– Pode me deixar junto àquele poste.
– Mas como, você está nua, são três da manhã, como vou deixá-la assim?
– Pare, foi o que combinamos.
– E suas roupas?
– Não há problema. Durante o dia eu mando alguém pegá-las.
Marinete saltou do automóvel com naturalidade. Pôs-se de pé sobre um sapato de saltos bem altos, carregava uma pequena bolsa a tiracolo que mais parecia um porta maço de cigarros. Ali dentro tinha realmente cigarros e o celular.
– Vamos, dê a partida, – ordenou batendo com uma das mãos na porta, enquanto Manoel hesitava em deixá-la ali naquele estado – depois eu lhe telefono para combinarmos outro programa.
O automóvel partiu vagarosamente. A rua se encontrava às escuras. O local era bastante deserto. Marinete caminhou até uma banca de jornal e agachou-se. Pressionou uma das teclas do celular. Quando atenderam, apenas disse:
– Pode vir. Estou na rua A esquina com a F.
Quinze minutos depois, um Peugeot preto parava no local. Marinete saiu de onde se escondia e entrou.
Esse jogo era uma fantasia que se dava quase que semanalmente. Foi a solução que o próprio marido arranjou para salvar o casamento. Este já ia naufragando, quando ele mesmo teve a idéia.
– Precisamos fazer algo estimulante.
– O que você sugere?
– Que você saia nua pela cidade.
– Como?
– Isso mesmo, ou melhor, você sai vestida, tem seus casos à vontade, mas precisa chegar nua em casa. Se você quiser, eu mesmo vou buscá-la, basta telefonar. Mas lembre-se, tem de estar pelada. A única coisa que eu admito são os sapatos. E de saltos bem altos.
Inicialmente, a mulher resistiu. Já havia muito que não era fiel, teria maior liberdade, mas tal proposta pareceu-lhe perigosa. Pediu uns dias para pensar.
Acabou aceitando a título de experiência. Deu-se a primeira vez. Apesar de trêmula e inundada de um suor frio, gostara. O amante também fora apanhado de surpresa. Não conseguia entender a razão daquela situação e nem ela explicou-lhe. Pouco a pouco, porém, tornava-se cada vez mais excitado. Ela nunca lhe contava como fazia para chegar nua em casa, sem ser percebida. Na verdade, a coisa acabou dando certo pelos dois lados: o amante e o marido passaram a desejá-la mais.
O casamento melhorou em todos os aspectos. A partir do momento em que começaram a praticar tal fantasia, tudo se transformou. O marido se tornou mais carinhoso e lhe era absolutamente fiel. Presenteava-lhe regiamente e cada vez que a resgatava se tornava mais fascinado pela mulher. Ao entrar em casa com a mulher nua, ao colo, apenas de sapatos de salto, atirava-a na cama e faziam um delicioso amor.
Noutra ocasião, surpreendeu-se com uma nova proposta dele:
– Agora, você precisa mudar de par. Cada vez saia com um diferente.
– Olha, você não acha que já estamos indo longe demais?
– Absolutamente, garanto que você vai gostar ainda mais.
Ela teve um trabalho danado para se arranjar nessa nova situação. Havia dois problemas. O primeiro era a surpresa dos homens. Transavam com ela, depois tinham de dirigir com uma mulher nua ao lado e obedecer-lhe sem fazer perguntas. O segundo era a grande quantidade de roupas que perdia. Como as recuperaria? Mas o marido dizia:
– Não faz mal, amanhã compramos outras.
Numa das madrugadas, ao descer do carro, já na garagem do prédio, observou uma carta de baralho deixada sobre o piso. Abaixou-se para pegá-la. Tomou-a nas mãos e a desvirou: era uma dama de espadas.
A figura austera e fria da mulher causou-lhe desconforto. Sentiu um ligeiro tremor.
No apartamento 402 morava uma mulher sozinha. Chamava-se Helenice. Não era feia. Flertara com um homem que morava no apartamento ao lado, homem também sozinho, mas com quem nunca conseguira estabelecer uma relação maior do que a de vizinha. Descobriu, certa vez, Marinete no apartamento dele. Foi um caso único, mas Helenice jurou vingar-se.
Sua estratégia foi acompanhar passo a passo a vida do casal. De início, não reparara nada demais. Em determinado dia, porém, acordou de madrugada e foi à cozinha beber um copo d água. Ouviu um barulho vindo do elevador de serviço. A porta se abriu. Primeiramente saiu o marido, depois a mulher inteiramente nua. Viu tudo pelo olho mágico. Ficou sem entender aquela situação.
