“Mas você veio nua!”
“Vamos, essa hora sou invisível.”
“Invisível?”
“Isso mesmo, depois te conto.”
Caminhamos pela 312 Norte, passamos dois blocos de comércio. Entre dois restaurante, o Maranello e outro de nome também italiano, havia quatro apartamentos, Marcos tentou a fechadura do 308.
“Encontrei antes tua irmã”, falou.
“Irmã?”
“Uma moça muito parecida contigo, chamei por ela como se chamasse você.”
“Ah, a Mayara, é muito parecida comigo.”
“Isso. Ela disse não, não sou a Maristela, todos fazem confusão entre nós duas.”
“Acredita que já saímos uma trocada pela outra?”
“Como assim?”
“Vê se primeiro consegue abrir a porta, depois conto, lembre que temos pouco tempo.”
“Já vou conseguir, falta testar apenas mais duas chaves.”
“O homem não te explicou sobre qual delas?”
“Explicou”, falou e olhou para mim num átimo de segundo, logo enfiou mais uma das chaves na porta e escutamos a fechadura girar.
“Ainda bem”, falei.
Entramos.
“Quer dizer que você e a Mayara trocam de identidade?”
“Só aconteceu uma vez.”
Terminamos de subir os dois lances de escada. A porta do apartamento foi aberta com mais facilidade do que a da entrada do prédio.
“Veja, há até um sofá”, deixei escapar minha surpresa.
“Ele me falou sobre isso, o morador anterior deixou o sofá, quem vem aqui pode usá-lo. Mas espere.”
Tirou um lenço do bolso, foi até o banheiro e voltou com ele molhado, passou sobre o vinil.
“Agora pode sentar, está limpo.”
“Obrigada.”
“Mayara nada me falou sobre isso, e já conheço ela faz um tempinho”, afirmou.
“Coisa de namorados e paqueras, o cara ficou em cima de mim o tempo todo, até que falei a ela quer sair com um carinha?, ele até é bonitinho. Jura? Foi a resposta dela, sempre em forma de pergunta, a Mayara adora efeitos de linguagem. Quando ele telefonou passei a ela, então marcaram e saíram. Disse cuidado, Mayara, essa noite você se chama Maristela. E ela foi, adorou, encontrou o cara mais duas vezes, depois não sei mais o que aconteceu."
“Será que não casou com ele?”
“Não, caso isso acontecesse teria me convidado.”
Deitei no pequeno estofado. Marcos começou a me fazer carinho.
“Você é bonita, sabe?”
“Sei.”
Puxei seu pescoço e o beijei no rosto.
“Venha, suba sobre mim, já te falei que temos pouco tempo, e estamos nos perdendo em conversas paralelas.”
“Conversas paralelas?”, riu.
Antes de sairmos, perguntou:
“Você não tem vergonha?”
“Vergonha de quê?”
“Muitas morrem de vergonha quando acabam.”
Quando acabam?
Depois que gozam.
“Ah, entendi. Não, não tenho vergonha.”
“Mulher corajosa, e veio nua...”
“Lembra que sou a Mulher Maravilha? Gosto de aventuras, apenas isso.”
“Temos ainda quantos minutos?”
“Ah! Nossa, um minuto, isto é, cinqüenta segundos, vamos”, gritei.
“Espere.”
“Sou invisível por apenas mais trinta, tenho que chegar ao carro, tchau.”
Despenquei escada abaixo, e ele embaralhado nas chaves.
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