domingo, dezembro 21, 2008

Sob um céu que não nos queria sós

É noite de domingo, estou na casa daquele por quem me apaixonei faz algumas semanas. E estou sem a blusa! Isso mesmo, nua da cintura para cima, com um fogo terrível, e sem o menor acanhamento. Ele está sentado à minha frente, numa cadeira de espaldar alto, olhando-me e sorrindo.

Encontramo-nos às quatro da tarde. Eu disse que queria ver uma árvore que flora apenas de duas em duas décadas; lera sobre ela nos jornais. A bela e vistosa árvore fica no Parque do Flamengo. Andamos grande parte do parque, entre muitos que passeavam ou andavam de bicicleta. Havia recantos vazios, convidativos ao namoro. Mas até ali ainda éramos simples amigos – conhecemo-nos há dois meses num evento sobre artes. Era a primeira vez que saíamos juntos. Quando já ia o sol adiantado, mas ainda claro o dia e de calor envolvente, descobri o grande tronco, os galhos fortes, as folhas rígidas e elegantes e, enfim, as flores. Tinham a beleza lustrosa, ousada, arrepiante, própria das mulheres.. Flores mais belas, jamais as vi...
Tudo resplandecia em êxtase, proporcionava prazer que não queríamos que tivesse fim. Quando ia quase em espasmos de alegria, senti um beijo úmido na nuca. Era ele que, de surpresa, me proporcionava prazer em dobro: a vegetação luminosa e o amor...

Dali em diante caminhamos sob um céu que não nos queria sós. A brisa marinha invadiu a costa e tornou nossos corpos temperados, abertos a arrepios que destemperam o coração. Por fora senti um calafrio gostoso; por dentro, ardia nas chamas de um sol de quase verão.

Tornamo-nos, sem precisar de palavras, namorados quase que antigos, amantes que mantém o fogo sempre aceso e que tem nos toques e beijos o idioma capaz dos mais sutis sonetos e mais complexas epopéias.

Quando a noite começou a cobrir os passeantes e todos se regozijavam com a frescura das horas altas de verão, fomos a um café.

O lugar era de arquitetura antiga, um tipo de palácio transformado em jardim público, museu, restaurante e bistrô. Bebemos devagar, envolvidos na magia do fim de tarde, em harmonia com a felicidade daqueles que também queriam a alegria.

Meu recente namorado beijou-me novamente. Carícia mais demorada e indiferente aos olhares desejosos de prazeres semelhantes. A garçonete sorriu. Imaginei que pensasse no namorado, estivesse ele próximo ou distante; ou mesmo o criasse em pensamento caso não o tivesse.

Quando a noite adentrava a oitava hora, fomos embora. Destino: a casa dele. O passeio findava deixando resquícios de saudade antecipada. Mas se avizinhava hora ainda mais calorenta, hora de corpos que se tocam.

Logo que entramos ele acendeu uma luminária lateral, colocou uma música suave e me ofereceu uma pequena garrafa de cerveja holandesa. Não consegui recusar. Tomamos. Ele também abriu uma garrafinha. O liquido gelado inundou-me; não demorou a me aquecer até às profundezas. Já vinha embriagada pelas flores, pela beleza do dia, pelo constante êxtase, pelo amor e, naquele momento, a cerveja holandesa completava-me o incêndio.

“Que calor terrível”, foi o que falei.
Ele levantou-se; quis ligar o ar-condicionado.
“Não, não precisa”, insisti.
Após deixá-lo sem palavras, irrompi:
“Vou tirar a blusa, posso?”
Assentiu sem se surpreender.
E agora, voltando ao início, estou sem a blusa!


Boas festas de fim de ano. Que em 2009 sejam muitas as realizações. E também muitas as fantasias!

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Vestido curtinho

Ia eu no Plaza, em Botafogo, numa quarta-feira à tardinha. De repente encontro a Vera.

“Oi, que bom encontrar você! Precisava mesmo lhe contar uma novidade. Que vestido lindo que você está usando! E é curtinho...”, falou.

Abraçamo-nos e trocamos beijos.

“Gostaste do meu vestido?”

