Meu namorado disse "as mulheres adoram andar
nuas". Não retruquei, apenas soletrei "ah, tá". Na nossa saída
seguinte, apenas a canga envolvia-me o corpo. Ele, eufórico, guiou o automóvel
a uma praia deserta. Estacionou. Saltamos e descemos à areia, deitamos e
transamos boa parte da noite. Vivemos momentos ardentes, maravilhosos. Na hora
de partirmos, porém, reparei que minha canga havia desaparecido. Ele,
mostrando-se preocupado, disse que ia procurar algo para eu vestir.
A madrugada se desdobrava em tons intensos, e eu me
encontrava sentada na areia, perdida em pensamentos, aguardando o retorno do
homem que desaparecera na escuridão da noite em busca de algo para me cobrir. O
som hipnotizante das ondas quebrando na praia era a única companhia para a
ansiedade que crescia dentro de mim a cada minuto que passava.
A luz suave do amanhecer começou a banhar o céu, colorindo-o
com tons de rosa e laranja, mas ele não retornava. Uma sensação de desamparo
começou a se instalar, e a incerteza sobre seu paradeiro obscurecia meus
pensamentos. Que ideia minha, como essa canga foi desaparecer? E o que vou
fazer caso o homem não volte? Devia ter refletido antes de me vestir
sumariamente e aceitado vir para essa praia com ele. Caramba, se um homem
qualquer me encontra nesse estado, vai fazer uma festa. Na certa, vou ter de
abrir as pernas. Encontrar uma mulher nua numa praia, vai achar que ganhou um
prêmio. Caso apareça uma mulher, pode ser que me socorra com um pano qualquer,
mas uma vez fui chamada de vagabunda por uma delas, vai me deixar aqui pelada e
ir embora. Ai, a polícia, não! Eu, presa, na delegacia, sentada numa cadeira
desconfortável, sem ter como me cobrir, homens passando de um lado a outro, as
pessoas a me olharem de rabo de olho. Será que tenho direito a um telefonema,
como nos filmes? Não vou poder alegar que fui assaltada, ninguém vai acreditar.
Com o sol prestes a nascer, tomei uma decisão. Ergui-me da
areia, consciente de minha nudez, e caminhei ao longo da praia em busca de
ajuda. A paisagem ganhava vida com os primeiros raios de sol; apesar de vulnerável, senti-me determinada.
Avistei ao longe uma cabana de pescadores e, com cautela, me aproximei. Um golpe de vento acertou-me o corpo. Arrepiei-me, segurei meus cabelos (era a única coisa que eu podia segurar naquele momento),queria manter apresentável. O pescador idoso que ali estava e consertava sua rede não se se surpreendeu: "você não é a primeira que aparece nua aqui." Ouviu minha história com compreensão; por fim disse: "vista aquela túnica que está ali no canto. Vesti-a com gratidão, sentindo o alívio misturar-se com a vergonha. Completou: "pertence à minha mulher, ela usa quando vai embora depois do banho de mar, nem sei porque ficou na cabana..." E se ela desse falta da tal roupa?, pensei, mas deixei a solução para o homem. Ele indicou o caminho de volta à cidade, e eu agradeci, ainda perplexa com a experiência vivida.
O sol já estava alto quando alcancei uma estrada, e, com a dignidade recém-descoberta, consegui uma carona de volta para casa.
Apesar da peculiaridade do episódio na praia deserta, eu
devia ter aprendido uma lição valiosa. Mas não foi o que aconteceu. Depois de
tirar a túnica e tomar um banho, deitei-me nua na cama. Senti então um forte
desejo de trepar com alguém ainda uma vez.
Dias depois, outra solução veio-me à cabeça. Uma solução que me deixou a mil por hora. Vocês sabem, depois que o perigo passa, a gente tem muitas ideias geniais! Quem sabe, no lugar de encontrar um pescador idoso, eu deparasse com outro, mas jovem e vigoroso, que me segurasse pelo braço, me deitasse sobre o chão arenoso de sua cabana e me comesse ainda uma vez. Depois... Bem, depois me mandaria andar, peladinha, e que tomasse cuidado para, ao sair, não embaralhar os fios de sua rede.