quarta-feira, fevereiro 24, 2016

Quebra galho

Na casa noturna da dona Efigênia havia muitas damas trabalhando. Todas de alto gabarito. Merillin era loira, cintura fina, pele suave, olhos castanhos claros e outras habilidades que agradavam aos homens que por ali passavam. Nilda, uma morena com corpo violão de chamar atenção dos clientes. Maura, baixinha, meio japonesa, com seios salientes. Débora, uma afrodescendente com cabelos tratados que mais pareciam miojos. Cíntia, bonequinha loira de olhos azuis. Todas à disposição dos fregueses. Numa sexta feira chuvosa, chegou do interior uma mocinha ingênua que fora tentar a sorte na cidade grande. Seus pais tinham muitas filhas e aquela que completasse 18 anos era posta ao relento para se virar e sustentar-se. Jaqueline tentou de início ser diarista, mas como era tempo de crise muitos já não podiam obter este luxo. Trabalhou numa lanchonete, mas o dono se engraçou com ela e ela foi embora. Dormia num corredor que havia entre o balcão e o banheiro.

Quando Jaqueline chegou, ficou de boca aberta. Nunca tinha visto tanto luxo, ficou até meio envergonhada com seu traje. Ela precisava de um banho de loja, cabeleireiros ao seu dispor, sapatos decentes, maquiagem e outros apetrechos de mulher para trabalhar naquele lugar. Foi logo ao encontro da dona Efigênia, que se mantinha o tempo todo num camarote de onde podia visualizar todo movimento do seu estabelecimento. Como ainda era muito cedo, atendeu a moça. Jaqueline não sabia em que serviço dona Efigênia poderia encaixá-la. Esta ficou horas tentando explicar o que aquelas moças bonitas faziam naquele lugar. Jaqueline era virgem e sempre sonhou encontrar um rapaz por quem se apaixonasse para se casar e aí, sim, fazer sexo. D. Efigênia resolveu investir em Jaqueline. Ela ficou linda. D. Efigênia prometeu que poderia ficar no bordel somente para acrescentar beleza àquele lugar. Caso aparecesse algum rapaz por quem ela se interessasse e que tocasse seu coração, deveria decidir-se se iria ou não aos finalmentes. Pediu que ela servisse as bebidas. O gay que trabalhava fazendo o serviço tinha pedido as contas, enrabichou-se por um dos clientes que também  gostavam daquela fruta e se arrumou na vida. As outras moças não viam Jaqueline com bons olhos, e a chamavam de Quebra Galho. Os clientes sempre pediam a dona Efigênia Jaqueline. Carne nova no lugar era festa para os homens que mais pareciam urubus. Dona Efigênia, porém, dizia: não, a moça trabalha no bar, não está disponível. As outras ficavam ainda mais intrigadas com aquela situação. Elas sempre como segunda opção.

Dona Efigênia sempre conversava com Jaqueline sobre casamentos. Dizia que as cerimônias mais lindas muitas vezes acabavam em tragédia. Contou muitos casos de casamentos fracassados, vividos por ex-funcionárias, e que sonho é muito bonito mas a realidade é outra. Jaqueline ouvia tudo e continuava a observar que os frequentadores dali eram sempre os mesmos. Um dia apareceu um rapaz que dava para perceber que nunca tinha ido a lugares como aquele. Falou com dona Efigênia que só queria se distrair um pouco. Parecia triste, talvez tivesse passado por alguma desilusão amorosa. Nos intervalos, ele se dirigiu à Jaqueline que, ao vê-lo, sentia o coração aos saltos. Manteve-se comportada, mas com vontade de contar à dona Efigênia o acontecido. Jeferson todos os dias ia à casa para conversar com Jaqueline. As outras moças não entendendo o comportamento do rapaz sempre comentavam: Olha a Quebra Galho! Jaqueline ficou tão apaixonada por Jeferson quanto ele por ela. Os olhos dos dois brilhavam quando se encontravam. Jaqueline contou a ele sua história e ele numa data especial a pediu em casamento.

A festa foi lá, e com dona Efigênia como madrinha. A primeira noite de Jaqueline lá no bordel foi de estremecer o prédio. Jeferson fez tudo com muita classe e Jaqueline se tornou uma mulher, uma mulher casada. No domingo de manhã, viajaram. Na volta, ela iria para casa do Jeferson e não mais para aquele puteiro de luxo.

terça-feira, fevereiro 16, 2016

Paisagem romântica

Fui ao Rio encontrar um namorado. Depois de alguns dias o convenci a vir comigo a BH. Moro no edifício JK, em Lourdes, um prédio desenhado por Oscar Niemeyer e construído quando JK governou Minas Gerais. Ao entrarmos no apartamento, o namorado se dirigiu à janela, quis admirar a paisagem, do 18º andar.

