segunda-feira, maio 07, 2018

Bebendo de canudinho

Você me convidou pra encontrar você, não foi? Concordei, estou aqui. Mas não pense mal de mim. Você falou ao telefone olha, vou te dar um presente, aquele presente que sempre ofereci a você. Fiquei pensando o que seria. Depois, lembrei. É a quantia que eu sempre te pedia quando trabalhei no centro cultural. Pedia emprestado, mas depois não tocava mais no assunto. Nada falava, nem mesmo uma palavra. Por sua vez, você também não cobrava. Às vezes eu pensava aonde chegaríamos, eu toda endividada com você, sempre pedindo, você emprestando. Quero dizer, fingindo emprestar, porque na verdade me dava, já que jamais paguei. Tem alguns dias seu telefonema, oi como vai, tudo bem?, venha, vou te levar o presente. Escutei tua voz delicada, melodiosa. Fiquei com receio da proposta, achei que tinha uma ponta de prostituição. Você sabe, trabalho de secretária. No momento, não tenho emprego fixo. Mas sempre alguém me chama, me paga cento e cinquenta, duzentos reais. Você me ofereceu duzentos, disse que era presente, não pra fazer serviço de secretária, mas encontrar e sair com você. Quem sabe terminar num quarto de hotel?, imaginei naquela hora. Você deve ter pensado em prostituição, mas nada falou, teve medo de me ferir. Pensou sim, porque também pensei, é  normal esta angústia. Fiquei preocupada, porque não costumo sair com homem em troca de dinheiro. Você podia achar que sou piranha. Toda vez que aceito o convite de um homem, é porque me atraiu, porque pode ser capaz de me causar prazer. Sair por dinheiro é outra história. Aceitei porque com você acontece uma coisa diferente, uma coisa interessante. Gosto de você, sim, de sua conversa, e sei que você não vai me pagar porque sou prostituta. Mas pra me ajudar, não é mesmo? Já reparei que você gosta de ajudar as pessoas. Então, vim. Caso fosse alguém que não me agradasse, não estaria aqui. Por nenhum dinheiro do mundo. Procuraria uma diária de secretária, alguém que precisasse organizar o escritório, ou mesmo a residência. Engraçado, eu nua, sentada nesta cadeira, contando estas coisas pra você e bebendo suco de laranja no canudinho. Por isso, gosto de você. É uma pessoa calma, nada de precipitação. Você gosta de conversar primeiro, gosta de me observar, me oferece uma porção de coisas, disse que eu podia ligar pra recepção e pedir o que quisesse. Adorei, quero dizer, estou adorando. Sei que você também está. Você gosta de me ver nua, sentada, de pernas cruzadas, tomando laranjada no canudinho, e sabe que daqui a pouco vai me ter nos teus braços, bem apertadinha. Então, vou contar uma história bem safada no teu ouvido.

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