terça-feira, dezembro 29, 2015

Clariciana?

Precisar é sempre o momento supremo. E eu senti que ele precisava. Desde o começo, quando me olhara com extrema acuidade – um olhar capaz de grandes descobertas –, percebi que ele precisava. E eu tão nua.

"Por que a nudez sob a saia?", ele quis saber.

"Nunca ninguém reparou", afirmei.

"Jura?"

"Claro, e por que jurar?, já ando assim faz tempo, caso pudesse andaria nua, mas teria de resolver dois problemas, o primeiro na ordem do sentido: quando se esconde algo, cria-se certa curiosidade; o segundo, é que sair nua levar-me-ia na certa à prisão; portanto, ficaríamos longe um do outro."

"Você achou melhor facilitar as coisas", ele tentou interpretar.

"Nem tanto", interrompi, "lógico que a leveza de determinados tecidos e alguma possível transparência contribuíram, mas o que me leva à nudez sob as saias ou vestidos é uma certa alergia."

"Alergia?", surpreendeu-se.

"Isto mesmo", revirei os olhos, "e o conselho foi de minha médica: 'abandone as calcinhas por um bom período', assim o fiz."

"Nunca ninguém notou?", a pergunta de todos os homens.

"Não, jamais, apenas você. Ah, meu amor, as coisas são muito delicadas", tive de dizer.

Ele mostrou-se meticuloso.

"Delicadas", repetiu e enfatizou, "e você se acostumou", interessado, ele.

"Acostumei-me. No início me senti nua, preocupada, mas depois me acostumei, e até gostei. Enfim, lingerie apenas para os momentos de grande exaltação."

Ele comprou-me a lingerie para os momentos de grande exaltação.

"Lembre-se, amor, só posso vestir essas roupas por quinze minutos, a alergia", eu alertava.

"Oh, sim, não vou esquecer", sua fazenda nobre me dava garantias.

Alguns minutos a mais, ou a menos, e lá ia eu sem o tecido provocante.

Os homens respiram o fetiche. E a mulher anda nua. Talvez o calor. Ou, quem sabe, o desejo, sempre o desejo. E eles querem o momento supremo.

"Caso um dia nos separemos você vai continuar saindo assim?", respirou esbaforido.

"Assim?", fiz que não entendi.

"Assim, tão assim...", não conseguiu completar.

"Já sei", retruquei, "assim tão sem..."

"Isso, você definiu bem, tão sem", abraçou-me.

"Sabe", quis incendiar-lhe, "tive um namorado que me dava bombons na hora do amor, pedia-me para engolir o chocolate recheado no momento supremo do gozo."

"E você assim o fez", sua voz procurava o equilíbrio, mas vi suor em seus poros.

"Fiz, e quis mais, mais e mais", afirmei solícita.

"E não lhe fez mal, a alergia..."

"Gozar nunca é mal", assegurei, "e a alergia é apenas a calcinhas."

Dias de depois, trouxe-me um líquido que estranhei a princípio. Mas logo deduzi do que se tratava.

"Gosto", meus dentes brancos mergulharam num sorriso longo, "gosto muito."

E já sem as saias e blusas, nunca a roupa debaixo, me veio com o líquido na hora do gozo. Ele o deixara no copo, próximo à cabeceira; quando anunciei o supremo momento, entornou-me à boca a substância.

"A essência do ser... Só se conhece a coisa quando a gente se torna a própria coisa", sentenciou."

"Também sou clariciana", borbulhei, os olhos fechados.

Mais tarde, antes de dormir, voltei ao líquido, tomei mais dois grandes goles: banana com aveia!

"Clariciana?", quis ele saber.

"Lispector", endossei.

terça-feira, dezembro 22, 2015

Mulher Maravilha

“Mas você veio nua!”

“Vamos, essa hora sou invisível.”

“Invisível?”

“Isso mesmo, depois te conto.”

Caminhamos pela 312 Norte, passamos dois blocos de comércio. Entre dois restaurante, o Maranello e outro de nome também italiano, havia quatro apartamentos, Marcos tentou a fechadura do 308.

“Encontrei antes tua irmã”, falou.

“Irmã?”

“Uma moça muito parecida contigo, chamei por ela como se chamasse você.”

“Ah, a Mayara, é muito parecida comigo.”

“Isso. Ela disse não, não sou a Maristela, todos fazem confusão entre nós duas.”

“Acredita que já saímos uma trocada pela outra?” 

“Como assim?”

“Vê se primeiro consegue abrir a porta, depois conto, lembre que temos pouco tempo.”

“Já vou conseguir, falta testar apenas mais duas chaves.” 

“O homem não te explicou sobre qual delas?”

“Explicou”, falou e olhou para mim num átimo de segundo, logo enfiou mais uma das chaves na porta e escutamos a fechadura girar.

“Ainda bem”, falei.

Entramos.

“Quer dizer que você e a Mayara trocam de identidade?”

“Só aconteceu uma vez.”

Terminamos de subir os dois lances de escada. A porta do apartamento foi aberta com mais facilidade do que a da entrada do prédio.

“Veja, há até um sofá”, deixei escapar minha surpresa.

“Ele me falou sobre isso, o morador anterior deixou o sofá, quem vem aqui pode usá-lo. Mas espere.”

Tirou um lenço do bolso, foi até o banheiro e voltou com ele molhado, passou sobre o vinil.

“Agora pode sentar, está limpo.”

“Obrigada.”

“Mayara nada me falou sobre isso, e já conheço ela faz um tempinho”, afirmou.

“Coisa de namorados e paqueras, o cara ficou em cima de mim o tempo todo, até que falei a ela quer sair com um carinha?, ele até é bonitinho. Jura? Foi a resposta dela, sempre em forma de pergunta, a Mayara adora efeitos de linguagem. Quando ele telefonou passei a ela, então marcaram e saíram. Disse cuidado, Mayara, essa noite você se chama Maristela. E ela foi, adorou, encontrou o cara mais duas vezes, depois não sei mais o que aconteceu."

“Será que não casou com ele?”

“Não, caso isso acontecesse teria me convidado.”

Deitei no pequeno estofado. Marcos começou a me fazer carinho.

“Você é bonita, sabe?”

“Sei.”

Puxei seu pescoço e o beijei no rosto.

“Venha, suba sobre mim, já te falei que temos pouco tempo, e estamos nos perdendo em conversas paralelas.”

“Conversas paralelas?”, riu.


Antes de sairmos, perguntou:

“Você não tem vergonha?”

“Vergonha de quê?”

“Muitas morrem de vergonha quando acabam.”

Quando acabam?

Depois que gozam.

“Ah, entendi. Não, não tenho vergonha.”

“Mulher corajosa, e veio nua...”

“Lembra que sou a Mulher Maravilha? Gosto de aventuras, apenas isso.”

“Temos ainda quantos minutos?”

“Ah! Nossa, um minuto, isto é, cinqüenta segundos, vamos”, gritei.

“Espere.”

“Sou invisível por apenas mais trinta, tenho que chegar ao carro, tchau.”

Despenquei escada abaixo, e ele embaralhado nas chaves.

terça-feira, dezembro 15, 2015

Suas mãos beliscavam o meu bumbum

Oh como era bom estar de volta, realmente de volta, sorri satisfeita. Eram quinze para as cinco da manhã, o ar fresco, o céu ainda escuro. Sentei numa das poltronas e cruzei as pernas. Minha aventura fora demorada, um tanto precipitada, sentia-me, porém, reconfortada. Há momentos em que a gente vê tudo prestes a ruir. Mas a madrugada acabava bem. Ao menos para mim. Faltava-me apenas o descanso, o sono ligeiro, mais repousante, no meu caso sempre ao amanhecer. Fechei os olhos e me veio à mente Marina. Gostava de encontrar o amante à hora do almoço, sempre no mesmo hotel. Ela entrava primeiro. A recepcionista, já de longa data, a conhecia. Marina subia alguns degraus, bom dia, o sorriso discreto. A empregada entregava-lhe a chave, o mesmo apartamento. Voltava alguns passos e entrava no elevador. Saía no sexto andar. O homem chegava um quarto de hora depois, sempre pronto a lhe dar muitos beijos. Ele podia ficar apenas duas ou três horas; ela permanecia mais um pouco, adormecia sozinha. Gostava de adormecer sozinha num quarto de hotel, ia embora ao entardecer. Certa vez, depois do amor, antes que o homem partisse, resolveu pregar-lhe uma peça. Pegou a própria roupa, bem enrolada, e a enfiou na pasta dele, uma valise para transportar algum livro e papéis. Você é louca?, ele lhe diria horas depois, pensou que eu poderia não ter voltado?, você nua neste centro de cidade grande. Marina apenas sorriu e o abraçou. Fizeram amor mais uma vez. A partir daquele dia, antes de sair, ele olhava dentro da valise, depois a beijava. Oh como é bom estar de volta, realmente de volta, sorri satisfeita voltando à poltrona onde eu sentava. Descruzei as pernas e inverti a posição, a direita agora sobre a esquerda. A chave do carro ainda estava ao meu lado, dei-me conta de que saíra sem documento algum. E que ainda precisaria pedir que buscassem o carro. Dirigira dentro da noite, incógnita, ninguém a poder provar minha identidade. Poderia eu fazer acreditar outra pessoa quem sou? O passeio durante a madrugada, ou a perspectiva dele, sempre me excitava, mesmo antes de começar a praticá-lo. Sair com o carro da garagem e dar umas voltas pelos quarteirões, quadras de filme americano. Às vezes vou mais longe, tomo confiança com a distância. Até a rodovia estadual. Mas lá, vez ou outra, mesmo durante a madrugada, vê-se um automóvel, um caminhão. A placa a revelar o meu condado, talvez a minha identidade. Por que o temor?, alguém perguntaria. Não se trata de temor, um meio de resguardar a individualidade, a privacidade, coisas assim. Pode-se fazer qualquer coisa incógnita dentro de casa, mas não pelas ruas da cidade. Sempre há alguém conhecido, sempre alguém a levantar véus, a nos desnudar. E por falar em véus, no princípio queria ir sem eles, em pele, mas o tremor. Isso mesmo, o tremor impedia-me de pisar os pedais, e era preciso dirigir, ir e voltar. Depois de algumas semanas, a primeira experiência; a seguir outra e mais outra. Até que foi possível sair de casa apenas o automóvel, sua lataria, vestido discreto, cor de prata envolto na noite. Quem dirá não? Por que uma mulher não pode usar como vestido a carroceria de seu automóvel ? Não me fure um dos pneus! Tão novos, seguros. O tanque, sempre cheio. Mas há a bomba de gasolina. Por que fora falhar logo naquele dia? Na verdade, o acaso pode trazer surpresas agradáveis. O combustível não passava, e eu a duas milhas da minha poltrona. Então, o garoto, dezoito ou dezenove anos. Um militar. Você vai para as forças armadas?, minha pergunta, já abrigada no seu carro. Ainda bem que vinha sozinho. Vou, é minha última noite. Ainda bem, pensei, ele não terá tempo de contar pra ninguém. E a senhora?, ele quis saber. Senhora?, quase ri. Onde foram parar suas roupas? Ali, apontei o carro. Por que não veste?, ele. Por que é muito pesada, respondi. Quer entrar?, perguntei quando parou seu automóvel junto ao meu jardim. Acompanhou-me à porta, beliscou-me o bumbum. Trepamos na garagem. Ali há um colchonete. Ele se lavou na torneira que há do lado de fora. Depois se despediu. Desejei que tivesse sucesso nas forças armadas. Onde? Primeiro o treinamento, disse, depois alguma base. Que não seja no Afeganistão, falei temerosa. Mas ele era o homem mais corajoso do mundo. Venha mais uma vez, nunca se sabe o amanhã. Preciso ir, está quase na hora, passei a noite acordado porque sei que não conseguiria dormir, mas volto, prometo, falou com dignidade e com muita segurança. Quem sabe, pensei. Quis lhe falar que também não dormira. Meu motivo era outro. Mas não consegui. Oh como era bom estar de volta, realmente de volta, sorri satisfeita. Quanto ao soldado, nunca se sabe. Eu volto, prometo, sua voz ressoava na minha cabeça, suas mãos beliscavam o meu bumbum.

