Nós sempre trabalhamos muito, por isso, num feriado
prolongado, alugamos uma casa em Muriqui. Eu, Leila, e Wanda. Convidamos os
rapazes. Apenas dois estavam disponíveis. Não se tratava de nossos namorados,
mas gente que gosta de se divertir. Na sexta feira à noite começamos os
preparativos. Já na madrugada, partimos para o nosso destino. Como moramos na
baixada, pegamos um ônibus até a rodoviária de Nova Iguaçu. No mesmo local, bem
cedinho, havia o tal ônibus que nos deixaria na cidade praiana.
Dez da manhã já entrávamos na casa. Apenas nós três. Os
homens viriam mais tarde e trariam bebidas e comidas. Vistoriamos o local. Um
amor de casa, apenas a uma quadra da praia. Deixamos nossos pertences num dos
quartos onde havia uma cama de casal, uma de solteiro e um armário de quatro
portas. O local cheirava bem, aquele cheirinho de limpeza. Vestimos nossos
biquínis, escrevemos um bilhete, que colamos na porta de entrada. Corremos à praia.
A praia de Muriqui é refúgio de muita gente que vem de
lugares de periferia. Não há vergonha alguma nisso. Mas as mulheres desses
lugares são um tanto escandalosas. Falam alto, às vezes lhes falta educação. Vestem-se
de modo escandaloso e ficam agarradas ao namorado o tempo todo. Logo que fincamos
nosso guarda-sol, reparamos uma morena que usava um biquíni minúsculo, a bunda
toda de fora, parecia até um biquíni feito de fita isolante. Quem sabe era mesmo.
Magra, alta, bonita, a mulher movia-se com delicadeza, mas vez ou outra
representava gestos de quem está próxima ao orgasmo.
Eram dez e trinta da manhã e já havia muita gente namorando
numa das pontas da areia, onde há um muro baixo, que serve de proteção à maré
alta. Mesmo em pé as mulheres permaneciam de olhos fechados, guardadas pelos
grandes braços de seus homens. Não se moviam, pareciam concentradas num prazer
quase espiritual.
Leila tirou a canga e sentou-se na cadeira de armar.
“Ah, até que enfim”, disse e sorriu, “vou aproveitar o dia,
como estou precisando!”
Wanda era a única que fumava. Abriu a bolsa, tirou um
cigarro e o acendeu, depois também sentou. Permaneci de pé, olhando ao redor,
queria me certificar de que não havia conhecido algum.
Como ainda era relativamente cedo, muitas famílias aproveitavam
o sol ameno para levar suas crianças ao banho de mar. Pais conduziam os filhos
até a beira d’água, outros faziam bonecos de areia, com os brinquedos das
crianças. Estas sorriam e queriam sempre algo mais.
“Está praia é uma azaração à tarde”, suspirou Leila.
“É mesmo?”, eu desejava que ela falasse mais.
“A gente espera companhia, não é mesmo? Caso não fossem os
rapazes, daria pra escolher ficante, ou mesmo namorado”, completou.
“Você já esteve aqui outras vezes?”, Wanda perguntou a Leila.
“Sim, duas vezes. Numa delas vim também com duas amigas.
Vocês querem sabe mesmo como foi?”
“Eu quero”, falei e sorri. Reparei uma mulher que corria
para a água seguida de um homem que parecia desejar segurá-la. Deviam também
ser namorados.
“No primeiro dia, fiquei com dois rapazes, e quase ao mesmo
tempo.”
“Não houve confusão, ou ciúmes, por parte de algum?”, olhei
Leila nos olhos e esperei a resposta.
“Nada, eles queriam mesmo aproveitar o momento, depois
procuravam outra. Acho que naqueles dias estava na moda namorar o maior número
de pessoas num espaço curto de tempo.”
“E o que vocês fizeram?”, Wanda mostrava-se curiosa.
“Fizemos de tudo, só pedi pra não gozarem dentro.”
“E eles respeitaram?”, perguntei.
“Acho que sim, já se passaram dois ou três anos, e estou
aqui, em forma.”
“Vocês treparam onde?”, continuei.
“Lugar aqui é que não falta, imagine um local. Então, trepei
lá.”
“Acho que não”, sorri como numa piada, “você não trepou em
cima de um coqueiro.”
“Mas trepei em baixo, dentro d’água, encostada num muro, na
casa de um deles. Ainda usei um vestidinho desses de malha, bem curtinho, acho
que pensavam que eu estava de biquíni por baixo, mas eu sentava e cruzava as
pernas, nadinha além do vestido.”
