Desde que fui morar naquela pequena cidade, o que mais me impressionou foi o lago que ficava a trezentos metros dos fundos de minha casa. Um lago é sempre alguma coisa imponente. Suas águas tranquilias transmitem uma espécie de certeza que não sentimos quando observamos outros tantos acidentes da natureza. Um lago não é como um rio, que flui incessante. Não podemos dizer que não nos banhamos duas vezes no mesmo lago. Num lago não há como medir o tempo. Nele, o tempo não passa. Dia e noite, sempre os mesmos, e me causando forte impressão.
Numa determinada manhã, resolvi ir até ele e nadar um pouco. Admirei-me mais ao sentir suas águas mornas. Mesmo com a temperatura de meia estação, a água ali era sempre quente. Ao chegar o inverno, também não deixei de frequentá-lo. Saía de casa toda agasalhada. Mas ao tocar a ponta do pé em suas águas, podia tirar toda a roupa e entrar para me sentir aquecida. Ele só podia ser um lago oriundo de atividades vulcânicas. Não havia coisa melhor do que mergulhar e nadar naquelas águas que só se agitavam com minhas braçadas e movimentos de pernas.
Com exceção do período de chuvas, preferi dali em diante banhar-me à noite. Dois os motivos: o primeiro, ficava deserto, nenhum dos frequentadores diurnos apareciam; o segundo, eu podia entrar nua no lago. Meu horário era após as dez horas, quando a maioria dos moradores do lugarejo já estava na cama. Nas noites mais escuras, aventurava-me a sair de casa, nua. Furtiva, caminhava até a beira d’água e logo me vestia apenas com suas águas tépidas.
Mas como nenhum paraíso dura para sempre, acabei descoberta. Flutuava tranquila numa noite sem lua, sem fazer ruído algum, era um braço da mãe natureza que permanecia meio submerso meio à flor d’água. Senti um respingo. Agitei-me a princípio. Não podia ser gota de chuva, o céu estava estrelado. Pensei tratar-se de algum peixe maior. Ora, peixes por ali deviam ser pequenos. Mas em uma das extremidades do lago estavam dois rapazes. Teriam-me visto? Estariam a me observar durante muitos dias? Afastei-me, sorrateira e sem fazer ruído, para a outra margem. Mas eles tinham ouvidos de pescador. Acompanharam meus movimentos.
Lutamos a madrugada inteira. Como o pescador solitário que solta a linha e deixa sua presa cansar, eu era a grande raia exausta. Não tardaria a amanhecer, o céu já se avermelhava a oriente. Temi que todos do lugarejo viessem para admirar peixe jamais visto naquelas águas brandas. Voltei à margem mais próxima de minha casa. Os dois me seguiram, esperaram, todo sorrisos. Quando fiz que ia sair, hesitei.
Lutamos a madrugada inteira. Como o pescador solitário que solta a linha e deixa sua presa cansar, eu era a grande raia exausta. Não tardaria a amanhecer, o céu já se avermelhava a oriente. Temi que todos do lugarejo viessem para admirar peixe jamais visto naquelas águas brandas. Voltei à margem mais próxima de minha casa. Os dois me seguiram, esperaram, todo sorrisos. Quando fiz que ia sair, hesitei.
“Algum dos dois é cavalheiro para me emprestar uma camiseta?”
“Queremos te ver nua há tanto tempo. Faz dez noites que te acompanhamos, não faz sentido emprestar uma camiseta agora.”
Sorri e me levantei. Fizeram questão de me acompanhar, lado a lado.
À porta de casa, beijei a ambos fazendo de conta que me despedia.
"Não vais nos oferecer um café?", perguntou um deles.
"Vieram aqui apenas para tomar café?", pisquei os dois olhos e sorri.
À noite não resisti, voltei ao lago. Mas os rapazes já não estavam lá.
"Não vais nos oferecer um café?", perguntou um deles.
"Vieram aqui apenas para tomar café?", pisquei os dois olhos e sorri.
À noite não resisti, voltei ao lago. Mas os rapazes já não estavam lá.
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