Que bonito, não imaginava que este lugar fosse tão atraente, ele disse.

Gostou?, sorri.

Ele se voltou a mim, me abraçou e me beijou, um longo beijo na boca.

É realmente uma paisagem romântica, acrescentou.

Nos agarramos e ficamos a namorar durante muito tempo.

À noite, antes de sairmos para beber e comer alguma coisa, ele me fez um pedido especial.

Você veste uma roupa que ressalte suas pernas, que valorize a sensualidade de seu corpo?

Claro, nem precisa pedir; além disso, vou fazer uma surpresa, falei.

Fiquei algum tempo no quarto e, de repente, apareci na sala. Vestia uma minissaia (bem pra lá de mini) e um top, na verdade uma faixa azul a me cobrir os seios.

Que beleza, suspirou satisfeito.

Como a temperatura tende a cair durante a noite, cobri-me com um meio-sobretudo. Ele me abraçou. Descemos, ganhamos a rua às dez da noite. Caminhamos em direção à praça que fica à direita da primeira transversal. Trata-se de um local muito arborizado, onde as pessoas aproveitam para ler o jornal pela manhã, mas à noite é deserto. Íamos pela calçada da direita quando cruzamos com dona Hemengarda, mulher alta, de traços duros, face que sempre transmite ar de reprovação. Sua aparência espelha condenação; para ela, aproveitar a vida é um pecado. Lancei-lhe um ligeiro boa noite. Ela, porém, não respondeu, olhou-me com os olhos bem abertos e fixos, como se enxergasse por baixo do meu casaco. O namorado nada comentou.

Seguimos e entramos à primeira rua à esquerda, avistamos um bar e paramos para beber alguma coisa.

Você não prefere procurar um lugar mais distante da sua casa?, perguntou com seu ar matreiro.

Por quê?, devolvi, vamos andar mais e ficar cansados mais cedo, aqui é um bom lugar e, depois, tenho a tal surpresa pra você!

Logo que sentamos, percebi o casal da terceira mesa adiante. Tratava-se de um homem com quem saí certa vez, e de sua namorada, que eu conhecia havia pouco. Lógico que à época a namorada dele era eu. Enquanto meu namorado entabulava uma conversa de elogio a viagens, ao contato com pessoas de outras cidades (elas enriquecem nossas vidas, dizia ele), eu observava o casal, tentava descobrir as palavras que saiam da boca do homem. Mas o barulho me impediu. O namoradinho continuava seu discurso no qual eu já não prestava atenção. Eu já sabia para onde iria o casal após deixar o bar. O homem gosta de aventura, e ela vai nas águas dele.

Ficamos ali por mais de uma hora. Bebemos duas caipirinhas cada. Quando decidimos andar um pouco, o tal homem e a mulher já haviam desaparecido. Antes de levantar, disse ao namorado:

Segure isto aqui, guarde no seu bolso?

O que é?, ele pareceu não entender.

A primeira parte da surpresa.

Surpresa?

Minha saia.

Subimos a rua Rio Grande do Sul em direção à praça Raul Soares. Estava escuro, o céu estrelado mas sem lua, a temperatura amena. O namorado me abraçou, roubou-me um beijo e disse:

Peladinha.

O quê?, fiz que não entendi.

Nua, ele confirmou.

Sorri. Tenho o casaco, redargui.

Não vai ser por muito tempo, completou.

Tenho agora a segunda parte da surpresa, mantive-me na dianteira.

Pegamos a Amazonas, que não tinha muito movimento àquela hora. Passava de meia-noite.

Chegamos à praça. Puxei-o pelo braço obrigando-o a seguir-me na travessia da avenida.

A praça é deserta esta hora, ele disse.

Por isso mesmo, repliquei, vamos a ela.

Procurei o lado onde a luz era menos intensa.

Sabe, continuei, sempre quis namorar aqui, mas nunca tive ninguém que me trouxesse, os namorados querem logo me levar pra cama, sorri.

Ele me abraçou de novo e me beijou na boca, sentamos num dos bancos. O namorado enfiou a mão por dentro do meu casaco.

