sábado, fevereiro 22, 2020

Adesivo

Umas amigas me convidaram para planejar suas fantasias de Carnaval.

Como assim?, perguntei.

“Você tem mais experiência do que a gente, fomos convidadas para o desfile do principal bloco da cidade, no sábado; depois, a um baile, segunda-feira à noite. Que tal nos ajudar, principalmente em relação às fantasias?”

Elas são mais jovens do que eu, mas estão sempre à espreita, gostam das minhas ideias, das soluções que invento.

“Bem, vamos de biquíni, não é mesmo?”

“Claro, Célia, sem você não somos nada.”

“Não exagerem.”

“Vamos confeccionar biquínis pretos, rasos, curtos, sensuais, meias arrastão; para cobrir os seios, um top também preto, quem quiser pode optar por adesivos; assim, quando de costas, parecerão nuas. Escolhemos franjas prateadas para disfarçar a pequenez dos biquínis.”

“Ótimo”, falou a mais espevitada, e suspiraram todas.

“Há também um tecido tipo rede”, continuei, “como meia arrastão, mas para o torso, veste-se como uma blusa, os seios, o mesmo top, ou o mamilo apenas tapado com o tal adesivo.”

“Os homens vão enlouquecer!”, gritou Miriam.

“Vão”, afirmei, “mas nós não, seremos as mulheres mais equilibradas deste carnaval. Atenção, meninas”, falei afetuosa, “não se deve namorar no período de Carnaval. Não acreditam? A folia é um grande divertimento. Deixemos os homens loucos, mas queremos apenas diversão. Depois que passar a festa, aqueles que nos paqueraram  e aparecerem a nossa procura merecem uma recompensa. Portanto, nada de namoro no Carnaval, ok? Ah, mais uma coisa, vamos sensuais, capazes de virar a cabeça de qualquer homem, não é mesmo? Porém, nada de nudismo além do que a fantasia nos permite. A gente brinca, dança, aproveita, assim são os quatro dias de folia. Não vamos dar vexame.”

Nos dias que se seguiram, aprontamos nossas fantasias. Experimentamos. Acertamos os pequenos defeitos. Eu e Sara optamos pela renda inteira, a meia e o torso em rede, tudo tipo arrastão. Por baixo o biquíni. Miriam, Sônia e Eulália vestiam apenas os biquínis com franjas, meias arrastão e o torso nu, com os adesivos cobrindo os mamilos.

Antes que chegasse a inauguração do Carnaval, alertei:

“Sei que é complicado, mas como vocês me pediram para liderar o grupo, ouçam: nada de mãos masculinas a nos bolinar, afastem todas, com sorriso e diplomacia. Outro alerta: todas aqui conhecem a Eduarda não é mesmo?, aquela que mora em Glicério, na Serra. Ela vai sair no bloco e vai também ao baile, já me informaram. É a mulher mais escandalosa da região, gosta de competir, tanto mais, comigo. No ano passado, sua fantasia foi de baianinha, uma baianinha com saia de dois palmos. E a mulher é alta que só, vocês sabem. Até aqui tudo bem, mas havia um segredo que não demorou para ser descoberto: ela era uma baiana sem calcinha. Imaginem o escândalo, pensem no assédio. Depois do baile, ela mesma alardeou aos quatro cantos que transou com dois homens na mesma noite, ainda apontou o local, atrás do quiosque, usava biquíni adesivo e renda e branca por cima, fantasia que, ainda segundo ela, deu de presente a um dos seus rala-ralas. Caso ela se misture a nós, nada temos a temer, não a imitemos. Deixem os homens ir com ela. Sei que contando essa história, algumas de vocês podem ficar excitadas. Mas vamos nos divertir, deixemos o sexo pra depois.


