sexta-feira, março 22, 2024

Franjas negras

No calor do baile de carnaval – sou atriz, a equipe de filmagem preferiu um baile verdadeiro no lugar de montar uma festa cênica –, entre os corpos suados e os ritmos enlouquecidos, me vejo envolta numa dança sedutora, onde a linha entre fantasia e realidade é muito tênue. No momento, ensaiamos. Vestida com meu biquíni mínimo, coberta apenas por franjas negras que se movem ao ritmo da música, apesar da seminudez não me sinto vulnerável, mas corajosa. "Por favor, não vai me deixar nua, não posso voltar pra casa sem..." digo em meio ao som da banda ao meu namorado, enquanto os olhares devoradores me cercam.

Chega o momento da filmagem, e diante das câmeras, repito aquela mesma frase para o homem à minha frente. Danço com uma intensidade magnética, hipnotizando-o. A energia do lugar parece se intensificar, e a filmagem flui sem falhas, capturando toda a sensualidade do momento. "Por favor, não vai me deixar nua, não posso voltar pra casa sem..." repito, enquanto o pessoal da equipe capta minha voz através de um microfone pequenino; eu; entregue ao frenesi da dança.

A equipe de filmagem se despede, e parte. Não quero acompanhá-la, o baile me contagiou. O diretor me alerta, deixando-me imersa na atmosfera eletrizante da noite de carnaval. Um homem (o verdadeiro namorado?), cujos olhares me seguiram desde o início, se aproxima. Sua presença é como uma chama que me consome, e eu me entrego sem hesitar à dança envolvente que ele propõe. "Por favor, não vai me deixar nua, não posso voltar pra casa sem..." repito mais uma vez, quase inconsciente, busco uma sensação de segurança que parece se dissolver diante da sua proximidade. E então, suas palavras chegam-me misturadas à música alegre, solta; sua voz metida a boba, um sussurro provocante: "Você já está nua faz tempo, não notou?" A mão do recente namorado traça um caminho pelo meu corpo, destacando a ausência de qualquer vestimenta, nem as franjas que mal me cobriam! Sinto-me flutuando, entregue àquele jogo de sedução que ultrapassa os limites do que é visível, pelo menos enquanto durar a festa, enquanto o sonho persistir.

No do final do baile, em meio ao silêncio da banda e misturada ao som das despedidas, minha voz repete o mantra, agora com variação: “por favor, não posso voltar pra casa sem, procure a responsável pelo figurino!”

terça-feira, fevereiro 13, 2024

O vestido e a paquera

Na cidade animada durante o Carnaval, um clube noturno vibrava com a energia contagiante da festa. O som pulsante da música ecoava nas paredes enquanto as pessoas dançavam e celebravam vestidas em fantasias extravagantes. No entanto, a história intrigante girava em torno de um casal, Pedro e Júlia.

Naquela noite, as garotas da turma costumavam namorar num bosque tranquilo, atrás do gramado de um campo próximo ao clube. O ambiente natural oferecia um contraste à agitação da festa, proporcionando um refúgio romântico.

Pedro ficou surpreso quando Júlia sugeriu uma escapada para o bosque. Eles caminharam juntos, compartilhando risos e segredos sob as estrelas. Em um momento de espontaneidade, Júlia, empolgada pelo clima festivo, decidiu ficar apenas de biquíni. Pedro, admirando a ousadia da namorada, não conteve seu sorriso.

– Pode ser arriscado – chegou a dizer.

– Que arriscado nada, gosto de namorar também com o perigo – sorriu ela, arteira.

Agarraram-se com avidez e fizeram tudo que tinham vontade. Beijos, abraços, carícias; rolaram na grama, aconchegaram-se.

Quando decidiram retornar ao clube, Pedro percebeu que o vestido de Júlia havia desaparecido.

– Nossa, e agora? – ela pareceu assustar-se. Sem querer chamar atenção, sugeriu que ele fosse procurar uma camiseta enquanto ela esperava no esconderijo.

– Vista a minha – sugeriu, fez um movimento de que iria tirá-la para entregar à namorada.

