segunda-feira, agosto 03, 2020

Quietinhas quentinhas

As pessoas me acham quieta, incapaz de transbordamentos, de acessos de entusiasmo. Sônia não demonstra suas paixões. Verdade? A vida social é enganosa, não sou artista, mas consigo representar. Um dia desses recebi elogios de um amigo, ninguém imagina o tanto que vibrei. Num período difícil, quando a vida não é fácil para ninguém, receber um carinho como aquele me permitiu um voo e tanto. Mas é lógico que ninguém notou. Quem me viu nos dias que se seguiram me achou a mulher de sempre, discreta, guardada em cuidados, meus prazeres pelas pequenas coisas escondidos a sete chaves, nenhuma demonstração, o coração limpo, mas o corpo trêmulo de alegria. Tenho amigas que me narram atitudes extremas, me deixam surpresa. Como podem ser assim? Isso vale tanto sobre o modo de vestir como a reação ante a um homem, numa simples paquera ou mesmo na cama. Uma delas me contou coisas que não consigo escrever aqui, imaginem, por favor, principalmente no momento em que vai nua nos braços do amante. Jamais eu agiria assim, confesso que não sou insensível, mas não posso me descontrolar. Certa vez, um homem insistiu tanto que acabei saindo com ele, fomos a um restaurante. Sempre achei que, quando se começa um relacionamento amoroso, as palavras não são necessárias, cai-se como manga madura nos braços do outro. Ele, porém, resolveu conversar. Não falemos nisso, pedi, muito solícita, sorridente mesmo, mas o homem não entendeu. Não posso me relacionar com alguém que depende das palavras. Tal namoro jamais dará certo. Às vezes fico em dúvida e acho que preciso mudar de comportamento. Mas lutar contra a própria natureza é algo mutilador. Para muitas pessoas, é impossível chegar ao comportamento que beira o bom senso. Volto ao meu amigo, o elogio foi em relação às minhas fotografias, na verdade umas fotos que faço como amadora. Não sei se ele fala a verdade, mas estava me sentindo tão só, e num momento tão complicado, que me provocou uma alegria que não consigo transformar em palavras. Lembram as adolescentes fora de si ao verem o artista preferido num show aberto ou na porta do hotel onde está hospedado? Não quero ser deselegante, mas há quem diga que chegam a molhar a calcinha. O elogio me produziu a mesma sensaçãofez. Por outro lado, para quem quer me levar para cama, é preciso paciência. Não saio de primeira, nem de segunda. Espero, como a natureza, de novo a fruta que amadura. Houve uma exceção. Era mais jovem, estava com muita raiva naqueles dias. Andava pelo centro da cidade quando um homem me seguiu. Bonito, ele. Por isso, talvez a decisão intempestiva. É a primeira vez que falo nisso, daqui de onde escrevo não imagino o leitor, apenas o papel branco com minha experiência rubra. Isso mesmo, bem rubra. Parei na Sete de Setembro, esquina a uma rua pequena, próxima à Carioca. O homem veio falar comigo. Há uma escola de música ali perto, e ouvia-se som de trompete, alguém tentando talvez uma nota não digo impossível, mas difícil para um iniciante. Sim, o músico devia estar nas primeiras lições. E eu, qual meu grau nas lições de sexo? Minha experiência rubra foi num hotel da rua do Lavradio. Apague todas as luzes, feche todas as cortinas, por favor. Eu não queria me ver nua! Foi a única vez a tempestade. Voltei dias depois à calmaria, verão sem vento, mormaço no meu corpo dentro do maiô inteiriço. Bom que me achem quieta, tranquila, discreta. Os homens conhecedores de mulheres sabem a verdade, as caladas conhecem mais, sabem melhor, não precisam gritar mais alto nem botar a bunda de fora. Depois da minha experiência no centro do Rio, com vinte e um anos, tornei-me mulher experiente. Ações amorosas não precisam de espalhafato, basta o escurinho do apartamento, o carinho, o elogio. Bonitas as fotos. O protagonismo ou a independência da mulher começam nesta via, é a melhor resposta às queixas das amigas. O orgasmo completa a relação, degelo de início de primavera. Mas como chegar ao orgasmo, sem palavras? Não tenho fórmulas. Segure aquele que você deseja pela mão. Em silêncio. O tato é um sentido muito especial. Vamos ver então o que pode acontecer.

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