terça-feira, dezembro 08, 2015

Chá e biscoitos

“Você não comeu nada”, disse Ana, ofendida, ao reparar os biscoitos intactos.

“É que estou surpresa”, repliquei.

“Surpresa?”

“Sim”, falei ainda olhando a foto. “Se ele mostra a alguém?”

“E o que os outros têm a ver comigo?”, respondeu sorridente, apanhando um dos biscoitos e mordiscando.

“Não sei, mas poderia causar algum prejuízo a você.”

“Nada disso, não preciso de ninguém, tenho meu próprio negócio e isso jamais me prejudicaria.”

Devolvi-lhe a foto. Ela a pousou sobre a mesa, ao lado do pratinho de biscoitos. Pegou sua xícara e tomou um pouco do chá.

Imaginei a situação em relação a mim. Jamais teria coragem de me deixar fotografar naquela pose. Ana estava de pé, na foto, num gramado, ao lado do tronco de uma pequena árvore. Vestia apenas o top, as mãos cruzadas abaixo do umbigo cobriam seu sexo. Andei durante muito tempo à procura de um namorado, não acho que com aquela atitude facilitaria as coisas. Minha amiga, no entanto, era espevitada. Tudo para ela era motivo de alegria.

“E como estão vocês agora?”, eu quis saber.

“Estamos ótimos.”

“Tomara que vocês nunca briguem.”

“E se brigarmos, o que tem?”, ela me olhou com o rosto desafiador.

“Ele pode chantagear você.”

“Bobagem”, acrescentou tranquila, “hoje as mulheres estão cansadas de andar nuas por aí.”

Suspirei e fiquei quieta no meu canto. Segurei a xícara e bebi um gole de chá, comi um dos biscoitos.

“Não quer ir com a gente, no Carnaval?”, sugeriu com ar de expectativa.

“Aonde?”

“Angra dos Reis.”

“Só se você deixar ele tirar uma foto minha, assim como essa que você mostrou?”, falei com ar de pilhéria.

“Jura?, ela arregalou os olhos. “Deixo, caso você permita que posemos junto.”

“Brincadeira, Ana, e quanto ao meu trabalho? Se o juiz me vir nua é capaz de me transferir.”

“Mas aposto que antes ele te convida para um hotel.”

“Você acha mesmo, Ana? Ele é tão bonito.”

“Claro que sim. Se eu fosse você, não perderia tempo. E o que é que tem trabalhar em outra seção?”

“Vou com vocês. Mas no pictures”, acrescentei.

“Ok.” Seus olhos grandes sempre me contagiavam. Senti uma coceirinha. Eu acabaria também tirando a roupa? Ela comeu mais um biscoito.

“Tem mais uma coisa, Ana, vou sair esta noite com o namorado que fez a foto”, ela disse.

“O que tem de mais nisso?”, olhei enquanto segurava a xícara.

“É que vou nua.”

“Nua?”, assustei-me.

“Nua, pelada, sem roupa alguma.”

“Mas, Ana, logo você uma mulher tão elegante...”

“É que ele afirmou um dia desses que poucas são as mulheres bonitas quando se mostram nuas por inteiro, e eu sou uma delas”, interrompeu.

“Você já não sabia disso?”

“Claro, mas nas palavras dele é outra coisa.”

“E como você vai fazer?”

“Surpresa!”, sorriu.

“E se alguém encontra você, Ana?”

Não encontra, não, Vera, e a cidade é pequena; as estradas, escuras. Quem sabe como um cachorro quente na Serra?, sorriu de novo após a sugestão.

“Você é louca.”

“Nada disso, prefiro que você diga que eu sei aproveitar a vida.”

“Talvez, mas eu não aceitaria sair nua por aí. Ele sabe ou é surpresa?”

“Sabe, foi ele quem pediu”.

“Cuidado, Ana. Se ele te larga pelada por aí?”

“Se isso acontecer, é ele quem sai perdendo”, ela deu uma imensa gargalhada e comeu o último biscoito.

terça-feira, dezembro 01, 2015

Ela diz que isso se chama fetiche

Val, eu sei que é difícil a gente consolar alguém. Só cada um sabe o que sente na pele. Um segredinho, viu, isso que você acabou de me contar também já aconteceu comigo. Há coisas que supomos que só nós experimentamos, mas, acredite, também já aconteceram com muitas outras mulheres. Não menosprezo o teu sofrimento. Ele passa; depois as pessoas esquecem. Quero dizer, você e as pessoas. Posso te contar a minha história. É praticamente a mesma, só que aconteceu faz uns três anos, quando eu ainda morava em M., e o final foi um pouquinho diferente. Na época, até conversei sobre o assunto com uma amiga minha que é psicóloga. Ela tem consultório e uma porção de pacientes. Ouça, por favor.

Há pessoas que preferem a imaginação à vida real, foi o que ela me falou. Era o caso daquele meu namorado. Ele me fizera um pedido que a maioria das mulheres relutaria em aceitar. Mas, assim como você, aceitei. Eu achava que não deveria recusar desafios, precisava viver novas experiências, a adrenalina alta e coisa e tal, como beber demais ou experimentar pela primeira vez alguma droga. Saltei nua do carro dele, às duas da madrugada de um sábado de verão, na rodovia que leva a Glicério. Estava escuro e, naquele momento, não passava veículo algum. Ele pediu que eu o esperasse agachada, em meio à vegetação do lado esquerdo de quem sobe a serra. Disse que logo estaria de volta. Acelerou o carro e se foi. Ao contrário do que prometeu, não voltou. Ou melhor, apareceu quinze horas depois, porém na minha casa, me convidando para comer uma pizza. Não falou por que não cumpriu a palavra. Estava excitado, curioso para saber o que tinha me acontecido durante o resto da noite. Nada respondi. Apenas sorri, um sorriso enigmático, expressão de quem gostou da experiência. E até que gostei mesmo, sabia? Não consegui dormir um instante se quer, ele disse, fiquei a madrugada inteira pensando o que poderia estar acontecendo contigo, acrescentou. Será que eu ainda tinha esperança de que ele voltaria para me apanhar ou estava escondida, trêmula, ante a perspectiva do amanhecer, que me revelaria nua e indefesa?, foram as palavras dele. Muito engraçado, não? Ou ainda: algum homem me havia encontrado e me levado em seu carro; será que eu estaria transando com ele naquele momento? Acho que meu namorado gozou apenas ao imaginar o que estaria acontecendo comigo. Foi o que acabei concluindo. Minha amiga psicóloga tem razão. Ela diz que isso se chama fetiche. É como se um homem, no lugar de gozar com a namorada, gozasse com a calcinha dela. Há homens que saem com a gente e roubam a nossa calcinha, não é mesmo? Você já deve ter passado por isso. Aceitei a pizza, mas nada relatei. Se já gozara com a imaginação, não precisava gozar por intermédio da minha narrativa. O namoro durou mais alguns meses, e eu jamais mencionei a tal noite. Deixei o homem maluquinho. Quando ele insistia em saber o que havia acontecido, eu apenas perguntava o que você acha? Além da minha amiga psicóloga, nunca falei sobre isso a ninguém. Estou contando pela primeira vez a você. Quer saber o final dessa história? Não tenho problema nenhum em te contar. Minha amiga psicóloga também quis saber o final. Consegui ligar a um amigo. Apesar de sair nua do carro, não esqueci o celular. Esclarecendo, o homem não era bem um amigo. Era um cara casado com quem eu já saíra algumas vezes. Acho que a mulher dele também tinha um amante e não se preocupava com o que ele fazia durante as madrugadas quando andava ausente de casa. Ele veio me buscar. Contei a verdade a ele. Ficou surpreso, a princípio. Acabou achando a história engraçada e disse que eu era um tanto louca. Transamos naquela mesma noite, dentro do carro, numa saída da rodovia em que não há asfalto. Depois ele começou a pensar como me ajudaria para eu não chegar nua em casa. Tirou a camisa e me ofereceu. Foi isso. Cheguei em casa pela manhã, ainda estava todo mundo dormindo. Ao contrário do que aconteceu a você, ninguém me surpreendeu nua. Ele ainda esperou até que eu lhe telefonasse de dentro de casa dizendo que estava tudo bem.