– Não pode ser a tua, não, as pessoas vão reparar você sem a camisa e eu vestida com ela, sabe como são as fofocas nessa cidade; vai, rápido.

Pedro demorou um pouco, mas conseguiu voltar trazendo a camiseta. Para sua surpresa, porém, Júlia não estava lá. Ele a procurou ao redor, suspeitou que alguém tivesse aparecido e ela afastara-se para um local mais arborizado, evitando ser flagrada vestindo apenas a parte inferior do biquíni. Depois de olhar todo o local, deu-se por vencido. Quem sabe ela teria conseguido safar-se de outro modo, com a ajuda de uma amiga.

A verdade, no entanto, era outra. Havia tempo que Antônio, um homem alto e bonito que Júlia apreciava, andava à espreita. Quando notou a mulher nua e sozinha aproveitou para aparecer. Acabaram fazendo uma festa. Como ele tinha um apartamento na região, levou Júlia, onde ficaram até o meio-dia.

Júlia, então, ligou para Clara, uma amiga, a quem fez o pequeno relato de suas aventuras e pediu que a acolhesse dali a uma hora; que abrisse a porta da casa assim que ouvisse a buzina do carro do homem que a levava, porque vestia apenas a camiseta emprestada por ele, resultado de tantos exageros cometidos por ela naquela ótima festa.

Ao entrar em contato com Pedro durante a tarde, Júlia lhe explicou que, enquanto ele buscava a camiseta, ela encontrou uma amiga que a ajudou a se esconder. Como ele demorava, a amiga sugeriu outra solução, emprestou o curto chale, parte da fantasia que vestia, que serviu de vestidinho à amiga.

Pedro, inicialmente confuso e surpreso, acabou rindo da situação e acreditou que Júlia, ajudada por Clara, dormira na casa da amiga.

– Por que você não telefonou? – quis ele saber.

– Se você fosse uma mulher pelada às cinco da madrugada, também não lhe passaria pela cabeça ligar para alguém, mesmo que este fosse o namorado, o noivo ou mesmo o marido.

Pedro aceitou o argumento. Ambos riram e a história se tornou uma anedota entre eles. O Carnaval ficou marcado não apenas pelas festas extravagantes, mas também por essa aventura inesperada e divertida no bosque.

E Antônio? Um conquistador nato. Júlia foi uma de suas conquistas. Ela saiu com ele ainda uma vez, mas logo descobriu que melhor mesmo era ficar com o namorado. A história do bosque e o segundo encontro acabaram como lembranças de arrepiar. Um dia, ela poderia contar tais aventuras às amigas mais íntimas, prova de ousadia e de que gostava de experimentar.

quarta-feira, janeiro 31, 2024

Será ele o inventor da pulseirinha

Vir ao Rio de Janeiro é sempre uma boa escolha. Além de a cidade oferecer muitas opções de compras, com diversos shoppings e lojas de marca, há também a beleza natural, destacando-se as praias, tanto na própria cidade quanto em outros municípios do estado. Desta vez, escolhi ficar hospedada em um hotel no Leme, na zona sul. Como de costume, trouxe um biquíni novo para estrear aqui. Ele é minúsculo, com as tiras laterais feitas de uma espécie de fio de nylon com elástico. Antes, eu nem sabia que algo assim existia. Ao passear pela praia, as pessoas pensam que estou nua, pois as tiras são praticamente imperceptíveis. Somente ao olharem com mais atenção, notam o pequeno triângulo que me cobre na frente e um fiozinho de pano na parte de trás, que quase desaparece.

Ontem, conheci um homem muito atraente, por volta dos trinta anos. Confessou que não foi o biquíni que lhe chamou atenção, mas sim a minha beleza. Vamos acreditar nisso. Ficamos conversando e depois entramos para um mergulho. No entanto, ele não tentou nada mais. Se estivéssemos na minha cidade, tenho certeza de que os rapazes teriam tentado me conquistar. Felizmente, estou longe de lá e não pretendo voltar tão cedo.

