quarta-feira, novembro 18, 2015
Onde deixei o biquíni?
Olhou-se no espelho, aprumou o tronco, exibiu-se movendo-se para esquerda e para a direita, reparou a barriga, sempre achou que tinha barriga, inspirou e manteve presa por alguns segundos a respiração, exibiu de novo o tórax girando o corpo em um ângulo de quarenta e cinco graus, esquerda e direita, depois soltou o ar, mas mantendo o tanto que achava de barriga para dentro, tentaria segurar a postura, o teste das areias da praia, ele sempre acabava por revelar o corpo das mulheres. Fechou a porta do armário onde estava o espelho e permaneceu ainda nua. Caminhou através de um pequeno corredor e chegou à sala, tinha deixado o vestido sobre uma das poltronas. Sempre desorganizada, vestidos sobre sofás e poltronas; de um dia a outro, as roupas a esperavam. Olhou a janela, o vidro transparente permitia o panorama dos outros prédios. Tantos os vizinhos, será que esperavam que ela aparecesse para observá-la? Sempre ia nua até a sala, sempre a procurar pelos vestidos, pelos panos que envolviam seu corpo. Nesta manhã quero a canga lilás, onde a canga lilás? Duas ou três estavam umas sobre as outra, a lilás era a terceira. Tempo suficiente para ser vista pelo homem no outro prédio, vai ver ele já tinha uma foto dela, a tecnologia, os apartamentos tão próximos. Envolveu o corpo no pano, enfiou uma das pontas dentro do próprio pano, na altura dos seios, apertou bem. Tomaria o café e sairia, o sol e o mar a esperavam . Mas tinha ainda de vestir o biquíni, lógico que não esqueceria. Lembrou de um namorado de outros tempos, sempre as lembranças, sentia prazer com as lembranças, o tal namorado a queria nua, incentivou-a a tomar banho de mar nua. Como vou ficar nua com tanta gente em volta? Acharam a saída, ela enrolaria o corpo na canga, nada mais sobre a pele, depois foram a um bar, desses de mesinhas no calçamento, e ela pediu uma caipivodca. Depois de dois ou três goles o prazer foi maior. Não sabia que era tão gostoso, falou ao namorado. A bebida?, ele. Não, o corpo, estou toda arrepiada. Outra lembrança boa era a do chapéu de abas largas, tipo mexicano. Era época em que muitas mulheres faziam topless na praia, e ela não ficaria para trás. O chapéu, na verdade, também servia para cobrir a cabeça; ela, porém, mais o usava para cobrir os seios. O top guardado dentro da bolsa de palha e o chapéu sempre numa das mãos. Até que um menino lhe esbarrou o braço e voou o tal chapéu. Os seios, nus, e uma pontinha de vexo. Não demorou a aparecer um cavalheiro trazendo-lhe o sombrero de volta. Resultado, os seios sensuais disfarçados e um novo namorado. Duas lembranças para a manhã que começava já eram suficientes. Tomou o café. Agora o biquíni, onde deixara o biquíni? Pôs-se a procurar as duas peças.
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