“Nossa, Leila, você exagerou, não tenho coragem de agir assim”,
disse Wanda.
“Não se preocupem, agora estou mais comportada, não vou dar
má fama a vocês. Sei que quando estão namorando, não avançam a outro homem.
Não é mesmo, Márcia?”
Tive de dar um sorrisinho. Certa vez quando eu estava
casada, ela me viu com um amigo num restaurante, cismou que o homem era meu
amante. Tive um caso com ele, sim, mas são tantas as mulheres que jantam com
amigos.
“Se a conversa for esta”, interveio Wanda, “existe gente pra
tudo. Tenho uma amiga que frequentava Rio das Ostras. Ela diz que ficava nua
dentro d’água, tirava o biquíni e pedia para namorado guardar dentro da sunga.
Diz que se sentia livre e solta.”
Rimos muito as três.
“Existem muitas histórias, às vezes aquela que tem cara de
santinha é a mais levada”, falei, “mas o bom mesmo é uma boa trepada, com um
homem que sabe tocar numa mulher, alguém que demore dentro da gente.”
“Agora sim”, disse Leila. “Mas não é apenas pra isso que
estamos aqui, não é mesmo?, olhem o sol, o mar, a natureza. E daqui a pouco
vamos tomar uma cerveja!”
“A Márcia com esse biquininho, oh, depois de duas cervejas,
vai se sentir peladinha.”
“Ai, nem fala”, fiz cara de que ficaria morta de tesão.
Falei na mulher com cara de santinha, mas tenho certeza que
minhas amigas acham que a tal sou eu. Nada falam por educação, mas me imaginam
como uma fêmea plena de ardis e peripécias. A Márcia fica caladinha, mas pensem
ela na cama, diria uma; não precisa ser na cama, em qualquer lugar, sugeriria a
outra. Ainda bem que não sabem nada de mim. Certa vez estive nesta mesma praia,
viera sozinha, um fim de semana. Como adoro andar de biquíni, vestia um tão pequeno quanto este, mas de
lacinhos. Um homem de quase dois metros ficou me azarando boa parte do tempo.
No princípio, eu não queria nada com ninguém, apenas ler minha revista e tomar
sol. Mas o sujeito foi chegando, oferecendo-se, perguntando se eu queria uma
cerveja. Respondi que esperava um amigo. O homem não desistiu. Do alto de seus
quase dois metros ficou observando. Ora olhava para um lado, ora para outro.
Duas horas depois, aproximou-se e disse seu namorado deu bolo. Pois é,
respondi. Minha resposta soou como um sim. Ele não desgrudou mais. Imaginem,
eu, um metro e sessenta e cinco e o homem dois. Lá pelas três da tarde já
havíamos bebido três cervejas. Entramos os dois n’água. Ele fez a festa. Apenas
não transamos ali. Lá pelas cinco da tarde pediu para acompanhá-lo, conhecia um
lugar onde havia uma ducha maravilhosa. Ardida, segui-o. A tal ducha ficava no
quintal de uma casa. E era mesmo uma delícia. Não há ninguém, não se preocupe,
pode tomar banho à vontade, ele disse. Entrei debaixo da ducha de biquíni. Não
passou muito tempo, senti uma vontade incrível de tomar banho nua. Despi-me e
estendi o biquíni numa cordinha ao lado. Tomei meu banho tranquila. O homem
fingiu não observar minha nudez. Quando acabei, estendeu uma toalha imensa.
Enxuguei-me e fiquei enrolada nela. Ele tomou banho também, mas foi rápido.
Assim que terminou, secou o corpo em uma toalha menor e veio me abraçar.
Levou-me para dentro da casa. Será que preciso contar o que aconteceu?
Imaginem. Um homem daquela altura trepando com uma baixinha como eu. No começo
fiquei temerosa, mas tudo correu bem.
Minha amiga Leila fez-me voltar ao local. “Que tal
mergulharmos. Já há uma azaração terrível ao redor de nós!”
Verdade, eu começava a me sentir ardida, como da vez que
transei com o gigante.
Por volta de meio-dia chegaram os rapazes. Os dois amigos
que prometeram trazer bebida e comida. O engraçado foi que não vieram sozinhos.
Havia um terceiro. Jair e Jaime já tinham estado na casa, onde deixaram a
bagagem. Não foi difícil nos encontrar na praia.