Existe algo interessante que sinto ao usar esse biquíni. Ele aperta um pouco, uma sensação excitante me vai tomando aos poucos, chegando quase a um ápice. Acho que, se eu me deitar na cadeira de praia e deixar o sol me aquecer, talvez a sensação se intensifique! No entanto, é melhor aguardar pelo homem que conheci. Preciso ter cuidado, pois tenho amigas que compartilharam histórias que, para algumas, são excitantes, enquanto para outras são um tanto perturbadoras.

Uma dessas amigas se chama Maria Lúcia, veio da mesma cidade onde moro e ficou em Copacabana por três semanas. Maria Lúcia adorou o sol, o mar e o namorado que encontrou. Contou-me que eles mergulharam juntos e o homem a abraçou, ficaram agarradinhos dentro d'água. Em algum momento, ele colocou o pênis dentro do biquíni dela, resultando em uma experiência intensamente prazerosa. Maria Lúcia compartilhou essa história rindo, mencionando que jamais tinha vivido uma sensação tão gostosa.

Já outra amiga, chamada Glória (nome fictício), pediu sigilo porque o recente namorado lhe tirou a parte inferior do biquíni e fez uma pulseirinha. Quem usou a pulseirinha? Ele! Glória conta que, para intensificar a sensação de prazer, ele foi até a areia para conferir algo, deixando-a esperando pela devolução da pulseirinha. Felizmente, ninguém notou a nudez de minha amiga. Perguntei se havia bebido algo antes disso acontecer. "Ah, adivinha", respondeu. "Já sei", completei, "você fica animada com uma caipirinha!" "Mas morro de vergonha depois, quando fico sóbria!", segredou baixinho, quase junto ao meu ouvido. Ainda bem que o pilequinho lhe durou bastante naquele dia.

Estou indo agora para a praia, vou encontrar meu namorado. Será que ele é o inventor da pulseirinha? Que arrepio.

quarta-feira, dezembro 13, 2023

Refuge

J'étais à Búzios, absorbant la tranquillité de la plage, profitant de chaque moment sans être dérangée. La liberté de porter le plus petit bikini, de m'exposer au soleil et de me baigner à ma guise était une expérience libératrice. Ici, personne ne me jugeait.

Mes pensées dérivèrent vers ma ville natale, M, située à soixante kilomètres au nord. Une communauté conservatrice et pleine de commérages, où chacun connaissait l'autre, menaçait de me priver de ma liberté. Le simple fait de penser à revenir à M dans cet état d'esprit provoquerait des remous et alimenterait les ragots.

Le retour à la plage m'apaisa. Je me délectais du plaisir simple d'être ici. La décision était prise : je ne retournerais pas à M ce jour-là. La nuit me réservait une aventure dans la Rue des Pierres. Peut-être y rencontrerais-je quelqu'un, peut-être sortirais-je avec un homme séduisant, une personne dont je n'aurais pas besoin de connaître tous les détails, juste la chaleur de son corps.

Alors que je contemplais l'horizon, deux jeunes femmes attirèrent mon attention. Elles semblaient profiter pleinement de la vie, entourées de jeunes hommes qui les embrassaient tendrement. L'une d'elles dansait avec une sensualité débordante, exprimant son désir de manière évidente.

Au fil des heures, je n'étais plus seule. Un jeune homme au teint hâlé par le soleil se tenait à mes côtés, caressant doucement mon dos tout en chuchotant à mon oreille une histoire passionnante. La nuit à Búzios promettait des moments excitants, et je me laissais emporter par cette nouvelle aventure, loin des contraintes de ma ville natale.

À mesure que la nuit avançait dans la Rue des Pierres, le mystérieux inconnu et moi nous plongions dans une conversation captivante. Il partageait des histoires qui éveillaient ma curiosité, créant une connexion entre nous. Une attraction magnétique se développait, une sensation de liberté qui transcendait les limites imposées par ma ville natale.

Nous avons décidé d'explorer ensemble les charmes nocturnes de Búzios. Parcourant les rues éclairées par des lumières vibrantes, nous nous sommes immergés dans l'énergie palpitante de la vie nocturne. Passant devant des bars animés et des restaurants accueillants, nous nous sommes laissés emporter par un monde de possibilités, où la liberté et la spontanéité régnaient en maître.

