quarta-feira, abril 12, 2006

Borrifos de prazer

O rugir do mar e o sibilar do vento chegam-nos como música. Apesar da noite adiantada, o tráfego de automóveis na avenida é intenso. Há também pessoas que a atravessam; outras caminham pelo calçadão. Permanecemos agarrados um ao outro dentro do automóvel estacionado. Os vidros escuros nos retiram do mundo. Não contenho a transpiração, escapam-me emanações de entusiasmo e desejo. Paulo percorre-me a pele branca com a ponta dos dedos, aperta-me súbito e violento, permaneço imobilizada, atada agora a seus lábios por beijo longo e úmido.

A festa volta-me à mente: a música marcada e rápida como coração trepidante; cores esvoaçantes salpicando-nos lavas multiformes; a bebida livre e as primeiras manifestações de júbilo e liberdade; os seios à mostra da primeira nua; depois as outras; pessoas atracadas, longas permanências, licor adocicado a escorrer dos corpos, abelhas em busca de mel. Ajudamos a desnudar as mulheres que tinham pudor excessivo. Algumas só de calcinha ainda cobriam os seios. Houve uma loura em pêlo. Uma mulher de longos cabelos pretos assustou-se quando lhe escapuliu o biquíni. Os homens, devido à embriaguez, também deixavam escapar os excessos. Descemos a seguir pelas escadas quase delirantes; rimos muito já no interior do veículo. Paulo deu a partida. Na rua seria mais excitante, disse ele. Voltaríamos à festa mais tarde.

Nada tememos. Mordo-lhe os lábios prazerosa. Um casal pára sobre o passeio, recosta na corroceria; o homem envolve a mulher num amplo e demorado abraço. Eu, sem que eles percebam, abraço também meu homem, abro-me, minhas trilhas estão untadas para o prazer; sinto-me segura sob o frágil e delicado manto translúcido que apenas trago sobre a pele, tecido que se desfaz a sutis toques de carícias: gotículas de gozo, borrifos de paixão.

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