Paul foi um namoradinho ousado. É o que eu sempre acho
quando penso nele. Outro dia, ao dirigir pela península de Ashby e fazer o
retorno, parei diante do Le Match, um antigo bar que hoje mantém
apenas a arquitetura de quinze anos atrás e serve agora de galpão. Paul pedira para sairmos aquela noite de
primavera, queria que eu dirigisse devagar pela orla de Tom e depois parasse
diante do antigo bar. Se fosse apenas essa a sugestão, nada demais. O
namoradinho, no entanto, me queria de biquíni à noite. Perguntei se eu
não morreria de frio, pois apesar da primavera a temperatura resistia a subir.
“Você vai de casaco e de biquíni”, insistiu.
Acabei por lhe fazer a vontade, e o biquíni que vesti era
dos menores, de laçarotes, que entrava todo atrás. Joguei o casaco sobre o
corpo, descia até parte das pernas, e nos aventuramos ao exterior.
“Você não me permite ao menos um par de meias?, dessas que
sobem acima dos joelhos”, pedi.
Ele moveu a cabeça, concordando. Fomos então passear, de carro, uma espécie de furgão. Eu de casaco, biquíni, as meias e um par de
botas.
“Você esta charmosa”, soprou sorridente, soltou o ar quente
pela boca.
Demos várias voltas pela orla de Tom, depois pelo cais de
Ashby e, enfim, fizemos o retorno. Paramos diante do Le Match, onde havia àquela hora poucas pessoas. Eram dez da noite. Parecia que os jovens estavam em
alguma das boates que ficavam depois de Ashby. Pedimos duas bebidas, a minha de
morango e vodca. Ele tomou um Scotch e comeu amendoins. Ficamos em silêncio durante
algum tempo ouvindo a música abafada que vinha dos autofalantes do bar. Uns
homens jogavam sinuca no andar de cima. Após a segunda dose, Paul sugeriu que
saíssemos e caminhássemos até as dunas, a quinhentos metros dali.
Do lado de fora, apesar da baixa temperatura, o céu estava
claro.
“Por que as dunas?”, perguntei.
“Nada demais, apenas um passeio.”
Quando atingimos o ponto mais alto, pudemos apreciar toda a
orla das praias da península. Apesar da noite, o contorno do litoral se
delineava claramente.
“Então, você atendeu o meu pedido”, ele disse, “veio de
biquíni.”
“O que há de mal nisso?”, cheguei a perguntar.
“Que tal você tirar toda a roupa?”, insinuou.
“Acho que não posso, vou adoecer”, falei.
“Então tire o biquíni”, sugeriu mais uma vez.
Dei de ombros. Com as mãos sob agasalho, desfiz os laços. Ele
sorriu quando viu o biquíni nas minhas mãos. Entreguei a ele, que o guardou num dos bolsos.
“Você está gostando”, suspirou.
“Quem sabe”, devolvi.
Veio me abraçar. Suas mãos frias percorreram minha pele
branca e gelada, dentro do casaco.
“É melhor voltarmos para casa”, eu disse.
“Vamos ao Le Match, quero mais uma dose”, ele rebateu.
Descemos as dunas e entramos mais uma vez no bar. Naquele
momento havia mais pessoas. Avistei, entre três rapazes, Diana, uma velha amiga. Ela logo me viu e se aproximou.
“Que casaco bonito, deixa eu vestir um pouquinho”, foi logo
dizendo.
“Não posso”, afirmei.
“Como não pode?”
“Depois te conto”, acrescentei.
Ela deslizou as mãos sobre minhas costas e sorriu.
“Depois tenho também uma coisa pra te contar”, disse e me
beijou, voltando pro meio dos rapazes.
Eles estavam alegres, espelhavam muito vigor.
“Seria bom se ficássemos com eles”, disse a Paul.
Ele deu de ombros, pediu mais uma dose e sentou num dos
bancos. Diana ria muito, logo abraçou o que estava à sua direita e, de lá, deu
uma piscadela para mim.
Não sei como aquela noite terminou. Acho que voltamos ao
carro e ficamos nos agarrando antes de eu dirigir de volta. Pode ser também que
eu tenha dirigido de volta para casa, nua, pois fizera isso algumas vezes para
agradá-lo.
O bar ficou na minha memória, o letreiro ainda é o mesmo,
mas o fim que a construção passou a ter de uns anos para cá não é mais o de
reunir jovens ávidos por bebidas, músicas e aventuras com as mulheres.
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