"Você gosta de sair sozinha à noite, vai vestida,
recatada, todos os acessórios, mas ao chegar a C., entra no Shopping e, num dos
toaletes começa a se preparar. A saia comprida, bem enrolada, é colocada na
bolsa, a blusa transforma-se num vestido curto, justo e colado ao corpo. A
seguir, a maquiagem na textura exata, um pouco de exagero apenas no batom. Para
não chamar a atenção, coloca uma manta, que disfarça a falta de pano do
vestidinho. Enfim, você sai à caça."
O trecho acima ouvi de um namorado. Como descobriu?,
pensei assustadíssima. Teria de mudar meus planos, meu segredo ia quase água
a baixo. Mas suas palavras foram ditas na hora do amor, naquele momento de
paroxismo, em que perdemos a cabeça. Dois ou três dias depois, ao escapar para
mais uma das minhas investidas noturnas, preocupei-me em observar se alguém me
seguia. Mudei de condução, de ruas e avenidas, mas não percebi pessoa alguma no
meu encalço. Suspirei aliviada. Minhas amigas vieram-me à cabeça. Apenas uma delas
têm necessidade de escapar noite a dentro, escorregar por ruas escuras, correr
certo perigo, procurar a aproximação de alguém do sexo masculino. Chama-se
Margarida. Até hoje não descobri o que me leva a isso. Ela também não sabe explicar.
O que diz é, assim como os homens, as mulheres também têm suas taras,
acrescenta: acima de tudo, precisamos viver todo esse prazer.
Gosto, também, de uma boa conversa, de alguém que
tenha lido um livro e que saiba falar sobre ele, alguém que entenda de
filosofia, rico em ideias e em pensamentos. Parecem polos opostos, não?, de um
lado o corpo, de outro o espírito. Sinto, no entanto, que se complementam. E
como me arrepiam. O namorado, que pensei ter descoberto meu segredo, é de
grande imaginação, às vezes quase chega ao cerne do meu modo de vida, daria um
bom escritor. Será que penetra nos meus pensamentos? Certa vez sugeri a ele
escrever um livro. Mas disse que o mundo prático lhe é mais importante.
Outro dia trouxe-me mais um presente, uma roupa nova,
roupa mínima, que as pessoas chamam de macaquinho. Uma peça inteiriça, que
termina como um short, deixando as pernas de fora. Vesti para ele. Ficou
excitadíssimo, apenas o tal macaquinho sobre minha pele, lisa que só, e sua mão
a deslizar sobre a lividez do meu corpo. Não demorou eu estava nua, a pequenina
peça abandonada sobre o estofado da sala. Namoramos até duas da madrugada. Quando saiu, senti ligeiro arrepio, o macaquinho olhava para mim.
Tomei-o nas mãos e o vesti. Fui ao espelho e admirei-me dentro do pouco pano.
Joguei uma capa sobre o corpo e investi no que restava da madrugada. Não é
preciso dizer que a capa, um tecido negro que cobria o macaquinho, deixava
certa transparência. Aonde ir depois das duas, faltando pouco para o amanhecer?
Entrei num táxi e pedi que me deixasse na porta do hotel mais chique da zona
sul. O motorista olhou-me um tanto desconfiado. Na certa se trata de uma
acompanhante de luxo, deve ter suspeitado. Não me molestou, deixou-me no local
depois de vinte minutos. Na porta do hotel, o funcionário de plantão abriu a
porta do táxi para eu sair. Cumprimentou e encaminhou-me ao hall, como
se tudo estivesse combinado. Premeu o número 18 num dos elevadores e disse que
alguém me esperava logo que a porta se abrisse. Há um engano, pensei, mas
fiquei quieta, a situação me favorecia. Sempre preferi locais abertos, onde
teoricamente tenho mais espaço de manobra, mas, num hotel famoso como aquele,
achei que não me fariam mal.
