Volto aos dias de hoje. Com a reunião pelo Zoom então, nem pensar, onde será que ele está?, fico a imaginar seu quarto, sua cama que não é possível avistar por trás de sua face sempre alegre. Por falar em alegria, ele não dever pensar na vida, digamos, na condição humana. Uma pessoa que está sempre com o sorriso nos lábios não é capaz de pensar que vamos envelhecer e morrer um dia. Ou talvez achem essas coisas naturais. Natural a efemeridade da vida, o escapar das horas e dos momentos que desejávamos eternos.
Meu amigo é casado, não posso negar. Mas não ligo, o importante é que me dá atenção como nenhum outro, ou nenhuma outra. Também não demonstra intenção de me paquerar. Verdade. Não é que eu queria a tal paquera? É bom quando alguém demonstra interesse pela gente. Ele demonstra, mas não de que eu seja sua amante. Que palavra pesada, muitos dirão: amante. Está fora de moda.
Houve uma época em que todos (ou quase) tinham amantes, tantos os homens como as mulheres. Tive um. Encontrávamos uma vez por semana no centro da cidade, tomávamos um café, numa cafeteria bonita, e depois corríamos ao hotel próximo, na Senador Dantas, ainda com o gosto do café na boca. Outro dia passei por lá, o hotel ainda existe. Quanto ao amante... Bem, não dá para se ter um amante a vida inteira, acontecem muitas coisas. Além disso, o amante (ou a amante) não é o principal na vida de uma pessoa, é para quando há uma brechinha de tempo.
Como justificar um amante em nossas vidas?, eis a resposta. Na França, muitos têm amantes, serve para esquentar o relacionamento do casal, quero dizer, do casal de marido e mulher. Há quem diga que na França não é mais assim. Agora, as pessoas são verdadeiras (é possível a verdade?). Não faz mal, no Brasil as coisas chegam um pouquinho atrasadas.
Mas meu amigo me viu deitada na cama. Sério. Meu amigo estava participando da mesma reunião virtual que eu e me viu na minha cama. Você estava deitada, falou, descansando. Ri, esqueci de desligar a câmera, disse a ele. Engraçadas as reuniões virtuais, acontecem coisas indiscretas. Ainda bem que não estava nua. Caso fosse apenas para ele me apreciar, bem que não me incomodaria. Mas não para o escritório inteiro!
Certa vez, domingo pela manhã, ele me enviou uma mensagem: estou caminhando pela orla, resolvi enviar esta mensagem para te dizer sobre aquilo que você me perguntou ontem, complementar a minha resposta. O que perguntei mesmo? Nem lembrava. Acho que foi num dia em que estava ardida, resolvi então criar uma dúvida para ouvir a voz dele. Fantasias. A voz veio meia hora depois, e eu gozei. Lógico que não foi assim tão de repente, mas imaginem como uma mulher goza. Às vezes, dá algum trabalho. Mas na tal noite (esqueci de dizer que o sol já ia pela outra banda), fiquei molhadinha. Valeu a pena.
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