Na casa noturna da dona Efigênia havia muitas damas trabalhando. Todas de alto gabarito. Merillin era loira, cintura fina, pele suave, olhos castanhos claros e outras habilidades que agradavam aos homens que por ali passavam. Nilda, uma morena com corpo violão de chamar atenção dos clientes. Maura, baixinha, meio japonesa, com seios salientes. Débora, uma afrodescendente com cabelos tratados que mais pareciam miojos. Cíntia, bonequinha loira de olhos azuis. Todas à disposição dos fregueses. Numa sexta feira chuvosa, chegou do interior uma mocinha ingênua que fora tentar a sorte na cidade grande. Seus pais tinham muitas filhas e aquela que completasse 18 anos era posta ao relento para se virar e sustentar-se. Jaqueline tentou de início ser diarista, mas como era tempo de crise muitos já não podiam obter este luxo. Trabalhou numa lanchonete, mas o dono se engraçou com ela e ela foi embora. Dormia num corredor que havia entre o balcão e o banheiro.
Quando Jaqueline chegou, ficou de boca aberta. Nunca tinha visto tanto luxo, ficou até meio envergonhada com seu traje. Ela precisava de um banho de loja, cabeleireiros ao seu dispor, sapatos decentes, maquiagem e outros apetrechos de mulher para trabalhar naquele lugar. Foi logo ao encontro da dona Efigênia, que se mantinha o tempo todo num camarote de onde podia visualizar todo movimento do seu estabelecimento. Como ainda era muito cedo, atendeu a moça. Jaqueline não sabia em que serviço dona Efigênia poderia encaixá-la. Esta ficou horas tentando explicar o que aquelas moças bonitas faziam naquele lugar. Jaqueline era virgem e sempre sonhou encontrar um rapaz por quem se apaixonasse para se casar e aí, sim, fazer sexo. D. Efigênia resolveu investir em Jaqueline. Ela ficou linda. D. Efigênia prometeu que poderia ficar no bordel somente para acrescentar beleza àquele lugar. Caso aparecesse algum rapaz por quem ela se interessasse e que tocasse seu coração, deveria decidir-se se iria ou não aos finalmentes. Pediu que ela servisse as bebidas. O gay que trabalhava fazendo o serviço tinha pedido as contas, enrabichou-se por um dos clientes que também gostavam daquela fruta e se arrumou na vida. As outras moças não viam Jaqueline com bons olhos, e a chamavam de Quebra Galho. Os clientes sempre pediam a dona Efigênia Jaqueline. Carne nova no lugar era festa para os homens que mais pareciam urubus. Dona Efigênia, porém, dizia: não, a moça trabalha no bar, não está disponível. As outras ficavam ainda mais intrigadas com aquela situação. Elas sempre como segunda opção.
Dona Efigênia sempre conversava com Jaqueline sobre casamentos. Dizia que as cerimônias mais lindas muitas vezes acabavam em tragédia. Contou muitos casos de casamentos fracassados, vividos por ex-funcionárias, e que sonho é muito bonito mas a realidade é outra. Jaqueline ouvia tudo e continuava a observar que os frequentadores dali eram sempre os mesmos. Um dia apareceu um rapaz que dava para perceber que nunca tinha ido a lugares como aquele. Falou com dona Efigênia que só queria se distrair um pouco. Parecia triste, talvez tivesse passado por alguma desilusão amorosa. Nos intervalos, ele se dirigiu à Jaqueline que, ao vê-lo, sentia o coração aos saltos. Manteve-se comportada, mas com vontade de contar à dona Efigênia o acontecido. Jeferson todos os dias ia à casa para conversar com Jaqueline. As outras moças não entendendo o comportamento do rapaz sempre comentavam: Olha a Quebra Galho! Jaqueline ficou tão apaixonada por Jeferson quanto ele por ela. Os olhos dos dois brilhavam quando se encontravam. Jaqueline contou a ele sua história e ele numa data especial a pediu em casamento.
A festa foi lá, e com dona Efigênia como madrinha. A primeira noite de Jaqueline lá no bordel foi de estremecer o prédio. Jeferson fez tudo com muita classe e Jaqueline se tornou uma mulher, uma mulher casada. No domingo de manhã, viajaram. Na volta, ela iria para casa do Jeferson e não mais para aquele puteiro de luxo.
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