quarta-feira, setembro 12, 2007

Aeroporto

Tive um namorado que me deixava excitadíssima. Além de saber tocar meu corpo como ninguém, sussurrava palavras mágicas no meu ouvido enquanto fazíamos amor. Foi ele que me introduziu no mundo da fantasia. Gostava que eu me despisse dentro de seu carro. No princípio, eu morria de medo, mas depois me acostumei. Adorava passear nua a seu lado. Ele dirigia e me acariciava as pernas. Íamos dentro de um aquário escuro, como peixes que apreciam o mundo exterior sem a possibilidade de serem capturados. Num belo dia, quando a temperatura começou a esfriar, pediu que eu vestisse apenas o casaco. Passei a sair envolta num manto que me cobria de diversas maneiras; às vezes até as coxas, outras até os joelhos. Ele me presenteou com um suéter que em meu corpo se tornou um micro vestido. Tive vários e multicores agasalhos. Quando o tempo permitia, era tudo o que eu vestia. Ia de cabeça erguida, sem vergonha alguma. Freqüentávamos lugares caros, lugares em que as pessoas são discretas e parecem estar acostumados a qualquer coisa, até a uma mulher nua em público. Certa vez vesti um casaco de botões, desses que se deve abotoar do pescoço até as coxas. Paramos o carro numa viela do centro velho, andamos por ruas escuras e, na reentrância de um muro, entre duas casas antigas, ele soltou os botões e me invadiu o corpo. Que delícia! Caso chovesse ou ventasse, procurava vir com o agasalho adequado, mas sempre chique. O ritual se repetia. Encontrávamos abrigo entre paredes também nuas, ou mesmo em algum jardim público, cuja porta permanecera aberta, esquecida. Ele abria meu casaco e me penetrava. Às vezes eu temia que a temperatura subisse durante as nossas saídas, ou mesmo que amanhecesse e nós ainda não tivéssemos retornado. Evitávamos também lugares quentes, como algumas boates. Certa vez, numa praia, pendurei o agasalho no mastro destinado à rede de vôlei; ele permaneceu lá, esquecido, durante boa parte da noite. Algumas vezes, enquanto fazíamos amor, desejei que alguém o roubasse e me deixasse nua. Mas isso nunca aconteceu. Ainda não vivi essa fantasia. Depois mudei para Bahia e fui morar em Salvador. Arranjei emprego numa sofisticada loja de roupas femininas, no aeroporto. Meu namorado ficou para trás e minha vida mudou.

Fazia seis meses que trabalhava ali quando, num sábado de manhã, indo ao quiosque de café expresso, reparei um homem muito parecido com ele. Cheguei perto, mas constatei que me enganara. Ainda assim o homem ficou a me olhar demoradamente. Estava bem vestido, como acontece à maioria dos viajantes. Quis despistar, mas não consegui. Ele acabou vindo em minha direção. Eu vestia uma calça branca impecável e uma blusa insinuante. A calça era justíssima, deixava bem saliente a marca da calcinha. Naquele momento ainda era cedo, talvez dez horas, e eu havia deixado a loja sozinha. Fora buscar apenas um café e já voltaria. Quando ele ameaçou falar alguma coisa, fiz gesto de que nada pronunciasse, tomei uma de suas mãos e o levei comigo. Ele, carregando apenas uma pequena bolsa, me acompanhou. Eu trazia o homem com uma das mãos e com a outra segurava o copo de plástico, com café; tomava alguns goles enquanto caminhávamos. Não entrei na loja, contornamos o largo corredor de toda a área de embarque. Pudemos apreciar as pessoas que estavam prestes a viajar; algumas olhavam as vitrines, poucas transitavam, outras estavam na livraria, viam jornais e revistas. Uma funcionária que puxava um carrinho de limpeza passou por mim e sorriu; conhecia-me de vista. Atravessamos a área de alimentação, onde já havia um bom número de pessoas. O corredor à esquerda era caminho para a sala de embarque. Junto ao portão, uma mulher com uma criança mostrava o cartão para o funcionário. Dali a algumas horas estariam longe, como acontece a quase todos que passam pelo aeroporto; aconteceria também a meu recém-conhecido. Antes, porém, o levei para um compartimento privativo a funcionários. Nada falei nem permiti que dissesse coisa alguma. Empurrei-o para dentro de um boxe e comecei a tirar minha roupa. Lembrei da loja, mas me tranqüilizei; o aeroporto é um lugar seguro, é certo que nada aconteceria; e a gerente chegaria só depois do meio dia. O homem me olhava meio surpreso e meio desconfiado; talvez tivesse algum temor ante a tanto acaso e facilidade. Já nua, pela única vez sussurrei num de seus ouvidos: “me empresta o casaco”. Ele o tirou e me cobriu o corpo. Depois desabotoei suas calças, manuseei seu pênis, que já se tornara bastante rígido. Sem titubear, fiz que me penetrasse.

Cerca de vinte minutos depois, ao voltar à loja, tudo estava na mais perfeita ordem. Fui ao espelho, retoquei a maquiagem, ajeitei o cabelo, virei de costas e reparei se minha calça branca estava muito escandalosa. Já não aparecia a marca da calcinha. Deixara de lembrança em um dos bolsos do casaco. Lembrança da Bahia.

Lembrança de meu antigo namorado.

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