domingo, novembro 17, 2019

Fila

Ele me pediu para escrever um texto excitante e lhe enviar como mensagem. Você acha essas histórias mais instigantes na narrativa de uma mulher, afirmei. Isso mesmo, retrucou, as mulheres tem mais força narrativa. Os homens são assim, adoram uma mulher falando sacanagem. Você quer então transar pelo telefone, isso é coisa antiga, sabia?, provoquei. Ele disse que sim e, como estávamos ali um ao lado do outro, cheguei a dizer será que não basta a gente transar num quarto de hotel, ou mesmo em seu apartamento, como temos feito? Deu de ombros e fez uma fisionomia alegre, mas sem um sorriso propriamente. Lembrei então de um rapaz que eu conhecera, fora meu estagiário numa das empresas em que trabalhei, sabia fazer a mesma cara, transmitia alegria sem sorrir. Sua fisionomia impressionava outras mulheres, queriam ficar o tempo todo junto dele. Logo uma delas começou a provocá-lo.

“Acho que ele não vai querer”, eu lhe dissera, “quem sabe queira se manter apenas profissional, sem se envolver com alguém aqui na empresa?”

“Vai ver o homem é gay, e você tentou sair com ele mas não conseguiu.”

“Nada disso, não podemos fazer uma afirmação dessas, caso ele saiba poderá até nos processar.”

Minhas palavras pareceram assustar a candidata.

“Vou tentar mesmo assim, quem sabe consigo”, insistiu.

Na semana seguinte a mulher voltou a conversar sobre aquele meu estagiário.

“Saí com ele, quero dizer, saímos.”

“Saímos?”, indaguei curiosa.

“Isso mesmo, eu, Dora e Silvana.”

“Então foram apenas a um bar, uma happy hour.”

“Nada disso”, ela retomou, “fomos a um hotel.”

“Um hotel?”, surpresa na minha voz e acho que no meu rosto.

“Isso mesmo, ele aceitou, você precisava ver, nós três nuas agarradas ao homem.”

“Mas, isso é uma vergonha, o que ele vai pensar de vocês, da nossa empresa?”

“Nada disso, o homem é cabeça feita, um ótimo amante, e uma coisa é trabalho, outra sexo.”

“Mas três mulheres com um homem, não é normal”, afirmei.

“Mara, o que é normal hoje em dia, sobretudo aqui na nossa empresa?”, ela terminou e se foi.

Fiquei pensando no sobretudo que ela pronunciou.

Por que você está tão calada?, perguntou meu amigo, acho que eu ficara hipnotizada com a lembrança. Nada, com essa sugestão sua, lembrei uma história de alguns anos atrás. De tanto insistir, contei a história. Sabe que já aconteceu comigo?, veio ele com o contraponto, sério, foi numa escola, eu tentava ser professor, também era estagiário, e no ensino médio; o professor me apresentou à turma, com toda a seriedade, este é o nosso estagiário, vai ajudar a tirar as dúvidas de vocês e vez ou outra vai dar algumas aulas; fomos assim por um semestre; perto do final do estágio, duas delas me convidaram para uma festa; aceitei, mas não era bem uma festa, havia cinco ou seis delas que queriam trepar comigo, sério, cinco ou seis, fizeram até fila, apenas pedi que eu trepasse sozinho com cada uma enquanto as outras esperariam do lado de fora do quarto, mas fiz uma exigência inusitada, que me deixava excitado e capaz de me dar fôlego para transar com todas; que ficassem nuas, em fila, na porta do quarto; quando saísse uma, a seguinte deveria entrar, e eu precisava ver todas nuas e em fila, repeti; elas se mostraram obedientes, assim como eram na escola, e tudo terminou muito bem; uma boa lembrança que não esqueço. Como você quer então transar comigo por mensagens de celular, algo tão comportado diante de uma história dessas?, eu estava curiosa. Ora, essa experiência, a de trepar por mensagens de celular, eu nunca tive; ah, outra coisa, você tem de dizer que está inteiramente nua, seu único artefato será o telefone, ok?

domingo, novembro 03, 2019

Você dá pra todo mundo

Ele fala que eu dou pra todo mundo, mas não é verdade. De um tempo pra cá ando mais levada, ardida, é verdade, mas sei me segurar. O problema é que o tempo passa rápido e a gente quer aproveitar o que há de melhor. Outro dia mudou um homem pra aqui perto de casa, fica me olhando com cara de convite, sorrisinho sonso, olhos embotados na minha bunda. Ainda não me aproximei, mas já sei o que vou fazer. Certa vez namorei um vizinho. Não sei se foi boa coisa, o homem grudou, queria me comer dia sim e o outro também. No começo, foi bom, mas com o passar do tempo não dava, não sei viver com um homem o tempo todo no meu pé. Para me livrar dele, arranjei um coroa duas ruas adiante, um velho sempre a me cantar, a querer mesmo pagar pra trepar comigo. Era ótima a trepada com o tal vizinho, com o coroa um pouco menos, embora cheio de romantismos. O vizinho descobriu e se afastou. O coroa me adora, até hoje me engambela, basta eu aparecer por lá. Foi ele que, muito delicadamente, disse por outras palavras você dá pra todo mundo, isso não é bom. Volto ao homem que mudou pra aqui ao lado. Tem corpão, um metro e noventa. E eu com apenas um sessenta. Será que morde? Deu uma piscadinha hoje quando atravessei a rua. Esses homens são bons para descobrir meus segredos De repente numa conversa de bar alguém pronuncia Lucinda. Pra quem mora por perto sou mesmo Lucinda, meu nome de identidade, mas pra lá depois do bairro, pelas bandas de Cavaleiros, sou Nete, a fabulosa. Alguém me chamou assim após tirar meu biquíni. Homens verdadeiros não ficam por aí comentando com quem treparam, vai que amanhã me encontram de novo e querem mais uma. Se silenciosos, aceito. Não sei, não é bom dar pra todo mundo! Lógico que crio pequena dificuldade, vou ter de sair, minha tia tá doente, deixa pra logo mais, quem sabe. Eles esperam. Eu volto e zapt, a mordida no lugar certo. O novo vizinho me viu atravessar de camisão. Adoro uma camisa comprida, dessas que descem até acima dos joelhos. Os homens ficam na dúvida, não sabem se vestido ou camisa, pensam que esqueci o restante da roupa, querem me descobrir nua através do tecido. Alguns conseguem. Tracei o plano pra conquistar o tal vizinho. Fica pra sábado a tentativa. Convidá-lo pra subir, não vai ter graça. Comprei um vestidinho rosa, com um cintinho branco, sandália também branca meio salto. A tal roupinha, justa na cintura, depois cai soltinha, o cinto mostrando meu talhe estreito, tecido quase transparente. Experimentei várias vezes, desfilei dentro do quarto, na sala. Lembrei uma amiga que adora desfilar com as roupas novas, pede a minha opinião, tudo bem justinho ao corpo, um tesão a mulher, pode trepar com quem quiser. Depois tira a roupa e desfila nua, fazendo pose, outro dia me passou o celular pra eu lhe tirar umas fotos. O novo vizinho tem um carrão, acho que ainda não tirei a roupa dentro de um carro daqueles. Vou passar ao lado dele, dar um sorrisinho. Ele vai adivinhar, deve estar toda meladinha. Quem sabe passo antes na casa do coroa, o homem me dá tanto dos presentes que merece me ver de vestidinho novo. Tenho andado tão cheia de tesão, que tal uma esquentadinha. Ele vai pensar Lucinda antes de dar pra todo mundo passa aqui primeiro. E vai sorrir.