É isso, Val, o tempo passa e a gente esquece. As pessoas também esquecem. Sei que saiu um pouco caro pra você, que teve até de se mudar para um bairro onde ninguém te conhece. Eu acho que não teria feito isso; ninguém tem nada a ver com a minha vida. Agora, quanto a ti, não há mais com que te preocupar. E também existem namorados normais. Você pode arranjar um. Mas será que nós, mulheres, somos normais, Val? É engraçado, não? No fundo, é a pura verdade.

terça-feira, novembro 24, 2015

Titia nua

Já falei sobre o corpo mignon que muitas mulheres apresentam. Não apenas as jovens, mas também as que já se adiantam nos anos. Vistas por trás, muitos homens pensam que elas navegam na maré dos vinte e poucos, às vezes acham que ainda não completaram dezoito. Ao vê-las pela frente, no entanto, percebem o ligeiro equívoco. Mas a vontade de estar com elas, para a maioria, não diminui, tanto mais a pele nas pernas e nos braços esticadinhas. Nada de estrias nem rugas. Não quero me autopromover ao me incluir neste grupo. Já não sou jovem, porém jovial e, pelas costas, muitos acham que sou uma garotinha. Mesmo que descubram a verdade, não abandonam a paquera, principalmente se estou na praia. Meu biquíni é uma coisinha à toa. Outro dia enquanto caminhava no calçadão me acendeu uma nova chama. É que conheci um jovem. Isso mesmo, um jovem. Olhei bem nos seus olhos e falei:

“Você tem certeza de que deseja namorar comigo?”

“Sim”, respondeu sucinto.

“Ok”, dei o aval.

Passeamos de mãos dadas.

“Esse seu vestidinho é cheio de charme”, reparou.

“Não é um vestidinho, é uma saidinha de praia. Você gosta porque é curto, não?”

“Isso mesmo. E em você fica uma delícia”, ressaltou.

“Delícia?, não sou sorvete”, adverti.

“Quem sabe”, sorriu. “Gosto de morder a casquinha.”

“Não tem casquinha, não”, revidei, “só creme.”

Ele de repente ficou louquinho.

“Não tem casquinha, como assim?”, quis certificar.

“Todo na pele, direto.”

Lá veio ele querendo um canto escondidinho para roçar por baixo do meu vestido.

“Calma”, alertei, “vamos devagar.”

E ele continuando louquinho.

“Você quer deixar a titia peladinha?”, acendi-o mais.

“Sim”, sucinto de novo.

“Vamos primeiro tomar água de coco", sugeri.

Sem que ele nada retrucasse, sentei à mesa do quiosque próximo. O empregado logo nos atendeu. Ao saborear a água, observei o mar, estava calmo, mas poucas pessoas se aventuravam ao mergulho.

"Você parece uma pessoa muito tranquila", ele disse. Naquele momento, seus impulsos haviam arrefecidos.

"Gosto de admirar a paisagem, gosto de saborear nossos frutos", sorri após a última palavra.

"Acho você muito atrevida."

"Ah, provocação, os homens adoram."

Ficamos em silêncio durante um ou dois minutos. Meu jovem enamorado mostrou-se como o tipo de pessoa que não começa um diálogo; espera o assunto, para depois falar alguma coisa.

"Você mora com seus pais?", perguntei.

"Apenas com meu pai, não tenho mãe", falou meio sem jeito.

"Convida as garotas para o apartamento?"

"As vezes sim, mas hoje está lá a faxineira. E você, vive só?”

"Como posso viver só se tenho mil namorados?", falei e caímos na gargalhada.

"Será que me convida a ir à sua casa?", insinuou.

"Sim, mas a praia está tão boa, que tal aproveitarmos?"

"É boa a ideia", completou.

“Tenho uma sugestão interessante.”

"Qual?", ele, curioso.

“No começo da praia, vista da pedra do Arpoador a paisagem é linda.”

Caminhamos até lá. Misturamo-nos às pessoas que passeavam pela orla. Ao subirmos a primeira pedra, apontei  na direção de toda a extensão de areia.

"Veja, que bonito, acho que não há outro lugar assim."

Ele olhou, mas nada comentou, para ele era a mais comum das paisagens. O rapaz tinha o olhar dos jovens que, na maioria das vezes, persegue apenas os instintos. Comprova o que digo sua ação seguinte, me abraçou demoradamente.

Descobrimos, em meio às pedras, uma espécie de caverna. Ficamos então invisíveis a olhos alheios.

“Você vai tirar o vestidinho?”, ansiava.

“Só se você fechar os olhos”, fingi rubor.

Assim foi feito. Meu corpo mignon em suas mãos. 

Como com todo jovem, pude sentir o amor fresco. Mas também como acontece a quase todos os jovens, ele não era um bom amante.

Mesmo assim, aceitei outro convite seu, quando me telefonou dias depois.

“Mas não pode levar meu vestidinho como lembrança, viu? Onde já se viu, deixar a titia peladinha...”

Como sou escolada em brincadeiras desse tipo, na verdade brincadeiras juvenis, acabo incentivando os garotos. Eles adoram. Depois de me conhecerem, não querem outra vida. E sou eu que preciso fugir quando se apaixonam.

quarta-feira, novembro 18, 2015

Onde deixei o biquíni?

Olhou-se no espelho, aprumou o tronco, exibiu-se movendo-se para esquerda e para a direita, reparou a barriga, sempre achou que tinha barriga, inspirou e manteve presa por alguns segundos a respiração, exibiu de novo o tórax girando o corpo em um ângulo de quarenta e cinco graus, esquerda e direita, depois soltou o ar, mas mantendo o tanto que achava de barriga para dentro, tentaria segurar a postura, o teste das areias da praia, ele sempre acabava por revelar o corpo das mulheres. Fechou a porta do armário onde estava o espelho e permaneceu ainda nua. Caminhou através de um pequeno corredor e chegou à sala, tinha deixado o vestido sobre uma das poltronas. Sempre desorganizada, vestidos sobre sofás e poltronas; de um dia a outro, as roupas a esperavam. Olhou a janela, o vidro transparente permitia o panorama dos outros prédios. Tantos os vizinhos, será que esperavam que ela aparecesse para observá-la? Sempre ia nua até a sala, sempre a procurar pelos vestidos, pelos panos que envolviam seu corpo. Nesta manhã quero a canga lilás, onde a canga lilás? Duas ou três estavam umas sobre as outra, a lilás era a terceira. Tempo suficiente para ser vista pelo homem no outro prédio, vai ver ele já tinha uma foto dela, a tecnologia, os apartamentos tão próximos. Envolveu o corpo no pano, enfiou uma das pontas dentro do próprio pano, na altura dos seios, apertou bem. Tomaria o café e sairia, o sol e o mar a esperavam . Mas tinha ainda de vestir o biquíni, lógico que não esqueceria. Lembrou de um namorado de outros tempos, sempre as lembranças, sentia prazer com as lembranças, o tal namorado a queria nua, incentivou-a a tomar banho de mar nua. Como vou ficar nua com tanta gente em volta? Acharam a saída, ela enrolaria o corpo na canga, nada mais sobre a pele, depois foram a um bar, desses de mesinhas no calçamento, e ela pediu uma caipivodca.  Depois de dois ou três goles o prazer foi maior. Não sabia que era tão gostoso, falou ao namorado. A bebida?, ele. Não, o corpo, estou toda arrepiada. Outra lembrança boa era a do chapéu de abas largas, tipo mexicano. Era época em que muitas mulheres faziam topless na praia, e ela não ficaria para trás. O chapéu, na verdade, também servia para cobrir a cabeça; ela, porém, mais o usava para cobrir os seios. O top guardado dentro da bolsa de palha e o chapéu sempre numa das mãos. Até que um menino lhe esbarrou o braço e voou o tal chapéu. Os seios, nus, e uma pontinha de vexo. Não demorou a aparecer um cavalheiro trazendo-lhe o sombrero de volta. Resultado, os seios sensuais disfarçados e um novo namorado. Duas lembranças para a manhã que começava já eram suficientes. Tomou o café. Agora o biquíni, onde deixara o biquíni? Pôs-se a procurar as duas peças.

quarta-feira, novembro 11, 2015

Desta vez ninguém falou

No fundo mesmo, ela se julgava uma deusa. Toda iluminada, toda medida pelas duas horas. Isso tudo porque ele lhe telefonara e dissera que sentia saudades. Após colocar o telefone sobre a mesinha lateral, Lorena espreguiçou-se na poltrona, chegou a dar um bocejo. Ah, as deusas não bocejam, demonstram sempre beleza e só possuem virtudes. Bocejar não era uma virtude. Recompôs-se e meteu-se a pensar como faria para tornar-se deusa, ou ao menos aparentar. Vieram-lhe à mente algumas gravuras das deusas gregas ou romanas. Lorena, na verdade, não sabia distingui-las, repetia um lugar comum: no fundo eram as mesmas. A única coisa que sabia era que andavam nuas! As deusas gregas eram ousadas, mostravam o corpo. Se algo cobria suas partes íntimas, fora obra da mão titubeante de algum pintor ou escultor um tanto mais casto. Lorena levantou-se, caminhou até o quarto e olhou-se no espelho do guarda-roupas. Não era gorda, mas estava um pouquinho esbelta, assim como as deusas gregas. Elas não eram magras, afinal não havia naquela época esse negócio de as meninas quererem ser modelos. A única modelo foi Penélope. Mas Penélope não foi deusa, foi esposa, modelo de esposa. Lorena tentou tirar da cabeça toda a mitologia antiga. Ainda que pensasse nos gregos, era pouco versada neles. Olhou-se no espelho mais uma vez, colocou-se de perfil. Não se via barriga alguma, e isso era bom, pelo menos enquanto estava vestida. Caso tirasse a roupa, precisaria encolher um pouco a barriguinha. Quando ia à praia, tinha de se esforçar, não era fácil permanecer o tempo todo de barriga encolhida. Levantou a blusa e conferiu melhor o corpo. Na praia, deitava numa cadeira e relaxava, desse modo era mais fácil manter a elegância. Lembrou-se de um namorado que tivera. Não passara tanto tempo assim. Ele era mais velho que ela, bem mais velho, entrava pelos sessenta, talvez sessenta e cinco. Achava-a também uma deusa. Ela fazia uma bagunça terrível com o homem, não o deixava em paz. E ele a queria nua. Se pudesse a levaria para passear nua. Qualquer dia desses roubam-me de ti, ela assegurou. Ele sorriu, sabia da mercadoria valiosa. Isso mesmo, mercadoria. Lorena, no entanto, não gostava de ser mercadoria. O homem esbanjava em compras, dava à namorada tudo o que ela pedia. Outra não teria renunciado ao namoro. Veio um dia o que Lorena achou que seria o verdadeiro amor. Ela era mulher que viera de um  lugarejo, era simplória em relação a essas coisas, acreditava de verdade no amor. E o amor a levou do tal senhor. Passaram-se dois meses e ambos, ela e o amor verdadeiro, marcharam, um para cada lado. Lorena não teve coragem de voltar para o namorado anterior, o velho, como ela dizia a si enquanto pensava nele. E o homem do telefone, o que a chamara de deusa? Este nem a vira nua. Ou melhor, ainda nada houvera entre os dois, apenas conversa, e quase todas pelo  telefone. O homem era muito ocupado. Lorena lembrou da amiga levada que paquerava e transava com quase todos que a admiravam. Lorena, porém, era recatada, demorava-se para deitar com alguém. O homem, ocupado; ela, recatada. Por isso ainda não haviam se aproximado. Quem sabe fosse casado. Mas ela nada perguntaria, aproveitaria, isto sim. Será que conseguiria? Foi isso que lhe ensinara a amiga levada, tão levada que contara ter já viajado nua num ônibus. Lorena ficou a pensar como uma mulher poderia viajar nua num ônibus. Ninguém reparou?, fez a pergunta. A amiga levada apenas sorriu. Eram quatro da manhã, respondeu. Lorena imaginou a amiga como única passageira, nada mais, porém, falou. As pessoas mentem muito, refletiu, e esta bem que pode ser uma boa ficcionista. O telefone tocou novamente. Lorena correu à sala e o atendeu. Esperou alguns segundos, disse alô mais duas vezes. Seria o homem que a chamou de deusa? Seria a amiga namoradeira nua pela cidade a lhe querer contar mais uma de suas aventuras? Lorena pensou, esperou pela voz que poderia vir do outro lado da linha. Mas, desta vez, ninguém falou. 

