Jeane anda pela galeria
comercial mais famosa de sua cidade, aproxima-se o inverno e ela quer comprar um casaco. As lojas enfileiram-se com aquele visual colorido e
alegre, em algumas delas pode-se sentir o cheirinho das roupas, tão atraentes
e tão fofas, como um carinho que se está prestes a receber. Ela olha os
casaquinhos, pois, afinal, em sua cidade não faz tanto frio assim. Após a
opinião da vendedora e de alguma reflexão, compra um de cor verde, de
malha, que se amolda perfeito ao seu corpo. Ele desce um pouquinho além da
cintura. Jeane até mesmo lembra que, num inverno anos atrás, saiu para
namorar vestindo apenas um casaco, mas isto é outra história. A vendedora
embrulha a peça, e mantém-se sorridente durante todo o tempo em que Jeane
fica na loja; depois coloca o embrulho numa bolsa bonita e lhe entrega. Ela
sai da loja pensando em quando estreará o agasalho, sabe que faz bater
mais forte o coração dos seus admiradores onde quer que passe. Há também
aquele senhor que sempre está à porta de casa, na mesma rua onde ela mora. Ele a olha com olho gordo. Acha engraçada a expressão "olho gordo", não é criação sua, mas de uma amiga da vizinhança.
A amiga de Jeane usava a expressão "olho
gordo" porque quando via um tipão, ficava doida pra ir pra cama com ele.
Jeane era devagar, demorava aceitar a aproximação de qualquer homem, fosse ele
o mais bonito de todos. Isso contribuía para provocar seus admiradores. Todos a
paqueravam, apesar de Jeane não corresponder a quase nenhum deles. Mas a amiga
do olho gordo via em Jeane um jeito diferente de amar, descobrira uma porta que
se forçada de modo adequado poderia ficar escancarada. Por isso, não desistia
de buzinar suas ideias na cabeça da mulher.
Jeane sai da galeria comercial e põe-se a caminhar
pelo passeio da rua principal da cidade. Olha mais algumas vitrines e cumprimenta de longe duas amigas que passam apressadas. Duas quadras adiante, ao dobrar
uma das ruas que leva ao bairro onde mora, vê um casal passar agarradinho.
O coração de Jeane sobressalta-se, o homem que vem agarrado à moça parece o
seu ex-namorado, o tal que veio namorá-la e a encontrou esperando por ele
vestida apenas com o casaquinho. Ela não consegue ter certeza se é mesmo ele
que desfila com a namorada pelo calçadão da cidade. Mas aquela presença
súbita reaviva nela a lembrança do dia em que foi mais ousada. Ela
confessou a si mesma que a ideia de encontrar com ele vestindo apenas o
casaquinho foi interessante. Ele havia ligado dizendo que estava com saudades. Ela,
então, quis inovar em suas atitudes. Banhou-se em água quente com sais e ervas afrodisíacas. Após sair do banho e enxugar-se, hidratou o corpo com um
creme especial e um óleo muito cheiroso, depois vestiu o tal casaco. Como
estava frio e ela gostava de tomar um chazinho, leite morno e caldos, preparou
tudo com esmero. Por último, acendeu a lareira. Ficou esperando o namorado
preparada, num ambiente fofo e bem aconchegante. Todos esses detalhes revelavam
que ela estava com muita vontade. Quando ele chegou, foi atender a porta com o
seu casaquinho verde, sem calcinha e sem sutiã. Seus seios estavam fáceis de
serem vistos, e pediam para serem tocados. Quando se cumprimentaram, o namorado
percebeu sua pele lisa e gostosa. Suas mãos percorreram todo o corpo de Jeane,
encontrando uma xereca raspada e apetitosa. Os dois rolaram no tapete macio que
havia na sala, e se deliciaram num só gozo.
Depois de caminhar três quadras, Jeane entra na
rua onde mora. A primeira pessoa que vê é o senhor que a paquera. Posicionado quase em frente a casa dela, ele permanece encostado a uma árvore. Quem sabe, ela pensa, depois de reviver o passado até que estou mordida... e ele merece uma
chance, pelo menos é persistente. Entra em casa já convicta de que não deve viver só de lembranças. Não tranca a porta. Prepara-se do mesmo modo como no dia em que se
encontrou com o namorado. O banho de sais, o creme, o óleo cheiroso sobre o corpo. Depois ferve água e faz chá de ervas, acrescenta uma pitadinha de gengibre ralado. A bebida torna-a mais excitadinha. Enfim, acende a lareira e olha através da janela do segundo
andar. Avista lá embaixo o senhor. Ele ainda a espera, igual a um cachorro sem
dono. Ela chega à sacada e faz um sinal para ele entrar. Aguarda-o deitada no tapete. O homem não acredita estar vendo
aquela cena, mas avança sobre Jeane como se fosse um touro. Ele adora a novidade, e Jeane revive o passado. Mas desta vez não por meio de lembranças, seu corpo
transborda prazer.
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