segunda-feira, outubro 19, 2020

Nua por debaixo

Sempre fui aberta a desafios, tanto na vida profissional como na pessoal. Aos quarenta anos, apareceu-me um namorado entusiasmado, pronto a me propor performances cada vez mais estimulantes. Em M, cidade litorânea de porte médio, não há muito com o que me preocupar. É trabalho e, aos fins de semanas, alguma diversão, como praia pela manhã, visita a uma amiga à tarde, saídas à noite para passear na orla, ou ir a alguma festa. Já não tenho vinte anos, digo a ele. Mas insiste, você é jovem, tem saúde para muitas atividades, até mais do que as garotas de dezoito anos.

Os homens mais velhos da cidade saem com meninas jovens, mesmo menores de idade, como de dezessete anos. Tenho amigas que fazem de tudo para arranjar namorado, o máximo que conseguem é um amante, o que muitas vezes lhes traz problemas. Os homens livres estão com as meninas. Meu namorado teria vantagem entre elas, mas me preferiu, você é muito gostosa e, além disso, adora andar nua.

Frequentamos as praias mais retiradas, como as que ficam entre M e Rio das Ostras. Posso mergulhar ou ficar na areia, com os seios de fora, abraçá-lo sem ninguém por perto a nos incomodar, e houve um dia em que mergulhei pelada. Apesar de toda nossa excitação, sempre deixamos para transar em casa. Uma vez fizemos amor dentro do carro. Quais os desafios, em meio a uma vida tão cheia de prazeres? Os de me manter jovem, em corpo e em espírito.

Domingo à tarde, voltando de uma de nossas praias, ele me faz outro tipo de desafio. Dirigir nua! E lá vou eu, ao volante. Amor, é preciso ao menos cobrir os seios, é mais discreto. Cubro-os após contornar para entrar em M, para ser mais exata, após dobrar a rua que conduz à orla de Cavaleiros. Tem uma porção de gente na praia, tanto na areia quanto na calçada, os bares cheios. Bem que estou gostando, uma vontade louca de saltar. Não esqueça, você está nua!, adverte-me o namorado. Obrigado, amor, esqueci.

Tenho amigas que aceitam tudo o que os homens lhes pedem. Comigo não é bem assim, tenho princípios. E não dependo deles, ganho bem com meu trabalho. Por isso, tantos admiradores atrás de mim. Apesar do assédio, quase não namoro homens da cidade. Minhas amigas acabam desvalorizadas, no final não há quem as queira.

Amor, não repare, deixei marcado o estofado do banco do motorista, falo, tímida. Não faz mal, isso sai, deve ser o calor, e estou gostando, diz. Calor?, ah, sim, estou mesmo com muito calor, cheia de fogo. Rio enquanto faço a curva para entrar no estacionamento do Ilhote. Amor, está percebendo?, preciso saltar, quero beber alguma coisa.

Ele me entrega o biquíni, salto do carro, cumprimentamos a moça do estacionamento e bordeamos a calçada. Na parte descoberta do Ilhote, vejo minha amiga Nete. Ela e o namorado. Tão bonito o homem, adora quando ela passeia nua ao lado dele, de dia ou de noite. Ela veste uma canga bonita, colorida, cheia de desenhos. Ri para mim. Está bebendo espumante, a única bebida de que gosta. Essa minha amiga sai cara para os homens que arranja. Nete pisca, apontando com a face aos meus seios. Ah, sim, estou apenas de biquíni. Pra que preciso mais?, chego a sussurrar, em meio a um beijo que faço flutuar na sua direção. Já sei, quando for ao toalete, vai me pedir para acompanhá-la, quer trocar teu biquíni pelo meu? Só que vai abrir a canga e mostrar que está nua por debaixo! Vamos cair as duas numa grande gargalhada. Adoro todas essas tardes de domingo.

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