São nove da manhã, o céu está claro, brilha o sol, o dia promete. Os instrumentistas começam a ensaiar seus primeiros acordes, o bloco começa a desfilar dentro de meia-hora e já fazemos o maior sucesso, todas juntas, brilhosas e prateadas, biquínis a desaparecer na imensidão dos nossos corpos. Eduarda, de lingerie branca transparente e um tapa-sexo triangular sobre a xereca, está provocando o maior frisson. Ela vem com a gente. Depois conto mais.

domingo, fevereiro 09, 2020

Noite de verão

O verão é uma estação instigante, no litoral, então, nem se fala, a gente chega à praia com aquele afã de aproveitar o sol, o mar, e tudo mais que seja possível. A pele sente o ardor, há o arrepio e a vontade louca de amar. Neste réveillon, viajei do sul do país a uma praia no Rio de Janeiro. Logo no primeiro dia vesti um biquíni branco, pequenino, debaixo de uma saída de praia de renda transparente. A roupinha, na verdade, uma tela sobre o quase nada, atraía diversos e animados olhares. Continuei com a roupa ao entardecer, entrei num bar, pedi uma bebida. Os homens se surpreenderam. Minha pouca roupa os fazia vibrar a mil. Uma mulher nua na mesa ao lado!, é o que diziam, mesmo sem palavras. Alguns, ainda que acompanhados, não esconderam o desconforto, tiveram de olhar com o rabo do olho. Se não me deixam nua pelas mãos, pelos olhos foi mais fácil. Por falar em olhos, lembro-me de umas férias na praia, mas no litoral de Santa Catarina.

Sempre adorei biquínis mínimos, e também gosto de andar nua. Naquela ocasião aluguei uma casa em frente à praia, um local deserto, ninguém a me incomodar. Não tinha ainda a saidinha de praia de tela branca, descia às areias apenas com a roupa de banho. Como sempre gostei de apreciar a manhã, alguns dias eu acordava muito cedo. Num deles, pensei ir nua, mas achei exagero, podia aparecer alguém, sei lá, um nativo, ou alguém da colônia de pescadores. Vesti, então, apenas uma camiseta sobre o corpo, descia-me até as coxas. Caminhei até a beira d’água sob a vermelhidão do amanhecer. Como não é costume no local, a água estava quente, mais quente do que eu. Senti vontade louca de mergulhar. Tirei a única peça, enrolei deixando-a escondida na areia. Corri e entrei n’água. Um orgasmo o contato de minha pele com as águas. Sem me preocupar com as horas, permaneci ali indefinidamente. Quando reparei, um homem passeava pela areia. Ai, meu Deus, tomara não encontre minha camiseta. Depois me acalmei e achei normal estar nua, a natureza convidava. Mas ele não demorou, nem sei se me viu. Quando resolvi sair de dentro d’água, onde a camiseta? Subi nua à casa alugada. Ainda bem, todos dormiam. Tomei uma ducha e me deitei de novo. Ah, quem sabe, sonho de uma noite de verão. À noite fomos à cidade, eu vestindo apenas uma peça, camisa de mangas três quartos, não chegava aos joelhos. Que férias!

No Rio de Janeiro a coisa é outra, os sonhos são fortes, vigorosos, pura realidade. Logo vem alguém conversar, um assédio e tanto. Para quem é livre ao namoro, tudo bem, o paraíso. Mas é preciso cuidadinho; ao contrário, perde-se a graça. Os homens oferecem bebidas, comidas, passeios, mas não sai de graça. Vou com a saidinha de renda, a tal tela transparente. Depois, digo preciso ir ao hotel, tenho de me trocar, espere um instantinho. Quero fugir. Mas você está tão linda com essa roupa, não se troca não, o Rio é praia noite e dia. Vou na conversa do recente namorado. Ele, doidinho, pra me ver apenas com a telinha sobre o corpo. Ainda que fosse só isso. Mais, não conto; vale a discrição.

Segredinho: não posso subir nua ao apartamento, tanta gente, as pessoas não param de ir de um lado a outro. O namorado adora a brincadeira. É apenas o começo, uma noite de verão.