quarta-feira, novembro 04, 2015

Só todos aqueles trastes

Alô, quem?, Glória? Olá, como vai?, quanto tempo. Quais as novidades? Tudo bem. Quem? Ah, por favor, não me fale no Antônio, não quero ouvir falar no nome dele. Por quê?, Ora, Glória, você sabe, namorei ele, vivi com ele por aquele tempo todo, mas não deu, terminei. Ele era bom, atencioso, legal, mas não sei, cansei, sabe? O quê? Ele deixou com você uma encomenda pra mim? Fala sério, Glória. Então, quer dizer que você está me telefonando pra isso? Não, claro, compreendo, você queria conversar comigo e aproveitou a oportunidade. Mas que encomenda é essa? Não abriu? Parece um tecido? Jura? Pode abrir, sim, abre e me fala o que é. Sim, aguardo, mas não demora, tenho de ir à ginástica. Isso, estou em forma, você precisa ver o meu corpinho. Pega sim, espero. [...] O quê, um vestido? Branco, estampado com flores azuis? Ah, sim, agora sei o que é. Um bilhete?, dentro do embrulho. Pode sim, lê pra mim, quero saber o que o engraçadinho do Antônio escreveu. “Você não me contou como fez pra voltar pra casa sem ele”. Só isso, Glória?, não entendeu? O quê?, sem o vestido?, está louca?, Glória, como eu ia andar nua por aí? Já ouviu falar em histórias assim? Ah, Glória, não queria tocar nesse assunto, é muito desagradável. Promete não falar pra ninguém? Sei que você é pessoa confiável, por isso o Antônio deixou esse vestido com você. Já não quero falar com ele, sabe, foi um episódio que desejo esquecer. Não sei se dá pra falar pelo telefone, acho que passo aí mais tarde. Apanho o vestido e conto pra você. Agora vou pra ginástica. Lá pelas cinco e meia está bom? Então tá, vou sim.

Ele é terrível, Glória, inventa cada coisa. Acho que as mulheres acabam gostando. No começo eu ficava meio temerosa, mas depois passei a gostar também. Sabe como é a cidade, não tem nada pra fazer. Ele me chamava pra sair de noite e me levava lá pro Pecado. Primeiro comíamos e bebíamos alguma coisa ali no Ilha Linda, depois me arrastava pra beira da praia. Eu dizia Antônio, temos minha casa, por que isso? Mas ele queria que eu tirasse a roupa ali mesmo. Não foram só essas coisas. A gente ia também pra Rio das Ostras, lá pra Joana, ao entardecer. Ele cismava de me deixar nua dentro d’água. Sabe, Glória, essas fantasias esquentavam o relacionamento. Então aconteceu. O caso do vestido. Que é o motivo de minha vinda aqui à sua casa. A gente já tinha terminado, mas às vezes eu encontrava com ele pra um café, ali perto da Silva Jardim. Ele me contava como estava e eu falava um pouco de mim. Antônio gostava de escutar sobre o meu atual casamento. Achava estranho eu ficar aqui na cidade e meu marido a maior parte do tempo lá na serra. No final, ele ia comigo até perto de casa, depois me deixava e ia pra faculdade, onde leciona à noite. Numa dessas tardes, quando me acompanhou até em casa, convidei ele pra subir. Não repara que está a maior bagunça, a casa cheia de trastes. Antes de entrarmos, ele ainda lembrou um episódio engraçado. Certa vez, quando éramos namorados, ele me pediu pra descer nua, ficar um pouquinho do lado de fora e depois voltar pra ele abrir a porta e me receber peladinha, como ele falava. Acabei correspondendo ao desejo dele. Lembra que você veio aqui embaixo nua?, ele disse. Você não esquece essa história, respondi. Subimos e ficamos lá durante algum tempo. Então ele me fez o mesmo pedido. Você vai nua lá embaixo? Tá maluco, rebati, aquilo tudo já passou. Então ele começou com certo ardil. Eu pago pra você tirar a roupa, falou. Pagar, não sou prostituta. Não se trata de prostituição, disse ele, apenas uma ajuda, e sei que hoje as pessoas sempre precisam de algum dinheiro; dou a você cem reais. Cem reais?, o que é isso?, está me comprando?, contra-argumentei. Não se trata de compra ou venda, apenas um presente; aumento o lance, vamos dizer, cento e cinquenta. Não, Antônio, esquece, não vou tirar a roupa. E por duzentos?, ele continuava. Me veio à cabeça que consegui esse corpinho com a ginástica, e que estava atrasada na mensalidade. O pensamento me deu um arrepio. E ele notou, viu que eu titubeava. Sei que você está precisando, aumento mais cinquenta. Tirou o dinheiro do bolso e colocou sobre a mesinha de entrada. Fiquei, então, olhando as cinco notas de cinquenta, depois virei pra ele. Fiz uma negativa com a cabeça. Mas acabei tirando o vestido. Por trezentos e cinquenta reais. A roupa toda, também a roupa de baixo. E foi essa a história. Fui pelada lá fora. Caminhei até o quintal. Ao voltar, reparei que ele tinha desaparecido. Levou com ele meu vestido, calcinha e sutiã. E eu naquela casa cheia de trastes, sem roupa alguma pra vestir, todas estavam em Glicério, onde moro. Você quer saber como fiz para sair dessa situação? Olha, pelo bilhete, acho que ele quer saber também! É verdade, não, eu não tinha em casa um mísero pano pra me enrolar, só todos aqueles trastes...

