“Você sai cedo, do trabalho?”, perguntou.
“Às vezes, sim, mas geralmente saio lá pelas seis.”
Não sei por que lembrei um paquera que apareceu faz uns dois
anos, passou a me esperar na saída do trabalho. Quis me desvencilhar dele, não
gosto de gente no meu pé. Foi um sacrifício. Ainda bem, este não disse
que me aguardaria. Podia mesmo perguntar se eu gostaria de ir a um bar, ou
mesmo ao Mc Donald, depois do expediente, mas nada falou.
Dei um adeusinho e corri ao trabalho. Enquanto subia o
prédio, pensei num namorado que tive fazia um tempinho. Ele dizia que eu, sobre
botas, fico muito alta. Eu ria. Ele acrescentava, deixe tirar você de cima
dessas pernas de pau. Ele me tirava mesmo, quero dizer, despia-me das botas e
depois do resto. Nas revistas masculinas, há mulheres nuas vestindo apenas
botas. Quem sabe o admirador do quiosque de café não me desejava nua, desfilando
de botas só para ele.
Naquele dia, não sei o motivo, trabalhei um tanto eufórica.
Tenho uma amiga que, ao sentir tal sensação, vai ao banheiro, olha-se no
espelho, senta-se sobre o vaso para descansar, respira fundo. Não sei em que
ela concentra-se. Mas, depois, volta muito calma à sua mesa. Não sei, mas acho
que se vou ao banheiro para me acalmar, vou acabar tirando a roupa. Talvez
assim eu me acalme.
Durante o dia, o tal homem começou a me enviar mensagens.
Oi, querida, adorei você. Oi, amor, que tal um beijo, teus dedos são de fada,
toque o meu rosto, ele insistia. Amanhã a gente se encontra, escrevi.
O quiosque ainda estava pouco frequentado, ele não havia
aparecido. Será que iria embora só? Mas ele veio, sim, devagar. Chegou bem
pertinho, pensei que iria me beijar, mas não o fez. Talvez temesse uma recusa.
Não é bom ir logo de primeira. Pediu café, apenas. Perguntou se eu estava
disposta para o dia que começava. Suspirei. É preciso trabalhar, falei. Ele
sorriu, aliás, manteve o sorriso. Em certo momento disse você aparece também à
noite, como a lua, que na maioria das vezes é noturna. Entendi, um convite para
sair. A gente se fala durante o dia, estou atrasada. Parti para o escritório.
Naquele dia, enquanto trabalhava, pensei se ele descobriria
meu segredo. Mas ainda não mandara mensagem alguma. O homem sabia criar
expectativa. Eu não queria viver de expectativas, meu problema de sempre,
desejava liberdade, de amar e de fazer o que bem entendesse. Não é bom ficar
presa a um homem. Antes que ele ligasse, resolvi me antecipar. Liguei. Mas não
para ele. Tenho uma pessoa que sai às vezes comigo. Não é meu namorado nem
coisa parecida, mas a gente passeia, conversa e também trepa. Isso mesmo. E sou
eu quem marco. Nada de expectativa. Evandro, vamos sair hoje? Imaginei seus
olhos, por trás da distância que nos separava. Ele disse sim, ficaria muito
feliz com a minha presença. Então, naquele dia, mesmo que meu paquera do café
mandasse uma mensagem, nada feito, já tenho compromisso. Evandro sabe boa parte
do que me excita, e pede para eu lhe fazer pose. Já até sabia como seriam as da
noite próxima: de botas e bustiê. Gostosa a sensação.
O homem do café telefonou. Uma proposta deliciosa. Quem
sabe, amanhã!, criei eu a expectativa.
Com Evandro foi um gozo e tanto. Gosto dele porque sabe dar
prazer às mulheres. Há homens que pensam apenas em si, sobem sobre nós e
despejam seu gozo grosso. Evandro, não. O carinho é intenso, sabe tudo sobre
meu corpo, meus pontos de prazer. Deixa-me molhada a maior parte de tempo.
No dia seguinte, após a transa maravilhoso com Evandro, saí
com o novo paquera. Caso ele fosse apressadinho, eu já teria gozado na véspera.
Qual foi a minha surpresa. Levou-me a um hotel que tinha
vista para o Aterro do Flamengo, dava mesmo para apreciar o aeroporto, com seus
aviões descendo e decolando. Mas nada de barulho. De som, apenas sua voz a
sussurrar no meu ouvido, falava cada coisa de me deixar a mil. Ele, a
princípio, me abraçou, me beijou; enfim, mil e uma carícias. Havia uma mesinha
e duas cadeiras na antessala, onde começamos o namoro. Sentei-me e ele ficou ao
meu lado. Depois de alguns minutos, entramos no quarto, sentamos na cama e
continuamos a nos acariciar. Para evitar ter de tirar a roupa na frente do
homem, decidi ir ao banheiro. Dei-lhe um beijinho, corri e fechei a porta.
Despi-me e tomei um banho rápido. A água quente, gostosa. Depois, envolvi-me na
toalha, abri a porta e saí, fresquinha, pronta a me atirar nos braços dele.
Mudo de parágrafo. O que aconteceu depois merece descrição à
parte. O homem, com mãos e dedos macios, acariciou-me o corpo inteiro.
Descobriu que amo histórias de sacanagem. Nunca pensei que gozaria dois dias seguidos.
Para nós, mulheres, o gozo é difícil. Não demorei, porém, a transbordar meus
eflúvios. Ao mesmo tempo que o desejava sobre mim, seu pênis bem duro a me
penetrar, queria suas mãos contínuas a me acariciar, sua voz máscula a
insistir-me protagonista de aventuras sexuais. Após alguns minutos, por minha
própria conta, virei de costas e levantei o bumbum, permaneci deitada mas com
os joelhos mantendo elevadas minhas coxas e o quadril. Ele entendeu o que eu
desejava. Colocou-se sobre mim, seu pênis a procurar minha vagina. Ui, que
arrepio. Logo que me penetrou, senti um orgasmo. Ah, estou gozando, falei, não
para, por favor, quero gozar mais, mais e mais, minha voz perdia-se na minha
loucura. Veio-me à mente a lembrança de um namoradinho de outros tempos, ele
adorava me levar à praia e, dentro d’água, tirar o meu biquíni; assim que me
sentia nua, gozava. Naquele instante,
sobre a cama, eu sentia o mesmo, o gozo especial que a gente alcança nas
primeiras vezes e dificilmente se repete. Conforme ele metia, eu dizia me
rasga, vai, me rasga toda. Não passou muito tempo para eu sentir seu gozo
quente dentro de mim, várias explosões, vulcão que não parava sua erupção.
Como vou viver sem um homem como esse? Não posso perdê-lo. Tenho Evandro, que conhece todo o meu corpo. Agora, este outro, a quem, tenho vontade
de presentear com minha calcinha! Mas não foi necessário, meus gritos de gozo
revelaram que me deixasse sempre nua.