Era uma noite quente de verão, e a praia estava deserta. A
lua cheia iluminava as areias brancas, enquanto as ondas quebravam
suavemente na costa. Eu caminhava pela praia, descalça, deixando as marcas de meus
pés na areia. De repente, vi algo brilhando no chão. Aproximei-me e percebi que
era um vestido. Peguei-o e reparei que era um vestido de seda verde, com um
decote profundo e a parte inferior comprida.
Olhei ao redor, não havia ninguém. Decidi experimentá-lo.
Fiquei surpresa ao constatar que se ajustava perfeitamente ao meu corpo, era como se fosse feito especialmente para mim.
Dei mais alguns passos sobre a areia, virei-me par o mar.
Será que a dona da tal seda nadava nua em meio as ondas? Não vi ninguém. Voltei-me
para a parte alta, onde nasce uma espécie de mato que cobre o chão até junto à
estrada. Também não vi ninguém. O silêncio da madrugada só era quebrado pelo
marulhar à meia distância da costa.
Deixei minha calça jeans e a blusa que eu vestia sobre um pequeno
monte saliente nas areias. Caminhei até a beira d’água e senti a água do
mar, fria fria, molhando-me os pés e os tornozelos.
Continuei a caminhar pela praia sentindo-me incrivelmente
elegante com o meu novo vestido. Dancei à beira do mar, ouvi música imaginária e
ri das minhas próprias bobagens enquanto a brisa soprava suavemente através dos
meus cabelos.
O vestido sobre a pele ainda me trouxe a lembrança de um
namorado de mais ou menos dez anos passados. Eu morava em outra cidade, também
litorânea e menor do que a de agora. Ele teimava que me queria nua, íamos com
frequência à beira da praia para namorar. Um dia, não sei o motivo, depois
de um intenso corpo a corpo com o rapaz, ao voltarmos ao ponto de chegada, não
encontrei o meu leve vestidinho! Que problema... Mas tudo se resolveu a tempo.
Ninguém do lugarejo me viu entrando nua em casa. No final, caímos numa
gargalhada gostosa. Dias depois, ele me trouxe um vestido novo, de presente, adquirido
num shopping da cidade vizinha.
No momento, porém, o vestido verde me intrigava. Quem seria
a sua dona? Será que andava nua por aí com o namorado e depois viria procurar
pela roupa? Será que eu, ao levar o vestido, a deixava em apuros? Percorri ainda
uma distância de mais ou menos quinhentos metros.
Quando tive a intenção de voltar, senti imenso desejo de dar
um mergulho. Você já mergulhou à noite, a praia deserta, apenas você e a natureza?
Tirei o vestido, dobrei-o com cuidado e corri nua para dentro d´água. Permaneci
nadando e mergulhando por um quarto de hora.
Quando voltei à areia, o vestido verde estava no mesmo
lugar. Esperei um pouco até secar o corpo e o vesti de novo.
Ao me aproximar do local inicial de minha caminhada, senti
alguém me tocar as costas. Que susto! Não ouvira ninguém até então. Uma mulher
nua, muito parecida comigo – a única diferença era a cor morena da pele e os
cabelos negros – me pediu o vestido de volta.
– Você gostou, não? Posso emprestar – ela disse enquanto eu o tirava e o devolvia.
– Corajosa, você, andando nua por aí, pode aparecer alguém.
– Não aparece, estou acostumada.
– E escapou de ter de voltar nua pra casa – acrescentei.
– E quem sabe se já não voltei – soltou com ar debochado, enquanto terminava de vesti-lo.
Deu-me as costas, disse até logo e se
foi.
Só então me dei conta de que, naquele momento, a nua era eu. Corri à procura do monte saliente nas areias onde tinha deixado a calça jeans e a blusinha de renda.