Tira, tira, falei cheia de fogo.

Mas aqui?, perguntou preocupado.

É uma fantasia antiga, afirmei, não demora, vai.

Ele me puxou para trás de uma das árvores, do lado de dentro do jardim. Ali era possível ficarmos ocultos. Desabotoou meu casaco e o deixou num dos galhos. Pensei em me abaixar, mas não foi preciso. Eu ouvia os motores dos automóveis que trafegavam pela Amazonas, mas não era o risco de ser descoberta que mais me excitava. Eu estava de sandália, com a bolsa a tiracolo e de top, era tudo o que me restava. O namorado me abraçou forte, tirou o pênis pra fora e começou a enfiá-lo entre as minhas pernas.

Espera, espera, pedi entre gemidos, vamos devagar, primeiro tira também meu top, depois quero que você me leve pra andar um pouquinho pela praça, pedi.

Mas você está nua, alguém pode chegar, ele rebateu.

Não tem problema, moro nesta cidade e conheço a região, ninguém vai nos ver.

Você vai pegar um resfriado, ele acrescentou.

Não se você me abraçar com força.

Ele me obedeceu. Demos uma volta inteira na praça. Pouco a pouco eu ficava cada vez mais excitada. No ponto oposto onde havíamos deixado o casaco, peguei o namorado pelo braço e fiz que ele deitasse sobre mim num dos bancos. Foi uma trepada e tanto.

Quando acabamos, ele disse:

Vamos, namoramos mais uma vez no apartamento.

Mas ao chegarmos à arvore onde deixáramos meu meio-sobretudo, inesperada surpresa. Ele havia desaparecido. O namorado assustou-se.

Como vamos fazer agora?, perguntou.

Calma, sou eu que estou nua, disse a ele. Com os meus botões (aliás, não tinha botão algum), pensei, foi ele, o homem que estava na outra mesa com a namorada, ficou com raiva porque faço com outro o que costumava fazer com ele.

Você guardou meu top e minha saia, lembrei a ele.

Mas você continua pelada com essa roupinha, constatou.

Que outra solução você tem?, perguntei como se estivesse com raiva. Quer ir lá em casa buscar algo mais comprido pra eu vestir? Se aparecer um homem enquanto eu estiver sozinha, na certa me come, falei e fiz como se desse uma mordida.

Vocês, mulheres de BH, são loucas, bem que me disseram, já aconteceu de uma ir passar um final de semana no Rio e não ter roupa para voltar, acrescentou.

Será que não fui eu?, indaguei com o sorriso mais abeto do mundo. Vamos contar com a sorte, veja bem, duas luzes da avenida apagaram e na Rio Grande do Sul não há ninguém essa hora, vamos, venha.

Segurei o homem firme com a mão direita e corri com ele pro meu prédio. Na portaria, quem encontro. Dona Hemengarda. Mas dessa vez ela já não podia adivinhar minha nudez por baixo do meio-sobretudo.

terça-feira, fevereiro 09, 2016

Vinte e quatro horas em exposição

Você sabe, essas coisas são de arrepiar. Há quem diga que sou louca. Mas isso não é verdade. É consenso dizer que as mulheres gostam de se exibir. Se usamos pouca roupa, é porque gostamos de andar nuas. Não tenho nenhum problema quanto a isso. Ando nua e não sinto a menor vergonha. Quando tenho algum namorado que pede para me fotografar, faço logo a pose. Peço que tire uma boa foto. Se poso nua? O que você acha? Claro, e bem nua, em pelo, ou sem eles, sei lá. E acabo sempre deixando as fotos com eles. Uma amiga perguntou se não tenho medo de que um desses caras me chantageie. Não compreendo como um homem poderá me chantagear se meu estado natural é andar nua. Às vezes olho esses sites cheios de mulheres peladas só para ver se há alguma foto minha. Até hoje não encontrei. Quando estou deitada à noite, fico a pensar se algum ex-namorado está a olhar o meu rosto e, sobretudo, o meu corpo naquele momento.

Tenho uma amiga que diz: “eu morreria caso algum homem tivesse alguma foto minha nua, Já pensou, seria como estar pelada o tempo todo no meio de um monte de gente." Digo que não é nada disso, e que gosto cada vez mais de escapulir nua por aí. Ela ainda retruca: “Lúcia, você sabe que já fiquei nua num daqueles bailes de carnaval de antigamente, mas não aconteceu só comigo, tinha muitas outras mulheres junto. Os rapazes resolveram botar o mulheril todo nu, e até que foi engraçado. Mas tudo terminou de manhã, quando entrei em casa. Agora, ficar o tempo todo nua, vinte e quatro horas diárias em exposição, é de matar."

