terça-feira, agosto 19, 2008

Litoral norte

Sempre gostei de dormir apenas de camiseta, nada por baixo a me apertar. Quando fui passar uns dias de férias na casa de uma amiga, no litoral norte, continuei agindo da mesma forma. Certa noite procurei uma um pouquinho mais comprida, que me disfarçasse a nudez, mas não a encontrei. Já fazia alguns dias que estávamos ali e nossos pertences se encontravam meio bagunçados. Para não dormir totalmente nua, vesti uma pequena blusa que ia no máximo até o umbigo. No dia seguinte acordei cedo como sempre e fui fazer o café. Adoro fazer café e tomar a primeira xícara. As outras pessoas costumavam dormir até bem mais tarde, e eu sempre me via só na ampla cozinha. Fui como acordei, apenas a pequena blusa sobre o corpo. Quando o café já estava pronto e eu segurava com uma das mãos a xícara, percebi outra pessoa. Era um rapaz que fazia parte dos hóspedes, talvez dez anos mais jovem que eu. Ficou a me olhar demorado. Só então me dei conta de meu estado; mas, com frieza, mantive-me impassível, continuei tomando meu café com naturalidade, como se nada tivesse acontecendo. Ele não desistiu; olhava-me insistente. Então perguntei:

“O que foi, nunca viu uma mulher nua?”

Virei de costas para colocar a xícara sobre a pia. Mas na verdade quis mostrar meu bumbum. Depois me voltei e fiquei à espera da sua reação. De início se manteve quieto, como que enfeitiçado por minha nudez, depois chegou a se aproximar, mas de repente se deteve, olhou para porta e estacou. Deixei-o ali mesmo e fui para o meu quarto. Creio que o decepcionei. Naquele dia, não mais o vi.

Na manhã seguinte fui novamente preparar o café. Mas já usava a blusa que fazia as vezes de um mini-vestido. Ao acabar, enquanto lavava a louça, senti que alguém se aproximara por trás, bem junto a mim, e me levantava a blusa. Fiz de conta que nada percebi. Quando terminei, permaneci na mesma posição, virada ainda para pia. Senti então que um membro bastante enrijecido me forçava as pernas. Abri-as lentamente e, sem me dar conta de quem se tratava, permiti que me penetrasse. Com movimentos ferozes, deixou-me ardida. Não demorou a gozar e, quando isso aconteceu, ainda permaneceu por um tempo com o pênis inteiro dentro de mim. Depois que se soltou, ainda esperei na mesma posição. Ao me virar, ele já partira.

No dia seguinte voltei ao mesmo local. Para provocar, apareci com a camiseta curta; tudo de fora. Fiquei durante longos minutos voltada para a pia; sabia que alguém me apreciava. Mas não houve aproximação; e ao olhar na direção da porta, caso mesmo houvera alguém a me espiar, já desaparecera.

Nos dias que se seguiram fiz questão de dormir até mais tarde. Não consegui distinguir ruídos que dessem sinal de pessoa alguma nem na cozinha nem nos outros cômodos.

No domingo, uns cinco dias após a apressada relação sexual, já sem pensar no que acontecera, senti de novo um leve respirar às minhas costas. Eu tomava os últimos goles de café voltada para a pia. Quis virar-me para ver se se tratava do jovem da primeira vez. A pessoa, no entanto, me reteve com firmeza, imobilizando-me.

“Não quero”, sussurrei, “você precisa respeitar os meus desejos”, concluí. Roubou-me então a blusa, deixando-me nua, e se foi sem que eu pudesse distingui-lo.

Passados mais dois dias, não notei presença alguma na cozinha pela manhã. Tomava meu café e ia ler um pouco. Dali a uma ou duas horas, as outras pessoas acordavam.

Quando já quase esquecera o caso, novamente a misteriosa presença se fez notar no mesmo local, dessa vez imobilizando-me pelas costas.

“Preciso ver você, preciso saber de quem se trata”, falei.

Uma lufada de ar misturada com ruídos de voz chegou-me aos ouvidos.

“Vamos à praia.”

“Só se eu puder saber de quem se trata.”

“Na praia eu prometo que deixo você saber.”

“Mas estou nua...”

Arrastou-me mesmo assim. Então descobri quem era. Não se tratava do rapaz que me surpreendera nua no café da manhã, mas do marido da dona da casa, a amiga que me convidara.

“Não, por favor, não quero”, afirmei livrando-me de suas mãos.

“Quem você esperava?”

“Ninguém.”

“Como ninguém? Houve dias em que você se mostrou nua na cozinha. Para quem era?”

“Não interessa, jamais pensei que era você. Deixe-me vestir sua camisa, por favor”, pedi enquanto cobria os seios com as duas mãos.

“Sei que você não vai falar nada para a Ana”, insinuou.

Depois deu as costas e se foi.

Após alguns minutos, quando pensei em voltar, apareceu o rapaz.

“Oi”, falou com timidez.

Ainda estava nua e ele se pôs a me olhar como na primeira vez.

“Venha”, eu disse; “estou nua pra você”.

