Certa vez eu falara a ele que faria uma surpresa. Havia
comprado uma sainha, improvisaria uma blusa curtinha, vestiria o conjunto e
desfilaria à noite, só pra ele. Mas nunca cumpri minha promessa. Sempre que o
encontrava, saíamos, víamos um filme e depois jantávamos num restaurante da
orla marítima. Na volta, logo ao entrarmos a casa, nos agarrávamos e nos beijávamos. Ele, então, tirava minha roupa e mergulhávamos num sexo
quente, pleno de ardor. A surpresa ficava sempre para a próxima semana.
Mas na semana passada resolvi fazer o contrário. Quando ele
chegou pra me pegar, eu vestia a tal sainha e blusinha, levava nas mãos uma
echarpe, para caso de um frio repentino. Percebi que ele se surpreendeu, porém
nada falou. Entramos num táxi e fomos ao cinema. Dentro da sala, outro ato
inesperado de minha parte. Tomei uma de suas mãos e a coloquei sobre minha coxa
esquerda. A mão quente tomou grande parte da minha perna, a sainha subira
confortavelmente. Ele chegou mais perto, moveu o tronco como se quisesse
arranjar-se mais confortável na poltrona. Ainda no escuro do cinema,
beijamo-nos, cheguei a sussurrar no seu ouvido gostou? Ele me beijou mais uma
vez. Há muito que prometo, cheguei a soprar. Ele relaxou no recosto e assistimos
ao filme.
Você, com essa sainha, o melhor seríamos ir a uma boate, vai
fazer o maior sucesso, sugeriu. Uma boate apenas para nós dois?, insinuei. Não,
uma boate de verdade, você dançando agarradinha a mim. Tudo bem, concordei.
A boate era bem pequena, havia o bar e a exígua pista de
dança. A música, como sempre, era alta, ecoava terrivelmente em nossos ouvidos;
as luzes, de enlouquecer. Como estava muito cheio, ele me abraçou e não me
largou um momento sequer. Acho que temia que eu fosse levada por algum homem
sozinho, ou alguém a me enfiar as mãos sob a minissaia. Bebemos as nossas
caipirinhas e dançamos agarradinhos. Algumas mulheres também se agarravam aos
homens. Havia alguns que ficavam ao redor da pista, aguardavam olhares
maliciosos. A ideia da boate fora boa. Eu me soltava, acelerada pela bebida.
Depois de algum tempo, percebi alguns estofados, rodeavam as paredes da boate,
onde namoravam mulheres e homens; alguns, pelos gestos ousados, pareciam
apaixonados. Dançávamos alucinadamente, ele resguardava-me com as mãos, não
desejava perder nem mesmo um milímetro do meu corpo. Percebi entre as mulheres uma que dançava com um micro vestido. Não podia levantar os braços sob o risco
de deixar seu bumbum de fora. Como era safadinha, vez ou outra se exibia,
girava, e revelava. Os homens a olhavam, queriam-na nua. Um deles chegou-se a
ela, abraçou-a e, disfarçadamente, tocou suas coxas. Ela jogou o corpo pra
trás, inclinando-se num precário equilíbrio, o vestido subiu um tantinho, o
suficiente para revelar que ela estava totalmente depilada. Não sei dizer por
quê, mas senti inveja da mulher. Queria eu fazer o mesmo? Meu namorado
continuava a me abraçar. Estou morrendo de tesão, disse no seu ouvido, em meio
a todo o barulho da boate. Mas ele escutou. Saímos da pista e nos colocamos em
uma das extremidades, onde não havia tanta gente. Queria que houvesse um
buraco, falei. Um buraco?, repetiu como se não entendesse. Pra você me deixar
nua e me comer, acrescentei. Olhamos em volta. A parede era forrada de veludo,
muita gente se agarrava encostada nela; no fundo, os toaletes; ao lado uma
porta sem letreiro. Pedimos licença e escapamos. Meu namorado mexeu na
maçaneta, a porta abriu-se. Lá dentro, outros casais, mais estofados, pessoas
que se agarravam. Numa ponta, descobrimos um lugar vago. Sentamos, eu sobre seu
colo. Imaginem, eu de sainha, as pernas abertas, sobre as pernas de meu
namorado. Ninguém olhou pra nós, não estavam interessados. Não fizemos o
principal, mas senti o seu sexo no meio das minhas pernas. É melhor irmos, ele
disse, vamos nos agarrar em um lugar em que fiquemos à vontade. Tudo bem,
consenti. Queria sentir seu pênis dentro de mim, na posição em que estávamos
não era possível. Olhei ao redor e reparei que ninguém trepava ali, apenas as
saias, ou vestidos, iam acima da discrição exigida. Enquanto ele foi ao caixa
pagar nossos cartões, corri ao toalete, um quadrado também muito estreito, onde
cabiam duas pessoas diante da pia, ou do espelho; meio metro atrás estava uma
porta de metal que dava entrada ao local onde ficava o vaso. Diante da pia,
havia quatro mulheres, a princípio não entendi o que discutiam. O mais curioso:
uma delas estava inteiramente nua. Perguntei se a cabine onde ficava o vaso
estava disponível. Uma delas disse sim, as outras continuaram discutindo.
Entrei, fechei a porta e prestei atenção à conversa. Você fala com ele, ele vai
resolver, sempre resolve, falou a que estava nua. Outra interveio com
duas perguntas repetidas, como se estivesse muito surpresa: mas como?, mas
como? Depois explico, disse a nua, vá falar com ele, não é a primeira vez que
acontece. Saí da cabine, perguntei se poderia lavar as mãos. A nua afastou-se e
apontou a torneira, não demonstrava vexo algum. Ao abrir a porta do toalete
ainda ouvi as mulheres: quando amanhecer, quero saber como você vai fazer pra sair pelada da boate, fale
com ele, ele vai resolver, está muito barulho... As vozes se perderam,
abafadas pela música alta e bem ritmada. Meu namorado abraçou-me, saímos e
tomamos logo um táxi.
Enquanto o táxi rolava pela orla da
lagoa, contei ao namorado sobre a mulher nua no banheiro. Sabe, achei aquilo muito engraçado, a mulher dava a entender que não tinha o que vestir, como pode ter acontecido?, certamente ela não saiu nua de casa. Ele riu, talvez tenha achado o assunto excitante. Já terminei nua a noite, mas faz tempo, aconteceu num daqueles bailes de carnaval de antigamente, rolava de tudo. Você ficou nua, como a mulher de quem acabou de falar? Sim, fiquei, todo mundo ficava, o que tem? Nada, nada, ele disse preocupado de que eu não ficasse aborrecida. Acho que sua pergunta revelava por que a mulher estava nua, devia ter acontecido o mesmo que acontecia a nós naqueles famosos bailes. Você gostou da minha sainha?, disse baixinho no seu ouvido e o beijei. Adorei, ele respondeu, mas prefiro você sem ela. Sem ela?, repeti. Isso mesmo, acrescentou, sem a saia. Então tira, pode tirar, me deixa nua, soprei-lhe. Mas aqui no táxi?, pareceu surpreender-se. Não faz mal, a nua serei eu. Então, ele atendeu o meu pedido, quero dizer, a minha quase súplica, porque eu já estava morrendo de vontade de trepar com ele. Ele resolve, fale com ele que ele sempre resolve. Enquanto eu gozava, a
voz da nua ecoava na minha cabeça.
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