Nous dansions sous les étoiles au bord de la mer, nous perdant dans la musique qui résonnait le long des plages de Búzios. La chimie entre nous était palpable, une évasion nécessaire de la vie contrôlée et des restrictions auxquelles j'étais habituée à M. À ce moment-là, je me permettais de vivre pleinement, sans crainte du jugement extérieur.

La nuit se déroulait avec une atmosphère de romance et de mystère. Mon compagnon et moi avons décidé d'explorer les plages désertes sous la lumière de la lune, où le bruit doux des vagues complétait la syntonie entre nous. Une connexion intense grandissait, défiant les normes et les restrictions qui avaient l'habitude de me limiter la vie.

Alors que l'aube approchait, j'ai réalisé que cette nuit à Búzios représentait bien plus qu'une simple évasion. C'était une expérience libératrice, un chapitre mémorable qui défié les liens d'une vie marquée par les commérages et les conventions sociales. La promesse d'aventures à venir flottait dans l'air, et j'étais déterminée à embrasser chaque moment, savourant la liberté que j'avais trouvée dans ce refuge en bord de mer.

En parlant de refuge, nous avons trouvé une cabane de pêcheurs, vide à ce moment-là. Mon homme m'a déshabillée lentement, savourant chaque parcelle de mon corps chaud. Après des étreintes intenses, l'essentiel s'est produit, l'union de nos corps, un déversement bienheureux, loin de tous les préjugés.Il me libérait de toutes les entraves.

domingo, dezembro 10, 2023

Parceira

A busca por um parceiro tem sido desafiadora. Muitas amigas me dizem: “Eliane, você acabou de entrar nos cinquenta anos, mas mantém uma beleza e juventude que poucas mulheres possuem. Esta cidade onde moramos, digamos que se chame M, com seus trezentos mil habitantes, tem muitos lugares para nos divertirmos, muita possibilidade de paquera, e você, com o seu pequeno apartamento acolhedor, é privilegiada, um local perfeito para o amor.”

Mal sabem elas que, apesar da beleza que insistem em elogiar, sinto um vazio nas noites solitárias. Gosto de fazer amor, mas a conexão certa parece escapar entre os dedos. Foi então que apareceu um amigo de longa data, alguém que prometia ensinar-me algo especial. Ele me conduziu a uma prática única de relaxamento e movimento de energias interiores, algo que despertou minha curiosidade e, quem sabe, um novo prazer. Primeiro, pediu-me que deitasse e largasse todo o peso do corpo sobre o solo. Depois, pouco a pouco, me fez desligar parte por parte, começando pelos pés, a seguir as pernas, os joelhos, coxas etc., até completar todo o corpo. Senti-me flutuando. A partir daí, fez com que eu juntasse energias e as movimentasse desde a cabeça até os pés. Em alguns momentos me senti livre, no ar; em outros, experimentei uma quentura por onde passavam as energias. Foi a vez então de concentrar seus movimentos nos órgãos que nos estimulam o sexo. Não passou muito tempo, senti um gozo enorme.

Decidi praticar as técnicas por conta própria. Saía com amigas, ouvia histórias românticas, mas mantinha segredo sobre minha própria jornada. Ao chegar em casa, entregava-me à "yoga do amor", movimentando energias que traziam um prazer tão intenso que parecia uma dança solitária e mágica.

Numa noite comum, conheci um homem especial. Convidei-o para meu pequeno apartamento, onde conversamos, compartilhamos um bom vinho e, eventualmente, começamos a namorar. Corajosa, pedi-lhe que se deitasse imóvel, enquanto eu explorava as energias interiores. A dança que se seguiu foi intensa, levando-nos a um prazer profundo e prolongado, uma transa que se estendeu por quase duas horas. Seu sexo rijo me penetrava, mas pedia-lhe que não se mexesse, as energias que eu movimentava interiormente refletiam nos meus grandes lábios, que mordiam seu pênis num intervalo de tempo pontual e contínuo.