Fizemos amor. Ele mostrou-se muito carinhoso, não era o selvagem da primeira vez; ou melhor, o selvagem era o marido de minha amiga.

Enquanto estive de férias naquela casa, passei a me exibir só para ele (o rapaz) todo dia bem cedinho, não mais na cozinha, mas nas areias da praia!

Até que as férias acabaram.

domingo, agosto 03, 2008

"É a primeira vez?"

A noite entrava pelas horas. Eu estava um pouco assustada, era a primeira vez que visitava a casa dele. E pelo jeito ia passar a noite ali. Os objetos que eu levara denunciavam-me, viera com uma bolsa grande e plena. Não sabia, porém, como fazer para trocar de roupa e me recostar na cabeceira da cama. Tínhamos bebido uma garrafa de vinho, cujo ato fora quase um ritual; demoramos a esvaziá-la, esquecíamos dela enquanto conversávamos. Depois nos sentamos lado a lado; ele se aproximava, eu reparava que queria me beijar, mas acho que devido à minha timidez eu o assustava; então ele se afastava e enveredávamos por outra conversa. Falamos muito sobre lugares que conhecemos, viagens que fizemos, museus, galerias de arte. Quando voltávamos a nossos corpos, eu não sabia o que dizer, e ele sempre me olhando com encanto.

Foi aí que perguntou: “Você quer descansar?”

Respondi que sim. Fomos para o quarto.

“Você quer trocar de roupa aqui ou quer ir ao banheiro?”, ainda acrescentou: “quer que eu saia?”

Acho que quase enrubescida, disse a ele que iria me trocar no banheiro. Ele acompanhou-me, mas deteve-se na sala; sentou-se no pequeno estofado e voltou-se para os livros que estavam sobre a mesa.

Após alguns minutos, voltei; vestia uma camisola curta, mas recatada. Ele olhou e sorriu, procurava me deixar à vontade. “Como vamos fazer?”, perguntou.

Emudeci e esperei pela decisão dele.

“Você quer que eu durma aqui na sala e deixe o quarto para você?”, perguntou.

“Não quero incomodar, posso dormir aqui no estofado”, falei baixinho.

“Não, não, é desconfortável.”

“Podemos dormir os dois na cama”, falei demonstrando não estar constrangida.

“Então está bem”, finalizou.

Deitei-me, acendi o abajur que havia bem ao lado que eu escolhera.

Ele voltou e deitou-se ao meu lado. Ficou de barriga para cima; parecia refletir sobre alguma coisa.

Desliguei a pequena lâmpada e o quarto mergulhou na escuridão; através da janela era possível ver que a noite estava clara.

Em alguns segundos visualizei todo o percurso, desde o momento em que o conheci até àquela hora. Não pensei que estaríamos juntos após apenas uma semana do primeiro encontro. Estava tomada de uma intensa timidez. Caso ele se virasse em minha direção e me tomasse nos braços, eu não saberia o que fazer. Diria que não, que ainda era cedo, que eu nem deveria estar ali. Onde eu estava com a cabeça quando aceitei seu convite para passarmos juntos o fim de semana? Achei que seria melhor eu levantar, vestir-me e chamar um táxi. Mas se tomasse essa decisão, acho que seria o fim do relacionamento; e ele era tão agradável. Ele parecia ressonar. Acho que entendera toda a minha aflição e me proporcionava algum tempo para que eu pensasse melhor a questão. Não virei para o outro lado, ele poderia receber tal atitude como uma ofensa. Fiquei meio inclinada, não de todo virada para ele, mas também não demonstrando uma retirada brusca. Então ele tocou num de meus braços; tocou suave, lúcido, com tamanho carinho que fingi não perceber. Mantive-me na mesma posição. Então se aproximou e enfiou os braços por baixo de minha coberta, tocou as partes nuas de meu corpo. Arrepie-me, misturava timidez e excitação. Eu o enfrentaria? Não era um enfrentamento. Na verdade, relações amorosas não são enfrentamentos, são entregas, entregas suaves, límpidas; mas eu tinha tanto medo... O que faria? A solução foi manter-me estática, mas esforcei-me para ter os músculos relaxados. Não queria que ele me percebesse enrijecida e o coração a palpitar. Então se aproximou ainda mais, de mansinho. Não consegui manter-me quieta.

“Estou morrendo de medo”, revelei.

“Medo?” Medo de quê?”

“Não sei...”

“É a primeira vez?”

“Não!”, apressei-me em responder.

“Então não há o que temer.”

“Você se importaria se apenas namorássemos e deixássemos o principal para outro dia? Se você me respeitar, vai conseguir tudo de mim.”

“Tudo?”

“Dou a roupa do corpo.”

“Tudo bem, podemos esperar.”

Ele me deu um longo beijo. Eu pegava fogo.

A madrugada, moça nua úmida de orvalho, transcorreu suave.

Ainda antes do amanhecer não resisti, escalei seu corpo: borboleta a bater asas, tentando equilibrar-se sobre o galho mais alto de árvore robusta.