quarta-feira, outubro 28, 2015

Meus lábios molhadinhos

Eles estão pra chegar, e o problema não é eu acabar surpreendida. Sempre achei que um dia esses pedidos do Walter me deixariam numa situação comprometedora. Que horas são? Onde o celular? Ah, quatro e quinze, daqui a pouco vai amanhecer, o que me resta a fazer? A gente  acaba morrendo por causa de um homem, uma paixão, namoro, tesão, e ele a fazer pedidos impossíveis. Você vai adorar, diz, não desejará outra vida. E a burra aqui acredita. Um friozinho na barriga pra tornar tudo mais excitante, desafios, qual mulher não gosta de desafios, de ter algo para contar às amigas, mesmo que elas não acreditem?, você vai adorar, ainda ele, com sua voz de sedutor, beba uma dose, é pra relaxar, insiste meloso, você gosta de doce, eu sei, depois da bebida, o doce contrabalança, e o arrepio vai ser maior, com esse seu corpo de modelo você pode abusar um pouquinho, não?, sei que vai sentir um arrependimento pequenino depois, vai exclamar por que comi o doce!, vai fazer exercícios, vai correr, suar e dizer que eliminou o docinho, você é tão gostosinha, ele continuando e eu acreditando, vem vamos namorar... Eu nua nas mãos do homem. Uma amiga veio me dizer que não quer mais namorado, não precisa dele, resolve tudo sozinha. Mas você não tem necessidade de sexo, de transar com alguém?, pergunto. Tenho, mas resolvi a situação, e sem namorado, ela sorri satisfeita, parece ter descoberto todos os segredos do mundo. Mas como?, curiosa, eu. Ela com seu sorrisinho cínico. Já sei, suspeito e falo, você transa sem ter o homem como namorado. Ela continua cínica que só, sorrisinho que não tenho como definir. Você já engoliu um pedaço de cuscuz inteiro?, sua pergunta me deixa os lábios molhadinhos. Não espera minha resposta. Como o cuscuz, espero cinco ou dez minutos, às vezes vinte, depois corro ao banheiro; prestes a colocar o dedo na garganta para devolvê-lo, sento no vaso e espero ainda um pouquinho, penso não posso perder este meu corpinho de modelo, e passo a mão sobre o ventre, já pensou se crio barriga, lá se vai meu emprego, lá se vai a admiração das  pessoas por mim; espero mais alguns minutos antes de enfiar três dedos goela abaixo; ah, acho que meu organismo já está processando o doce, tudo está virando uma massa de açúcar que me vai pelo corpo, não vou ter como evitar algumas gordurinhas, começo a achar que não tem mais jeito, o doce não volta, não haverá a mínima possibilidade, então junto as pernas aperto uma contra a outra, e na incerteza se devolvo ou não o cuscuz gozo que é uma maravilha; mas logo que volto a mim forço o vômito e ponho pra fora o doce, ele sai inteirinho, eu que dei alguns passos à beira do abismo vou ao orgasmo mais uma vez, não preciso de namorado, viu como é fácil?, finaliza a amiga. E o meu, com a história da bebida e do docinho me deixou nua, disse que me faria sentir um orgasmo jamais experimentado; prestem atenção na frase, orgasmo jamais experimentado. Acreditei. Como sou boba! Acreditei. Como se pode comprar um pedaço de cuscuz às três da manhã? Ainda o cuscuz, por que fui dizer a ele? O namorado assegurou que conhece um lugar. Saiu às escuras, e eu aqui. Fique só um pouquinho, volto logo. Foi o homem, eu deitada numa cama larga. Mas vejo que ele não volta. O apartamento é dele mas não mora sozinho. Tenho desfile às três da tarde, alertei, preciso descansar. Ok, vamos fazer a prova do docinho, voltou ele ao assunto, você nunca sentiu nada igual. Eu, agora na sala. Pra quem ligo? Que vergonha... Ai, ele levou a chave, mas ainda bem que não trancou a porta. Tenho de ligar pra uma amiga. Venha me salvar, não posso sair daqui desse jeito. Sem o docinho?, ela quer saber. Que docinho, que nada, é outro o problema, sabe, tão chato falar pelo telefone, venha logo, não demore, se ele não volta e chegam as pessoas que moram aqui como vou fazer? Mas o que há?, diga que espera por ele, as pessoas compreendem, ela contrapõe. Não compreendem, não, jamais vão compreender, a não ser que estejam em comum acordo com ele, vão querer outra coisa. O quê?, minha amiga não deixa de lado pergunta alguma. Lembra da Joyce, intervenho, aconteceu algo semelhante, e o problema não foi ela estar nua, ela nem liga pra isso, a Joyce gosta de dar pra todo mundo, o problema foi ter de comer uma caixa inteira de chocolates, eles a forçaram, e não deixaram ela ir ao banheiro, amarraram suas mãos às costas, soltaram três horas depois, a digestão já feita, e ela sem poder colocar os bombons pra fora, uma tragédia. Norma, vou dormir, por favor, não posso ajudar você, também tenho de desfilar, não há como ir a esse apartamento. A amiga desliga, ouço o portão abrir, vozes subindo ao segundo andar, passos de duas ou três pessoas. Não é problema estar nua, não é problema não encontrar minhas roupas, não é problema ter de trepar com eles; ai, três homens, e o que trazem? Não, por favor, não, tenham piedade, levanto às mãos diante dos seios, mas sem preocupação em escondê-los, faço o que vocês quiserem, continuo a falar, mas não me obriguem comer a bandeja inteira de cuscuz, por favor! Sinto o cheiro de coco, meus lábios molhadinhos...

quarta-feira, outubro 21, 2015

Não lhe dou inteira responsabilidade

“Não lhe dou inteira responsabilidade”, ela me disse.

Como, não?, pensei. Ela resolveu ficar nua dentro d’água e me deu o biquíni. Isso mesmo, a parte de baixo, para eu guardar. Não ficou totalmente nua, é claro, vestia o top.

“Com o top dá pra disfarçar”, falou Lena.

Lena já não é uma garota, acho que passa dos quarenta, quem sabe cinquenta, e o corpo de menina. Gosta de se mostrar, de namorar o perigo.

“Pra que essa brincadeira?”, eu, mais nervosa do que ela.

“Vá embora, depois conto, vem ele aí.”

Terminou de falar e voltou-se para o horizonte. Saí d’água, a praia frequentada por algumas pessoas locais, outros turistas, manhã de maio.

‘Não lhe dou inteira responsabilidade’, a voz dela ressoava na minha cabeça. Como, não?, seu biquíni nas minhas mãos, me encarregara de guardá-lo e depois devolver a ela quando fizesse um sinal. Caso eu mudasse de ideia, poderia ir embora e deixar Lena nua dentro d’água. Como não a responsabilidade? Ela confiava demais.

Percebi o homem chegando, aproximando-se, rodeando Lena, a mulher mais tranquila do mundo. Enfim, os dois começaram a conversar. Tive vontade de correr até ela e devolver o biquíni. Ele não notaria, as águas não estavam tão claras, mas Lena ia tão dona de si. Na certa, ralharia comigo, depois, me chamaria de precipitada.

‘Quando não tenho você pra me ajudar, enrolo o biquíni no punho, como uma pulseira. Eles não reparam que estou nua’, dissera certa vez.

Os dois entabularam uma conversa longa, não acabava mais. Então, aconteceu. Surgiu o Celso.

“Oi, como vai, não fala mais com os pobres?”, perguntou.

“Oi”, respondi olhando para o mar.

“Está esperando alguém?”, parecia cheio de desejo.

“Ninguém.”

“Ótimo, então hoje você não escapa, vem comigo pra uma bebida.”

“Não posso”, tremi. Era minha a responsabilidade.

“Como, não?”, insistiu, “você não está fazendo nada, e tenho uma fofoca pra te contar.”

Suspirei, ele sabia da minha queda pela vida das amigas.

“Sabe quem está com o Antônio?”

Aquilo dizia respeito a mim, e ele insistia.

“Você não vai querer saber?”, fez ar de malícia.

O Antônio fora meu namorado, me trocou por outra, eu ainda sentia uma ponta por ele.

“Quem é ela?”, eu, curiosa.

“Só se você for comigo tomar uma bebida.”

“Não posso, estou encarregada de uma tarefa.”

“Mas tarefa aqui na praia?, do que se trata?”

Não podia dizer que guardava o biquíni de uma amiga enquanto ela se aventurava nua com um desconhecido.

“Ai, que cidade mais entediante”, cheguei a exclamar.

“Que tal a bebida?", ele devolveu, "a revelação vai tirar você do tédio.”

Olha lá a Lena, mostrei ao Celso, ela é que está certa, sempre rindo e sempre se dando bem.

“A Lena é especial”, acrescentou.

Isso, a Lena é especial, pensei. Se é especial, terá a solução quando reparar que desapareci com o biquíni dela. E, além do mais, ainda gosto do Antônio, sussurrei a mim mesma, preciso ter ele de volta.

“Ok, onde a bebida?”

“Em Rio das Ostras.”

“Tão longe”, suspirei, “não pode ser aqui perto?”

“São só quinze quilômetros, e também quero te mostrar uma coisa."

Celso trabalha com incrustações de pedras semipreciosas em tecido.

"Estou preparando uma coleção que vai fazer o maior sucesso, quem sabe dou a você um presente?", ele incentivava.

Lena, espere por mim, daqui a pouco volto de Rio das Ostras, lhe falei em pensamento. Não lhe dou inteira responsabilidade, você mesma disse, Lena, por isso não sou a responsável.

Celso parou na Joana, a praia estava deserta, apenas o quiosque  e o funcionário. Bebemos uma, duas, três cervejas. Contou do Antônio, da namorada do Antônio, de que não me seria difícil ter o Antônio de volta.

Quando fomos até sua casa, não muito longe dali (ela ficava numa elevação de onde se podia ver o mar, uma beleza), ele trouxe uma série de biquínis para a nova estação, alguns com cada pérola que parecia diamante.

"Se você quiser, faço uma aplicação nesse seu biquíni, mas só devolvo amanhã."

"Espere um pouquinho".

Fui ao banheiro e vesti o biquíni de Lena.

"Que legal, você é prevenida mesmo, viu. Mas o que eu queria é que você fique nua", sugeriu.

Fiz uma pose e sorri.

A estada na casa do Celso naquele fim de tarde serviu pelo menos pra afastar o tédio que eu sentia desde cedo.

Quando voltamos, já era noite. Esse Celso é bom de cantada, concluí. Só não gostei quando falou sobre o biquíni da Lena, que eu usava pra voltar.

"Engraçado, esse teu biquíni reserva não me é estranho, acho que já esteve lá em casa", deu uma risadinha.

Arre. Todos os homens são iguais. Ele também já trepou com a Lena!

Só no dia seguinte consegui falar com minha amiga. Aliás, depois do que fiz, não sabia se ainda poderia me considerar sua amiga.

“Por que você afirmou, Lena, 'não lhe dou inteira responsabilidade'?”

“Nada de mais, apenas uma frase de Clarice Lispector. Pensei alto. Não liga não. Até que me caiu bem.”

"O quê?"

"A Clarice Lispector, ora; a Clarice Lispector e você!"

quarta-feira, outubro 14, 2015

Comecei a gostar da situação

Eu voltava da sessão de fotos. Como era minha primeira vez, queria logo entrar no vestiário, me aprontar e ir embora. Mas quando dei dois passos, Henrique me chamou. Espera, não vá já não. Parei e olhei pra ele, não sabia onde pôr as mãos. Entra aqui, apontou uma pequena sala cuja porta estava entreaberta, senta naquele sofá e me espera um pouquinho. Eu quis dizer que precisava das minhas roupas. Ele, parecendo ouvir meus pensamentos, acrescentou vou mandar alguém trazê-las.

Tudo começou havia um mês. Vai haver um desfile, falara ele, que tal? Sorri. Ótimo, eu disse. Um desfile e uma sessão de fotos. Virão  muitas modelos, você pode ser mais uma. Que bom, falei feliz. Ele fez minha inscrição, disse que se responsabilizava. Eu não era de agência, mas ele garantia. Foi assim que começou. Fiz alguns ensaios com uma amiga dele. Ela disse você é bonita, para casos assim tudo se resolve.

O homem está fazendo um livro de fotos de modelos nuas, o corpo como protagonista, tudo muito artístico, ele deseja lançar uma nova grife, ainda que pequena, mas de grande futuro, Henrique garantira.