Montou guarda quase que diariamente. Passaram-se alguns dias e nada de novo aconteceu. De repente, no mesmo dia, mas na semana seguinte, a cena repetiu-se. A partir de determinada semana, reparou que os episódios passaram a acontecer duas vezes na semana. Elaborou então um plano.
Reparou que nos dias em que a cena se dava, o telefone da casa deles tocava de madrugada, o marido saía só e vinte minutos depois ambos chegavam juntos. Conseguiu ouvir a conversa algumas vezes e não descobriu nada demais. Ouvia apenas o marido dizer: "sim, sim, já estou indo".
Pensou em segui-lo, mas logo concluiu que teria um trabalho terrível. O adiantar da hora fazia qualquer perseguição inviável. Uma brilhante idéia salvou-a. Passou a esconder-se na garagem. Quando eles chegavam, tentava ouvir alguma coisa. Aos poucos, juntando as raras palavras que ouvia, acabou se inteirando da situação. Faltava apenas saber mais uma coisa: de onde vinham. Certa vez teve uma confirmação. Ouviu-o dizer:
– Você precisa tomar mais cuidado. Já apanhei você em todas as esquinas da rua A, e ela anda muito movimentada atualmente, é melhor mudar um pouco.
Helenice não precisou ouvir mais nada.
No dia em que colocou em prática seu plano, o coração pôs-se aos saltos desde o anoitecer. Preocupou-se em se certificar de que Marinete havia saído e não voltara. Ouviu a televisão alta no apartamento deles até altas horas da madrugada. Uma hora antes do horário em que o telefone costumava tocar, Helenice deixou o prédio num táxi. O telefone tocou como de costume:
– Pode vir, estou na rua B com a C.
– Ah, mudou? Que bom! Mas sua voz está diferente, o que houve?
– Estou gripada, e venha logo. Algo deu errado.
Ele sentiu um tremor de excitação ao ouvir a palavra "errado". Saiu em disparada. Quando chegou ao lugar indicado, primeiro não viu ninguém. De repente ouviu um toc-toc na porta do carona. Abriu. Uma mulher inteiramente nua sobre sapatos de salto alto invadiu-lhe o automóvel. Só reparou que não era Marinete, quando ouviu a voz:
– Vamos, meu amor, seu negócio hoje é comigo.
Voltou os olhos, surpreso, para a mulher. Era Helenice, a vizinha.
– Mas como, você está nua, são três da manhã, como vou deixá-la assim?
– Pare, foi o que combinamos.
– E suas roupas?
– Não há problema. Durante o dia eu mando alguém pegá-las.
Marinete saltou do automóvel com naturalidade. Pôs-se de pé sobre um sapato de saltos bem altos, carregava uma pequena bolsa a tiracolo que mais parecia um porta maço de cigarros. Ali dentro tinha realmente cigarros e o celular.
– Vamos, dê a partida, – ordenou batendo com uma das mãos na porta, enquanto Manoel hesitava em deixá-la ali naquele estado – depois eu lhe telefono para combinarmos outro programa.
O automóvel partiu vagarosamente. A rua se encontrava às escuras. O local era bastante deserto. Marinete caminhou até uma banca de jornal e agachou-se. Pressionou uma das teclas do celular. Quando atenderam, apenas disse:
– Pode vir. Estou na rua A esquina com a F.
Quinze minutos depois, um Peugeot preto parava no local. Marinete saiu de onde se escondia e entrou.
Esse jogo era uma fantasia que se dava quase que semanalmente. Foi a solução que o próprio marido arranjou para salvar o casamento. Este já ia naufragando, quando ele mesmo teve a idéia.
– Precisamos fazer algo estimulante.
– O que você sugere?
– Que você saia nua pela cidade.
– Como?
– Isso mesmo, ou melhor, você sai vestida, tem seus casos à vontade, mas precisa chegar nua em casa. Se você quiser, eu mesmo vou buscá-la, basta telefonar. Mas lembre-se, tem de estar pelada. A única coisa que eu admito são os sapatos. E de saltos bem altos.
Inicialmente, a mulher resistiu. Já havia muito que não era fiel, teria maior liberdade, mas tal proposta pareceu-lhe perigosa. Pediu uns dias para pensar.
Acabou aceitando a título de experiência. Deu-se a primeira vez. Apesar de trêmula e inundada de um suor frio, gostara. O amante também fora apanhado de surpresa. Não conseguia entender a razão daquela situação e nem ela explicou-lhe. Pouco a pouco, porém, tornava-se cada vez mais excitado. Ela nunca lhe contava como fazia para chegar nua em casa, sem ser percebida. Na verdade, a coisa acabou dando certo pelos dois lados: o amante e o marido passaram a desejá-la mais.
