Lucinda tinha acabado de se separar de Marcos. O motivo era que ele quase não lhe dava atenção. Na cama, então, nem pensar. Marcos queria mesmo era ser locutor na rádio comunitária local e, quando estava de folga, beber umas cervejas no bar da Vilma. Lucinda, como não conseguia parar quieta, descia para a cidade quase todos os dias. Numa dessas viagens, conheceu Lukésy. Ele entrou no ônibus logo após o veículo atravessar o trevo da rodovia federal. Embora houvesse muitos lugares vagos, o homem resolveu sentar bem ao lado dela. Lucinda olhou disfarçadamente e suspirou. Caso arranjasse um paquera, não ia querer sexo. Aliás, pelo menos não no começo. Melhor um companheiro para passear, matar o tempo e dividir os gastos diários.
O homem, de jeito sério, foi quem falou primeiro. “Que paisagem bonita, que ar agradável.” Após as poucas palavras, olhou para Lucinda e sorriu. A morena, que sempre usava um vestido inteiriço que lhe descia até os joelhos, retribuiu o sorriso. Foi o sinal verde para Lukésy continuar sua declamação poética. Ele, por sinal, era um bom contador de histórias. Lu ficou entusiasmada. Enquanto ele falava, ela imaginava a idade do novo enamorado. Sessenta, quem sabe setenta? Pensando bem, ela preferia alguém mais jovem, um homem depois dos sessenta não tem o mesmo ardor de um jovem, na maioria das vezes não mais consegue ereção. Lucinda olhou para um lado e para outro, vexada pelos pensamentos arrojados. Mas, cada um, ou cada uma, com a sua sorte. Quem sabe este que está ao meu lado pode ser pelo menos um companheiro de vida? Mal sabia ela que Lukésy era muito assanhado, apesar dos setenta e um anos. Viu a exuberante Lucinda e achou que ela era um prato certo. O homem tinha métodos para manter o vigor sexual. Nada de medicamentos. Conhecia meios naturais que davam o mesmo resultado. Não se sabe se era verdade, mas foi o que contou à mulher uns dias depois de se conhecerem. Naquele primeiro dia, o do encontro no ônibus, Lucinda saltou um ponto antes da rodoviária, pois precisava ir ao banco. Mas não se esqueceu de deixar o número do celular. Ele, muito cortês, também deixou o seu.
Dois dias depois, Lukésy telefonou. Que tal se encontrarem na Costa Azul, perto de onde Lucinda morava. Sempre feliz por causa do novo namorado, ela aceitou. Lukésy trouxera-lhe uma caixa de chocolates. Enquanto contava sua história, a mulher já comia um dos bombons.
Ele já tivera três AVCs. Lu arregalou os olhos ao escutar. Mas não havia problema, ressaltava, agora estava bem, sentia-se como um jovem, aprendera a se cuidar, sobretudo por meio do consumo de sucos e vitaminas tiradas sempre de frutas. Havia um segredo nisso tudo, ele continuava a narração, uma melancia, com sua parte vermelha e branca mais os caroços, tinha um poder incrível, era mesmo uma espécie de Viagra natural. Batia tudo no liquidificador e depois cozinhava. Tomava uma grande porção e aguardava o efeito, que não demorava a se manifestar. Lukésy, na verdade, queria voltar no tempo. Achou que os setenta e um anos poderiam ser invertidos a dezessete. Comia aquele cozido de melancia várias vezes por dia.
Quando Lucinda esteve na casa do recente namorado, ele usava uma calça de moleton. Não era possível ver volume algum do seu pênis. Animado com a aparência de Lucinda, resolveu beber uma tigela da tal poção mágica de melancia cozida. Passaram vinte minutos e sua calça já demonstrava o efeito do Viagra natural. Lucinda gostou e não gostou. O motivo era que achava que um pênis deveria ser excitado com os carinhos dela, através de suas mãos macias e veludosas. Achava ter poderes até mesmo para aqueles casos. Lukésy não dava beijos nem nada sussurrava no ouvido da mulher. Ela sempre adorou ouvir palavras tenras, histórias em que era uma espécie de princesa do amor. Embora ele lhe admirasse os seios rijos, as pernas sem celulites e o bumbum saliente quando ela se despiu, o homem não avançou nas observações. Lucinda ainda deu alguns passos sobre o piso do quarto, para que ele a olhasse com mais ardor; afinal, seu corpo era mais estimulante do que qualquer vitamina natural ou artificial. Mas Lukésy queria apenas trepar, enfiar o pênis na vagina de Lucinda. No começo, sentou-se num dos cantos da cama e pediu a ela para vir por cima. Lu sentiu-se um tanto envergonhada com a súbita proposta, sem nenhum carinho ou um beijo. Mas acabou aceitando. Ficaram na posição durante um bom tempo. E o pior de tudo era que o homem não gozava. Chegaram a ficar várias horas trepando, agora ele sobre Lu, que já demonstrava desconforto. Ele não morava sozinho, e não se importava com quem mais estivesse na casa. Achava que poderia lubrificar a linda boceta de Lucinda com vários tipos de cremes e permanecer sobre a mulher horas a fio. Quando ela protestou, dizendo que já estava esfolada, que já não mais podia de tanta trepação (o Viagra permitia a Lukésy trepar durante a noite inteira), ele chegou a forçá-la, não permitindo que se mexesse. Lucinda, então, chorou, imóvel, com o homem sobre si. Na verdade, estava traumatizada, nunca experimentara um sexo tão doloroso. Não queria um namorado daquele tipo.
Ao amanhecer, muito cansada por não ter dormido, ainda ardida, Lu reparou que, pela primeira vez, o homem cochilava. Ela levantou-se tentando não fazer ruído algum, juntou os seus pertences e pulou a janela. Vestiu-se apenas a duzentos metro da casa, já na pequena rua lateral. Para escapar mais rápido do lugarejo, quando esperava o ônibus num abrigo da rodovia federal pediu carona a um caminhão que trafegava vagaroso. O motorista surpreendeu-se com uma mulher atraente, sozinha ao amanhecer, naquele abrigo deserto, pensou que fosse uma prostituta. Para desfazer a impressão, Lucinda disse que precisava ir a Rio das Ostras para cuidar de uma parenta doente. Ele tentou acreditar na história, sabia que naquele local não passava ônibus para onde a morena pretendia ir. Durante o trajeto, ele nada tentou, apenas contou uma história e deixou Lucinda em casa, deixou também o número do telefone. Quem sabe poderiam se encontrar qualquer dia desses, conversar um pouco, aproveitar a vida. Ela não disse nem sim nem não, apenas agradeceu. A seguir entrou em casa e trancou-se. Dali em diante não mais atenderia os telefonemas de Lukésy. Ainda bem que não dera o endereço. No dia seguinte iria ao centro e mudaria os números dos telefones. Mulher não é objeto, pensava com razão, mulher precisa de carinho. Lembrou-se, então, das mãos largas do motorista do caminhão.
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