segunda-feira, abril 09, 2018

Historieta

Você pode me fazer um favor?

Ela me chamou e contou, com muita discrição, uma historieta curiosa. Depois fez o tal pedido.

Você está tão bonita com essa roupa, e a saia curta cai super bem, eu disse.

Obrigada pelo elogio, mas roupa curta pra mim pode se tornar um problema. Você é mulher, eu, bem, pareço mulher, mas..., interrompeu e fez um gesto vago com os braços.

Entendo, e os homens ficam loucos por você, e querem que faça o impossível.

Isso, o impossível. Às vezes até consigo, mas tudo tem limite.

Entendo, pisquei um dos olhos.

Mas esse último veio com a tal história da excitação. Falei que não precisava, que já tenho tesão até demais. Mas o homem não escutou, quis passar o creme, insistiu, acrescentou que tinha efeito de adesivo, me ajudaria. Acabei concordando, mas não sabia que o resultado seria tão trágico. Agora não há o que fazer, a não ser que você...

Ela não continuou, olhou como se enxergasse por baixo do meu vestido.

Mas nunca andei sem, entende?, cheguei a dizer, não sei se consigo.

Sempre há a primeira vez, e para uma mulher não é difícil, agora pense quanto a mim.

Por que você não veio vestida com uma, ou trouxe outra de reserva na bolsa?

E eles deixam? São loucos para saber que estou sem. E sobre trazer uma de reserva, confesso que às vezes trago, mas veja o tamanho da minha bolsa hoje, tão pequena...

Entendo, suspirei. Não há nenhum conhecido seu neste coquetel?

Não. E estou por um triz. Olha que consigo sair sem, consigo andar sem, mas o creme acabou me deixando sem chances.  Conto apenas com você.

Gostei do apenas. Mas escute, você consegue sair sem?

Consigo, há um jeitinho de segurar, mas o creme...

Ele passou o creme aqui, no coquetel?, interrompi.

Não, namoramos no estacionamento antes de entrarmos, uns quinze minutos. Sempre nos agarramos dentro do automóvel.

E onde está o namorado agora?

Conversando com o proprietário do empreendimento, negócios.

Ele sabe sobre você?

Não, nada falo, morro de vergonha.

Tudo bem, compreendo. Quero, porém, contar antes uma história, permite?

Claro, mas seja breve, por favor.

Certa vez, na praia, apareceu uma amiga enrolada numa toalha. Aproximou-se e me pediu o biquíni. O biquíni?, surpreendi-me. Estava sem nada por baixo e queria entrar no mar. Por quê, sem o biquíni?, perguntei. Brincadeira do namorado. E onde ele agora? Por aí, respondeu. Mas não posso ficar nua, acrescentei. Não, fico eu nua, tiro a toalha e te dou, você tira o biquíni e me empresta, é rapidinho, eu pago a você. Paga?, cheguei a repetir. Pago. Não precisa, não quero dinheiro, mas quero saber como você vai ficar nua enquanto me dá a toalha. Isso não é problema, falou, você vai me emprestar? Achei a situação engraçada, queria ver se ela tinha  coragem de ficar nua. Sim, respondi decidida. A seguir, ela ficou mesmo nua, uma porção de gente na praia, me deu a toalha e sentou na minha cadeira de praia. Enrolei-me no tecido e ainda fiz uma cena, demorei, não sabia como tirar o biquíni. Agache aqui, ela pediu. Agachei e ela tirou meu biquíni em um segundo. Vestiu-o e foi ao mergulho. Achei que não voltaria. Mas voltou e fizemos a troca. Tirou o biquíni primeiro e eu o vesti por baixo da toalha. Acho que ninguém a viu nua, em nenhuma das duas vezes. Se viu, não teve tempo de processar. Agora, acho que é quase a mesma situação.

É pior, vou mostrar, olhe, não tenho mais como segurar. O creme não sai de jeito nenhum. No começo até serviu de aderente, mas depois virou água, ou melhor, margarina, e não adianta passar papel, minhas coxas estão escorregadias.

Entramos no banheiro, levantei o vestido, tirei a calcinha e entreguei-lhe. Ela vestiu. Beijou-me, então, agradecida.

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