segunda-feira, dezembro 17, 2018

Toda manhã

Toda manhã, antes de chegar ao trabalho, faço uma paradinha num quiosque que vende pão com manteiga e café com leite. É muito gostoso tomar o café de manhã cedo, em meio a outras pessoas que também tentam sentir o sabor do início do dia antes de começarem suas tarefas. Como nossa vida é cheia e surpresas, numa dessas manhãs reparei um homem. Ele, não posso negar, também olhou para mim, chegou mesmo a piscar e sorrir. Retribuí com meu sorriso enigmático. Os dias se passaram sem que eu o visse de novo. Na última quinta-feira, no entanto, encontrei seu rosto entre as pessoas, todas afoitas e plenas de prazer devido ao cheiro forte de café. Eu usava botas compridas, dessas que sobrem até um dedinho abaixo dos joelhos e um vestido que descia ao encontro das mesmas botas. Os homens adoram. Estava frio e a fazenda do tal vestido era pesada. Em tempo de inverno, a gente anda com muita roupa, em consequência não se fica elegante, pelo menos é a minha opinião. Tenho uma amiga que adora o inverno, diz que é época de se vestir bem, com requinte. Não tenho a mesma opinião, muita roupa não combina comigo. Mas o admirador veio conversar, disse que eu estava bonita, perguntou onde eu trabalhava. Perguntas comuns de duas pessoas que começam a estabelecer alguma ligação. Não menti. Contei o que podia. Ele, sempre simpático, disse conhecer bem a região, sempre trabalhou no bairro. Percebi que desejava me convidar para sair, mas não encontrou clima. Deixei meu número.

“Você sai cedo, do trabalho?”, perguntou.

“Às vezes, sim, mas geralmente saio lá pelas seis.”

Não sei por que lembrei um paquera que apareceu faz uns dois anos, passou a me esperar na saída do trabalho. Quis me desvencilhar dele, não gosto de gente no meu pé. Foi um sacrifício. Ainda bem, este não disse que me aguardaria. Podia mesmo perguntar se eu gostaria de ir a um bar, ou mesmo ao Mc Donald, depois do expediente, mas nada falou.

Dei um adeusinho e corri ao trabalho. Enquanto subia o prédio, pensei num namorado que tive fazia um tempinho. Ele dizia que eu, sobre botas, fico muito alta. Eu ria. Ele acrescentava, deixe tirar você de cima dessas pernas de pau. Ele me tirava mesmo, quero dizer, despia-me das botas e depois do resto. Nas revistas masculinas, há mulheres nuas vestindo apenas botas. Quem sabe o admirador do quiosque de café não me desejava nua, desfilando de botas só para ele.

Naquele dia, não sei o motivo, trabalhei um tanto eufórica. Tenho uma amiga que, ao sentir tal sensação, vai ao banheiro, olha-se no espelho, senta-se sobre o vaso para descansar, respira fundo. Não sei em que ela concentra-se. Mas, depois, volta muito calma à sua mesa. Não sei, mas acho que se vou ao banheiro para me acalmar, vou acabar tirando a roupa. Talvez assim eu me acalme.

Durante o dia, o tal homem começou a me enviar mensagens. Oi, querida, adorei você. Oi, amor, que tal um beijo, teus dedos são de fada, toque o meu rosto, ele insistia. Amanhã a gente se encontra, escrevi.

O quiosque ainda estava pouco frequentado, ele não havia aparecido. Será que iria embora só? Mas ele veio, sim, devagar. Chegou bem pertinho, pensei que iria me beijar, mas não o fez. Talvez temesse uma recusa. Não é bom ir logo de primeira. Pediu café, apenas. Perguntou se eu estava disposta para o dia que começava. Suspirei. É preciso trabalhar, falei. Ele sorriu, aliás, manteve o sorriso. Em certo momento disse você aparece também à noite, como a lua, que na maioria das vezes é noturna. Entendi, um convite para sair. A gente se fala durante o dia, estou atrasada. Parti para o escritório.