Ah, que bom, você compreendeu, disse meu protetor, sentadinha e esperando por mim, como pedi. Não tem problema eu desse jeito?, perguntei e insinuei minha nudez. Ele, porém, fingiu não entender, apenas perguntou está com frio?, há um roupão ali no armário, apontou ao fundo. Não ousei levantar. Já pensou se abro e nada encontro? Uma amiga contara algo semelhante. Esses homens gostam de ver mulher nua a correr de um lado a outro. Aliás, adoram descobrir o que fazemos com as mãos vazias. Você compreende essas coisas, não?, disse ele despertando-me, é um pouco complicado, mas damos um jeito, no final não sai de graça, falou como se tratasse de negócios, depois afastou a cadeira e ficou em pé. Levanta, por favor, pediu com certa humildade. Obedeci, deixei o pequeno sofá e me aproximei. Você é bonita, e muito, disse e deslizou ambas as mãos pelos flancos do meu corpo, desde os seios até abaixo do bumbum. Você é quentinha, mesmo no ar condicionado do estúdio, continuou, mas tenho de dizer mais uma coisa, pra que tudo dê certo você precisa ver outra pessoa, sabe, não sai de graça, ele também é de TV. Outra pessoa?, assustei-me. Depois de alguns segundos, Henrique saiu sem fechar a porta.

Um homem gordo, muito gordo mesmo, entrou após um ou dois minutos. Representava alguém com traços de afeto, mas era mal no papel, queria fazer de conta que tudo seria fácil, bastava ele dar a aprovação. Chegou bem junto a mim e abraçou-me. Seu corpo volumoso, porém, não permitiu o abraço completo. A porta está aberta, sussurrei vexada. O que tem a porta?, não há mais ninguém aqui, apenas nós dois. Um frio me gelou o estômago, como não há mais ninguém?, suspirei por Henrique, por minhas roupas que já não sabia onde estavam. Não se preocupe, o homem falou, abaixou as calças e pediu que eu engolisse seu pênis. Foi essa a palavra dele, engolir, disse que era algo mais saboroso do mundo. Hesitei, mas acabei assentindo. Seu sexo, pouco a pouco, foi crescendo dentro da minha boca até quase não poder mais retê-lo. Olhei pra cima, embaraçada com a situação. Não falei a você?, as mulheres adoram. A seguir, ele sentou bem no centro do sofá e pediu que eu viesse sobre seu colo. Seu pênis estava bastante rijo. Isso ele tinha de bom, e acho que percebeu que eu comecei a gostar. Abra bem as pernas. Fiz o que pediu. Não demorou a escorregar pra dentro de mim. Quando estava bastante excitado, começou a girar meu corpo, tendo seu pênis como eixo. Abri o máximo que pude as pernas. Ele me conseguiu girar de ponta a ponta, deu um grito e delirou de prazer. Ao aproximar-se o gozo, retirou o pênis e forçou minha cabeça até seu baixo ventre. Engula, por favor, ele disse. Foi o tempo certo de inundar minha boca com toda a porra. Cuidou pra que eu nada derramasse. Enfim, apertou meus lábio com uma das mãos e esperou que eu engolisse. Após nos desembaraçarmos, pediu vá a copa e traz um cafezinho pra gente.

Depois que o gordo saiu, Henrique demorou a voltar, e quando apareceu, estava de mãos vazias. Minhas roupas?, perguntei. Calma, garota, ainda não acabou, senta ali, agora é a minha vez. Apanhou não sei de onde um gel, colocou um pouco numa das mãos e começou a espalhar sobre o meu corpo. Assim, você fica mais gostosa.

O sexo com ele ocorreu da mesma forma que com o gordo. Pareciam ter combinado os dois. Mas Henrique foi mais elegante, incluindo o cuidado para que eu não me machucasse. Pediu também que eu chupasse o seu pênis até quase gozar, quando então se controlou e sugeriu que eu contasse uma história excitante, porque gostava de narrativas eróticas na voz das mulheres, assim gozaria mais intensamente. Tenho certeza de que você não vai me decepcionar, falou animado. Uma história, fiz de conta que me envergonhava, espera um pouquinho. Sentei no sofazinho, cruzei as pernas, suspirei e disse a ele o que vai a seguir.

Saí de uma boate às quatro da manhã e resolvi ir à praia, você acredita? Logo ali, perto do posto sete. Tirei a roupa escondidinha e mergulhei. A água fria do mar iria me reabilitar, pelo menso era a minha intenção. Jamais me senti tão livre. Só que houve um probleminha. Pensei estar só. Mas apareceu um homem (parei de falar, respirei fundo e esperei com a intenção de criar expectativa, fiz uma fisionomia de que, naquele final de madrugada, me encontrava sem saída). Ele não entrou na água, ficou esperando por mim. Pela paciência que demonstrava, acho que ficaria horas ali. Permaneci de molho por um bom tempo. Como ele não deixava o local, o jeito foi sair da água nua mesmo. Acho que cheguei a mostrar uma ponta de vexo. O homem, no entanto, me surpreendeu. Foi elegante. Gostou do "no entanto"?, sei contar histórias, não? Voltando, ele foi elegante mesmo. Tão logo olhou meu corpo, me deu o maior conforto. Você é bonita mesmo, falou. Agradeci, e permaneci um tantinho de lado pra ele, minha atitude revelava certa indecisão, talvez ele interpretasse que eu tentava me lembrar onde deixara as roupas. Apenas isso. Sei que você pode dizer o homem não te agarrou? Você é que não quer contar! Não agarrou, não, foi elegantíssimo. Eu que, de repente, abracei o homem, ainda molhadinha. Daí em diante, imagine o que aconteceu. Você faz questão que eu conte? Poxa, gosto de ser sutil. Mas, tudo bem, vou fazer sua vontade. Ouça. Comi o homem ali mesmo!

Acabei a historinha rindo bastante. Henrique pediu para eu me aproximar, abaixou e mordiscou meu clitóris. Fiquei toda arrepiada. Depois apontou pra eu chupar de novo seu peru. Fiz com uma vontade louca. Sou o homem que encontrou você nua na praia, lembra? Henrique, enfim, gozou. Três esguichos fortíssimos. Quase engasguei, por um milímetro consegui manter a elegância. Depois fiz que viesse sobre mim e que me fodesse com todo ardor. Apesar de ele já ter gozado, não decepcionou. No final, não sabia que eu ainda era capaz de deixá-lo de pinto durinho. Bastou sussurrar no seu ouvido vai buscar minhas roupas, não posso voltar peladinha pra casa!

terça-feira, outubro 06, 2015

E eu que queria chegar em casa peladinha

Aquela estrada. Meu desejo crescia quando passava por ela.

Ai, gemi.

O quê?, ele quis saber.

Nada, sussurrei.

Cruzei as pernas, o vestido a me escapar. Continuou dirigindo. Apenas nosso carro, faróis cortando a escuridão. Jorge sabia o que significava meus ais. Mas esse namoradinho era inexperiente, acho que cortês demais, sua preocupação era guiar. Cheguei a pensar em pedir que parasse, diria que estava com vontade de fazer xixi, sairia e voltaria nua. Como ele reagiria?

Jorge que era bom, diferente. Mandava eu descer, tomava toda minha roupa. “Espera um pouco que já volto”. Mergulhava na escuridão, adiante. Eu, pra trás; ele cada vez menor, mais distante. Sumiam os faróis. Eu e à noite. Meu coração aos saltos, toda molhada. O gozo. Mas um gozo diferente. Voltava trinta minutos depois. Certa vez demorou uma hora, achei que não vinha. Acabei aprendendo a gostar das situações perigosas. Não podia contar ao namoradinho. Me chamaria de louca, masoquista. O desejo, porém, crescia. E como.

Para um pouco, vamos namorar, sugeri.

Nessa escuridão?, ele.

O que tem?, entra com o carro num atalho.

Tive de ensinar. Pronto, apenas nós e as estrelas. Ficamos a olhar um ao outro. Me puxou pra junto dele. Um beijo na boca. Mãos sob meu vestido.

Você quer transar aqui?, perguntou.

Hã hã, afirmei com cara de safadinha.

Tirou minha roupa.  Restou sutiã e calcinha.

Já cheguei em casa de sutiã calcinha, afirmei.

 Jura?, conta então como foi.

Você gosta de histórias, não? Conto, sim. Mas me tira primeiro a calcinha.

Atendeu. Depois deitou o banco e abriu a calça. Puxei o pinto. Dei uma mordidinha. Subi sobre ele, as pernas bem abertas. Me acertou de primeira.

Espera, viu, não goza não, sei que está gostoso e que você vai por um triz, mas vamos fazer bem demorado. E ainda tem a historinha...

A maioria dos homens são decepcionantes. E eu que queria chegar em casa peladinha!

quarta-feira, setembro 30, 2015

Tímida arrepiada

Oi, Margarida, tenho lido seu blog, você escreve muito bem, seus contos tem muita poesia, gosto do estilo, mas as situações... Será que não contribuem para que os homens se aproveitem e subjuguem as mulheres? Será que não influenciam as mulheres a se arriscarem de modo comprometedor? Não sou moralista nem desejo censurar você, mas seus contos...