O casamento melhorou em todos os aspectos. A partir do momento em que começaram a praticar tal fantasia, tudo se transformou. O marido se tornou mais carinhoso e lhe era absolutamente fiel. Presenteava-lhe regiamente e cada vez que a resgatava se tornava mais fascinado pela mulher. Ao entrar em casa com a mulher nua, ao colo, apenas de sapatos de salto, atirava-a na cama e faziam um delicioso amor.
Noutra ocasião, surpreendeu-se com uma nova proposta dele:
– Agora, você precisa mudar de par. Cada vez saia com um diferente.
– Olha, você não acha que já estamos indo longe demais?
– Absolutamente, garanto que você vai gostar ainda mais.
Ela teve um trabalho danado para se arranjar nessa nova situação. Havia dois problemas. O primeiro era a surpresa dos homens. Transavam com ela, depois tinham de dirigir com uma mulher nua ao lado e obedecer-lhe sem fazer perguntas. O segundo era a grande quantidade de roupas que perdia. Como as recuperaria? Mas o marido dizia:
– Não faz mal, amanhã compramos outras.
Numa das madrugadas, ao descer do carro, já na garagem do prédio, observou uma carta de baralho deixada sobre o piso. Abaixou-se para pegá-la. Tomou-a nas mãos e a desvirou: era uma dama de espadas.
A figura austera e fria da mulher causou-lhe desconforto. Sentiu um ligeiro tremor.
No apartamento 402 morava uma mulher sozinha. Chamava-se Helenice. Não era feia. Flertara com um homem que morava no apartamento ao lado, homem também sozinho, mas com quem nunca conseguira estabelecer uma relação maior do que a de vizinha. Descobriu, certa vez, Marinete no apartamento dele. Foi um caso único, mas Helenice jurou vingar-se.
Sua estratégia foi acompanhar passo a passo a vida do casal. De início, não reparara nada demais. Em determinado dia, porém, acordou de madrugada e foi à cozinha beber um copo d água. Ouviu um barulho vindo do elevador de serviço. A porta se abriu. Primeiramente saiu o marido, depois a mulher inteiramente nua. Viu tudo pelo olho mágico. Ficou sem entender aquela situação.
Montou guarda quase que diariamente. Passaram-se alguns dias e nada de novo aconteceu. De repente, no mesmo dia, mas na semana seguinte, a cena repetiu-se. A partir de determinada semana, reparou que os episódios passaram a acontecer duas vezes na semana. Elaborou então um plano.
Reparou que nos dias em que a cena se dava, o telefone da casa deles tocava de madrugada, o marido saía só e vinte minutos depois ambos chegavam juntos. Conseguiu ouvir a conversa algumas vezes e não descobriu nada demais. Ouvia apenas o marido dizer: "sim, sim, já estou indo".
Pensou em segui-lo, mas logo concluiu que teria um trabalho terrível. O adiantar da hora fazia qualquer perseguição inviável. Uma brilhante idéia salvou-a. Passou a esconder-se na garagem. Quando eles chegavam, tentava ouvir alguma coisa. Aos poucos, juntando as raras palavras que ouvia, acabou se inteirando da situação. Faltava apenas saber mais uma coisa: de onde vinham. Certa vez teve uma confirmação. Ouviu-o dizer:
– Você precisa tomar mais cuidado. Já apanhei você em todas as esquinas da rua A, e ela anda muito movimentada atualmente, é melhor mudar um pouco.
Helenice não precisou ouvir mais nada.
No dia em que colocou em prática seu plano, o coração pôs-se aos saltos desde o anoitecer. Preocupou-se em se certificar de que Marinete havia saído e não voltara. Ouviu a televisão alta no apartamento deles até altas horas da madrugada. Uma hora antes do horário em que o telefone costumava tocar, Helenice deixou o prédio num táxi. O telefone tocou como de costume:
– Pode vir, estou na rua B com a C.
– Ah, mudou? Que bom! Mas sua voz está diferente, o que houve?
– Estou gripada, e venha logo. Algo deu errado.
Ele sentiu um tremor de excitação ao ouvir a palavra "errado". Saiu em disparada. Quando chegou ao lugar indicado, primeiro não viu ninguém. De repente ouviu um toc-toc na porta do carona. Abriu. Uma mulher inteiramente nua sobre sapatos de salto alto invadiu-lhe o automóvel. Só reparou que não era Marinete, quando ouviu a voz:
– Vamos, meu amor, seu negócio hoje é comigo.
Voltou os olhos, surpreso, para a mulher. Era Helenice, a vizinha.
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