Naquele dia, enquanto trabalhava, pensei se ele descobriria meu segredo. Mas ainda não mandara mensagem alguma. O homem sabia criar expectativa. Eu não queria viver de expectativas, meu problema de sempre, desejava liberdade, de amar e de fazer o que bem entendesse. Não é bom ficar presa a um homem. Antes que ele ligasse, resolvi me antecipar. Liguei. Mas não para ele. Tenho uma pessoa que sai às vezes comigo. Não é meu namorado nem coisa parecida, mas a gente passeia, conversa e também trepa. Isso mesmo. E sou eu quem marco. Nada de expectativa. Evandro, vamos sair hoje? Imaginei seus olhos, por trás da distância que nos separava. Ele disse sim, ficaria muito feliz com a minha presença. Então, naquele dia, mesmo que meu paquera do café mandasse uma mensagem, nada feito, já tenho compromisso. Evandro sabe boa parte do que me excita, e pede para eu lhe fazer pose. Já até sabia como seriam as da noite próxima: de botas e bustiê. Gostosa a sensação.

O homem do café telefonou. Uma proposta deliciosa. Quem sabe, amanhã!, criei eu a expectativa.

Com Evandro foi um gozo e tanto. Gosto dele porque sabe dar prazer às mulheres. Há homens que pensam apenas em si, sobem sobre nós e despejam seu gozo grosso. Evandro, não. O carinho é intenso, sabe tudo sobre meu corpo, meus pontos de prazer. Deixa-me molhada a maior parte de tempo.

No dia seguinte, após a transa maravilhoso com Evandro, saí com o novo paquera. Caso ele fosse apressadinho, eu já teria gozado na véspera.

Qual foi a minha surpresa. Levou-me a um hotel que tinha vista para o Aterro do Flamengo, dava mesmo para apreciar o aeroporto, com seus aviões descendo e decolando. Mas nada de barulho. De som, apenas sua voz a sussurrar no meu ouvido, falava cada coisa de me deixar a mil. Ele, a princípio, me abraçou, me beijou; enfim, mil e uma carícias. Havia uma mesinha e duas cadeiras na antessala, onde começamos o namoro. Sentei-me e ele ficou ao meu lado. Depois de alguns minutos, entramos no quarto, sentamos na cama e continuamos a nos acariciar. Para evitar ter de tirar a roupa na frente do homem, decidi ir ao banheiro. Dei-lhe um beijinho, corri e fechei a porta. Despi-me e tomei um banho rápido. A água quente, gostosa. Depois, envolvi-me na toalha, abri a porta e saí, fresquinha, pronta a me atirar nos braços dele.

Mudo de parágrafo. O que aconteceu depois merece descrição à parte. O homem, com mãos e dedos macios, acariciou-me o corpo inteiro. Descobriu que amo histórias de sacanagem.  Nunca pensei que gozaria dois dias seguidos. Para nós, mulheres, o gozo é difícil. Não demorei, porém, a transbordar meus eflúvios. Ao mesmo tempo que o desejava sobre mim, seu pênis bem duro a me penetrar, queria suas mãos contínuas a me acariciar, sua voz máscula a insistir-me protagonista de aventuras sexuais. Após alguns minutos, por minha própria conta, virei de costas e levantei o bumbum, permaneci deitada mas com os joelhos mantendo elevadas minhas coxas e o quadril. Ele entendeu o que eu desejava. Colocou-se sobre mim, seu pênis a procurar minha vagina. Ui, que arrepio. Logo que me penetrou, senti um orgasmo. Ah, estou gozando, falei, não para, por favor, quero gozar mais, mais e mais, minha voz perdia-se na minha loucura. Veio-me à mente a lembrança de um namoradinho de outros tempos, ele adorava me levar à praia e, dentro d’água, tirar o meu biquíni; assim que me sentia nua, gozava. Naquele  instante, sobre a cama, eu sentia o mesmo, o gozo especial que a gente alcança nas primeiras vezes e dificilmente se repete. Conforme ele metia, eu dizia me rasga, vai, me rasga toda. Não passou muito tempo para eu sentir seu gozo quente dentro de mim, várias explosões, vulcão que não parava sua erupção.

Como vou viver sem um homem como esse? Não posso perdê-lo. Tenho Evandro, que conhece todo o meu corpo. Agora, este outro, a quem, tenho vontade de presentear com minha calcinha! Mas não foi necessário, meus gritos de gozo revelaram que me deixasse sempre nua.

