segunda-feira, maio 21, 2018

Onde meu vestidinho?

Tenho um amigo que me adora. Aliás, às vezes nossa relação avança um pouco além da amizade, mas prefiro dizer que é meu amigo. Outro dia estávamos na praia, eu vestia um biquíni comportadíssimo, mas disse a ele que da próxima vez viria trajando apenas uma peça.

Uma peça?, surpreendeu-se.

Isso mesmo, uma peça.

Então você vem com os seios à mostra, sugeriu.

Nada disso, um maiô inteiriço, dei de ombros.

Ah, bom, ele entendeu.


Lembrei, então, de um antigo namorado, sapeca que só, não é que queria me deixar nua na praia? Eu queria mesmo era trepar com ele, uma gostosura, muito bom de cama, preferia mesmo ficar em casa a manhã inteira, eu nos braços dele. O homem, porém, queria me levar à praia. Eu cedia. Certa vez eu disse que iria, mas só com uma peça. Não fui vestindo o maiô inteiriço, apenas a parte de baixo do biquíni, e nada de comportado. Não é que dentro d’água ele me deixou nua? De uma peça, a nenhuma. Mas foi bom. A água gelada, eu nua. Ainda bem que aquela praia em R. O. estava vazia, não era temporada.


Volto ao meu amigo. Não sabe nada das minhas sapequices.

Você gosta de vestidões?, pergunta.

Vestidões, como assim?

Aqueles vestidos compridos, que descem até abaixo dos joelhos, ou mesmo até os pés.

Gosto, tenho três.

Você nunca vestiu nenhum deles pra mim, fez cara de amuado.

Qualquer dia desses a gente sai à noite, vou vestida com o mais bonito, afirmei solícita.

Ok, vou adorar, deve ficar bem em você; vou te dar mais um no teu aniversário.

Ficamos na praia, ao sabor do mar, do sol e do vento. No final da tarde, ele me abraçou, me carregou no colo. Adorei. Pele com pele, coladinha a ele. Tomamos um refrigerante num quiosque.

Sabe, voltei a falar, há homens que adoram mulheres bem vestidas.

Sou um deles.

Acho que nos desejam de vestidões, para depois nos despirem, tirar toda a roupa que temos sobre a pele, inclusive calcinha e sutiã.

Ele riu.

Você nem usa sutiã!


Eu e esse meu amigo trepamos duas vezes, e totalmente ao acaso. Uma foi na minha casa. Ele dormiu ao meu lado, durante a noite resolvi abraçá-lo. Ao acordar, pela manhã, estava nua! Jurou que não foi pelas mãos dele. Abracei-o, ainda nuazinha, e fizemos um amor muito gostoso. Depois coloquei o dedo sobre os seus lábios e disse a ele: isto não aconteceu. Continuamos amigos, nada mudou entre nós. Que bom, seja sempre assim!

A segunda vez... Bem, a segunda vez conto já. Antes, apenas um parêntese.

No dia seguinte fiquei sozinha em casa. Peguei um livro pra ler. Sentei no sofá e me perdi na história, uma história de amor. Mas, às nove da noite, o telefone tocou. Era meu amigo.

Tenho um presente pra você, afirmou solene.

Não é ainda meu aniversário.

Não faz mal, quero te dar o presente; no aniversário, dou outro.

Não gosto de largar um bom livro, mas o deixei de lado pra receber o meu amigo. Chegou às dez em ponto.

Abri a pequena caixa, um vestido. Mas nada de vestido comprido. Ao contrário, um minivestido branquinho. Meu amigo saliente!

Experimenta pra gente ver; se você não gostar pode trocar, aqui o cartão da loja e o nome da vendedora.

Fui ao quarto, vesti a roupa, cheirinho gostoso de roupa nova. Caiu perfeito no meu corpo. Tão curtinho. Voltei à sala.

Ah, eu que pensei que você gostava de mulher com muito pano!

Meu amigo me abraçou. Depois fomos ao restaurante, pertinho de casa, eu dentro do vestidinho.

Morro de vergonha, estou nua, tudo de fora.

Nada disso, você está ótima, ele me consolou.

Bebemos duas caipirinhas. Voltamos abraçados. Dormimos juntos. A bebida havia me deixado soltinha. Pendurei o vestidinho no encosto da cadeira e pulei sobre o meu amigo. Devagarinho, abri as pernas. Minha xota molhadinha!

Mas, no dia seguinte, quando acordei, ele já havia partido. Onde meu vestidinho? Não encontrei. Nem a caixa, nem o papel, muito menos o cartão da loja com o nome da vendedora.

Hum, será que meu amigo veio mesmo ou era a história do meu livrinho?

segunda-feira, maio 07, 2018

Bebendo de canudinho

Você me convidou pra encontrar você, não foi? Concordei, estou aqui. Mas não pense mal de mim. Você falou ao telefone olha, vou te dar um presente, aquele presente que sempre ofereci a você. Fiquei pensando o que seria. Depois, lembrei. É a quantia que eu sempre te pedia quando trabalhei no centro cultural. Pedia emprestado, mas depois não tocava mais no assunto. Nada falava, nem mesmo uma palavra. Por sua vez, você também não cobrava. Às vezes eu pensava aonde chegaríamos, eu toda endividada com você, sempre pedindo, você emprestando. Quero dizer, fingindo emprestar, porque na verdade me dava, já que jamais paguei. Tem alguns dias seu telefonema, oi como vai, tudo bem?, venha, vou te levar o presente. Escutei tua voz delicada, melodiosa. Fiquei com receio da proposta, achei que tinha uma ponta de prostituição. Você sabe, trabalho de secretária. No momento, não tenho emprego fixo. Mas sempre alguém me chama, me paga cento e cinquenta, duzentos reais. Você me ofereceu duzentos, disse que era presente, não pra fazer serviço de secretária, mas encontrar e sair com você. Quem sabe terminar num quarto de hotel?, imaginei naquela hora. Você deve ter pensado em prostituição, mas nada falou, teve medo de me ferir. Pensou sim, porque também pensei, é  normal esta angústia. Fiquei preocupada, porque não costumo sair com homem em troca de dinheiro. Você podia achar que sou piranha. Toda vez que aceito o convite de um homem, é porque me atraiu, porque pode ser capaz de me causar prazer. Sair por dinheiro é outra história. Aceitei porque com você acontece uma coisa diferente, uma coisa interessante. Gosto de você, sim, de sua conversa, e sei que você não vai me pagar porque sou prostituta. Mas pra me ajudar, não é mesmo? Já reparei que você gosta de ajudar as pessoas. Então, vim. Caso fosse alguém que não me agradasse, não estaria aqui. Por nenhum dinheiro do mundo. Procuraria uma diária de secretária, alguém que precisasse organizar o escritório, ou mesmo a residência. Engraçado, eu nua, sentada nesta cadeira, contando estas coisas pra você e bebendo suco de laranja no canudinho. Por isso, gosto de você. É uma pessoa calma, nada de precipitação. Você gosta de conversar primeiro, gosta de me observar, me oferece uma porção de coisas, disse que eu podia ligar pra recepção e pedir o que quisesse. Adorei, quero dizer, estou adorando. Sei que você também está. Você gosta de me ver nua, sentada, de pernas cruzadas, tomando laranjada no canudinho, e sabe que daqui a pouco vai me ter nos teus braços, bem apertadinha. Então, vou contar uma história bem safada no teu ouvido.