segunda-feira, dezembro 15, 2008

Vestido curtinho

Ia eu no Plaza, em Botafogo, numa quarta-feira à tardinha. De repente encontro a Vera.

“Oi, que bom encontrar você! Precisava mesmo lhe contar uma novidade. Que vestido lindo que você está usando! E é curtinho...”, falou.

Abraçamo-nos e trocamos beijos.

“Gostaste do meu vestido?”

“Adorei; agora está na moda, não é mesmo? Antes se usava com calças leg por baixo. Mas agora, distância das calças”, sorriu, tocou meu rosto, como se quisesse ajeitar uma mecha do meu cabelo.

“E a novidade que vais me contar? Sabe que adoro histórias.”

“Vamos sentar então na cafeteria do segundo piso”, sugeriu.

Caminhamos lado a lado, ela segurando um dos meus braços. Também estava elegantemente vestida. Os rapazes não a desprezavam; como toda mulher, caminhava vaidosa.

Na cafeteria, começou a contar:

“Olha, conheci um cara, estou com ele faz um mês. É show; me leva pra cada lugar... E eu deixo ele louco. Aprendi aquelas coisas com você.”

“Que coisas?”

“Ah, não se faça de inocente, foi você quem me ensinou.”

“Queres dizer que então estás feliz?”

“Felicíssima”, falou.

“E como ele é?”

“Alto, elegante, educado; e tem trinta anos.”

“Trinta?, que bom.”

“Vou comprar um vestidinho que nem o seu; onde foi?”, perguntou e tocou no tecido, que mal me cobria as coxas. “Vou deixar o homem louco. Esse vestido ressalta bem as pernas de fora!”, sorriu e levou aos lábios a pequena xícara de café.

“Vais dizer que não tens uma roupa curta parecida?”

“Tenho, mas esse seu está tão lindo...”

“Digo a loja e ajudo a escolher.”

“Você é maravilhosa.”

“Ainda proponho mais”, continuei. “Queres andar por aí com ele um pouquinho? Temos o mesmo corpo, empresto.”

“Empresta? Como?”

“Empresto, agora. Quem sabe arranjas mais um namorado?”

“Ah, Margarida, você é maravilhosa. Aceito a oferta. Como vamos fazer?”

Acabamos nossos cafés e fomos a um dos banheiros. Trocamos de roupa. Meu vestido ficou lindo sobre seu corpo. Como ela é talvez um centímetro mais alta que eu, ele ficou um tantinho mais curto. Vesti a calça comprida que ela usava e a blusinha bege.

Quando passamos de novo em frente à cafeteria, a garçonete nos olhou surpresa. Creio que reconheceu nossas roupas invertidas.

Os homens a admirá-la tornaram-se mais numerosos.

“Estás fazendo o maior sucesso, vou deixá-lo com você, depois passo na tua casa e o pego de volta.”

“Jura, Marg?”

“Juro”.

“Você é ótima; adoro você”, ela me beijou num êxtase de alegria.

Despedimo-nos. Ela estava com o corpo quente; ia excitada com a nova roupa.

“Quando você passa lá em casa?”

“Amanhã ao entardecer está bom?”

“Está! Até lá vou fazer o maior sucesso”, sorriu e apertou meus braços com as duas mãos, num último sinal de carinho e alegria.

“Então vá.”

“Tchau, depois de conto.”

“Ah, adivinhaste; vou querer saber tudinho.

Ela riu mais uma vez, virou-se, antes de desaparecer ainda me deu um adeusinho.

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