, fico com má fama. Digo que preciso descansar, deixa pra outro dia. Ele faz uma fisionomia de quem tristeza, não é bom estar só, tanto mais num dia de sol como este. Saio rápida da janela, pois a tentação é muito grande. Volto-me para dentro da cozinha, procuro alguma coisa para por no fogo. Enquanto descasco duas batatas, minha imaginação voa, não me dá descanso. Desço. Visto um short, o biquíni por baixo. Não o novo, é claro. o biquíni que costumo usar ultimamente, não me desaponta, nem aos homens. Oi, tudo bem?, digo. Ele se apresenta, faço o mesmo, beijo-o nas duas faces, está calor mesmo hoje, acrescento. Conversamos amenidades. Ele diz que já me vê faz tempo, queria se apresentar à vizinha mas não tinha achado oportunidade, agora então... Carlos, o nome dele. Tiro o short e tomo nas mãos a mangueira. Ele continua em pé, às vezes olhas para mim, às vezes desvia os olhos para o jardim. Você é da cidade ou veio de fora?, pergunto. De fora, ele, mas conheço algumas pessoas da cidade, estou a trabalho, como hoje é sábado... Procura mostrar-se o mais agradável. Enquanto fala, despejo a água sobre o meu corpo. O calor arrefece, sinto imenso prazer. O ideal seria uma piscina, diz ele. A mangueira está boa, asseguro, você não tem amigos ainda?, estou curiosa. Alguns, do trabalho, mas amiga mulher você é a primeira. Penso nas mulheres das redondezas, são tão atiradas, será que ainda não sabem da existência dele, caso estejam cientes devem estar a caminho, correndo para atirarem-se nos braços de Carlos. Aqui todos são muito simpáticos, falo com o desejo de tornar a estada do homem na cidade a melhor possível. Já reparei, são todos muito sorridentes, sobretudo as mulheres, continua. Então ele já sabe, elas sorriem para ele, não demora e uma bate aqui na porta, de biquíni ou, quem sabe, nua. Entrego-lhe a mangueira, junto as mãos, um pouquinho acima dos seios, uma atitude sensual, mas involuntária. Ele dirige a ponta da mangueira para o próprio corpo e se molha intensamente, chega a fechar os olhos. Sua altura é de mais ou menos um e oitenta, tem os cabelos curtos, dentes muito brancos. Olha para mim e ameaça me molhar, faço fisionomia de que estou com medo, de que vou sentir frio. Diz brincadeirinha. Você frequenta muito a praia?, pergunta. Às vezes, prefiro a parte da tarde. Retoma a palavra, já sei você acorda tarde e o sol já está muito quente. Isso mesmo, replico, não gosto do sol me tostando, e à tarde a praia já não tem tanta gente. Você vai hoje?, sua voz soa quase como um convite. Hoje, não, tenho um compromisso logo mais, se eu for a praia vou ficar morta. Ele sorri das minhas palavras, na certa entende compromisso como saída com algum namorado. Tenho de voltar, digo, deixei a panela no fogo! Visto o short e volto à realidade, o fogão, as batatas e a água fervendo, corro à janela para ver se ele ainda está no quintal. Desapareceu. Fechou a torneira e a mangueira jaz sobre o chão, como uma cobra comprida e inofensiva. Volto à cozinha, aliás, antes tiro o short e a blusa, que calor, deixo as duas peças sobre a cama e volto a cozinhar batatas. É boa a sensação de estar nua, ninguém a incomodar. Enquanto as batatas vão mergulhadas na água quente, volto à sala, sento no sofá de dois lugares, quase junto à janela, cruzo as pernas, seguro uma revista e tento me distrair com a leitura. Como os homens gostariam de me ver assim, sem roupa alguma, eu magra mas sensual, chego a sentir arrepio. Na revista, procuro fotos de homens, talvez como o que vi há pouco no quintal da casa ao lado. Dizem que as mulheres são menos fogosas do que os homens. Mas, no meu caso, não consigo acreditar, sinto muito tesão, tenho até um pênis, desses que se vendem em sexy shop. Por falar nisso, por anda? Que tal procurar por ele agora? Levanto-me e vou a um dos armários. Acho que está guardado na parte superior, bem no fundo. Isso mesmo. Encontro-o, tiro da caixa. Engraçado, funciona a bateria, a cabeça movimenta-se, uma maneira de aumentar a sensação. Abro a torneira e o lavo, cuidadosa. Acho que a bateria pifou, mas sem problemas. Basta enfiar, vagarosamente. Volto ao sofá, recosto, e aproximo a ponta do pênis à minha vagina. Encosto-o. Movo-o para um lado, para o outro, nada de enfiar rápido. Gosto de tudo com muita calma. Começo a me masturbar. Esqueço da vida, tenho todo tempo do mundo. Enfio o pênis mais fundo, já o coloco até a metade, como é grande, maior do que o dos homens normais. Estou toda molhada, tesão a mil. Alguém toca campainha. Quem será a essa hora, duas da tarde de sábado. Abro a porta, vagarosa, assustada, estou nua, ponho apenas a cabeça no pequeno vão. Surpresa. O vizinho do lado. O que foi?, pergunto abrupta. Acho que você esqueceu alguma comida no fogo, está saindo fumaça pela janela da sua cozinha. Corro e desligo o fogão. As batatas, a água secou e eu nem senti. Volto à porta. O vizinho ainda está lá. Obrigada, sabe, se não fosse você, acho que minha casa pegava fogo, por falar nisso, quer entrar um pouquinho?, entre sim, você salvou a minha casa. Ele aceita. Entra. É lógico que antes peço que espere um instantinho. Vou ao quarto e jogo uma camiseta sobre o corpo, dessas que me cobrem até as coxas. Não esqueço de esconder o pênis artificial. Já não preciso dele, tenho um natural, um corpo de cheio de músculos, tudo bem ali à minha frente.
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