Como avisara, um homem me esperava à porta do elevador. Tomou-me pela mão, sorriu e me conduziu ao um dos apartamentos. Uma mulher inteiramente nua abriu a porta. “Esta noite, mandaram duas, querem me agradar, uma espécie de cortesia”, o homem disse para ela, ainda sorrindo. A mulher nua despiu-me, levou meu macaquinho e minha capa para uma espécie de armário, ao fundo do quarto. Como não estou acostumada ao sexo coletivo, fiquei meio sem graça. Ela logo notou e perguntou você não é profissional? Nada respondi. O homem foi quem me deixou mais à vontade. Beijou-me um dos seios, abraçou-me e viu que eu fechava os olhos. Ela aproximou-se por trás e abraçou-me. Ficamos os três a sentir o volume de nossos corpos. Podem começar, ele ordenou. Ela virou-me devagar, abraçou-me de frente e deu os primeiros passos, uma espécie de dança. Acompanhei-a. Era um pouco mais baixa que eu, mas bastante hábil. Desceu uma das mãos pelas minhas costas e acariciou-me o bumbum. Depois me virou e pressionou-me por trás. O homem empunhou um pênis de borracha e sinalizou que eu abrisse as pernas. Assustei-me a princípio, mas tive de representar. Minhas pernas portaram-se obedientes, enquanto aos poucos ele o introduzia. Fez que eu agachasse e que minha companheira viesse por baixo. Agora, ela era o meu homem.
Como avisara, um homem me esperava à porta do elevador. Tomou-me pela mão, sorriu e me conduziu ao um dos apartamentos. Uma mulher inteiramente nua abriu a porta. “Esta noite, mandaram duas, querem me agradar, uma espécie de cortesia”, o homem disse para ela, ainda sorrindo. A mulher nua despiu-me, levou meu macaquinho e minha capa para uma espécie de armário, ao fundo do quarto. Como não estou acostumada ao sexo coletivo, fiquei meio sem graça. Ela logo notou e perguntou você não é profissional? Nada respondi. O homem foi quem me deixou mais à vontade. Beijou-me um dos seios, abraçou-me e viu que eu fechava os olhos. Ela aproximou-se por trás e abraçou-me. Ficamos os três a sentir o volume de nossos corpos. Podem começar, ele ordenou. Ela virou-me devagar, abraçou-me de frente e deu os primeiros passos, uma espécie de dança. Acompanhei-a. Era um pouco mais baixa que eu, mas bastante hábil. Desceu uma das mãos pelas minhas costas e acariciou-me o bumbum. Depois me virou e pressionou-me por trás. O homem empunhou um pênis de borracha e sinalizou que eu abrisse as pernas. Assustei-me a princípio, mas tive de representar. Minhas pernas portaram-se obedientes, enquanto aos poucos ele o introduzia. Fez que eu agachasse e que minha companheira viesse por baixo. Agora, ela era o meu homem.
Não consigo precisar quanto tempo ficamos naquele
jogo. Foram muitas as posições. O homem, sempre nos olhando, admirava nossa
performance. Precisamos de muito preparo físico para satisfazermos seus
caprichos. Apenas no final, veio trepar com uma de nós. A que sobrava devia
acariciar qualquer parte do seu corpo, mesmo com a boca, com beijos e
lambidas. Quando estava prestes a gozar, mudava de mulher. Após o prazer,
adormeceu. A mulher, então, perguntou quem eu era. Você não é profissional, ela
reparou. Como descobriu?, retruquei. Fácil, as amadoras trepam com paixão. Qual
o problema de eu não ser profissional?, eu quis saber. O hotel não aceita
amadoras, é melhor você ir, caso o chefe descubra aqui uma mulher fora do seu
controle, tanto você quanto eu vamos ter problemas, vá embora, não demore.
Quando acabou de falar, ouvimos duas pancadas fortes à porta. Minha companheira
correu e foi abrir. Não deixou que eu escutasse a conversa. Do lado
de fora, ainda nua, entabulou uma conversa rápida. Escutei apenas o rastro de
uma voz masculina. Quando voltou, disse que jurou ao homem que no quarto só
havia ela, e que nosso parceiro ia ficar bravo caso se sentisse incomodado. Vá
embora, mesmo que nua, você corre perigo.
Nua?, assustei-me. Ela foi ao armário e jogou o macaquinho sobre o meu
corpo. Vista lá fora, disse, pegue a bolsa e os sapatos, desça pelas escadas. Rápida, saí do apartamento. Vesti a pequena peça entre um andar e outro,
ajeitei-me e consegui me ver na rua após descer 18 andares. Só então percebi
que me faltava a capa de renda, que servira para disfarçar minhas pernas grossas, agora de
fora. Ainda bem, um táxi.
O motorista, ao reparar minha nudez, me
cantou o tempo todo. Disse que eu era linda, que nunca vira uma mulher tão
assim... assim... charmosa, afirmou que eu não precisava pagar a corrida se o
levasse ao meu apartamento. Preferi descer longe de casa, duas quadras. Ele me
deixou, não sem demonstrar imensa insatisfação. Para contentá-lo, pedi seu
cartão, afirmei que, numa outra hora, ligaria.
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