A história do biquininho é muito engraçada. Meu paquera veio
com a ideia, que tal um biquíni bem pequenino? Essa mesma a palavra dele,
pequenino. Eu achava que não ficava bem, pois já passei dos quarenta. Ele veio com o presente. Comprar biquíni é
coisa problemática, às vezes a gente experimenta um, experimenta outro e nada. Qual
o seu manequim? Bastou falar e uma semana depois voltou com o
biquíni. É de marca muito famosa, exportam para os melhores países, afirmou.
Fui vestir. Não é que caiu como uma luva! Mas fiz charminho, tenho vergonha,
falei, já pensou encontro alguém?, todos aqui me conhecem, o que vão pensar? Não
sabia que você ligava pra essas coisas, respondeu, tão altiva, desinibida, mas
se pensa mesmo assim, você pode usá-lo num dia de praia vazia, durante a
semana, ou mesmo quem sabe, fazer como as surfistas, elas usam maiô mas vestem
o biquíni por baixo; quando não estão sobre a prancha, estão de biquíni. Vou
pensar, respondi. Guardei o biquíni.
Guardei também a provocação. Vou à praia num dia de praia
vazia, pensei, deixe estar. Passaram dois dias, o sol tímido a princípio e eu
vestida do biquininho. Gostei da sugestão. Vou fazer como as surfistas. Vestia
o maiô por cima. Ao chegar à praia, estendi a canga, repousei a bolsa, um vento
brando, odor de excitação no ar, duas pessoas aqui, três ali, gente que
caminha, que passeia. Como sou preguiçosa, sentei; depois deitei, fiquei de
maiô. Com o correr dos minutos, o sol foi subindo, minha pele aquecendo, meu
sangue circulando com mais alegria. Tirei o maiô. Deitei de biquininho. Quanto
tempo que não uso um biquíni assim. Fechei os olhos. Caso apareça alguém, melhor,
vai ser uma festa. Quando me senti incomodada pelo calor, corri para a água. Mergulhei
e nadei bastante. Quando reparei, havia duas pessoas próximas de onde eu
deixara minhas coisas. Um homem e uma mulher. Eu conhecia o homem, trabalhava
numa loja do centro desta cidade, Rio das Ostras, me olhava com desejo quando
eu passava por ele, seus olhos seguiam meu bumbum. Mas estava acompanhado; logo,
eu poderia ficar tranquila. Sua acompanhante vestia também biquíni, mas nada de
mais, um biquíni comportado. Ao ver que os dois se abraçavam, senti saudades do
homem que me trouxera o presente, que bom se
pudesse estar com ele ali, naquele momento, mas trabalhava em M., somente no
fim de semana é que viria. O homem e a mulher continuavam abraçados. Após
alguns minutos, ela o soltou e foi até onde eu deixara minhas coisas, olhou
para o forro sobre a areia e pareceu surpreender-se. Descobri do que se
tratava. Eu deixara o maiô sobre o forro, provavelmente ela estava pensando que
a pessoa dentro d'água havia tirado o maiô e mergulhado nua! Olhou
para o mar, como que procurando a dona da veste de banho. Ao dar comigo,
pareceu sorrir, disfarçou, segurou na mão do namorado e caminharam os dois duas
ou três dezenas de metros para a direita. Ficaram à espreita, não iam perder a
mulher nua saindo d’água. Eu sabia que deixava a mulher curiosíssima e não
podia decepcioná-la. Já pensaram?, eu saindo d’água de biquíni?, não teria a
menor graça. Dei conta de que era a estrela daquela manhã. Nadei então mais um
pouco, para um lado e para o outro, fiquei de costa para eles, depois de frente.
Fingiam não me ver, mas sabia que me espreitavam. Quem sabe não mergulhariam, e
viriam na minha direção para se certificarem da minha nudez? Eu precisava agir,
e aquele movimento me deixou ainda mais excitada. Sabia que alguém ia espalhar:
uma mulher nua toma banho de mar na Costa Azul. No dia seguinte, eu não teria
mais sossego.
Desatei o top e depois a calcinha. Descobri que os dois, bem
enroladinhos cabiam na palma das minhas mãos. Saí d’água altiva e sorridente,
caminhei até meu forro, guardei o biquininho dentro da bolsa, sem que eles
pudessem descobrir que era isso que eu fazia. Só depois é que vesti o maiô, com
muita calma, torcendo para eles me filmarem com bastante apuro. No final,
reparei que foi a mulher quem mais gostou do meu pequeno show. Antes de ir
embora, veio me cumprimentar.
Quando me vi sozinha de novo na praia, estava
surpresa. Como evoluí! De um maiô inteiro para o duvidoso biquíni; deste, para
a nudez. Acho que há vezes em que o ar da costa nos deixa um tanto
embriagadas...
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