Meu biquíni estava sobre a cama, lá fora o sol brilhava.
Engraçado a minúscula roupa de banho sobre a cama, tão pequenina, bem menor do
que vestida no meu corpo. Tomei na mão a peça de baixo, levantei a perna
direita, coloquei o pé, depois a esquerda, o outro pé, puxei-a coxas acima.
Ajeitei-a olhando-me no espelho. Primeiro de frente, depois de costas. Puxei o
elástico, esse tipo de biquíni precisa ficar bem entrado no bumbum. Vesti o
top, tarefa mais fácil. A camiseta por cima. Onde o telefone?, ah, sim, na cadeira
da sala, próximo à tomada. A bolsa com a carteira de dinheiro, o maço de
cigarros, uma toalha de tamanho médio, óculos escuros. Pronta. Ah, sim, o
livro, coisa leve, policial, Agatha Christie. Embora não tenha carro, saio pela
porta da garagem.
Certa vez, um livro atraiu um namorado, quero dizer, um futuro namorado. Adoro mulheres que leem bastante, disse o até então desconhecido. Como sabes que leio bastante?, quis eu interferir. Antes tivesse ficado quieta. Ele queria conversa, tudo servia de motivo para avançar, não só na narrativa, mas na direção do meu corpo. Não é sempre que uma mulher com um biquíni mínimo desses dá papo a marmanjo. Não fui advertida por ninguém, só pelo meu alter ego. Narrou uma história longa, enredo do último livro lido por ele. Gosto de romance cerebral, compreendes?, nada de muito sangue. No máximo um morto. Um culpado. Pessoa importante, não pode ser a camareira nem o porteiro do hotel. O tal homem entendia de polar, como dizem os franceses, quem sabe o criminoso seria o assessor do ministro da economia, que estava hospedado no hotel. Um escândalo governamental. Olhei pela primeira vez o homem nos olhos, cabelos pretos, bronzeado, muito mesmo, não se deu ao desprazer de me convidar para tomar uma cerveja. Homens de luxo não bebem cerveja. Pelo menos na frente de mulheres que valham a pena. Também não convidam a mulher para deixar a praia, com segundas intenções, vamos a um restaurante, ou passear por aí, uma praia mais selvagem na cidade vizinha. Quem se garante, sabe que a presa cairá, mesmo que passem dois dias ou duas semanas. Precisa-se de poder de atração. E ele o tinha. Uma mulher veio falar-lhe, loura, de biquíni claro, também pequeno, mas acho que um pouquinho mais coberta do que eu. Deu um beijinho nele. Falou-lhe algo que não ouvi e partiu. Parou junto a duas amigas, vinte ou trinta metros adiante. Minha prima, chegou a dizer, um particular, namoradeira, não dispensa ninguém, mas não namoro parente. Pediu licença, disse que voltaria, caso a presença não fosse enfadonha. É lógico que não usou a palavra. Nada falei, peguei meu livro e continuei. Não se passaram muitos minutos, talvez vinte, ele veio com uma bebida de cor azul. Um coquetel, aceite, por favor, trata-se de uma surpresa. Coquetéis, cor azul, sabor de euforia que a praia proporciona. Estava indo bem. Onde se fazia o tal coquetel naquela praia. Logo acima, no restaurante, sempre atendem aos meus pedidos, sou um cliente antigo. Bebemos os dois. Ele o seu, eu, o presenteado por ele. Tem uma ponta de curaçau aqui, adivinhei. Isso, um pouquinho de cada coisa, tequila, curaçau, uma pontinha de limão, mínimo em mel e duas pedrinhas de gelo. Mas, segundo o barman, há ainda um segredo, que não diz a ninguém. Rimos e bebemos, devagar. Tão gostoso o coquetel, não queria que acabasse. Ficamos em silêncio durante alguns minutos. Gosto desses momentos, admiro os homens que sabem fazer o silêncio parte da conversa. Não é um silêncio que nos deixa de mãos abanando nem sem jeito por falta de conversa, mas o silêncio que nos permite sentir melhor o calor do sol sobre a pele, a beleza do mar com todo o brilho vigor que transparece, o vento brando que nos acaricia o ventre. A explosão das ondas sempre selvagem, indomável; por outro lado, nossos desejos, a vontade de ser civilizada, a vida em sociedade envolvendo as pessoas que frequentavam a praia. Quando me voltei a ele, sem ter o que dizer acabei rindo. Enfim, boa a tua bebida, soprei. Minha nada, do barman. Ele bebeu o tantinho que restava do seu copo comprido. Eu, comprida, minhas nádegas de fora, separadas pela tira elástica do biquíni, movi-me na cadeira, queria entrar n’água, arrefecer o princípio de incêndio que me tomava. O namorado (já posso chamá-lo assim)tomou os copos nas mãos, fez menção de devolvê-los ao restaurante. Espera, temos tempo, cheguei a dizer. Percebeu que eu o queria por perto, não se perdesse quem sabe em sabe outras mãos, outras mulheres nuas, mais e mais coquetéis. Vamos entrar n’água, levantei-me e o puxei com as duas mãos. Dentro d'água, abraçou-me por trás, cobriu-me, eu nua, nua, querendo mais.
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