Tenho um medo que me pelo de que me larguem nua por aí. Jamais aceitarei sair cada dia com um homem diferente. Ouço cada história que me faz ficar de cabelo em pé. Me separei há dois anos. Sempre tive uma vida recatada. Até então, meu ex-marido foi o meu único homem. Tentei ao máximo segurar o casamento, mas chegou a um ponto que não consegui. Fiquei um ano sem transar. Ao conhecer o primeiro homem nessa nova fase, foi um suplício. Que vergonha! Como ele demorou pra conseguir me levar pra cama. Eu arranjava todo tipo de desculpa para não ficar a sós com ele. Ir à casa dele, nem pensar. Não sei como teve tanta paciência, e olha que por aí mulher é o que não falta. Na primeira vez que me deixou nua, suei frio e corri para o banheiro. Fiquei uma hora trancada. Ele até bateu na porta pra perguntar se eu estava me sentindo mal. Com o correr do tempo, fui me entregando. Pena que o namoro não deu certo. Ele era muito legal, mas descobri que tinha pelo menos duas outras mulheres. Tive mais três namorados. Somente com o último foi que consegui manter um relacionamento que dura até hoje. Sempre no começo sinto uma enorme aflição, apenas depois da terceira ou quarta transa que consigo me soltar. Então já sou capaz de não tremer nem enrubescer. Mas no começo é muito difícil. Tenho amigas que são livres e independentes. Não querem ter compromisso com homem algum. Saem casualmente com o homem da vez sem o menor medo nem pudor. Não sei não, acho que não nasci pra uma vida dessas. Uma delas me pediu segredo. Nas saídas com homens alternados, me contou que já passou por situações perigosas. Certa vez, quase passa a maior vergonha. Um deles trepou com ela dentro do carro, que era dela mesmo, depois foi embora levando dentro da pasta toda a sua roupa. E eram quatro e meia da madrugada, faltava pouco pra amanhecer. Disse que foi um sufoco chegar em casa daquele jeito... Mas a safada ainda saiu com ele outras vezes, e pelo tom da sua voz acho que passou a gostar daquelas aventuras! Já pensou, nua na madrugada num lugar público, arriscando-se a ser surpreendida pela polícia? Não quero passar por isso, não. Me casei aos vinte e seis anos, namorava-o desde os dezesseis, pensei que ele seria o meu único homem. Mas não deu. O que fazer? Depois de quinze anos de casada, me separei. Ainda bem que estou com esse outro. Demorei pra encontrá-lo, demorei pra deixar que me despisse. Mas valeu a pena. Outra amiga minha diz que gosta de namorar com o perigo. Será que isso não é uma doença? Sai com o homem às vezes no mesmo dia em que o conhece. Nem toma referências. Diz que nunca aconteceu nada de errado com ela, sua única exigência é trepar de camisinha. Quando contei o caso de minha amiga pelada no automóvel, me disse que já ouviu muitas histórias desse tipo, mas que a maioria é fantasia criada pelas próprias mulheres; na verdade, gostariam de viver a experiência. “Houve um caso”, contou-me, “que aconteceu com uma colega de trabalho. Esse é verdade”, assegurou ela. A mulher conheceu um rapaz na praia, momentos depois ambos entraram na água e fizeram amor. Quando acabaram, o jovem foi pra areia levando o biquíni dela dentro da sunga. Ela não falou nada, ficou excitada com o que pensou ser uma brincadeira dele. Tentava, talvez, criar o clima pra mais uma transa. Ao perceber que ele não voltava, começou a ficar preocupada. Diz que permaneceu duas horas de molho. Um belo senhor ao percebê-la inquieta, aproximou-se. Acabou por resolver-lhe o problema. Muito discretamente. Nos dias sucessivos marcaram alguns encontros tornando-se namorados. Ele até pagou uma viagem à Europa pra ela. Disse que se não fosse a brincadeira juvenil, não teria lucrado tanto com o mais velho. Já pensou se acontece isso comigo, nua na praia? Ai, acho que não consigo esperar nem um minuto. Saio correndo da água. Ainda bem que tenho meu namorado, e ele não pensa nessas coisas. É um homem muito correto!

Marg, apesar de tudo, é verdade que seus contos dão um arrepio... Às vezes me surpreendo sentindo prazer com todas aquelas situações. Mas, por enquanto, apenas na imaginação. Quem sabe, um dia, me permito deixar pelo menos a meia nas mãos de um desconhecido?

terça-feira, setembro 22, 2015

Que profundezas!

Certa vez fui visitar um escritor amigo meu. Era sábado de Carnaval. Como ele escreve contos e romances profundos, que tocam os limites da alma humana, queria perguntar como devia fazer para escrever algo semelhante. Mas ao chegar nem tive tempo de fazer a pergunta. Ele foi logo me pedindo emprestado o vestido que eu trazia sobre o corpo, queria se divertir fantasiado de mulher no bloco das piranhas, que sairia numa rua próxima, naquela mesma tarde. Meu vestido?, repeti, surpresa. Ele acrescentou o que tem de mais?, é carnaval. Fui ao banheiro e tirei a roupa. Quando reparou que eu vestia biquíni, pediu também as duas peças. Mas vou ficar nua... O que há de mal nisso? Você não quer explorar as entranhas da alma humana?, respondeu adivinhando o porquê da minha visita. Além disso, pode ir ao meu quarto e vestir uma camisa de malha à sua escolha, estão todas no armário, completou. Feliz, desceu para o seu Carnaval. E eu fiquei a esperá-lo. Que chá de cadeira ele me deu... Passaram-se duas, três horas e nada de ele voltar. Lembrei-me de uma amiga que teve de ficar sentada nua num escritório durante três horas; o namorado, um advogado, foi a uma audiência e de brincadeirinha levou as roupas dela na pasta. Acabei fazendo o que meu amigo sugerira. Fui ao quarto, abri o armário e vesti uma camiseta. Caiu como um vestidinho. Desci. Lá na rua passava um bloco, e não era o do meu amigo. Logo um rapaz veio ao meu encontro. Me abraçou, me beijou e me puxou pelo braço. Quando dei por mim, brincava com ele. Ai, se descobrem que estou nua, pensei. Carnaval. Aliás, foi assim que passei a gostar de Carnaval. E nunca me diverti tanto como naquele dia. Foi assim que também passei a entender as profundezas da alma humana. E que profundezas, diria meu amigo escritor, diria horas depois o folião apaixonado.

terça-feira, setembro 15, 2015

Gosto de homens que sabem amar

Ela tem olhos redondos, e gosta de andar pela praia, apesar de já entrado o outono. Veste o mesmo biquíni do último verão, mas não o top, cobre seu tronco uma blusa de mangas compridas, blusa quase de homem. Passeia os quatro quilômetros, toda a extensão da praia. São cinco da tarde, o tímido sol ainda possui raios para aquecer-lhe as pernas nuas. Às vezes, ela arrepia-se. Sente-se bem por resistir ao avanço da estação. As casas dos veranistas estão vazias, praticamente todos já se foram. Ela certamente não irá, porque mora naquele lugar. As ondas explodem a alguma distância, ela admira o mar.

Lembra a noite em que o filho de dona Oliva esteve na praia. Um rapaz que partiu para estudar no exterior. Chama-se Marcelo, mas costuma pensar nele como filho de dona Oliva. O rapaz, na verdade já homem feito, a olhou com ar de admiração. Surpreendeu-se ao vê-la de biquíni àquela hora da noite. Quando conversaram, disse que pensou que ela estava nua. Sorri, o que eu podia dizer?, falou no dia seguinte a uma amiga. O que aconteceu?, a amiga demonstrou curiosidade. Nada de mais, retrucou. No entanto, não era verdade. Marcelo a conhecia desde garota, vira-a crescer, correr pela praia, lambuzar-se na areia com o corpo salgado e molhado, agora vendo-a mulher feita, o corpo esguio, transpirando certa sensualidade e de biquíni ao anoitecer, percebeu que poderia haver qualquer coisa entre os dois. Ela riu a ele quando cruzaram-se, eram os únicos entre a paisagem semi-selvagem. Ela, a princípio, seguiu em frente; o rapaz não quis mostrar-se indelicado, retribuiu o sorriso e deu mais alguns passos; mais adiante, porém, estacou e fez de conta que olhava o mar; em seguida voltou-se para onde a moça caminhava, enfim, pôde apreciá-la por trás. Como que adivinhando alguma imanência entre os dois, ela deu meia volta e descobriu-se no campo de visão dele. Ambos sorriram mais uma vez, embora a distância e o cedo entardecer da estação borrasse a ela uma clara visão da  expressão facial de Marcelo. Ele titubeou; iria até ela ou esperaria a aproximação da mulher? Sua indecisão provocou uma expansão do sorriso na face feminina. Ou significava uma expressão de quase júbilo? Ele não poderia ficar a vida toda ali parado. Você não sente frio?, perguntou sem olhar às pernas dela. Estou acostumada, devolveu simpática. Ele encontrou o caminhou mais fácil, talvez o caminho óbvio, de todo homem que se depara com uma mulher e quer iniciar um diálogo. Já nos conhecemos, não é mesmo? Naquele caso era verdade, tinham crescido na mesma cidade, andaram, ela ainda andava, por aquelas praias e areais durante a infância e adolescência, mas também era verdade que jamais aproximaram-se, o círculo de amizade de cada um era distinto. Marcelo abriu um tímido sorriso com um dos cantos da boca, sentiu o ar nos pulmões, ar fresco que também lhe chegava ao estômago provocando-lhe intensa excitação. Ela estirou os braços e enlaçou vagarosa as mãos, um pouco acima do biquíni, chegou a espreguiçar-se, estalou alguns ossos, talvez uma indelicadeza com o rapaz que vinha de fora. Ele, porém, sentiu vontade de abraçá-la. Como ela reagiria? Gritaria ou diria que ele a interpretara mal? Melhor não arriscar, pensou Marcelo. Ela moveu as duas pernas, uma após outra, mais um sorriso. Você esteve fora muito tempo, disse e esperou pela reação dele. Ele talvez pensasse que sua oportunidade passara, ela agora era de outro. Mas onde estaria esse outro em meio à solidão do lugar, à vastidão da praia? Sentiu a respiração pesada, o ar ainda mais frio, olhou a ela ameaçador. Os homens que estudam fora não são os brutamontes que vivem por aqui, falou ela. Marcelo sentiu-se desarmado. Talvez ela quisesse conversar, saber dos assuntos de fora. Foi então que ela deu um passo à frente e lançou-lhe o mais sedutor de todos os sorrisos. Ele a abraçou, e ela aceitou de bom grado o abraço. Ela ainda lembra de uma frase sussurrada ao seu ouvido, não tem certeza se antes ou depois do amor. Você não teme que possa surgir um desconhecido? Apenas manteve o sorriso e suspirou um quem sabe.

Anoitece e ela está só. Marcelo já se foi, ao exterior, um lugar distante daquela praia, um lugar difícil de imaginar. Ele nada prometeu a ela. E nem ela viveria de promessas. O vento vem forte, um chicotinho de areia lacera-lhe as pernas. Mas ela gosta, aproxima-se mais da praia, quer tirar a blusa, lembra no entanto que está sem o top por baixo do pano. Talvez um homem vendo-a nua pensará duas vezes antes de acreditar nos próprios olhos. Caso um dos brutamontes da cidade apareça ela terá de se lançar ao mar, ou, quem sabe, entregar-se a ele e pedir tenha cuidado, sou frágil e gosto de homens que sabem amar.

terça-feira, setembro 08, 2015

O mesmo vestidinho

Não suportei, acabei ligando pra ele. Fazia tanto tempo, e a saudade era mais forte. Oi, que bom você ter ligado, falou. Sorri do meu lado, mas sem ele notar, é claro. Vamos marcar um passeio, completou. Um passeio?, demonstrei todo meu desejo na entonação. Isso, um chope, uma taça de vinho, ou uma bebida qualquer. Voltei no tempo, eu agarrada a ele, um beijo, um forte abraço, eu a acariciá-lo. Por que tudo acabou, qual o motivo da distância agora?, pensei. Perdemos as coisas como a água que escorre entre os dedos de nossas mãos. Vamos marcar então, afirmei. Ele disse a data, a hora, a noite. Após desligar, refleti se o telefonema fora boa ação.

