Fui ao Rio encontrar um namorado. Depois de alguns dias o
convenci a vir comigo a BH. Moro no edifício JK, em Lourdes, um prédio desenhado por Oscar Niemeyer e construído quando JK governou Minas
Gerais. Ao entrarmos no apartamento, o namorado se dirigiu à janela, quis
admirar a paisagem, do 18º andar.
Que bonito, não imaginava que este lugar fosse tão atraente,
ele disse.
Gostou?, sorri.
Ele se voltou a mim, me abraçou e me beijou, um longo beijo
na boca.
É realmente uma paisagem romântica, acrescentou.
Nos agarramos e ficamos a namorar durante muito tempo.
À noite, antes de sairmos para beber e comer alguma coisa,
ele me fez um pedido especial.
Você veste uma roupa que ressalte suas pernas, que valorize a
sensualidade de seu corpo?
Claro, nem precisa pedir; além disso, vou fazer uma surpresa,
falei.
Fiquei algum tempo no quarto e, de repente, apareci na sala.
Vestia uma minissaia (bem pra lá de mini) e um top, na verdade uma faixa azul a
me cobrir os seios.
Que beleza, suspirou satisfeito.
Como a temperatura tende a cair durante a noite, cobri-me com
um meio-sobretudo. Ele me abraçou. Descemos, ganhamos a rua às dez da noite.
Caminhamos em direção à praça que fica à direita da primeira transversal.
Trata-se de um local muito arborizado, onde as pessoas aproveitam para ler o
jornal pela manhã, mas à noite é deserto. Íamos pela calçada da direita quando
cruzamos com dona Hemengarda, mulher alta, de traços duros, face que sempre
transmite ar de reprovação. Sua aparência espelha condenação; para ela, aproveitar
a vida é um pecado. Lancei-lhe um ligeiro boa noite. Ela, porém, não respondeu,
olhou-me com os olhos bem abertos e fixos, como se enxergasse por baixo do meu
casaco. O namorado nada comentou.
Seguimos e entramos à primeira rua à esquerda, avistamos um
bar e paramos para beber alguma coisa.
Você não prefere procurar um lugar mais distante da sua
casa?, perguntou com seu ar matreiro.
Por quê?, devolvi, vamos andar mais e ficar cansados mais
cedo, aqui é um bom lugar e, depois, tenho a tal surpresa pra você!
Logo que sentamos, percebi o casal da terceira mesa adiante.
Tratava-se de um homem com quem saí certa vez, e de sua namorada, que eu
conhecia havia pouco. Lógico que à época a namorada dele era eu. Enquanto meu
namorado entabulava uma conversa de elogio a viagens, ao contato com pessoas de
outras cidades (elas enriquecem nossas vidas, dizia ele), eu observava o casal,
tentava descobrir as palavras que saiam da boca do homem. Mas o barulho me
impediu. O namoradinho continuava seu discurso no qual eu já não prestava
atenção. Eu já sabia para onde iria o casal após deixar o bar. O homem gosta de
aventura, e ela vai nas águas dele.
Ficamos ali por mais de uma hora. Bebemos duas caipirinhas
cada. Quando decidimos andar um pouco, o tal homem e a mulher já haviam
desaparecido. Antes de levantar, disse ao namorado:
Segure isto aqui, guarde no seu bolso?
O que é?, ele pareceu não entender.
A primeira parte da surpresa.
Surpresa?
Minha saia.
Subimos a rua Rio Grande do Sul em direção à praça Raul
Soares. Estava escuro, o céu estrelado mas sem lua, a temperatura amena. O
namorado me abraçou, roubou-me um beijo e disse:
Peladinha.
O quê?, fiz que não entendi.
Nua, ele confirmou.
Sorri. Tenho o casaco, redargui.
Não vai ser por muito tempo, completou.
Tenho agora a segunda parte da surpresa, mantive-me na
dianteira.
Pegamos a Amazonas, que não tinha muito movimento àquela hora.
Passava de meia-noite.
Chegamos à praça. Puxei-o pelo braço obrigando-o a seguir-me
na travessia da avenida.
A praça é deserta esta hora, ele disse.
Por isso mesmo, repliquei, vamos a ela.
Procurei o lado onde a luz era menos intensa.
Sabe, continuei, sempre quis namorar aqui, mas nunca tive
ninguém que me trouxesse, os namorados querem logo me levar pra cama, sorri.
Ele me abraçou de novo e me beijou na boca, sentamos num dos
bancos. O namorado enfiou a mão por dentro do meu casaco.
Tira, tira, falei cheia de fogo.
Mas aqui?, perguntou preocupado.
É uma fantasia antiga, afirmei, não demora, vai.
Ele me puxou para trás de uma das árvores, do lado de dentro
do jardim. Ali era possível ficarmos ocultos. Desabotoou meu casaco e o deixou
num dos galhos. Pensei em me abaixar, mas não foi preciso. Eu ouvia os motores
dos automóveis que trafegavam pela Amazonas, mas não era o risco de ser
descoberta que mais me excitava. Eu estava de sandália, com a bolsa a tiracolo
e de top, era tudo o que me restava. O namorado me abraçou forte, tirou o pênis
pra fora e começou a enfiá-lo entre as minhas pernas.
Espera, espera, pedi entre gemidos, vamos devagar, primeiro
tira também meu top, depois quero que você me leve pra andar um pouquinho pela
praça, pedi.
Mas você está nua, alguém pode chegar, ele rebateu.
Não tem problema, moro nesta cidade e conheço a região,
ninguém vai nos ver.
Você vai pegar um resfriado, ele acrescentou.
Não se você me abraçar com força.
Ele me obedeceu. Demos uma volta inteira na praça. Pouco a
pouco eu ficava cada vez mais excitada. No ponto oposto onde havíamos deixado o
casaco, peguei o namorado pelo braço e fiz que ele deitasse sobre mim num dos
bancos. Foi uma trepada e tanto.
Quando acabamos, ele disse:
Vamos, namoramos mais uma vez no apartamento.
Mas ao chegarmos à arvore onde deixáramos meu meio-sobretudo,
inesperada surpresa. Ele havia desaparecido. O namorado assustou-se.
Como vamos fazer agora?, perguntou.
Calma, sou eu que estou nua, disse a ele. Com os meus botões
(aliás, não tinha botão algum), pensei, foi ele, o homem que estava na outra
mesa com a namorada, ficou com raiva porque faço com outro o que costumava
fazer com ele.
Você guardou meu top e minha saia, lembrei a ele.
Mas você continua pelada com essa roupinha, constatou.
Que outra solução você tem?, perguntei como se estivesse com
raiva. Quer ir lá em casa buscar algo mais comprido pra eu vestir? Se aparecer
um homem enquanto eu estiver sozinha, na certa me come, falei e fiz como se
desse uma mordida.
Vocês, mulheres de BH, são loucas, bem que me disseram, já
aconteceu de uma ir passar um final de semana no Rio e não ter roupa para
voltar, acrescentou.
Será que não fui eu?, indaguei com o sorriso mais abeto do
mundo. Vamos contar com a sorte, veja bem, duas luzes da avenida apagaram e na
Rio Grande do Sul não há ninguém essa hora, vamos, venha.
Segurei o homem firme com a mão direita e corri com ele pro
meu prédio. Na portaria, quem encontro. Dona
Hemengarda. Mas dessa vez ela já não podia adivinhar minha nudez por baixo do
meio-sobretudo.
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