Contraponho: “Angélica, deixa os rapazes se divertirem. Eles adoram as mulheres nuas. Quando eles não as têm ao vivo, as possuem em fotos. E quem lá vai assegurar que sou eu a fotografada? Posso dizer que é montagem. Mas lógico que não vou desconversar. Adoro que me admirem. E cá entre nós, sou muito bonita...”

quarta-feira, fevereiro 03, 2016

Ainda bem que existe a Margarida

"Você gosta de sair sozinha à noite, vai vestida, recatada, todos os acessórios, mas ao chegar a C., entra no Shopping e, num dos toaletes começa a se preparar. A saia comprida, bem enrolada, é colocada na bolsa, a blusa transforma-se num vestido curto, justo e colado ao corpo. A seguir, a maquiagem na textura exata, um pouco de exagero apenas no batom. Para não chamar a atenção, coloca uma manta, que disfarça a falta de pano do vestidinho. Enfim, você sai à caça."

O trecho acima ouvi de um namorado. Como descobriu?, pensei assustadíssima. Teria de mudar meus planos, meu segredo ia quase água a baixo. Mas suas palavras foram ditas na hora do amor, naquele momento de paroxismo, em que perdemos a cabeça. Dois ou três dias depois, ao escapar para mais uma das minhas investidas noturnas, preocupei-me em observar se alguém me seguia. Mudei de condução, de ruas e avenidas, mas não percebi pessoa alguma no meu encalço. Suspirei aliviada. Minhas amigas vieram-me à cabeça. Apenas uma delas têm necessidade de escapar noite a dentro, escorregar por ruas escuras, correr certo perigo, procurar a aproximação de alguém do sexo masculino. Chama-se Margarida. Até hoje não descobri o que me leva a isso. Ela também não sabe explicar. O que diz é, assim como os homens, as mulheres também têm suas taras, acrescenta: acima de tudo, precisamos viver todo esse prazer.

Gosto, também, de uma boa conversa, de alguém que tenha lido um livro e que saiba falar sobre ele, alguém que entenda de filosofia, rico em ideias e em pensamentos. Parecem polos opostos, não?, de um lado o corpo, de outro o espírito. Sinto, no entanto, que se complementam. E como me arrepiam. O namorado, que pensei ter descoberto meu segredo, é de grande imaginação, às vezes quase chega ao cerne do meu modo de vida, daria um bom escritor. Será que penetra nos meus pensamentos? Certa vez sugeri a ele escrever um livro. Mas disse que o mundo prático lhe é mais importante.

Outro dia trouxe-me mais um presente, uma roupa nova, roupa mínima, que as pessoas chamam de macaquinho. Uma peça inteiriça, que termina como um short, deixando as pernas de fora. Vesti para ele. Ficou excitadíssimo, apenas o tal macaquinho sobre minha pele, lisa que só, e sua mão a deslizar sobre a lividez do meu corpo. Não demorou eu estava nua, a pequenina peça abandonada sobre o estofado da sala. Namoramos até duas da madrugada. Quando saiu, senti ligeiro arrepio, o macaquinho olhava para mim. Tomei-o nas mãos e o vesti. Fui ao espelho e admirei-me dentro do pouco pano. Joguei uma capa sobre o corpo e investi no que restava da madrugada. Não é preciso dizer que a capa, um tecido negro que cobria o macaquinho, deixava certa transparência. Aonde ir depois das duas, faltando pouco para o amanhecer? Entrei num táxi e pedi que me deixasse na porta do hotel mais chique da zona sul. O motorista olhou-me um tanto desconfiado. Na certa se trata de uma acompanhante de luxo, deve ter suspeitado. Não me molestou, deixou-me no local depois de vinte minutos. Na porta do hotel, o funcionário de plantão abriu a porta do táxi para eu sair. Cumprimentou e encaminhou-me ao hall, como se tudo estivesse combinado. Premeu o número 18 num dos elevadores e disse que alguém me esperava logo que a porta se abrisse. Há um engano, pensei, mas fiquei quieta, a situação me favorecia. Sempre preferi locais abertos, onde teoricamente tenho mais espaço de manobra, mas, num hotel famoso como aquele, achei que não me fariam mal.