“Este é Michel”, Jair apontou ao jovem de mais ou menos trinta
anos, que os acompanhava. “Estava meio perdido, perguntando que ônibus vinha
pra cá, então eu disse pode vir com a gente.”
“Oi, pessoal, bom dia, muito prazer, não quero incomodar,
aceitei a carona, agora o resto é comigo.”
“Não, nada disso, pode ficar com a gente, moramos quase ao
lado, conhecemos você de vista, vai se divertir muito”, completou Jair.
Leila olhou o homem e virou-se para nós duas sorrindo. “Que
bom”, chegou a dizer, “não se joga fora homem nenhum”, falou baixinho.
Michel trazia uma mochila de onde tirou revistas e livros
assim que se ajeitou próximo a nós. Sua intenção era passar o feriado junto à
praia e se distrair com algumas leituras.
Leila e Wanda acompanharam seus amigos, que trouxeram para a
praia um isopor cheio de latas de cervejas. Começaram a beber. Mas logo um
deles disse que ia mergulhar, sentia muito calor. Minhas amigas seguravam suas
bebidas, enquanto Jaime dizia:
“Que maravilha, hoje é sábado, vamos ficar aqui até segunda,
vai ser dez!”
Michel tirou da bolsa uma revista que, creio eu, viera lendo
durante a viagem. Achei interessante sua reação. Numa praia, em meio a tantos
divertimentos, ele preferia a leitura. Leila olhou para o rapaz e fez uma
fisionomia de desgosto, talvez achasse que faria sucesso com o novo conhecido.
Wanda olhava na direção do mar, preferia o amigo já de longa data, com quem,
vez ou outra, mantinha algum relacionamento.
A revista era de filosofia. Tinha também na bolsa mais três
livros, cujos títulos a princípio não pude descobrir. Como as coisas mais
difíceis nos atraem, comecei a pensar como faria para aproximar-me daquele
homem.
Eu sempre levei revista para praia, mas nada sério, revistas
de moda, de relacionamento, ou mesmo sobre a vida de gente de teatro, cinema e
TV. Vez ou outra, eu pegava emprestado um livro na biblioteca pública, nada
demais, um livro comum, como um romance popular.
Logo que minhas amigas se afastaram, consegui iniciar certo
diálogo com Michel.
“Você gosta mesmo de ler”, arrisquei, interrompendo sua
leitura.
Sorriu e mostrou-me os livros, tirando-os da bolsa. Um deles
era sobre Emmanuel Kant, outro um pequeno dicionário, havia também um romance,
que não consegui distinguir o nome, nem pude perceber se era em português.
Michel me ofereceu os livros.
“Não, obrigado, gosto de ler, mas esses assuntos são muito
sérios para mim.”
“Não há nada de sério aqui, são coisas normais, como a
praia, como todas as pessoas que estão aqui em volta.”
“Jura?”, cheguei a suspirar.
“Verdade, as coisas boas são simples.”
“Kant não é simples, lembro um professor que falou sobre
ele, Kant foi um filósofo, parecia gente muito séria.”
“Gente séria?. Você acha que há alguém sério na filosofia?
Quase todos especulam, resposta que é bom nenhum deles tem”, sorriu, olhou para
mim. “Dê uma olhada, não se trata de um livro escrito diretamente por Kant, é pedagógico,
sobre suas três críticas.”
Naquela praia, deitada ao lado do jovem, usando um biquíni
que me mostrava mais do que vestia, comecei a folhear alguns páginas sobre
Kant. Minhas duas amigas e os rapazes haviam desaparecido. Talvez estivessem
dentro d’água, ou quem sabe comendo um churrasquinho e bebericando uma cerveja.
“Kant não é difícil”, voltou a falar Michel, “sua obra é uma
tentativa de descobrir como o homem chega ao conhecimento. Este é o modo mais
simples de falar sobre o filósofo. É lógico que há outras coisas, como
discussões sobre o ser, sobre como o ser humano vê o mundo, como o estuda. Há
também aspectos morais, a beleza, quer dizer, como julgar o que é a beleza. Mas
o fundamental é que ele deseja saber o que o ser humano é capaz de saber. Isto
Kant chama de razão. ‘O que posso saber?’, é a pergunta principal da primeira
crítica de Kant, chamada de Crítica da razão pura.”
Dei mais um suspiro. “Puxa, você deve saber muita coisa”,
cheguei a dizer.
“Nem tanto, o saber não nos leva a muitas certezas, mas à
vontade de saber cada vez mais.”
“Você diz que ele escreveu também sobre a beleza.”
