quarta-feira, julho 04, 2007

Carinhosa

Tudo que existe em mim de grave e carinhoso te digo aqui como se fosse ao teu ouvido; nas ondas da praia, nas ondas do mar, quero ser feliz; quero banhar-me nas águas límpidas, quero banhar-me nas águas puras, que apenas me vestem original; como me deixaste na madrugada que ainda ia escura, o corpo a reluzir explosões astrais; minha pele é dourada e vou sob céu de estrela única, à espera de que voltes e deslizes sobre meu ventre teus dedos, pincéis de cores quentes; as ondas do mar me cobrem, são trajes de festa, roupa feita de espumas compridas, véus que se estendem por areias antigas, brancura transformada em diadema real; mas que, súbito, escapam-me, deixam-me nua, tornam plebéia à princesa, loura encoberta apenas por respingos de sal; não demoram as ondas, outra vez são generosas e se apressam a me dar prumo, a lavar-me, a vestir-me noiva generosa que aguarda algum tipo de deus; talvez Apolo a me deixar lívida, ou Marte a me tornar trêmula; mas aí vem Vênus ciumenta que, sem poder roubar-me o namorado toma-me, ainda que por empréstimo, o vestido real.

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