Como avisara, um homem me esperava à porta do elevador. Tomou-me pela mão, sorriu e me conduziu ao um dos apartamentos. Uma mulher inteiramente nua abriu a porta. “Esta noite, mandaram duas, querem me agradar, uma espécie de cortesia”, o homem disse para ela, ainda sorrindo. A mulher nua despiu-me, levou meu macaquinho e minha capa para uma espécie de armário, ao fundo do quarto. Como não estou acostumada ao sexo coletivo, fiquei meio sem graça. Ela logo notou e perguntou você não é profissional? Nada respondi. O homem foi quem me deixou mais à vontade. Beijou-me um dos seios, abraçou-me e viu que eu fechava os olhos. Ela aproximou-se por trás e abraçou-me. Ficamos os três a sentir o volume de nossos corpos. Podem começar, ele ordenou. Ela virou-me devagar, abraçou-me de frente e deu os primeiros passos, uma espécie de dança. Acompanhei-a. Era um pouco mais baixa que eu, mas bastante hábil. Desceu uma das mãos pelas minhas costas e acariciou-me o bumbum. Depois me virou e pressionou-me por trás. O homem empunhou um pênis de borracha e sinalizou que eu abrisse as pernas. Assustei-me a princípio, mas tive de representar. Minhas pernas portaram-se obedientes, enquanto aos poucos ele o introduzia. Fez que eu agachasse e que minha companheira viesse por baixo. Agora, ela era o meu homem.

Não consigo precisar quanto tempo ficamos naquele jogo. Foram muitas as posições. O homem, sempre nos olhando, admirava nossa performance. Precisamos de muito preparo físico para satisfazermos seus caprichos. Apenas no final, veio trepar com uma de nós. A que sobrava devia acariciar qualquer parte do seu corpo, mesmo com a boca, com beijos e lambidas. Quando estava prestes a gozar, mudava de mulher. Após o prazer, adormeceu. A mulher, então, perguntou quem eu era. Você não é profissional, ela reparou. Como descobriu?, retruquei. Fácil, as amadoras trepam com paixão. Qual o problema de eu não ser profissional?, eu quis saber. O hotel não aceita amadoras, é melhor você ir, caso o chefe descubra aqui uma mulher fora do seu controle, tanto você quanto eu vamos ter problemas, vá embora, não demore. Quando acabou de falar, ouvimos duas pancadas fortes à porta. Minha companheira correu e foi abrir. Não deixou que eu escutasse a conversa. Do lado de fora, ainda nua, entabulou uma conversa rápida. Escutei apenas o rastro de uma voz masculina. Quando voltou, disse que jurou ao homem que no quarto só havia ela, e que nosso parceiro ia ficar bravo caso se sentisse incomodado. Vá embora, mesmo que nua, você corre perigo.  Nua?, assustei-me. Ela foi ao armário e jogou o macaquinho sobre o meu corpo. Vista lá fora, disse, pegue a bolsa e os sapatos, desça pelas escadas. Rápida, saí do apartamento. Vesti a pequena peça entre um andar e outro, ajeitei-me e consegui me ver na rua após descer 18 andares. Só então percebi que me faltava a capa de renda, que servira para disfarçar minhas pernas grossas, agora de fora. Ainda bem, um táxi.

O motorista, ao reparar minha nudez, me cantou o tempo todo. Disse que eu era linda, que nunca vira uma mulher tão assim... assim... charmosa, afirmou que eu não precisava pagar a corrida se o levasse ao meu apartamento. Preferi descer longe de casa, duas quadras. Ele me deixou, não sem demonstrar imensa insatisfação. Para contentá-lo, pedi seu cartão, afirmei que, numa outra hora, ligaria.

Corri para casa. Não encontrei conhecido algum na rua, ainda bem. Ao abrir a porta do apartamento, descobri o namorado que me presenteara com o macaquinho. Ele resolvera voltar e não me achara. Onde você estava?, perguntou preocupado. Na casa da Margarida, respondi. Franziu a testa como se não acreditasse. Ela estava em apuros e me telefonou, afirmei. Em apuros?, repetiu. É uma longa história, deixa eu descansar que depois conto, concluí. Tirei a roupa e deitei, ele veio mais uma vez sobre mim. Ainda bem que há a Margarida, pensei. Vez ou outra, eu contava a ele algumas aventuras de minha amiga.