“Escreveu, sim.”
“O que ele diz sobre isso”, mostrei-me curiosa.
“Kant diz que a beleza não é um conceito, ela é subjetiva.
Hoje as pessoas já entendem assim, mas no tempo dele, houve quem
tentasse estabelecer um conceito universal para a beleza.”
“Universal?”, fiz de conta que não entendi.
“Os filósofos procuravam uma norma geral para o mundo, mas
Kant não entendeu assim. Pode-se mesmo achar uma coisa bela porque os outros
acham, mas é preciso se afastar daquilo que se quer apreciar. A beleza pode não
ser agradável; ou pode agradar a uns e não a outros.”
Respirei fundo mais uma vez, achava a conversa interessante,
não era só arranjar namorado que satisfazia, conversar com aquele homem era
bom, era alguém que tinha prazer por coisas abstratas.
“Você gosta de coisas abstratas”, afirmei.
Ele deu uma gargalhada.
“Todas as coisas são abstratas.”
“Não acredito”, assustei-me, levantei-me, dei uma volta e
mostrei a ele meu corpo. “Você acha que sou abstrata?”
“De certa forma sim, porque o desejo de um homem pelo seu
corpo é um desejo cultural. Entenda, os animais trepam sem precisar dar esta
voltinha, não precisam exibir o bumbum, além disso, trepam apenas em períodos
de cio. O ser humano tem um desejo construído.”
“Caramba, que complicação!”
“Não é complicado, não, deita aqui ao meu lado que explico
melhor.”
Será que já teria chegado o momento, bem ali na praia,
diante de todas as pessoas?
Michel leu um parágrafo do livro sobre a tal teoria.”
“Você está interessada na beleza, não é mesmo? Para Kant, a
estética, isto é, a apreciação da beleza, nada tem a ver com a ética.
Traduzindo: a arte não precisa seguir uma moral. Já que é subjetiva tanto na
produção como na recepção, hão pode formar conceitos universais. Para o filósofo, o que é verdade precisa ser universal, é o que chama de imperativo categórico. Como a arte não chega a nenhum tipo de conceito universal, não deve emitir conceitos morais. Quer um exemplo?
Fiz que sim com a cabeça, espreguicei-me sobre a canga.
“Não existe a beleza, mas representações dela, e as pessoas não devem buscar nas representações artísticas conceitos para aquilo em que acreditam. O exemplo: você também pode fazer do seu corpo uma obra de arte,
mas não vai conseguir estabelecer um conceito de beleza através dele. Uma coisa
é o que pode ser observado pelos sentidos, outra é a razão.”
“Verdade?, então estou no caminho errado”, dei uma sonora
gargalhada.
Ficamos em silêncio. Abri uma cerveja e ofereci a ele. Bebeu
com gosto.
“Vamos passear”, sugeri.
“Vamos.”
Andamos pela beira da água, depois mergulhamos. Abracei-o
sem lhe dizer nada, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Ele retribuiu
o abraço e gostou quando eu comecei a fazer carinho nas suas costas.
Ficamos na praia até cinco horas, quando fomos até a casa.
Ele, sempre ao meu lado, trouxe a mochila e seus pertences. Ao chegar, tomamos
uma ducha. Pendurei o biquíni num pequeno varal que havia no quintal e corri
nua para um dos quartos. Aproveitamos a casa vazia para namorar
Nua sobre a cama, pensei se ele esqueceria suas teorias para
se dedicar ao prazer, ao meu corpo. Mas lembrei algo engraçado. Certa vez, uma
amiga me falara que homens intelectuais gostavam mais de histórias, adoram
exercitar a imaginação. Para eles, a realidade é algo menor.
Logo que ele entrou no quarto, levantei uma das pernas,
assim minha nudez não era total, uma das coxas cobria o principal. Olhou-me nos
olhos, então, perguntei.
“Você gosta de histórias, não é mesmo, sei que homens como
você são de imaginar, de gozar com aquilo que pensam.”
Michel sorriu de novo, aproximou-se, pôde reparar que eu
estava toda depilada. Como já vinha excitada, a pontinha do meu grelo escapava.
Uma mulher nua, e com o grelo de fora é demais. Afastei um pouquinho as pernas
e o convidei.
“Qual história você tem pra me contar?”, ele, curioso.
“Tenho muitas. Vamos ver o teu gosto. Como desejas? Uma
história de sexo pesado, ou um conto leve? Fetiche ou nudez aberta? Quer saber
o dia em que nadei nua? Foi um barato. Pelo teu jeito, acho que quer botar no
meu cu.”