Trabalhara para ele durante dois anos. Sempre com um jeitinho ingênuo, sedutor, acabou me conquistando. Nossa relação foi crescendo, ele invadindo o meu corpo e o meu espírito. Até que aconteceu algo inesperado. O sexo entre nós começou a me preocupar. Ele me fez gostar de coisas impensáveis, impublicáveis. E o pior, ou o melhor, não sei, comecei a me apaixonar cada vez mais por ele. Amarra-me, por favor, e bem forte, quero sentir a corda e o gozo, suspirava alucinada. O homem quase ia à loucura. Depois de me deixar em casa, eu sempre pensava, por que não trepamos como duas pessoas normais? O tempo foi passando, e cada noite com ele era caminhar à beira do abismo. E gostávamos do abismo, e eu nua à beira do abismo. O fio da navalha. O ponto culminante do nosso relacionamento aconteceu numa noite em que pedi, isso mesmo, pedi, é preciso ressaltar, leva-me amarrada e nua no banco do carona. Depois reconsiderei, no banco do carona, não, na mala do carro; na estrada escura você para e vou ao teu lado. Na primeira vez, foi um atropelo. Estávamos os dois excitadíssimos. Saí sem me preparar, não me preocupei com a fisionomia, com o cabelo nem com qualquer adorno. Na segunda, já mais experimentada, sugeri ir calçada, uma sandália de meio salto e uma bolsa pequena numa das mãos. O que ia dentro? O maço cigarros, um dinheiro, um pequeno rímel. Saímos da garagem de casa, eu nua na mala. Ele a guiar pelas ruas durante vinte minutos, até que atingiu a rodovia escura, noturna, o mundo era todo nosso. Ele parou, abriu o tampo da mala e me ajudou a sair. Caminhei à porta do carona. Passeávamos, eu saltava, ele fingia partir, acenava um adeusinho pra mim, mas logo voltava, não queria me perder para alguém que viesse a perscrutar a estrada deserta. Que sonho, encontrar uma mulher bonita e nua, roubá-la do namorado. Duas, três, quatro, cinco vezes, e eu nua ao lado dele. Até que falei não preciso gastar mais dinheiro com roupas, basta perfume e tratamento para o cabelo. Na sexta vez ele voltou à cidade e eu nua ao seu lado. Não teme a polícia?, perguntou. Então, tremi; nunca havia pensado em algum obstáculo. Mas não demonstrei, apenas sorri, acendi um cigarro, após dar um longo trago disse não, não temo. Certa vez em sua casa, experimentei outra sensação forte. Ele fez um exercício de relaxamento, e eu o segui; quando estava totalmente inerte, sem sentir o corpo, ele disse espere, volto logo. Voltou, veio com uma pinça e uma pedra de gelo. Vou deslizar a pedra sobre seu corpo e você não vai sentir nenhuma ponta de frio. No começo, a brincadeira deu certo. Ele passou a pedra sobre o meu ventre, sobre os meus seios, desceu até os poucos pelos púbicos de minha vagina. Nada sentia, estava em total estado de alheamento. Mas ao tocar meu clitóris, forte repuxo me veio lá de dentro. Ele desceu mais um pouquinho e beirou-me os grande lábios com o gelo frio, depois empurrou um pouquinho. Senti tremor e gozo inomináveis. Você engoliu a pedra inteira, ele disse. Venha me aquecer, pedi. Subiu sobre mim e me enfiou o longo pênis. Acho que procurava com o sexo o gelo perdido. O calor da penetração esfriou a pedra, e dela sobrou apenas o líquido insosso. Gozamos juntos. Noites depois, fui à sua casa vestindo um vestido de malha, colante e curto, muito curto mesmo. Ao chegar, ele exclamou como você veio assim pela rua? É noite, lembra?, devolvi, e vim de carro. Ele logo me roubou a roupa, e eu nada vestia sob. Outra noite ardorosa. Mas tudo acabou. Por quê? Não sei. Desaparecemos. Cada um foi cuidar da sua vida. E passou o tempo. Agora ligo, ele diz que vem, ou sou eu que vou, não sei.

Há mais uma coisa, e muito engraçada. Certa vez na sua casa, ao acordar, não encontrei meu vestidinho curto, o mesmo que vesti para surpreendê-lo na primeira vez. Você escondeu minha roupa?, perguntei. Ele jurou que não. Então, como pode ter desaparecido?, eu, surpresa. Tenho uma faxineira, sabe, ela deve ter vindo antes de acordarmos, e manda toda a roupa à lavanderia. E como fazemos agora?, assustei-me. Espera, vou dar um jeito. Tomamos café, e ele foi dar o seu jeito. Enquanto o esperava, fui à estante e tirei um livro. Dentro dele encontrei uma folha dobrada, escrita com letra de mulher, uma caligrafia um tanto tremida.

Fiquei morta de vergonha, ele telefonou bem no momento em que o Rui tinha acabado de me deixar nua. Vi o telefone piscando, pensei em não atender, mas não me contive. Quando escutei a voz dele, devo ter enrubescido. Lembrei o que sempre me diz: você dá pra todo mundo, hein? Assim que atendi, me convidou pra tomar um café, naquela mesma tarde. Hoje não posso, depois telefono. Desliguei e continuei nas mãos do Rui. Esse não perguntou nada, já me conhece; o negócio dele é trepar comigo. Às vezes bebemos umas taças de vinho, o que me acende. Quando o efeito começa a passar, morro de vergonha. Tento disfarçar, mas não consigo. E se gozo, nem se fala... Outro dia pedi que me despisse com violência, que arrancasse minha calcinha de modo que não servisse mais. Ele assim o fez. Mas depois que gozei, morri de vergonha. Mesmo sem ter falado nada ele notou. Disse baixinho, junto ao meu ouvido: não fica assim não, a gente dá um jeito. Que jeito?, retorqui, você por acaso tem em casa roupa de mulher? Imaginei abrir o armário e encontrar uma gaveta cheia de roupas íntimas, peças minúsculas. Assim, não me sentiria pelada. Como você tem tudo isso aqui? Rui: elas esquecem, e não ficam nem um pingo avermelhadas. Mas logo caí na real, a tal gaveta não existia. Teria mesmo de voltar nua, ou quase. Foi um desconforto: a saia curtinha, um top à-toa, uma jaquetinha que descia até o umbigo, a sandália de saltos e nada mais. O Rui sugeriu: da próxima vez, você traz outra na bolsa. Respondi: na hora do fogo nem penso nisso, o problema é depois... Eu estava de pé, pronta para ir embora, as mãos escapando de controle, a saia curta insuficiente para cobrir minha nudez.

A mulher morria de vergonha por lhe faltar a calcinha, e eu que estava ali a esperar por um duvidoso vestido?

O namorado voltou duas horas depois, o dia já perdido pra mim. Trouxe um vestido mais curto do que o meu. Pronto, vista, vai ficar uma beleza, falou. Vesti. Ficou uma beleza. Como volto?, é um vestido de noite. Não faz mal, levo você, afirmou. Entrei no carro nua, nua e de vestido. À porta da minha casa, ele quis entrar pela garagem, mas um carro impedia. Tive de saltar ali mesmo e entrar pelada em casa. Mas até que foi divertido. Agora ele vem, ou sou eu que vou, não importa, e visto o mesmo vestidinho, quem sabe.

quarta-feira, setembro 02, 2015

Por falar nisso, onde você escondeu o meu biquíni?

Durante uma semana, fiquei naquele Resort em Ilhéus. Quando faltava um dia para ir embora, me aconteceu o fato que passo a narrar.

Tinha acabado de sair da piscina, subi os degraus que levavam ao bar, mas antes de parar ali para pedir uma bebida, achei melhor ir ao banheiro. Contornei a construção. Ao passar em frente ao corredor dos banheiros, um homem jovem cruzou à minha frente e deu uma piscadela. Assustei-me, pois não percebi de onde ele saíra. Quando voltei ao bar, já aliviada, dei uma olhada em volta. Queria saber se ele ficara na piscina. Como eu usava óculos escuros, me senti protegida enquanto o procurava. Mas nada do homem. Desaparecera.

Sentada junto a uma das mesas, com uma caipirinha às mãos, o vi de novo. Mais uma vez me assustei. De onde saíra ele? Ao perceber que eu olhava em sua direção, caminhou até onde eu estava e parou. Morri de vergonha. Achei que a paquera tinha de acontecer de modo mais discreto. Ele, porém, não abdicou da impetuosidade:

Você é linda. E com esse biquininho mata qualquer um de tesão.

Eu não sabia onde enfiar a cara.

Mas ele mesmo me salvou.

Não precisa ficar tão envergonhada. Aqui, quando dois concordam, reina a paz. Caso a sua pele não esteja arrepiada apenas por causa do calor, me acompanhe. E não tema. Se ficar parada aí, você vai se arrepender.

Acreditei no homem. Levantei. Sempre segurando o copo de caipirinha, fui atrás dele.

Acabamos no seu chalé.

Mas o céu ainda está tão azul, o sol brilha, falei com minha voz cheia de manha.

E vai ficar assim por muito tempo. Daqui a pouco a gente volta, acrescentou.

Nem tive tempo de sentar. O homem me abraçou, e quando soltou meu corpo eu já estava nua.

Trepamos durante uma hora e meia. E que trepada!

No final, falei:

Você tirou minha virgindade...

Muitas mulheres falam isso quando acabam de transar com um desconhecido.

Neste hotel. Me deixa finalizar, ironizei.

Ah, desculpe.

Foi o suficiente para ele me pegar firme e me deixar arrepiada de novo.

Vamos agora para a piscina, convidou. O céu está azul; o sol, intenso.

Vamos, concordei. Mas primeiro, tenho de me vestir. Por falar nisso, onde escondeu o meu biquíni?

Você é tão gostosa. Acho que engoli!