Tenho um amigo que me adora. Aliás, às vezes nossa relação
avança um pouco além da amizade, mas prefiro dizer que é meu amigo. Outro dia
estávamos na praia, eu vestia um biquíni comportadíssimo, mas disse a ele que
da próxima vez viria trajando apenas uma peça.
Uma peça?, surpreendeu-se.
Isso mesmo, uma peça.
Então você vem com os seios à mostra, sugeriu.
Nada disso, um maiô inteiriço, dei de ombros.
Ah, bom, ele entendeu.
Lembrei, então, de um antigo namorado, sapeca que só, não é
que queria me deixar nua na praia? Eu queria mesmo era trepar com ele, uma
gostosura, muito bom de cama, preferia mesmo ficar em casa a manhã inteira, eu
nos braços dele. O homem, porém, queria me levar à praia. Eu cedia. Certa vez
eu disse que iria, mas só com uma peça. Não fui vestindo o maiô inteiriço,
apenas a parte de baixo do biquíni, e nada de comportado. Não é que dentro d’água
ele me deixou nua? De uma peça, a nenhuma. Mas foi bom. A água gelada, eu nua.
Ainda bem que aquela praia em R. O. estava vazia, não era temporada.
Volto ao meu amigo. Não sabe nada das minhas sapequices.
Você gosta de vestidões?, pergunta.
Vestidões, como assim?
Aqueles vestidos compridos, que descem até abaixo dos
joelhos, ou mesmo até os pés.
Gosto, tenho três.
Você nunca vestiu nenhum deles pra mim, fez cara de amuado.
Qualquer dia desses a gente sai à noite, vou vestida com o
mais bonito, afirmei solícita.
Ok, vou adorar, deve ficar bem em você; vou te dar mais um
no teu aniversário.
Ficamos na praia, ao sabor do mar, do sol e do vento. No
final da tarde, ele me abraçou, me carregou no colo. Adorei. Pele com pele,
coladinha a ele. Tomamos um refrigerante num quiosque.
Sabe, voltei a falar, há homens que adoram mulheres bem
vestidas.
Sou um deles.
Acho que nos desejam de vestidões, para depois nos despirem,
tirar toda a roupa que temos sobre a pele, inclusive calcinha e sutiã.
Ele riu.
Você nem usa sutiã!
Eu e esse meu amigo trepamos duas vezes, e totalmente ao acaso. Uma foi na minha casa. Ele dormiu ao meu lado, durante a noite resolvi abraçá-lo. Ao acordar, pela manhã, estava nua! Jurou que não foi pelas mãos dele. Abracei-o, ainda nuazinha, e fizemos um amor muito gostoso. Depois coloquei o dedo sobre os seus lábios e disse a ele: isto não aconteceu. Continuamos amigos, nada mudou entre nós. Que bom, seja sempre assim!
A segunda vez... Bem, a segunda vez conto já. Antes, apenas
um parêntese.
No dia seguinte fiquei sozinha em casa. Peguei um livro pra
ler. Sentei no sofá e me perdi na história, uma história de amor. Mas, às nove
da noite, o telefone tocou. Era meu amigo.
Tenho um presente pra você, afirmou solene.
Não é ainda meu aniversário.
Não faz mal, quero te dar o presente; no aniversário, dou
outro.
Não gosto de largar um bom livro, mas o deixei de lado pra
receber o meu amigo. Chegou às dez em ponto.
Abri a pequena caixa, um vestido. Mas nada de vestido
comprido. Ao contrário, um minivestido branquinho. Meu amigo saliente!
Experimenta pra gente ver; se você não gostar pode trocar,
aqui o cartão da loja e o nome da vendedora.
Fui ao quarto, vesti a roupa, cheirinho gostoso de roupa
nova. Caiu perfeito no meu corpo. Tão curtinho. Voltei à sala.
Ah, eu que pensei que você gostava de mulher com muito
pano!
Meu amigo me abraçou. Depois fomos ao restaurante, pertinho
de casa, eu dentro do vestidinho.
Morro de vergonha, estou nua, tudo de fora.
Nada disso, você está ótima, ele me consolou.
Bebemos duas caipirinhas. Voltamos abraçados. Dormimos
juntos. A bebida havia me deixado soltinha. Pendurei o vestidinho no encosto da cadeira e pulei sobre o meu amigo. Devagarinho, abri as pernas. Minha xota molhadinha!
Mas, no dia seguinte, quando acordei, ele já havia partido.
Onde meu vestidinho? Não encontrei. Nem a caixa, nem o papel, muito menos o
cartão da loja com o nome da vendedora.
Hum, será que meu amigo veio mesmo ou era a
história do meu livrinho?