Deu uma gargalhada. Deitou e subiu sobre mim. Mas ainda
estava de bermuda.
“Vou contar uma história leve, acho você um homem delicado.
Preste atenção.”
Ele escorregou à minha direita, deixou uma das mãos sobre o
meu umbigo. Comecei a narrar.
“Tenho uma camisa de malha que faço de conta ser um
vestidinho, curtinho e bonitinho. Jogo sobre o corpo, nada por debaixo. Saio
com ele à noite, uma sandália rasteirinha, nada nas mãos. Faço de conta que vou
ao encontro de alguém. Agora me conta, o que você faria se me encontrasse?
Vamos dizer, você me encontra no calçadão, desce comigo pra areia, a gente
caminha quase até onde as marolas podem molhar nossos pés. Nos abraçamos, nos
beijamos. Você descobre que eu só visto aquela blusinha fina. Já sei, você fica
agarradinho a mim e vai explorando minha pele. Quando tem a ereção, levanta a
ponta dianteira do meu vestidinho. Não me resta outra coisa a fazer a não ser afastar
as pernas e receber você, um homem ereto, prestes a explodir em gozo. Devagar,
peço, não goza não, quando um homem goza dentro de uma mulher, ela precisa
ficar agachada um tempão pra poder devolver seu esperma, como demora. Se
estiver sem calcinha, nem pensar. Você me experimenta, desliza ágil pra dentro
dos meus lábios. Depois de alguns minutos, digo deixa pra gozar dentro da minha
boca. Você aceita, mas cisma em me tirar a camisa, em me deixar nua. Há outras
pessoas, vão ver que estou nua, sussurro. E quem vai reparar?, todos têm seus
afazeres, que também são muito interessantes, você conclui. Permito. Agacho e
tiro a blusa. Entrego-a nas tuas mãos. Você a enrola, pequenina, uma bolinha de
pano. Guarda-a no bolso da bermuda. Na mesma posição começo o boquete. Você vai
as nuvens, uma delícia. Sou boa nisso,
abocanho teu pênis sem pressa, ora na ponta, ora por inteiro. Às vezes o
fricciono com uma das mãos. Mas você não goza logo. Adoro. Ficamos os dois no
embalo do namoro. Não vejo outras pessoas, não vejo ninguém. A praia é toda
nossa. Onde se foram os outros namorados? Quando menos espero, você goza. Três
jatos fortes. Quase perco a pose. Que vergonha!, engasgar com a porra do
namorado! Mas isso não acontece. Equilibro-me, mesmo que precária, dou uma
volta completa com a língua, com os lábios, não deixo pingar fora uma gota.
Engulo meu presente. Olho pra você e sorrio. Você passa pra minhas costas.
Ambos olhamos o mar noturno. Você satisfeito. Eu, mesmo que ainda não tenha
gozado, morta de tesão, o corpo nu ao vento, outro tipo de gozo. Silêncio.
Quando procuro você, estou sozinha. Onde se escondeu?”
“Sua história é muito boa. Agora me deixa te penetrar”, pede
humilde, já nu, na cama, quase sobre o meu corpo.
“Quero te perguntar uma coisa antes”, intervenho. “É verdade
que intelectuais se masturbam mais do que trepam?”
“Quem sabe”, ele ri.
“Ah, tenho mais uma surpresa, ou precaução, não sei”, atrevo-me
antes que ele me enfie o peru enorme. Vá lá na geladeira, tem manteiga, ou
margarina, não sei ao certo.”
“Não é preciso, gosto ao natural, mulheres e suas sedas,
mulheres e suas seivas.”
“Ui!”
“Você tem medo?”, chega a perguntar.
“Uma coisa são as palavras; a outra é o ato.” Pisco os
olhos, sinto-me vexada, parece que volto à primeira transa, lá atrás, não sei
quantos anos.
“Tenho mais uma coisa a dizer. É ainda sobre filosofia”, insiste
no olhar.
Aproveito, ainda deitada, para cruzar uma perna sobre a
outra, como querendo esconder algo precioso.
“Há a questão do sublime”, continua. “Você sabe a diferença
entre o belo e o sublime?” Mesmo sem que eu lhe responda, vai adiante. “O belo
é o que satisfaz aos nossos sentidos, o sublime vai além, não somos capazes de
compreendê-lo.”
Estende uma das mãos, toca-me o corpo, junta-se a mim,
devagar, bem devagar.