segunda-feira, novembro 09, 2020

Plantando bananeira

Gosto de ir à praia cedo, tanto mais depois que vim morar pertinho, na Riviera. O apartamento é pequeno, mas a proximidade do mar, a brisa matinal e vesperal me causam enorme prazer. Há dias em que saio arrepiada de casa. Outra vantagem de tomar sol e banho de mar bem cedo, é que não há ninguém na praia, quando muito uma ou outra pessoa a caminhar ou a fazer algum tipo de ginástica. Ainda não houve, por aqui, ninguém a me incomodar, a tentar puxar conversa ou a pedir alguma coisa. Quando morei na Costa Azul, tive um problema, aliás, não sei se posso nomear assim o que aconteceu, mas o fato me incomodou um pouquinho.

Jovens não gostam de acordar de madrugada, mas o costume de sair cedo de casa já me era comum à época. As primeiras horas da manhã são também comuns a pessoas mais velhas. Um senhor, então, começou a me observar. No começo, gostei. Toda mulher gosta de ser admirada e paquerada. Ele acabou vindo falar comigo. Começou com aqueles assuntos sobre o tempo, sobre a beleza do mar, da paisagem etc.. Passou a aparecer todos os dias, pontualmente. Como sempre usei biquínis mínimos, o homem me comia com os olhos. Os dias se passavam e ele não avançava. Lembro uma semana em que choveu todos os dias. À manhã do primeiro sol, estava o tal na praia a minha espera. Voltou aos seus assuntos. 

Se continuar assim, vamos nos tornar amigos, não haverá mais clima, pensei. Normalmente é isso que acontece. Quando conhecemos alguém, as intenções precisam vir no segundo ou terceiro encontro, caso isso não aconteça a relação torna-se amizade. Não que amizade não seja boa coisa, mas os homens geralmente querem mesmo o meu corpo.

Falava da cidade, dos prédios públicos, da política local, do jornal que só existia para trazer anúncios, como é possível um jornal sem notícia alguma? As notícias são as mercadorias, cheguei a sugerir dando de ombros. Meus seios balançaram. Ele riu. Num dia, convidei-o ao banho de mar. Surpreendeu-se. Jamais me vira dentro d’água. Segurei seu braço, me ajude, por favor, não posso me afogar. Num determinado momento, abraçou-me pelas costas. Fiz de conta que não percebia, ou que talvez fosse a ação mais natural do mundo. Ele se demorou no abraço; depois ainda escorregaram as mãos pelo meu ventre, tocou nas tirinhas do meu biquíni. Dissimulada, eu, olhos de ressaca. Ressaca do mar e da taça de vinho da véspera.

Dias depois, uma senhora veio falar comigo. Eu estava bolinando o marido dela. Engraçada a palavra, bolinando. Como soube da minha relação com seu marido? Não sei, jamais descobri. Pediu-me que não fizesse mais isso, a cidade era pequena e todos iriam comentar. Engraçado, a mulher não se mostrava incomodada pela traição, mas pelo que os outros iriam dizer. Não tive palavras para responder. Escutei, cumprimentei-a e parti. Acho que o máximo que falei foi tudo bem. De que valeria explicar que a investida foi dele, que a cada dia vinha com um assunto diferente, que me comia com os olhos. Achei melhor o silêncio. Desapareci daquela praia por algum tempo, ou passei a frequentá-la em outros horários, não sei. Nada de confusão.

Além de ter de mudar os meus hábitos, não valeu a pena a rápida relação. Uns dias antes de estar com a mulher dele, o homem me convidou a uma casa, ali mesmo na praia. Era uma casa de veraneio. Disse que a bela construção pertencia a ele. Entramos, serviu-me alguma coisa. Na parte de trás, havia uma piscina, bem pequena. Para resumir a situação. O homem quis trepar comigo, eu nua dentro da tal piscina. Tudo bem. Meu costume de responder às questões dizendo tudo bem. Ele veio me tocar, me fazer carinho. Onde o biquininho? Estou procurando até hoje. Tive de plantar bananeira para ver se ele conseguia uma ereção. Conseguiu? Apesar de ela saber, devia ter contado à mulher dele.

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