Os dias transcorreram e ele prometeu um próximo encontro. Em uma noite de sexta-feira, juntei-me às minhas amigas, mantendo uma fachada de normalidade. Optamos por um restaurante à beira-mar, onde desfrutamos de vários coquetéis e saboreamos pratos leves. Conversamos sobre assuntos ligeiros, desde trivialidades até casos divertidos ou surpreendentes relacionados a namorados e paqueras.

Ao nos despedirmos, peguei um táxi de volta para casa, ansiosa pelo encontro com meu namorado. No entanto, ele não apareceu. A desilusão momentânea foi logo substituída por um sentimento de autossuficiência. "Sem problemas", pensei. Sou feliz sozinha, em companhia de mim mesma, como sugerem as terapeutas da mente. Aquela noite solitária não seria um obstáculo, mas uma oportunidade para explorar ainda mais a minha jornada pessoal, um caminho que me proporcionava satisfação independente de qualquer presença externa.

Deitei-me, relaxei e, mais uma vez movimentei as energias interiores. O prazer que experimentei foi profundo, uma celebração da minha própria jornada, uma yoga do amor que me pertencia, independentemente de qualquer outra presença. Num momento de êxtase intenso, tremi involuntariamente, meus grandes lábios latejaram, ávidos, eu não precisava me concentrar, não precisava de nenhum pênis, tudo era muito natural. Meu corpo era o meu próprio prazer. Gozei com ele, gozei por ele, e não foi só uma vez. Planava una e úmida. Alta a noite, senti-me plena, recompensada, como jamais.

quarta-feira, novembro 22, 2023

Fonte

Eu achava bom não ter namorado, ficar sozinha, ter prazer comigo mesma. Mas apareceu mais um homem na minha vida. Foi no aniversário de uma amiga. Ele estava conversando com ela e mais algumas pessoas, quando a aniversariante me chamou para ficar entre eles.  Não passou muito tempo o tal estava me olhando e querendo conversar comigo. Lá pelo meio da festa, andei de um lado a outro, conversei aleatoriamente com outras pessoas, mas sempre acabava dando com ele. Pelas tantas da madrugada, trocamos nossos números para enviarmos mensagens um ao outro. No final da festa, meu recente-admirador se ofereceu para me levar em casa. Recusei e recusei. No entanto, minha amiga aniversariante acabou dizendo vai com ele, Leila, já é tarde, pegar um Uber agora, acho que não é bom. Aceitei a carona, mas me mantive muito séria.

Passaram-se algumas horas, recebi mensagem dele. Gosta de se fazer de engraçado. Trata-se de alguém com bom humor e umas tiradas intelectuais. No subúrbio, um tipo assim faz sucesso. Pouco a pouco fui correspondendo às suas investidas, marcamos encontro e saímos. Fomos ao cinema, no shopping, e depois a um restaurante. Ele se mostrou divertido, perguntou pelo que eu mais me interessava. Que coisa difícil de se conversar, logo eu que não sou intelectual, que não penso muito nessas coisas. Não me apavorei. Ele conhece alguma coisa, mas não é tanto assim, seu comportamento tem mais pose do que verdade.

O que me fez namorá-lo, porém, não foi isso. Adivinhem! Não queria falar assim, abertamente, mas não tenho outro modo. O que me prende a ele é o sexo. Isso mesmo. De todos os homens com quem tive relações, ele é o mais intenso. Essa é a palavra, vou repetir: intenso. A gente trepa durante um tempo enorme, ele faz algumas encenações, gosta de me penetrar e demora a gozar. Me ensinou mesmo algumas coisas sobre as quais eu jamais pensara. Nenhum homem demora tanto assim no ato sexual, como ele faz comigo. Por isso, minha intenção de ficar sozinha, de gostar de mim mesma e aproveitar a vida sem ter de me preocupar com homem algum, foi por água abaixo.

Por falar em água abaixo, é engraçado. O namorado me excita tanto, que eu me transformo em água. Verdade. Nunca senti nada igual. Consultei mesmo uma médica pensando que eu estava com algum problema. Ela me perguntou quanto tempo você não tem relação sexual com um homem? Respondi. É por isso, você ficou muito tempo sozinha, procurando prazer com a imaginação, o que não é tão eficaz, respondeu.