“Adorei; agora está na moda, não é mesmo? Antes se usava com calças leg por baixo. Mas agora, distância das calças”, sorriu, tocou meu rosto, como se quisesse ajeitar uma mecha do meu cabelo.

“E a novidade que vais me contar? Sabe que adoro histórias.”

“Vamos sentar então na cafeteria do segundo piso”, sugeriu.

Caminhamos lado a lado, ela segurando um dos meus braços. Também estava elegantemente vestida. Os rapazes não a desprezavam; como toda mulher, caminhava vaidosa.

Na cafeteria, começou a contar:

“Olha, conheci um cara, estou com ele faz um mês. É show; me leva pra cada lugar... E eu deixo ele louco. Aprendi aquelas coisas com você.”

“Que coisas?”

“Ah, não se faça de inocente, foi você quem me ensinou.”

“Queres dizer que então estás feliz?”

“Felicíssima”, falou.

“E como ele é?”

“Alto, elegante, educado; e tem trinta anos.”

“Trinta?, que bom.”

“Vou comprar um vestidinho que nem o seu; onde foi?”, perguntou e tocou no tecido, que mal me cobria as coxas. “Vou deixar o homem louco. Esse vestido ressalta bem as pernas de fora!”, sorriu e levou aos lábios a pequena xícara de café.

“Vais dizer que não tens uma roupa curta parecida?”

“Tenho, mas esse seu está tão lindo...”

“Digo a loja e ajudo a escolher.”

“Você é maravilhosa.”

“Ainda proponho mais”, continuei. “Queres andar por aí com ele um pouquinho? Temos o mesmo corpo, empresto.”

“Empresta? Como?”

“Empresto, agora. Quem sabe arranjas mais um namorado?”

“Ah, Margarida, você é maravilhosa. Aceito a oferta. Como vamos fazer?”

Acabamos nossos cafés e fomos a um dos banheiros. Trocamos de roupa. Meu vestido ficou lindo sobre seu corpo. Como ela é talvez um centímetro mais alta que eu, ele ficou um tantinho mais curto. Vesti a calça comprida que ela usava e a blusinha bege.

Quando passamos de novo em frente à cafeteria, a garçonete nos olhou surpresa. Creio que reconheceu nossas roupas invertidas.

Os homens a admirá-la tornaram-se mais numerosos.

“Estás fazendo o maior sucesso, vou deixá-lo com você, depois passo na tua casa e o pego de volta.”

“Jura, Marg?”

“Juro”.

“Você é ótima; adoro você”, ela me beijou num êxtase de alegria.

Despedimo-nos. Ela estava com o corpo quente; ia excitada com a nova roupa.

“Quando você passa lá em casa?”

“Amanhã ao entardecer está bom?”

“Está! Até lá vou fazer o maior sucesso”, sorriu e apertou meus braços com as duas mãos, num último sinal de carinho e alegria.

“Então vá.”

“Tchau, depois de conto.”

“Ah, adivinhaste; vou querer saber tudinho.

Ela riu mais uma vez, virou-se, antes de desaparecer ainda me deu um adeusinho.

terça-feira, dezembro 02, 2008

Três coisas importantes

A noite começou com três coisas importantes. Em primeiro lugar um namorado lindo; em segundo, um vestido curtíssimo, mais parecia um suéter que não passava da metade das coxas, nem mesmo me permitia levantar os braços; em terceiro, bem deixemos o terceiro pra mais tarde...

Entramos no carro e seguimos pela estrada litorânea. Já escurecera, uma brisa fresca nos refrescava provocando às vezes até mesmo um frêmito de frio. A música do aparelho de CD se espalhava alta. Ele, fugidio, olhava para mim nos momentos em que a estrada permitia. Outros automóveis vinham em sentido contrário, seus faróis eram dois olhos que invadiam prateados a noite recente.

Quando uma longa reta aparecia, meu namorado colocava a palma da mão direita sobre minhas pernas, enquanto segurava o volante com a esquerda. Permanecemos fazendo esse jogo durante boa parte da viagem. Quando avistamos o lugarejo a que ele me prometera levar, um mar ainda claro apareceu banhado por uma lua em fins de crescente. Ele contornou a enseada, parou o carro ante a um restaurante rústico, saltamos e entramos.

