Outro dia encontrei um ex-namorado e senti uma ponta de inveja. Ele, agora, namora uma conhecida minha. Foi ela quem veio me dizer. Já estão junto faz um tempo. Vou contar a história do início.
Quando
vim trabalhar aqui em M, ele foi uma das primeiras pessoas que conheci. Tinha
uns quarenta anos, mas a aparência era de alguém mais jovem. Comecei a ficar ao
lado dele, a ir almoçar sempre com ele, até que me convidou para sair à noite.
Naquela época, eu tinha acabado de me separar, por isso tudo se encaixou. Ele
também estava sozinho, contava uma mesma história de separação.
Quando
vi minha conhecida na semana passada, tive vontade de perguntar se ele faz com
ela as coisas que fazia comigo. Mas não me veio a coragem. Pode ser que a mulher
pensasse que sou louca.
À
época, trabalhávamos aqui em M, mas ele tinha um apartamento no Rio. Nos finais
de semana, viajávamos para lá, frequentávamos cinemas e teatros, além de bares
e restaurantes. Uma vida e tanto. Mas havia um problema, ou melhor, um problema
no início, depois deixou de sê-lo, porque passei a gostar da situação. Depois
de dormirmos juntos algumas vezes como pessoas normais, ele pediu se podia me
amarrar. Quando ouvi a palavra, me assustei. Seria o homem um tarado e eu não
havia percebido? No entanto, acabou conseguindo seu intento. Num dia em que eu
estava mais excitada, permiti seus nós e laços, deixando-me atada à cama. Então
subiu sobre mim e trepamos. Eu, imobilizada; ele dizia relaxa, relaxa e goza.
Numa outra vez, além de amarrada, acabei amordaçada, e a trepada foi ainda mais
intensa. Não posso perder esse homem, eu pensava. As ousadias dele foram se multiplicando.
Uma outra noite, além de amarrada e amordaçada, senti a ponta de uma tesoura a
percorrer-me a pele; depois, cortou um pouco dos meus pentelhos; a seguir,
pegou o aparelho de barbear e me depilou por inteira. Que situação! No momento
de vir sobre mim, ele disse espere um pouquinho. Afastou-se, notei que levava
minhas roupas e a maleta onde estava o restante dos meus pertences. Quis
perguntar o que fazia, mas o esparadrapo grudado à minha boca impediu-me. Voltou
após alguns segundos, subiu sobre mim e começamos a transar. Eu não sabia se me
entregava ou se tentava perguntar o que estava acontecendo, dava uns grunhidos,
o significado era que ele me deixasse falar. Mas tudo que consegui foi escutar
sua voz: relaxa e goza, não se preocupe, levei suas roupas e sua bagagem para o
corredor do prédio, vamos ver se alguém acha; caso isso aconteça, você vai
ficar pelada, sem ter o que vestir, mas as mulheres bonitas sempre dão um
jeito. Passei a saltar sobre a cama, levantando as costas e as nádegas, do modo
que podia, queria me soltar das cordas e dos laços que me atavam e ir lá fora
recuperar minhas coisas. Ao me ver tão desesperada, disse não se preocupe, você
é uma professora de literatura, entende de linguagem figurada, vamos aproveitar
a noite. Lembrei-me então de que muitas vezes ele falava algo que significava o
contrário. Comecei a achar que se tratava de mais uma de suas brincadeiras. Fui
me acalmando, transamos muito gostoso e gozei em meio a todas aquelas
metáforas. Dei pela situação real quando
ele me soltou. Corri, abri a porta. Onde minhas roupas e bagagem? Hoje, muitos
anos depois, com tudo resolvido, dá até para rir.
Minha
conhecida que o namora atualmente vive também isso tudo ou será que ele já
amainou o fogo? Desconfio que não, ela tem cara de sapeca. E, nessa cidade, já
ouvi falar de mulheres que saem à noite nuas, ao lado do namorado.
Quando
cheguei a casa, olhei o meu marido vendo TV. Conheci-o quando ainda estava com
o tal das cordas e laços. Senti uma ponta de desgosto. Homem sem imaginação, este
marido.
Ah, minha conhecida e seu namorado, onde estão agora, o que fazem? Que inveja.