Continuo com ele, o namoro vai bem, a gente faz mil coisas juntos. Não conto pra ninguém, pode dar azar. E a qualquer momento, quando resolvemos transar, me transformo numa fonte. Isso mesmo, fonte, a palavra certa.

quarta-feira, maio 24, 2023

Encontrei?

Era uma noite quente de verão, e a praia estava deserta. A lua cheia iluminava as areias brancas, enquanto as ondas do mar quebravam suavemente na costa. Eu caminhava pela praia, descalça, deixando as marcas de meus pés na areia. De repente, vi algo brilhando no chão. Aproximei-me e percebi que era um vestido. Peguei-o e reparei que era um vestido de seda verde, com um decote profundo e a parte inferior comprida.

Olhei ao redor, não havia ninguém. Decidi experimentá-lo. Fiquei surpresa ao constatar que se ajustava perfeitamente ao meu corpo, era como se fosse feito especialmente para mim.

Dei mais alguns passos sobre a areia, virei-me par o mar. Será que a dona da tal seda nadava nua em meio as ondas? Não vi ninguém. Voltei-me para a parte alta, onde nasce uma espécie de mato que cobre o chão até junto à estrada. Também não vi ninguém. O silêncio da madrugada só era quebrado pelo marulhar à meia distância da costa.

Deixei minha calça jeans e a blusa que eu vestia sobre um pequeno monte saliente nas areias. Caminhei até a beira d’água e senti a água do mar, fria fria, molhando-me os pés e os tornozelos.

Continuei a caminhar pela praia sentindo-me incrivelmente elegante com o meu novo vestido. Dancei à beira do mar, ouvi música imaginária e ri das minhas próprias bobagens enquanto a brisa soprava suavemente através dos meus cabelos.

O vestido sobre a pele ainda me trouxe a lembrança de um namorado de mais ou menos dez anos passados. Eu morava em outra cidade, também litorânea e menor do que a de agora. Ele teimava que me queria nua, íamos com frequência à beira da praia para namorar. Um dia, não sei o motivo, depois de um intenso corpo a corpo com o rapaz, ao voltarmos ao ponto de chegada, não encontrei o meu leve vestidinho! Que problema... Mas tudo se resolveu a tempo. Ninguém do lugarejo me viu entrando nua em casa. No final, caímos numa gargalhada gostosa. Dias depois, ele me trouxe um vestido novo, de presente, adquirido num shopping da cidade vizinha.

No momento, porém, o vestido verde me intrigava. Quem seria a sua dona? Será que andava nua por aí com o namorado e depois viria procurar pela roupa? Será que eu, ao levar o vestido, a deixava em apuros? Percorri ainda uma distância de mais ou menos quinhentos metros.

Quando tive a intenção de voltar, senti imenso desejo de dar um mergulho. Você já mergulhou à noite, a praia deserta, apenas você e a natureza? Tirei o vestido, dobrei-o com cuidado e corri nua para dentro d´água. Permaneci nadando e mergulhando por um quarto de hora.

Quando voltei à areia, o vestido verde estava no mesmo lugar. Esperei um pouco até secar o corpo e o vesti de novo.

Ao me aproximar do local inicial de minha caminhada, senti alguém me tocar as costas. Que susto! Não ouvira ninguém até então. Uma mulher nua, muito parecida comigo – a única diferença era a cor morena da pele e os cabelos negros – me pediu o vestido de volta.

– Você gostou, não? Posso emprestar – ela disse enquanto eu o tirava e o devolvia.

– Corajosa, você, andando nua por aí, pode aparecer alguém.

– Não aparece, estou acostumada.

– E escapou de ter de voltar nua pra casa – acrescentei.

– E quem sabe se já não voltei – soltou com ar debochado, enquanto terminava de vesti-lo.

Deu-me as costas, disse até logo e se foi.

Só então me dei conta de que, naquele momento, a nua era eu. Corri à procura do monte saliente nas areias onde tinha deixado a calça jeans e a blusinha de renda.