Na verdade, o restaurante era uma pequena casa voltada para as areias da praia. Seu interior estava iluminado por velas em castiçais. Uma moça veio nos dar as boas vindas e deixou uma espécie de cardápio, que tinha o formato de uma grande folha de coqueiro.

Lembrei-me da leitura de um capítulo de romance em que havia uma casa de praia e um restaurante parecidos.

Pedimos duas caipirinhas. Meu namorado escolheu camarões graúdos; preferi uma casquinha de siri; depois, talvez, comesse patas de caranguejo.

Olhamos na direção do mar. Escutávamos a explosão das ondas, víamos de relance as espumas, mas a praia estava escura; vez ou outra aparecia o reflexo luminoso de alguma embarcação longínqua, talvez pescadores à espera de um cardume, talvez navios que faziam alguma rota estrangeira.

Na varanda, onde estávamos, não havia mais ninguém; na parte, interna, um casal mantinha-se num namoro inquieto.

Bebemos nossas caipirinhas e logo um fogo interno alçou-nos a vôo mais arrojado. Agarramo-nos e beijamos um ao outro intensamente. Ele enfiou uma das mãos por entre minhas pernas. Permaneceu com a palma estacionada ali durante algum tempo. Quando terminávamos um beijo longo, pleno de volúpia, chegaram os camarões.

Comemos nossos pratos com entusiasmo; tudo estava muito gostoso. Pedimos outras duas caipirinhas. Quando cada um de nós bebeu a metade, o fogo que ardia tornou-se ainda mais intenso e, num momento de excitação, meu namorado arrancou-me a calcinha.

“Ai, você destruiu minha calcinha, coloquei só pra você, e ela era tão bonita”, falei em tom de choro.

“Não se preocupe, vou comprar muitas outras amanhã.”

“Será que vou agüentar sem calcinha tanto tempo?”, perguntei e acabei explodindo numa risada debochada, aconchegando-me mais ao seu lado. Ele me acariciava de todos os modos possíveis. Suas mãos me percorriam e me deixavam cada vez mais excitada.

“Vou tirar seu agasalho.”

“Que agasalho?”, perguntei encolhida.

“Esse vestido-agasalho.”

“Será que a garçonete não vai chamar nossa atenção?”

“Não; acho que aqui não tem problema. As pessoas não vêm aqui só pra jantar, esse lugar é favorável para que se devorem uns aos outros."

Foi então que ele me deixou nua. Pela primeira vez eu fiquei nua num restaurante. Juntei as pernas aos seios e deixei que ele me abraçasse. A garçonete desaparecera no negrume da casa. Acho que para nos deixar mais à vontade.

Embora estivesse escuro e o casal próximo não quisesse saber de nós, senti um pouco de vergonha. Pensei que podia parar um carro com faróis altos, saltar uma porção de gente e me surpreender nua num lugar público.

Meu namorado levantou o braço; chamava a garçonete.

“Não faça isso”, ainda tive tempo de dizer.

Mas ela veio rápido.

“Mais uma caipirinha, por favor.”

“A senhora também quer mais uma?”, perguntou-me; olhou natural, como se eu fosse a mulher mais vestida do mundo.

“Não, obrigada”, acho que deixei transparecer uma ponta de vergonha, mas o que há de se fazer? Ainda tomei um último gole. Encolhi-me mais. Pedi que ele me tateasse a pele. Estava tão gostoso.

Foi então que aconteceu a terceira coisa. Veio vindo lá do fundo, um orgasmo tão intenso, algo que eu jamais sentira, uma espécie de gozo, mesmo sem penetração. Sussurrei:

“Ai, nunca senti o que estou sentindo agora, uma coisa tão boa, me aperta mais, vai.”

Ele me apertou. Peguei uma de suas mãos e a encostei naquela parte em que as mulheres sentem mais desejo.

Depois, dentro do carro, antes de deixarmos aquele lugar maravilhoso, ele me deitou no banco, escalou meu corpo, abriu meu sexo e permaneceu lá dentro, quente, muito quente...