segunda-feira, dezembro 03, 2018

Boas histórias ou duas maçãs bem vermelhas

Nely acordou envolvida num lençol. Como sentia prazer nisso, nua, o tecido suave, única coberta a lhe acariciar o corpo, mão carinhosa a deslizar creme de calêndula sobre a pele. Moveu-se à direita, à esquerda, sorriu, serrou-se dentro dos panos e imaginou como seria o dia que brotava. Havia sentido enorme prazer à noite, antes de dormir, mas, no momento, pensava numa visita que receberia, um ex-namorado viria a sua casa, vinha de longe, morava em outra cidade, por isso pedira pouso, precisava de um documento na prefeitura da cidade onde ela morava. Gostava naquele ex o fato de ele pensar em lhe dar prazer muito lhe agradava. Você está contente?, ele perguntava, sente prazer? Quando transava com ele, o homem queria mesmo era fazê-la gozar. Gozou?, perguntava no final. É difícil fazer uma mulher gozar, para algumas trata-se de um trabalho hercúleo. Nely sabia que ele se preocuparia em agradar-lhe o máximo, em deixá-la feliz. Na certa, traria um presente. Moveu-se sob o lençol, sentiu mais uma vez o namoro com o tecido, quase um arrepio. Não sentia vontade de sair da cama.

Ela sabia que, naquele dia, lá pelas onze da manhã, depois da chegada do tal homem, ficaria nua na sala de casa. Sério, não resistiria. Não precisava se preocupar, ele surpreenderia. Nely estaria trajando um vestido florido, macio, que descia até os joelhos, roupa confortável para se ficar em casa ou mesmo circular pela vizinhança.

Ao chegar, ele abraçou-a e beijou-a. Os dois sentaram-se juntinhos no sofá de fronte à mesa, na sala de estar. A conversa circulou em torno dos últimos acontecimentos, da vida de Nely, da praia próxima, dos passeios que ela às vezes fazia. Ele permanecia silencioso, sua face demonstrava contentamento. Pousou uma das mãos sobre um dos joelhos da mulher. Ela fez como se nada tivesse acontecido. Continuou a falar, olhou a ele, virou-se novamente para frente e contou como fora o último final de semana. Falava como se houvesse uma terceira pessoa diante dela. Quando virou a cabeça para o homem, beijou-o e ele já deslizava a mão sobre suas coxas, por baixo do vestido. Após o beijo, Nely ficou paradinha, como meditasse ou como esperasse até onde ele seria capaz de avançar. Subiu a mão, sempre tateando as coxas da ex-namorada, avançou até acima da virilha e parou junto ao elástico superior da calcinha. Introduziu a outra mão também por debaixo da saia. Desencosta um pouquinho, pediu ele. Ela fez o movimento, como o gesto mais natural do mundo. A calcinha desceu nas mãos dele, ultrapassou os joelhos e, enfim, o calcanhar. Ele a comprimiu dentro de uma das mãos e depois a arremessou sobre a mesa. Ela caiu dentro da fruteira, junto a duas maçãs bem vermelhas. Nely nua, apenas o fino pano sobre a pele. Como gostava da sensação. Lembrou-se que um dia saíra tal qual estava agora, a pedido de um namorado, apenas o vestido fino a lhe disfarçar a nudez, e uma excitação que a fazia comprimir as coxas.

Ficaram de pé. Ele a abraçá-la. Que bom assim, não precisava ter compromisso. Os homens apareciam, acariciavam-na, trepavam com ela e ela gozava. E a vida continuava. Ele levantou o vestido de Nely, que saiu pela cabeça, deixou-a nua. Isso, como ela gostava, nua, agarrada ao homem ainda vestido. Permaneceram naquele elevo por demorados minutos. Beijaram-se. Ele lhe disse algumas palavras no ouvido, palavras que ela gostava de ouvir. Deram alguns passos e deitaram na cama, que ficava no quarto. Namoraram de modo suave. Só então ele tirou toda a roupa e trepou com Nely. Transar com você é bom porque não me exige posições difíceis, ela. É mesmo?, pareceu surpreso. Tem homem que exige que eu seja malabarista; quando acaba, estou toda doída. No final, ele perguntou: você gozou? Já gozei ontem, assegurou ela um tanto sem jeito. Ontem? Um namorado ficou falando bobagem pelo telefone, acabei gozando, e foi tão bom. Após as últimas palavras, ela trocou o vexo pelo riso leve.

Durante alguns minutos, Nely não estava mais na manhã ensolarada de maio, mas na véspera, noite fechada, nua no canapé, o telefone no ouvido, uma trepada a distância, em que, a princípio, ela não acreditava. Ficou tão molhada. O homem era bom em historias.

Quer dizer que você tem gozado bastante.

Bastante, não, vez ou outra.

Nely olhou o ex-namorado, ainda agarradinha a ele. É bom assim. E quando você puder, ligue para mim, quem sabe também vai conseguir me fazer gozar. Afinal, você sabe contar boas histórias.